Ação da Vale salta 9% após plano e impulsiona CSN; Santander cai 2% após resultado

Mineradora anunciou que irá desativar barragens menos seguras e reduzirá 10% de sua produção 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Os desdobramentos do rompimento da barragem da mina do Feijão em Brumadinho (MG) seguem sendo acompanhados de perto pelo mercado. Após a Vale desativar barragens menos seguras e reduzir 10% da produção, o minério de ferro disparou na China, impulsionando as mineradoras.

A Vale disparou 9%, enquanto siderúrgicas também registraram expressivos ganhos. O destaque ficou para a CSN, que chegou a saltar mais de 10%.  

Além disso, o mercado repercute a continuidade da temporada de balanços, com destaque para o Santander Brasil, que abriu em leve queda, mas depois intensificou as perdas. Fora do Ibovespa, a Taurus Armas (FJTA4) voltou a chamar atenção dos investidores.

Confira no que ficar de olho na sessão desta quarta-feira (30):

Vale (VALE3) e Bradespar (BRAP4)

Após reunião com os ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e do Meio Ambiente, Ricardos Salles, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou hoje (29) que a empresa vai acabar com dez barragens, como a que se rompeu em Brumadinho (MG). Segundo ele, essas barragens serão descomissionadas.

“É a resposta cabal e à altura da enorme tragédia que tivemos em Brumadinho. Este plano foi produzido três a quatro dias após o acidente”, ressaltou o executivo.

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Schvartsman afirmou que descomissionar significa preparar a barragem para que ela seja integrada à natureza. “A decisão da companhia é que não podemos mais conviver com esse tipo de barragem. Tomamos a decisão de acabar com todas as barragens”, disse o executivo em Brasília.

O presidente da Vale disse que o projeto para descomissionar as barragens está pronto e será levado para os órgãos federais e estaduais em 45 dias. Segundo ele, o prazo para executar as ações é de no mínimo um ano e no máximo 3 anos. Os trabalhos devem ter início dois meses após a expedição das licenças. A Vale estima que serão aplicados cerca de R$ 5 bilhões para efetivar o plano.

Schvartsman disse que “não teve qualquer tipo de pressão” por parte do governo federal para intervir na direção da Vale. De acordo com ele, a reunião de hoje com os ministros Costa e Lima e Salles foi “absulatamente técnica”.

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“Esse plano foi hoje apresentado aos ministros de Minas e Energia e Meio Ambiente, assim como foi apresentado à data de ontem ao governador Romeu Zema [de Minas Gerais].” De acordo com o executivo, a decisão será publicada por meio de comunicado para informar o mercado financeiro.

A medida vai reduzir a produção em 40 milhões de minério de ferro e 10 toneladas de pelotas por ano, o que representa 10% da produção da empresa ao ano.

“A decisão da companhia é que, depois que esse desastre aconteceu, não podemos mais conviver com esse tipo de barragem, tomamos a decisão de eliminar com todas as barragens a montante, descomissionando todas elas com efeito imediato. Para tanto será necessário paralisar as operações de mineração em todos os sítios que estão nas proximidades dessas barragens”, disse o presidente da Vale.

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O rejeito das barragens a serem descomissionadas poderá ser convertido em outros materiais, como tijolos, ou enterrado. “Todas as 19 já estão desativadas. As descomissionadas deixam de ser barragens ou são esvaziadas ou integradas ao meio ambiente”, afirmou Schvartsman. “Isso representa um esforço inédito de uma empresa no sentido de dar uma resposta cabal à altura da tragédia de Brumadinho”, acrescentou.

“Enaltecemos esse movimento, pois aumenta a visibilidade no pior cenário da Vale para perdas de volume e minimiza o impacto no EBITDA consolidado (11 milhões de toneladas de produção de pellet feed perdidas, potencialmente compensadas por prêmios mais altos)”, destacam os analistas do Itaú BBA. 

A Vale afirmou ainda que pretende se defender “de forma vigorosa” da “reclamação para instauração de uma suposta ação coletiva de valores mobiliários” ajuizada nos Estados Unidos contra a empresa, seu diretor-presidente e seu diretor executivo de Finanças e Relação com Investidores, Luciano Siani Pires.

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“A Reclamação, supostamente ajuizada em nome de alguns compradores de títulos mobiliários da Vale, alega violações aos artigos 10(b) e 20(a) da Lei de Valores Mobiliários americana de 1934. A Reclamação alega, entre outros pontos, que a Companhia teria feito declarações falsas e enganosas e se omitido em divulgar os riscos e danos potenciais no caso de um rompimento da barragem de Feijão em Brumadinho, MG, Brasil. A reclamação requer indenização por danos ainda não especificados. Tendo em vista o estágio ainda inicial do processo, não é possível, neste momento, prever qualquer possível resultado para esta questão”, afirma a mineradora, em comunicado ao mercado.

O Valor informa ainda que a Vale tem substituto para Schvartsman, caso a mudança venha a ser necessária; no entanto, a empresa não tratou da mudança de nome. Pessoas próximas aos acionistas da Vale avaliam que seria um erro fazer qualquer mudança na direção da empresa neste momento. O modelo de governança corporativa da mineradora tem política definida sobre como fazer o processo de sucessão, diz o jornal.

 Eventual substituto de Fabio Schvartsman é interno e se insere dentro da visão de mitigação de riscos na governança e o nome não é revelado nem nos bastidores. A avaliação do conselho é que Schvartsman vem tomando providências necessárias neste momento de crise e tem sido diligente. 

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CSN (CSNA3)

Apesar de operar em alta durante todo o pregão, a CSN registrou uma sessão de volatilidade, chegando a avançar 10,66% na máxima do pregão. As informações são de que um erro operacional, conhecido como “dedo gordo” no jargão de mercado, teria levado ao salto dos papéis.

O volume financeiro registrado também foi bastante expressivo, de R$ 614 milhões, ante giro médio dos últimos 21 pregões de R$ 78,15 milhões.

A expectativa para os papéis logo no início do pregão já era de alta, em meio à exposição da companhia ao minério de ferro, que registrou mais um dia de ganhos após a decisão da Vale de fechar 10 barragens de rejeitos, o que gerou uma revisão de preços para a commodity.

O Goldman Sachs elevou a projeção para o preço do minério para US$ 80 a tonelada, assumindo que a produção da Vale caia entre 10 milhões e 15 milhões de toneladas este ano. Mas a commodity ultrapassou esse valor: o minério de ferro à vista negociada em Qingdao fechou com alta de 6,4%, a US$ 85,05 a tonelada.

Vale ressaltar que, na última segunda-feira, a ação da CSN registrou forte queda de 5,69%, sentindo o efeito do rompimento da barragem em Brumadinho. Os investidores mostram receio com riscos de eventuais complicações em barragens da siderúrgica.

Santander Brasil (SANB11)

O Santander Brasil teve lucro líquido de R$ 3,336 bilhões no 4º trimestre de 2018, alta de 9,8% na comparação com o 3º trimestre (R$ 3,039 bilhões). O lucro gerencial, que exclui fatores extraordinários, foi de R$ 3,405 bilhões nos últimos 3 meses do ano passado, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (30).

Em 2018, o lucro líquido foi de R$ 12,166 bilhões, alta de 52% frente 2017, quanto totalizou R$ 7,997 bilhões. O lucro gerencial alcançou R$ 12,398 bilhões.

O índice de inadimplência superior a 90 dias foi 3,1% no final de dezembro, ante 2,9% no final do terceiro trimestre. O retorno sobre o patrimônio líquido foi de 19,9% em 2018, 3 pontos percentuais frente 2017. No trimestre, a rentabilidade somou 21,1%.

A carteira de crédito total foi de R$ 305,2 bilhões ao final de dezembro,12% superior frente a comparação anual, impulsionada pelos segmentos de pessoa física e financiamento ao consumo.

“O Santander reportou lucro líquido em linha com o esperado, fechando um grande 2018. Entretanto, a qualidade dos resultados apresentou leve deterioração”, destacam os analistas da XP Research. Confira a análise do resultado clicando aqui. 

Via Varejo (VVAR3)

O presidente do GPA (grupo que controla redes como Pão de Açúcar, Casas Bahia e Ponto Frio), Peter Estermann, que acumula também a presidência da Via Varejo e disse que seu objetivo é recuperar receita e preparar a venda do controle da empresa. “Minha missão número um na Via Varejo é retomar o crescimento de vendas”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

“Não é nada diferente do desafio que tive quando fui para lá no passado. Tem algumas coisas que são fundamentais. A primeira é ter uma estratégia comercial agressiva. O caminho é sermos competitivos, trabalhar o mix de produtos que equilibre a margem da empresa. Temos de trazer o fornecedor para o nosso lado. Sentamos e montamos uma estratégia conjunta”, disse. Estermann acumula as duas funções de presidência até a venda da Via Varejo, que deve ocorrer antes do fim do ano. 

Grupo Pão de Açúcar (PCAR4)

O Grupo Pão de Açúcar enviou um fato relevante à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em que “esclarece que não tem conhecimento de qualquer conversa referente à venda de seu controle e não foi informada de qualquer intenção de seus acionistas controladores sobre tal venda”. 

O comunicado é uma resposta à reportagem do site da Época, publicada na terça-feira (29), que afirma que as conversas entre Carrefour e Casino caminham para uma fusão entre as duas maiores varejistas francesas. O Carrefour teria oferecido à Abilio Diniz o controle do Pão de Açúcar em troca de suas participações acionárias.

Petrobras (PETR3;PETR4)

As ações da Petrobras subiram de olho na alta do petróleo em meio a preocupações com a oferta da commodity com as sanções dos EUA à Venezuela e também atentas ao progresso na venda de ativos pela estatal. 

No radar da companhia, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse durante evento do Credit Suisse, na terça-feira (29), que defenderá um “mercado vibrante e com competição” na questão dos preços dos combustíveis. De acordo com o executivo, ele não quer mais ouvir a expressão “política de preço”. “Vocês já ouviram política de preço do iPhone? Política de preço do feijão? Não existe política de preço. Existe mercado”, defendeu.

Ainda sobre Petrobras, o Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) proferiu decisão favorável à Petrobras em processos administrativos que totalizam R$ 11,9 bilhões.

Esses processos foram originados por autuações da Receita Federal para cobrança Cide-importação e PIS/Cofins-importação de 2011, além de PIS/Cofins-importação de 2012 sobre remessas ao exterior para pagamento de afretamento de embarcações. De acordo com a Petrobras, essa decisão não altera a expectativa de perda possível.

Além disso, após a Petrobras sinalizar que pretende deixar o setor petroquímico, a LyondellBasell retomou com mais força as negociações para a compra da Braskem (BRKM5), que também sobe forte.

Segundo o jornal Valor Econômico, os movimentos recentes do novo governo brasileiro e da nova gestão da estatal foram bem recebidos pela Odebrecht e pela multinacional holandesa, que haviam desacelerado as negociações à espera do novo comando do país. 

A Petrobras ainda informou que as negociações para venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, à Chevron estão “em estágio de conclusão” e deverão ser apreciadas por seu Conselho de Administração nesta quarta.

Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4)

O ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas e o governador de São Paulo João Doria estão negociando uma redução no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o combustível para aeronaves, segundo informações da Agência Infra. 

PetroRio (PRIO3)

A Chevron fechou a venda de sua participação de 51,74% em Frade para PetroRio, que vai assumir a operação do ativo na Bacia de Campos, com 70% do campo. Em 2018, a empresa já havia comprado 18,26% da Frade Japão, uma das integrantes do consórcio. A Petrobras tem uma fatia de 30%.

Eletrobras (ELET3;ELET6)

A Eletrobras contratou o BofA (Bank of America Merrill Lynch) e o Bradesco para que os bancos realizem a rolagem de US$ 1 bilhão em bonds da companhia emitidos no exterior com vencimento no segundo semestre.

Recomendações

O HSBC revisou a recomendação para três papéis do setor de utilities, reduzindo recomendação de Sabesp (SBSP3), Cemig (CMIG4) e Engie (EGIE3) para neutro, com preços-alvo respectivos de R$ 46, R$ 14 e R$ 40. 

(Com Agência Brasil e Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.