Brasil pode deixar de ser uma das economias mais fechadas do mundo – e essas ações devem ser as mais impactadas

Bradesco BBI estima que a equipe econômica do presidente anuncie medidas unilaterais ainda no primeiro trimestre de 2019 para reduzir as tarifas de importação 

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo. A tarifa média de importação para produtos manufaturados é de 15%, e os setores que têm as maiores alíquotas são os de máquinas e equipamentos, siderurgia, tecnologia, vestuário e veículos.

No entanto, esse quadro pode mudar no governo de Jair Bolsonaro se seus acenos ao liberalismo forem confirmados. Os analistas do Bradesco BBI estimam que a equipe econômica do presidente anuncie medidas unilaterais ainda no primeiro trimestre de 2019 com o intuito de abrir a economia nos próximos quatro anos. 

O time comandado por Paulo Guedes, ministro da Economia, está analisando pelo menos três propostas para corte de tarifas. A primeira delas é o corte de tarifa de importação em bens de consumo, itens de TI e telecomunicações para 4% até 2021, reduzir a TEC (Tarifa Externa Comum) e aumentar o acordo de livre negociação do Mercosul para a Aliança do Pacífico, que inclui Chile, Mexico, Peru, Colômbia e Costa Rica. 

A segunda proposta assemelha-se à primeira, mas haveria o corte da tarifa do aço também para 4% até 2021. A terceira é a redução do número de tarifas para quatro nos próximos quatro anos, cortando as tarifas de 20% e 35% para 15%, de 15% e 20% para 10%, e a faixa de 5% a 15% para 5%. 

De acordo com um estudo do Banco Mundial, um corte unilateral de tarifa de importação poderia elevar o potencial de crescimento do Brasil em 0,9 ponto percentual nos próximos 12 anos com o aumento da produtividade.

O efeito positivo para a economia é claro. Contudo, alguns setores podem ser impactados negativamente. Segundo o Bradesco BBI, no cenário mais extremo, de corte das tarifas para 4% a 5%, de forma imediata, as empresas que mais sofrerão serão Mahle Metal Leve (LEVE3), Usiminas (USIM5), CSN (CSNA3), Randon (RAPT3; RAPT4), Iochpe Maxion (MYPK3) e Gerdau (GGBR3GGBR4).

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Entre as siderúrgicas e mineradoras, a Usiminas é a mais exposta aos efeitos negativos dos cortes nas tarifas, sendo seguida por CSN e Gerdau. Em um cenário de corte gradual nas alíquotas, contudo, as ações de Usiminas e Gerdau têm potencial de valorização de cerca de 40%, estima o Bradesco BBI.

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Com o corte nas tarifas de importação, os produtos externos ficariam mais baratas. Essa redução nas tarifas seria uma forma de forçar a indústria a melhorar seus níveis de produtividade e competitividade, ao mesmo tempo que reduz o custo de um insumo básico para vários outros setores. 

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“Achamos que é possível que as tarifas do aço sejam reduzidas, mas provavelmente de forma gradual, potencialmente contrabalanceadas por impostos corporativos mais baixos e uma reforma fiscal mais abrangente”, avaliam os analistas do banco. 

No setor de óleo e gás, o corte na tarifa poderia reduzir os preços domésticos na indústria de químicos, mas a Ultrapar (UGPA3) teria exposição limitada.

Isso porque os produtos concorrentes da Oxiteno, do segmento de químicos da Ultrapar, trabalham com uma tarifa média de importação de 8% dos produtos internacionais, podendo cair para uma tarifa global de 5%. Isso exigiria que a empresa reduzisse os preços médios em cerca de 2,5%, implicando num impacto potencial no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de R$ 120 milhões. 

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De qualquer forma, se o cenário se materializar, o impacto nas ações da Ultrapar seria bastante limitado a R$ 1,50 por ação, ou de 3% sobre o preço-alvo atual. “O impacto limitado deve-se à baixa exposição da Ultrapar ao negócio de produtos químicos, que representa de 10% a 15% do Ebitda da empresa”, apontam os analistas. 

Já as empresas de bens de capital seriam bastante impactadas. O corte na tarifa de 14% para 4% levaria a um corte de 31% no preço-alvo da Mahle Metal Leve, queda de 22% para Randon, corte de 21% no preço esperado para o papel da Iochpe Maxion, e influência pouco significativa nas ações de Weg (WEGE3) e POMO (POMO3; POMO4). 

No caso da Metal Leve, que fabrica componentes de motor de alta precisão para motores de combustão, as receitas domésticas no Brasil respondem por cerca de 38% da receita total. A queda das tarifas de importação poderia permitir que players globais como Schaeffler, Bosch e Eaton, com menor escala de produção no Brasil, ganhassem participação de mercado.

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“Se assumirmos que a Mahle Metal Leve tenha a necessidade de reduzir o preço médio de 10% em seus produtos vendidos no Brasil, haveria um corte das receitas totais e do Ebitda para 2019 em 6% e 29%, respectivamente”, afirmam. 

Porém, há também aquelas pouco afetadas: é o caso das empresas de vestuário e calçado, que não devem sentir tanto o peso de um corte nas tarifas de importação, destaca o Bradesco BBI. 

No caso de vestuário, entre as maiores redes varejistas estão as empresas locais (ou aquelas que efetivamente se tornaram locais, como a C&A), que são absolutamente dominantes, sendo a Lojas Renner (LREN3) e a Riachuelo (GUAR3) as maiores. A Zara, que opera no país com foco muito mais premium no Brasil do que em outros países muito devido aos impostos, poderia se beneficiar com a redução da tarifa de importação de 35%.

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Porém, mesmo assim, a Zara e os demais varejistas de vestuário do exterior enfrentam outros desafios, que vão além da questão das tarifas de importação, afirmam os analistas. São eles: a débil infraestrutura nos portos e atrasos nos controles alfandegários. “Os varejistas de roupas locais conseguem driblar isso porque têm cadeias de fornecimento locais, mas as empresas que importam enfrentam uma desvantagem competitiva”, avaliam. 

Por outro lado, uma categoria que poderia se beneficiar de menores tarifas de importação seria a de eletrônicos. Isso se deve ao fato de que muitos componentes de linha branca serem importados, mesmo que o produto final seja montado localmente no Brasil. Isso significaria que preços mais baixos poderiam ser repassados aos consumidores, aumentando potencialmente os volumes. Este cenário seria positivo para o Magazine Luiza (MGLU3), a Via Varejo (VVAR3) e a B2W (BTOW3).

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