Além de Petrobras: quais ações podem ser bons investimentos na B3 em meio à alta do petróleo?

Além da companhia estatal, quatro petrolíferas brasileiras são listadas na B3, com algumas despontando na preferência de analistas de mercado

Alexandre Rocha

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Nesta semana, o petróleo atingiu a cotação mais alta em três anos. Negociado em Londres e referência do mercado internacional, o contrato do barril Brent com vencimento em dezembro chegou aos US$ 84 na máxima do dia na última segunda-feira (11), registrando uma variação positiva de mais de 60% no acumulado do ano. Os efeitos disso são evidentes no aumento dos combustíveis e na inflação.

Mas, além disso, o momento oferece oportunidades para investimentos em ações de empresas petrolíferas, e não só na Petrobras (PETR3, PETR4). Além da estatal, são listadas na B3 quatro companhias menores do ramo, PetroRio (PRIO3), PetroRecôncavo (RECV3), 3R Petroleum (RRRP3) e Enauta (ENAT3), também com potencial de valorização.

“A alta do petróleo, com manutenção das margens, é benéfica para as empresas do setor”, disse o CEO da corretora Planner, Alan Gandelman. Ele explica que estas companhias têm margens fixas, então quanto mais cara a commodity, mais elas ganham. No Brasil, há ainda a valorização do dólar – o produto é cotado na moeda norte-americana -, o que potencializa os retornos em reais para as petrolíferas nacionais.

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Em abril de 2020, no começo da pandemia de Covid-19, o barril chegou a ser cotado abaixo de US$ 20, na esteira do tombo da economia mundial, com alguns contratos chegando a operar no negativo. Com a retomada das atividades econômicas, a commodity voltou a se valorizar. Ocorre que a demanda por combustíveis cresceu mais rápido do que a oferta. O consumo segue acima da produção desde o segundo semestre do ano passado, pressionando os preços.

A cotação deve se manter alta ainda durante algum tempo. “Eu vejo a possibilidade de mais aumento. A atividade econômica mundial está se aquecendo, com estímulos ficais em grandes economias, e há ainda a aproximação do inverno no Hemisfério Norte”, afirmou André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), referindo-se ao uso de combustível para calefação nos países do Norte. O banco Goldman Sachs prevê, por exemplo, que o barril vai chegar a US$ 90 até o final de 2021.

Vale lembrar que o mundo passa por uma crise mais geral de escassez de energia que, por diferentes motivos, afeta locais tão distantes quanto a China, a Europa e o Brasil. Apesar das pressões internacionais, o grupo de grandes produtores formado por membros e não membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep+) manteve esta semana o cronograma de aumentar a produção em 400 mil barris diários a cada mês, ritmo que será repetido em novembro.

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No caso dos combustíveis líquidos, a Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a oferta só voltará a ultrapassar a demanda no primeiro trimestre de 2022. “Este ano não haverá alívio, os combustíveis fósseis vão continuar em alta. O primeiro trimestre de 2022 é mais promissor, com o fim do inverno [no Hemisfério Norte] e dos estímulos”, comentou Braz.

Juniores

Na seara das ações, Petrobras e empresas menores são consideradas boas opções por analistas por razões diferentes, porém, não excludentes. Bernardo Lobão, sócio e analista da gestora Athena Capital, é entusiasta especialmente das últimas. Ele avalia que o cenário do setor petrolífero no Brasil é propício para o desenvolvimento destas companhias, que ele chama de “juniores”.

A Petrobras está se desfazendo de blocos de produção em terra e no pós-sal, no mar, para gerar caixa, reduzir seu endividamento e centrar investimentos nos empreendimentos “gigantes” do pré-sal, com altos níveis de produção e retornos. As empresas menores, por sua vez, estão comprando os ativos “maduros” da estatal que, embora já tenham passado do pico de produção, têm reservas provadas, não demandam investimentos em exploração e em extração a partir do zero, e podem voltar a produzir mais com o uso de técnicas de recuperação.

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Ao comprar poços em produção, essas companhias conseguem colocar produto no mercado e gerar caixa mais rapidamente do que ocorreria com um empreendimento novo. Lobão acrescenta que as “juniores” brasileiras sofrem menos com a concorrência de empresas internacionais, tanto das grandes que, como a Petrobras, buscam ativos de “classe internacional” e estão mais seletivas por pressão do movimento de “descarbozinação” da economia; quanto das independentes, que têm dificuldade em levantar capital para investir longe de suas matrizes. “O momento no Brasil é bom para o petróleo”, destacou.

Ele recomenda principalmente a PetroRio, com operações offshore, e a PetroRecôncavo, que atua onshore, e destaca que sua gestora investe em papeis de ambas. A PetroRio opera os campos de Tubarão Martelo, Polvo e Frade, e tem participação no bloco exploratório Wahoo, todos na Bacia de Campos. O último ainda não está em produção. Segundo Lobão, a empresa tem um histórico muito bom de aumento da produção e retornos nos ativos que comprou.

Na quarta-feira 6 de outubro, agências de notícias divulgaram que a proposta da PetroRio foi escolhida como vencedora do campo de Albacora, na Bacia de Campos, em consórcio com a Cobra, subsidiaria da francesa Vinci. Se confirmada a escolha, haverá ainda uma fase de negociação contratual entre a estatal e as vencedoras antes do martelo ser definitivamente batido. “Albacora mais do que dobraria a produção da PetroRio e aumentaria o valor da companhia em mais de 50%”, observou Lobão.

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Ele diz isso porque as ações da empresa já estão em elevação, movimento que ganhou força nos últimos dois meses e pode desanimar investidores em busca de papéis baratos. Na segunda-feira, a ação PRIO3 encerrou o pregão cotada a R$ 27,79, com uma valorização acumulada de cerca de 80% no ano. O preço-alvo atual do ativo é R$ 24,45, segundo compilação de recomendações de casas de análise feita pela Refinitiv, empresa que fornece dados do mercado financeiro, abaixo do preço das ações atualmente.

Lobão avalia que parte dessa valorização ocorreu por causa do aumento do preço do petróleo, mas ainda há potencial para mais crescimento. Na mesma linha, o Bradesco BBI manteve classificação outperform para a ação, o que significa que o papel pode ter retornos acima da média do mercado. Em agosto, a instituição já recomendava o investimento.

Já a PetroRecôncavo comprou três polos em terra: Riacho da Forquilha, na Bacia Potiguar, Remanso e Miranga, na Bacia do Recôncavo. A companhia já operava campos para a Petrobras desde os anos 2000, portanto tem know-how na área. Segundo a Athena Capital, desde que assumiu o Riacho da Forquilha, em 2019, a empresa ampliou a produção em 50%.

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De acordo com Lobão, a PetroRecôncavo está “bem posicionada” para disputar o Polo Bahia Terra, que a Petrobras vai vender. Vencedora, a companhia teria condições de dobrar sua produção atual. Suas ações estão cotadas em R$ 18,95, com uma valorização de  28,5% desde a estreia das ações, mas um recuo de 8% desde 27 de setembro. O preço-alvo atual dela é R$ 25,10, de acordo com a Refinitiv (confira mais no quadro no final da matéria).

Por razões semelhantes, Felipe Rupphental, da Eleven Research, recomenda as mesmas empresas, mas também a 3R Petroleum. “Ela está com um ritmo forte, com aquisições recentes significativas”, comentou. A companhia atua em terra e no mar. Esta semana o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) autorizou a compra da participação da Galp no Campo de Sanhaçu, na Bacia Potiguar, por uma subsidiária da 3R; e aquisição pela 3R da petrolífera Duna Energia, do banco BTG Pactual.

“A empresa tem conseguido implementar seus planos e aumentar a produção de campos em 20% a 30%”, declarou Rupphental. Ele acrescenta que estas companhias têm condições de fazer novas aquisições, assumir dívidas para levantar capital ou realizar mais emissões de ações. Nesse sentido, o preço atual do petróleo ajuda as “juniores” a ampliar a geração de caixa e ter recursos disponíveis para investimentos e compras.

Petrobras barata

No caso da Petrobras, os analistas avaliam que suas ações estão baratas. Porém, apesar dos fundamentos da companhia serem considerados bons, pesam sobre ela o risco político e a volatilidade do mercado de capitais como um todo.

A empresa adota há alguns anos uma estratégia de preços alinhada ao mercado internacional, desinvestimentos, redução de endividamento e concentração de foco no pré-sal, com resultados lucrativos. Há expectativa também de pagamentos de bons dividendos no futuro próximo.

No entanto, há sempre a preocupação de intervenção na estatal por meio de alguma medida populista, principalmente em meio à escalada dos preços dos combustíveis. Mais adiante, as eleições de 2022 geram dúvidas sobre a manutenção da política da empresa.

Gandelman acrescenta que o mercado acionário está de “mau humor” e, nesse sentido, as “blue chips”, ações mais negociadas da bolsa, como as da Petrobras, acabam sofrendo com o recuo dos papeis como um todo. O Ibovespa acumulava queda de cerca de 5,7% desde o começo do ano até o fechamento de segunda-feira.

“São ações extremamente líquidas e há um movimento de resgate dos fundos e de pessoas saindo da bolsa, migrando para a renda fixa. Consequentemente, surte este efeito”, afirmou. Ele acredita numa recuperação com a estabilização do mercado. “A turbulência não dura para sempre, e o saldo da Petrobras tende a ser positivo”, concordou Braz.

A Petrobras encerrou o pregão de segunda-feira cotada a R$ 29,77 (PETR3) e R$ 29,32 (PETR4). O preço-alvo atual é R$ 34,03 no primeiro caso e R$ 33,30 no último, de acordo com a Refinitiv, com “upsides” de 14% e 13%, respectivamente.

Rafael Antunes, sócio da assessoria de investimentos Inove, diz que a recomendação para seus clientes sobre a Petrobras é neutra. Ele recomenda, no entanto, uma exposição de até 10% da carteira ao setor de petróleo, combinando papéis da estatal e de outras companhias. “Não precisa ser de uma empresa só”, disse.

O investidor brasileiro tem a opção também de investir em BDRs de petrolíferas estrangeiras negociadas na B3. Antunes avalia que empresas estrangeiras sem os riscos políticos da Petrobras tendem a estar “melhor precificadas”, ou seja, mais caras, pois se beneficiam também do petróleo em alta. Os analistas ouvidos pela reportagem não comentaram sobre papéis de companhias estrangeiras específicas.

Confira as recomendações para as ações de empresas do setor de petróleo, segundo dados compilados pela Refinitiv: 

Empresa Ticker  Recomendações de compra Recomendações neutras Recomendações de venda Preço-alvo médio  Potencial de valorização (%)*
PetroRio PRIO3 7 1 0 R$ 24,45 -12%
Petrobras ON PETR3 5 2 0 R$ 34,03 +14%
Petrobras PN PETR4 10 2 0 R$ 33,30 +13%
PetroRecôncavo RECV3 3 0 0 R$ 25,10 +32%
3R Petroleum RRRP3 4 0 0 R$ 62,50 +52%
Enauta ENAT3 0 5 1 R$ 14,97 -1%
*com base na cotação de fechamento da sessão de segunda-feira (7)

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney