Ainda temos poucos dados para dimensionar os prejuízos com as queimadas, diz analista

Agosto historicamente costuma ser um mês com focos de incêndios, mas neste ano os números estão muito superiores

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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O mês de agosto costuma ter historicamente cerca de 900 focos de queimadas no Estado de São Paulo, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No entanto, neste ano, registrou-se no período, até o momento, aproximadamente 3.500 focos de queimadas, sendo que 2.200 deles ocorreram neste último final de semana.

Para Samuel Isaak, analista de commodities da XP, que participou nesta terça-feira (27) do Morning Call da XP, já havia uma percepção de que agosto seria muito seco. “O Brasil teve boas chuvas até abril, o que garantiu a safra para a maioria das culturas. A gente entrou em maio com pouquíssimas chuvas. Então são quatro meses com a pluviometria bem baixa”, explicou.

Segundo ele, como as queimadas foram, principalmente, em áreas de canavial, há “poucos dados para dimensionar o tamanho desses estragos”.

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O governo de São Paulo estima até o momento, que 60 mil hectares de áreas foram queimadas.

Isaak lembra que no passado, antes da colheita da cana, a plantação era queimada para facilitar seu recolhimento, já que o fogo não afetava seu caule onde concentra-se o açúcar.

Cana ainda pode ser aproveitada

“Então, apesar da queima dos canaviais, essa cana ainda pode ser aproveitada, mas tem que ser colhida rápida porque ela pode começar a se degradar no campo”, ressalta.

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O analista crê que essa é a dificuldade de o mercado estimar a extensão do problema e quanto isso pode reduzir a safra nacional. “É preciso identificar o quanto dessas áreas queimadas não vão conseguir ser colhidas a tempo”, afirma.

“Além disso, essa queima acaba criando uma redução do potencial de açúcar que pode ser usado como etanol ou produto refinado. Depois da queima, ela perde um pouco de qualidade para produção de açúcar e acaba produzindo mais etanol”, destacou.

Preços do açúcar subiram

Os preços do açúcar têm estado em alta nos últimos dias. Na sexta (23), havia subido pouco mais de 3%. Nesta segunda-feira (26), o produto teve mais um dia de forte alta, de 3%.

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Por conta da inexistência ainda de um cálculo mais preciso de quanto as queimadas de fato afetaram a safra de açúcar, Samuel Isaak acha que esse movimento de alta do produto revela “um mercado sem direção, sem muitos argumentos fundamentalistas”.

“E essas queimadas no Brasil solidificam essa percepção de que daqui para frente a colheita deve mesmo começar a piorar (já havia perspectiva de piora da safra). A gente já colheu metade da safra em condições boas e a segunda metade deve ter produtividade mais baixa”, afirmou.

A XP divulgou um relatório sobre o quanto as queimadas poderiam atingir os resultados da São Martinho (SMTO3) e da Raízen (RAIZ4). De acordo com análise da casa, os riscos são baixistas para as estimativas de Ebitda para as safras 2024/25 e 2025/26.