Como o Fomc fez o Ibovespa encostar novamente nos 97 mil pontos e o dólar futuro cair para R$ 3,68

Índice ganhou força com decisão do Federal Reserve de manter os juros e indicar maior cautela sobre futuras mudanças nas taxas

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa ganhou força na reta final do pregão desta quarta-feira (30) e passou a subir mais de 1% após o Fomc anunciar a manutenção dos juros nos Estados Unidos e remover de seu comunicado a referência a altas graduais nas taxas no futuro. O dólar também passou a cair forte, acentuando ainda mais as perdas após a coletiva do chairman Jerome Powell.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com alta de 1,42%, aos 96.996 pontos, com o volume financeiro atingindo R$ 18,620 bilhões. A mudança de postura do Fed implica em um alívio para a economia e ajuda a impulsionar o mercado, ainda mais após Powell afirmar que o argumento para o aumento das taxas de juros se enfraqueceu um pouco.

Enquanto isso, o dólar futuro com vencimento em fevereiro teve queda de 0,97%, a R$ 3,685, ao passo que o dólar comercial, que fechou pouco antes do anúncio do Fed, ficou cotado a R$ 3,7246 na venda, leve alta de 0,06%.

No exterior, a decisão do Fomc e a coletiva de Powell também impulsionaram o mercado, levando o Dow Jones a superar os 25 mil pontos após dois meses, com ganhos de 2%, enquanto o Nasdaq chegou a saltar 2,5%, também impulsionado pela temporada de resultados corporativos.

Sobre o movimento dos DIs, os contratos também tiveram queda nesta quarta, seguindo o dólar. O contrato com vencimento em janeiro de 2021 recuou 6 pontos-base, para 7,08%, enquanto os juros futuros para janeiro de 2023 caíram 3 pontos, a 8,26%. 

Em decisão unânime, o Fomc (Federal Open Market Committee) manteve os juros nos EUA no patamar entre 2,25% e 2,5% ao ano. No comunicado, o comitê do Federal Reserve enfatizou paciência em elevar a taxa de juros e indicou que futuras mudanças serão feitas olhando com detalhe os desdobramentos das condições econômicas. A autoridade monetária também removeu referência a altas graduais no documento. 

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A decisão veio acompanhada de uma declaração sobre o balanço de títulos do Fed, indicando que os integrantes do comitê farão um ajuste no ritmo de redução da carteira de títulos se as condições assim o permitirem, que deverá ser mais brando do que anteriormente esperado. A sinalização é de que o balanço permanecerá “considerável” quando a redução do balanço patrimonial do Fed estiver completa. 

Em um movimento que representou uma divergência em relação à política monetária dos últimos anos, o Fed descartou a linguagem de que mais aumentos de juros seriam provavelmente necessários – os “aumentos graduais adicionais” – e apontou estar adotando uma abordagem mais cautelosa. 

Além disso, ajudou a sustentar os ganhos do índice a disparada das ações da Vale (VALE3), que saltaram após a companhia anunciar sua decisão de acabar com as barragens a montante – tipo de estrutura que se rompeu em Brumadinho e considerada menos segura.

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A medida vai custar cerca de R$ 5 bilhões, reduzir a produção em 40 milhões de minério de ferro e 10 toneladas de pelotas por ano, o que representa 10% da produção da empresa ao ano. Com a notícia, os preços do minério de ferro no mercado internacional dispararam até mais de 10% após o anúncio, na maior alta em dois anos. 

Segundo a XP, a medida ajuda a mitigar a preocupação em relação à primeira incerteza à produção, mas ainda permanece a incerteza em relação aos potenciais processos judiciais após o rompimento da barragem em Brumadinho.

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Destaques de ações

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 VALE3 VALE ON 46,60 +9,03 -8,63 3,14B
 BRAP4 BRADESPAR PN 28,72 +7,89 -7,49 165,42M
 MRFG3 MARFRIG ON 6,25 +5,75 +14,47 39,79M
 KROT3 KROTON ON 11,94 +5,38 +34,61 149,58M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 32,50 +4,87 +36,78 102,40M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CCRO3 CCR SA ON 15,13 -3,32 +35,09 233,39M
 SBSP3 SABESP ON 43,01 -3,13 +36,54 150,25M
 SUZB3 SUZANO PAPELON 46,60 -2,94 +22,37 315,95M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 11,66 -2,83 +24,31 32,28M
 SANB11 SANTANDER BRUNT 47,90 -2,24 +15,27 260,94M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON 46,60 +9,03 3,14B 1,53B 111.595 
 PETR4 PETROBRAS PN N2 25,62 +0,99 1,61B 1,61B 50.850 
 BBDC4 BRADESCO PN 42,84 -0,23 914,47M 599,57M 39.010 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 38,12 +0,63 734,79M 781,50M 37.128 
 CSNA3 SID NACIONALON 10,38 +3,39 614,50M 80,97M 23.218 
 CIEL3 CIELO ON 11,59 +1,49 437,90M 186,70M 72.980 
 BBAS3 BRASIL ON 50,58 +1,30 426,86M 513,56M 24.591 
 B3SA3 B3 ON 31,47 -0,25 383,30M 397,76M 28.101 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 17,97 +0,56 343,78M 450,21M 29.883 
 ITSA4 ITAUSA PN 13,42 +1,13 324,32M 374,01M 29.835 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Bolsas mundiais
Os índices das bolsas dos Estados Unidos sobem forte com a decisão do Fomc e também refletindo os balanços corporativos. As ações da Apple dispararam após a empresa anunciar que, apesar da queda nas vendas de iPhone, vendas de outros produtos como IPad e Apple Watch, cresceram. Dados da Boeing também animam os investidores. 

As bolsas na Europa fecharam em alta à espera do encontro entre representantes dos governos dos Estados Unidos e China para discutir a guerra comercial instalada entre os dois países. O vice-premiê chinês, Liu He, chega a Washington hoje para o primeiro de dois dias de reuniões com autoridades norte-americanas. 

O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse ontem que espera progressos significativos, porém fontes dizem que ambos lados permanecem distantes em questões-chave.

As bolsas asiáticas encerraram sem direção definida à espera de novidades com o encontro entre representantes da China e dos Estados Unidos. 

Os preços do petróleo subiram diante da preocupação com a oferta venezuelana após sanções do governo de Donald Trump. Enquanto isso, o minério de ferro tem mais um dia de forte alta, de olho nos efeitos dos anúncios da Vale para a oferta da commodity.

A disparada chegou a quase 10% também após o Goldman Sachs elevar previsão para o preço para US$ 80, com o produto podendo atingir mais de US$ 100 em cenários de corte ainda mais severo da produção.

Vale e a tragédia em Brumadinho

Após reunião com os ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e do Meio Ambiente, Ricardos Salles, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou na noite de ontem que a empresa vai acabar com dez barragens, como a que se rompeu em Brumadinho. Segundo ele, essas barragens serão descomissionadas.

Descomissionar significa preparar a barragem para que ela seja integrada à natureza. “A decisão da companhia é que não podemos mais conviver com esse tipo de barragem. Tomamos a decisão de acabar com todas as barragens”, disse o executivo. A Folha de S. Paulo aponta que um terço das barragens da Vale tem potencial de dano similar ao de Brumadinho.

O projeto para descomissionar as barragens está pronto e será levado para os órgãos federais e estaduais em 45 dias. Segundo Schvartsman, o prazo para executar as ações é de no mínimo um ano e no máximo 3 anos e a Vale estima que serão aplicados cerca de R$ 5 bilhões para efetivar o plano.

A medida vai reduzir a produção em 40 milhões de minério de ferro e 10 toneladas de pelotas por ano, o que representa 10% da produção da empresa ao ano.

Sobre o comando da mineradora, alguns membros do governo passaram a adotar um tom muito mais brando após ameaças de trocar a cúpula. O ministro da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas, advertiu sobre uma “caça às bruxas” e abordagens simplistas para o desastre, dizendo que qualquer decisão precisa ser tomada depois que a situação se acalmar.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que a “golden share não permite interferência na gestão da Vale”, reiterando que essa é uma decisão do Conselho de Administração. Ele ainda completou: “não há condição de haver qualquer grau de intervenção até porque essa não seria uma sinalização desejada ao mercado”.

Noticiário político 

O presidente Jair Bolsonaro retoma as funções presidenciais às 7h desta quarta-feira, segundo o porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio Rêgo Barros. Inicialmente, a previsão de retorno às atividades era entre as 9h e as 10h. Há um dispositivo montado dentro do hospital pelo Gabinete de Segurança Iinstitucional (GSI) com equipamento e possibilidade técnica que permitem a Bolsonaro orientar seus ministros e até despachar.

Sobre a reforma da Previdência, o secretário especial da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, disse que o texto deverá ser enviado ao Congresso até a terceira semana de fevereiro. O governo pretende aproveitar o texto da proposta de emenda à Constituição (PEC) apresentada ainda durante a gestão do ex-presidente Michel Temer, para agilizar a tramitação, uma vez que já avançou na Câmara.

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A diferença é que o texto de Temer não prevê a criação de um regime previdenciário em que cada trabalhador faça a própria poupança (capitalização), como o governo deverá apresentar em fevereiro, o que pode gerar questionamentos por parte da oposição.

Na corrida para a votação no Congresso, marcada para sexta-feira (1), Rodrigo Maia se posiciona como favorito para a eleição na Câmara, enquanto que Renan Calheiros ganha força para o Senado. A disputa dentro do MDB postergou para amanhã, às 17h, a decisão de quem será o candidato à presidência do Senado – Calheiros ou Simone Tebet.

Vale lembrar que o Senado decidiu pela manutenção do voto secreto, o que significa uma derrota para a senadora, que havia se posicionado a favor do voto aberto. “A decisão sobre o voto secreto é indicativo de que Renan Calheiros tem votos para ser o indicado da bancada do MDB para disputar a presidência do Senado”, avaliam os analistas do Brasil Plural.

Contudo, há uma articulação em curso para que o senador Davi Alcolumbre (DEM), outro candidato à presidência do Senado, presida a sessão de votação e, com apoio do plenário, decida pelo voto aberto. O senador é o único membro da atual Mesa Diretora com mandato até 2022 e, portanto, caberia a ele a presidência da sessão – se, no entanto, ele não fosse candidato a presidir a Casa.

Na ausência de Davi Alcolumbre, a presidência da sessão de votação deverá ser exercida por José Maranhão (PB), o senador mais velho, favorável ao voto secreto. “Renan Calheiros parece confiante no apoio de seus pares, mas sabe que não terá chances em uma eleição aberta. A articulação agora passa em garantir que José Maranhão presida a sessão de votação”, avalia o Brasil Plural. 

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.