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SÃO PAULO – Em um dia negativo para o mercado, quem se destacou ainda mais negativamente nesta sessão foi a ação da Qualicorp (QUAL3). Os papéis QUAL3 fecharam na mínima do dia, com queda de 15,57%, a R$ 20,50.
A empresa líder no Brasil na comercialização, administração e gestão de planos de saúde coletivos por adesão e empresariais teve queda no lucro do segundo trimestre, refletindo maiores despesas financeiras e com campanhas de vendas. O lucro de abril a junho somou R$ 90,3 milhões, queda de 28,4% contra um ano antes.
Embora tenha tido crescimento de 6,9% ano a ano da receita líquida, a R$ 517,2 milhões, isso veio às custas de maiores despesas com itens como marketing.
O lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recuou 19,9%, para R$ 234 milhões (também refletindo maiores iniciativas para acelerar vendas e investimentos em inovação e marketing).
A margem Ebitda ajustada foi de 38,9%, queda de 9,4 pontos percentuais, “abaixo do patamar que consideramos justo para nosso negócio no longo prazo”, afirmou a companhia no release de resultados.
De acordo com o Credit Suisse, os resultados ficaram abaixo das estimativas. Houve um aumento no portfólio de adesão Médico-Hospitalar, com alta de 7,3% na base anual, ainda que em queda de 0,5% versus o primeiro trimestre, com a companhia destacando novo recorde de 132,1 mil vidas em adições brutas entre abril e junho, atingindo a meta de 40-45 mil vidas em vendas mensais.
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O desempenho é resultado de diversas iniciativas implementadas ao longo dos últimos trimestres, que incluem: i) novas parcerias comerciais; ii) lançamento de novos produtos e extensões de portfólio; iii) melhoria no relacionamento e no canal de vendas; e iv) importantes canais de distribuição via fusões e aquisições.
Porém, para tanto, houve o já citado aumento de despesas.
Além disso, Mauricio Cepeda e William Barranjard, analistas do Credit, destacaram que o índice de cancelamento dos clientes (churn), foi bastante alto, com estimativa de 10,6%, mas dado efetivo de 11,6%. Esse, por sinal, é o destaque do relatório dos analistas, que apontam no título “o churn sem fim” da companhia.
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A companhia destacou em seu release de resultados que fechou o trimestre com 138,3 mil cancelamentos no segmento de adesão, apresentando uma melhora de 7,9% sobre o trimestre anterior, mas ainda em um nível elevado e pior do que as expectativas iniciais da própria companhia.
“Nossa análise indica que este alto churn é conjuntural, ainda impactado pelo reajuste de planos de saúde aplicado no começo deste ano após a suspensão em 2020, e que resultou em aumento de preços médio de 23% para nossa base de clientes”, apontou.
Em teleconferência, a companhia destacou que o reajuste nos planos de saúde por adesão, aplicado no segundo trimestre, levou ao cancelamento de 138,2 mil convênios médicos na Qualicorp, uma alta de 71% na base anual. Da elevação de 23,2%, uma fatia de 14,8% é referente ao reajuste do ano passado, que foi adiado para 2021.
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Elton Carluci, vice-presidente da Qualicorp, apontou que a maior parte dos cancelamentos veio de inadimplência de clientes mais antigos e elevou muito o número de pessoas que cancelaram o plano e foram para o SUS. “Esses dois fatores foram uma surpresa para nós”, apontou.
No release de resultados, a Qualicorp destacou que tem trabalhado em diversas frentes para minimizar este impacto no segundo semestre, uma vez que o reajuste regular que estão aplicando no terceiro trimestre é menor, na faixa de dois dígitos baixos.
“Deste modo, nossos modelos preditivos na área de relacionamento com clientes já indicam evolução nos indicadores de retenção. Contudo, conforme já antecipado, o mercado de planos de saúde está tendo um ano atípico em termos de cancelamentos devido ao ineditismo de dois reajustes de preços com intervalo de apenas 6 meses e acumulando aumento em torno de 35% no ano aos nossos clientes”, reforçou a companhia.
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O Credit ainda ressalta que o tíquete médio diminuiu, sendo explicado majoritariamente pela incorporação da carteira de clientes da Muito Mais Saúde (MMS) em março (que possui tíquete significativamente menor que o da Qualicorp), além de novas vendas, de rebaixamento de planos e também com a incorporação das carteiras da Plural.
O aumento do esforço comercial está refletindo nas despesas com vendas. As despesas gerais e administrativas foram 17% maiores na base trimestral e em 50% na base anual. O BBA ressalta ainda que elas atingiram 16% da receita (versus 11% no segundo trimestre de 2020).
“Conforme apontado sua última análise do modelo, este efeito não é transitório e decorre da nova operação comercial, necessária para potencializar crescimento. A empresa também menciona ter feito intensificação de campanhas de marketing. No cenário atual de adições líquidas, as despesas comerciais aumentaram (e alguns adicionais administrativas, como fusões e aquisições e remuneração variável) traduzindo-se diretamente em lucro líquido mais baixo”, aponta o Credit.
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O BTG destaca também as maiores despesas comerciais e despesas superiores de pessoal (incluindo R$ 9 milhões de bônus aos executivos).
O BBA ressalta que a lucratividade também ficou 21% abaixo do esperado pelos analistas e o que é considerado ser a margem de longo prazo. Mas uma recuperação gradual da lucratividade deve ocorrer nos próximos trimestres, avaliam.
Em suma, “os resultados da Qualicorp no segundo trimestre foram mais fracos do que nossas expectativas, uma vez que despesas acima do esperado prejudicaram a empresa durante o trimestre, enquanto o desempenho em adições líquidas já estava em nossas estimativas”, destaca o BBA.
É hora de comprar?
Os analistas do BBA afirmam estarem ansiosos para ver como os esforços renovados da empresa em iniciativas comerciais e de retenção gerarão resultados e também vão monitorar a dinâmica de adição em busca de tendências claras e sustentáveis. Dessa forma, mantiveram no momento a recomendação outperform (desempenho acima da média) para os ativos, com preço-alvo de R$ 39 por ação, “até revisitarem o modelo”. O preço-alvo representa um potencial de valorização de 60% em relação ao fechamento de terça-feira.
O Bank of America reiterou recomendação de compra para a Qualicorp com preço-alvo de R$ 40 (upside de 65%), pois acredita que a maioria dos impactos negativos já está precificada. Além disso, as adições brutas permanecendo fortes podem abrir caminho para o crescimento, uma vez que o churn seja contido.
Na avaliação do Credit Suisse, a empresa tem corretamente perseguido melhores adições brutas, incorrendo nas necessárias maiores despesas comerciais.
“O alto churn é a principal limitação do case, que está impactando crescimento e lucratividade. Acreditamos que as despesas administrativas voltarão a níveis anteriores, mas as comerciais atingiram um ‘novo normal’. O equilíbrio econômico
para a empresa depende da resolução do churn, voltando para o seu case de geração de caixa alta”, destacam os analistas do banco suíço, que seguem com recomendação outperform para o papel, com preço-alvo de R$ 34 (upside de 40%).
Por outro lado, de forma a incorporar os resultados piores do que o esperado e as projeções até o fim de 2021, o BTG Pactual reduziu o preço-alvo para as ações da Qualicorp de R$ 30 para R$ 27 (potencial de alta de 11%) e manteve a recomendação neutra.
“Conforme percebido pela queda nos resultados do segundo trimestre, a estratégia da Qualicorp ainda precisa ser comprovada e validada. Embora o valuation atual possa parecer atrativo, seguimos neutros devido à falta de um ponto de inflexão claro no curto prazo”, avaliam os analistas do banco.
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