Ação da Americanas (AMER3) fecha em alta de 3,85% após chegar a saltar 17%, com plano de reestruturação no radar

Varejista deve apresentar hoje primeira versão do seu plano, com todas as medidas que deverão ser adotadas para rebalanceamento da estrutura de capital

Equipe InfoMoney

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As ações da Americanas (AMER3) chegaram a disparar 17,31%, a R$ 1,22, mas fecharam com ganhos de apenas 3,85%, a R$ 1,08 na sessão desta segunda-feira (20), com a apresentação do plano de recuperação judicial da companhia no radar. Contudo, vale destacar também o baixo valor de face dos ativos, fazendo com que variações de centavos dos ativos levem a grandes variações percentuais das ações.

A varejista, que está no “limbo” na Bolsa desde o pedido do seu plano de recuperação judicial, deve apresentar hoje a primeira versão do seu plano de reestruturação, com todas as medidas que deverão ser adotadas para o rebalanceamento da estrutura de capital.

É nessa etapa que ocorre a negociação das dívidas, conversão de dívidas em ações e uma injeção de capital. As dívidas da varejista chegam a R$ 42,5 bilhões e ela conta com cerca de 9.462 credores.

“O plano que será apresentado hoje deve ser similar ao que foi apresentado pela Americanas aos bancos credores em fevereiro, exceto pelo valor do aporte proposto, que era de R$ 7 bilhões inicialmente, incluindo o financiamento DIP, que entrou no caixa da companhia também em fevereiro, para dar suporte à operação”, destaca a Levante Ideias de Investimentos.

No início deste mês, a varejista comunicou que os acionistas de referência estavam oferecendo um aporte de R$ 10 bilhões, já incluindo o financiamento DIP de R$ 2 bilhões.

“Entretanto, apesar da melhora no valor do aporte, ainda não houve acordo com os bancos, que vêm pedindo um aporte direto de pelo menos R$ 13 bilhões, embora ainda não exista um consenso por parte dos credores a respeito do valor que será suficiente para resolver os problemas financeiros da varejista. Do valor total da dívida, que se aproxima dos R$ 43 bilhões, somente os bancos credores detêm mais de R$ 20 bilhões das dívidas da Americanas”, apontam os analistas da casa.

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A capitalização é vista pelas instituições financeiras como o ponto de partida das negociações. Fora o aumento de capital em si, a proposta mais recente no valor de R$ 10 bilhões também inclui a conversão de R$ 18 bilhões das dívidas com os bancos em ações e em dívidas subordinadas e a recompra de R$ 12 bilhões da dívida em valor de face, com desconto, de modo que, ao final do processo, as instituições financeiras ficariam como acionistas relevantes da companhia.

No plano de reestruturação, também deve ser discutido sobre os diversos processos abertos pelos bancos contra a varejista, para apurar os responsáveis pelo que é considerado pelas instituições financeiras como fraude, pauta que já foi colocada na mesa em reuniões recentes entre a Americanas e os bancos.

Ao longo dos 60 dias que se passaram desde o pedido de recuperação judicial, a Americanas contratou a Boston Consulting Group para avaliar uma nova estratégia para a venda de ativos, bem como conseguiu o aval da Justiça para pagar antecipadamente 1.300 credores trabalhistas e pequenas e médias empresas no valor total de R$ 193 milhões.

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É comum que, em um processo de recuperação judicial, após a apresentação da primeira versão do plano de reestruturação, a companhia ajuste as propostas à medida que as negociações vão acontecendo, por isso, mesmo que o plano apresentado hoje não conte com a aprovação dos principais credores da empresa, isso não será um grande problema, afirma a Levante.

Americanas e CVM

Cabe destacar que, na sexta-feira (17), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) confirmou que a força-tarefa constituída pela autarquia para investigar potenciais irregularidades na Americanas colheu depoimentos de ex-executivos da empresa.

Os depoimentos foram colhidos no âmbito de inquérito administrativo que visa a apuração de eventuais irregularidades relacionadas às inconsistências contábeis divulgadas pela Americanas. A CVM não disse quando realizou as oitivas.

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A CVM ainda tem mais de uma dezena de outros processos administrativos em andamento relacionados ao caso Americanas. Sobre esses processos, o órgão disse que áreas técnicas estão avaliando, por exemplo, o conteúdo de documentos recebidos e de respostas enviadas pela companhia a seus questionamentos.

O ex-presidente da Americanas Miguel Gutierrez prestou depoimento na véspera na sede da CVM, no Rio de Janeiro. Além disso, a Polícia Federal também começou a colher os depoimentos de executivos mais cedo neste mês, incluindo da ex-diretora da varejista Anna Saicali.

A CVM também afirmou nesta sexta-feira que mais dois processos administrativos foram abertos, um para analisar a eventual falha de divulgação de informações pela companhia quanto às negociações com credores, e outra para apurar eventuais irregularidades a respeito do recebimento de remuneração pelo ex-presidente da empresa Sergio Rial antes de ele tomar posso como presidente.

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No fim de semana, Rial reagiu no fim de semana à abertura de mais esse processo pela Comissão. “Esclareço que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos a todas as Autoridades com a mais absoluta tranquilidade, e afirmo categoricamente que o contrato em questão firmado com a Americanas foi 100% regular, assim como todo o trabalho que desenvolvi nos quatro meses de sua vigência que antecederam minha posse com CEO, em 2 de janeiro passado”, disse Rial em nota.

Ele afirmou, ainda, que eventuais informações a respeito do contrato devem ser verificadas com os responsáveis pelas relações com investidores na época da celebração do contrato de consultoria, que visava a transição de um CEO que conduziu as Americanas por 20 anos.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)