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SÃO PAULO – A vitória do candidato do partido republicano, Donald Trump, nas eleições presidenciais norte-americanas gerou tensão também no mercado brasileiro, com o Ibovespa Futuro acompanhando o tom de forte aversão a riscos dos investidores globais. Às 9h04 (horário de Brasília), o índice acumulava queda de 3,32%, 62.820 pontos. No mesmo horário, os contratos de dólar futuro com vencimento em dezembro subiam 2,31%, a R$ 3,260, em sessão também marcada pelo cancelamento dos swaps cambiais pelo Banco Central.
O empresário bilionário de 70 anos teve vitórias surpreendentes sobre a candidata democrata, Hillary Clinton, em estados-chave, o que abalou os mercados globais que contavam com uma vitória da democrata. Apesar de as urnas ainda estarem sendo apuradas, o êxito do magnata foi decretado às 5h30, quando foram superados os 270 votos necessários. Nas bolsas locais, o S&P futuro chegou a superar os 5% de queda, o que fez com que as negociações fossem temporariamente suspensas. Depois do maior susto, o índice amenizou as perdas e recuou menos que 2%. Na Europa, o londrino FTSE chegou a mergulhar mais de 4% no mercado futuro, mas agora opera estável após a abertura do pregão regular.
O índice acionário de emergentes do MSCI chegou a recuar 3,25%, atingindo o nível mais baixo em pouco mais de três meses. O ETF (Exchange Traded Fund) EWZ, que representa os papéis com maior peso no Ibovespa, cai 4%. O peso mexicano, ativo prejudicado pelo discurso de Trump crítico aos imigrantes e ao livre-comércio, chegou a cair 12% e agora recua 8%. O temor é que a chegada de Trump ao poder dê fim ao acordo de livre-comércio com o país.
O contrato futuro do VIX (VIXX6), considerado o “índice do medo”, chegou a disparar 42,35%, a 22,70, mas diminuiu os ganhos e agora sobe 11,74%, a 17,85. O VIX negocia a volatilidade das 500 ações mais negociadas na Bolsa de Nova York e tende a disparar em momentos de turbulência nos mercados financeiros. No mesmo sentido, o ouro – ativo normalmente procurado como “porto seguro” em momentos de maior aversão a risco – subia mais de 3%, a US$ 1.300 a onça, refletindo as incertezas dos investidores sobre o que esperar de uma gestão Trump.
Na avaliação do economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o resultado das urnas nos Estados Unidos certamente trazem efeitos negativos para os mercados globais, mas não pode ser comparado ao “Brexit” — plebiscito realizado em junho em que os britânicos decidiram pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE). “Ao contrário do Brexit, quando se sabia que as alternativas eram permanecer ou sair da UE, agora será necessário esperar uma segunda rodada de informações sobre o que de fato Trump pretende fazer à frente da Casa Branca”, comentou.
Para Leal, os mercados reagirão com mais força à medida que o novo presidente norte-americano começar a definir quais serão suas diretrizes de governo, especialmente no campo econômico, o que deve acontecer antes de sua posse, em janeiro.
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“No primeiro discurso após ser eleito, ele já adotou tom mais moderado que o da campanha, na linha de que vai governar para todos. Resta saber se as decisões serão neste rumo ou se ele de fato vai cumprir o que prometeu ao longo da disputa pela presidência”, disse Leal, citando como exemplo as propostas protecionistas de aumentar as alíquotas de importação de produtos do México e da China.
Na avaliação do especialista, as quedas “menos intensas do que se imaginava” podem significar que investidores “ainda estão anestesiados” ou que aceitaram o fato de que terão que lidar com as consequências das eleições norte-americanas pelos próximos quatro anos. “Hoje é o dia de se repensar várias coisas em termos de investimento, mas o que vai ser daqui pra frente, acho ninguém faz a mínima ideia”, afirmou.
Agenda doméstica
Do lado nacional, a inflação oficial do Brasil voltou a acelerar em outubro sob o peso dos preços de Transportes, mas ainda assim registrou o menor nível para o mês em 16 anos, indo abaixo de 8% em 12 meses, pintando um cenário positivo para a continuidade do afrouxamento monetário pelo Banco Central.
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Em outubro o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou alta de 0,26%, depois de ter atingido no mês anterior o menor nível em pouco mais de dois anos, de 0,08%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é o patamar mais baixo para outubro desde 2000 (0,14%), e também o segundo menor nível do ano, atrás apenas de setembro. Em 12 meses, a inflação acumulada até outubro desacelerou para 7,87%, contra 8,48% no mês anterior.
O dado permanece bem acima do teto da meta –de 4,5% pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais– porém se aproxima cada vez mais da expectativa dos economistas em pesquisa Focus do BC de alta do IPCA de 6,88% para este ano. Também representa a primeira vez que o índice acumulado fica abaixo da marca de 8% desde fevereiro de 2015 (7,7%), e é o menor nível desde então. Os resultados ficaram praticamente em linha com as expectativas de analistas consultados em pesquisa da Reuters, de alta de 0,28% no mês e de 7,9% em 12 meses.
Destaques corporativos
No cenário corporativo, destaque para o anúncio da Petrobras de redução dos preços dos combustíveis nas refinarias. O preço do diesel será cortado em 10,4% e da gasolina em 3,1%. Essa é a segunda redução nos valores dos dois derivados desde que a estatal sua nova política de preços, no mês passado. Segundo a empresa, a combinação de queda dos preços de petróleo e derivados entre os dias 14 de outubro e hoje, de 12,1%, e a redução da participação da companhia nas vendas ao mercado interno, que têm impactos sobre o nível de utilização dos ativos da estatal, justificaram essa correção maior nos preços do diesel e gasolina.
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Além da estatal, o noticiário corporativo foi bastante movimentado ontem, com balanços de 12 empresas. Entre os destaques, a Cielo registrou lucro líquido de R$ 1,009 bilhão no período, alta de 14,5%. A Gafisa reverteu lucro líquido de R$ 13,49 milhões um ano antes em prejuízo líquido de R$ 72,6 milhões. Já a Minerva registrou lucro líquido de R$ 47,4 milhões. Fora dos resultados, a JBS, BRF e Aurora negociam a maior importação de milho dos EUA desde 1998, disseram fontes à Bloomberg; enquanto isso, a Rumo anunciou um aumento de capital de R$ 755,6 milhões (veja outras notícias clicando aqui).