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O primeiro mês completo após a eleição presidencial foi repleto de emoções para os acionistas da Petrobras (PETR3;PETR4). Em meio à forte queda de 7% para os ativos ON e de 8,5% para as ações PN na sessão pós Luiz Inácio Lula da Silva ser eleito, do dia 31 de outubro, diversas casas começaram a revisar as suas recomendações para a companhia, conforme revisavam as suas estimativas com a perspectiva de mudança nos planos de negócios das empresas, política de dividendos e precificação da política de combustíveis.
Contudo, em novembro, um mês que foi de queda de 3% para o Ibovespa, as ações da Petrobras fecharam com ganhos de cerca de 2% para as duas classes de ações, enquanto varejistas, educacionais e construtoras, que eram vistas como as apostas em caso de vitória de Lula, registraram queda. Dezembro começou negativo para a petroleira, com as ações PETR3 e PETR4 registrando quedas respectivas de 3,75% e 4,01% no dia 1, mas nos dois pregões seguintes os movimentos foram de ganhos.
Havia uma grande expectativa também de que, após as ações ficarem ex-dividendo, os ativos iriam cair, mas não foi o que aconteceu. Do dia 22 de novembro (quando as ações ficaram “ex”) até o último dia 2 de dezembro, os ativos PETR3 subiram cerca de 10%.
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Neste cenário, o que implica a resiliência dos ativos? O avanço recente do petróleo e algumas sinalizações (ainda que incertas) sobre a companhia são alguns dos pontos destacados por analistas.
Cortes de recomendações e sinalizações negativas
Cabe lembrar que o mês de novembro como um todo foi repleto de cortes de recomendações (que começaram já na reta final de outubro, às vésperas da eleição) para a Petrobras, além de um início de mês com sinalizações negativas do novo governo para a companhia.
No último dia 22 de novembro, os analistas do UBS BB cortaram a recomendação dos papéis de “compra” para “venda”, bem como cortaram o preço-alvo das preferenciais PETR4 de R$ 47 para R$ 22.
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Os analistas lembraram que começaram a cobertura de Petrobras com uma visão positiva em 2016, que foi mantida na maior parte desde então, na esteira de fatores como uma mudança de dívida para patrimônio a partir de melhora operacional de caixa livre e desinvestimentos, além de pagamentos significativos de dividendos e re-rating potencialmente positivo. “Seis anos se passaram e agora acreditamos que essas fases estão em caminho de reversão, com os próximos anos parecendo mais sombrios do que os picos que a Petrobras atingiu”, afirmaram Luiz Carvalho e equipe.
O UBS destacou acreditar que a estratégia da empresa, principalmente em preços e alocação de capital, vai se deteriorar, o que esperamos que se espalhe em suas finanças. “Esperamos capex mais alto e preços de combustível mais baixos, pressionando os resultados e o retorno potencial para os acionistas”, apontou. O banco foi em linha com os rebaixamentos realizados ao longo das últimas semanas por Goldman Sachs, JPMorgan, Credit Suisse que, contudo, cortaram as recomendações para neutra.
No último dia 24, a Órama, assim como o UBS, reduziu a recomendação para venda, com preço-alvo para doze meses de R$ 22 para PETR4, também avaliando que os altos riscos já não compensavam o preço descontado.
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Além das recomendações cortadas, o início do mês foi marcado pela judicialização do pagamento de dividendos da companhia, com declarações contra os proventos de nomes que deverão ser importantes no próximo governo. Dentre eles, o senador cotado para ser CEO da Petrobras, Jean Paul Prates. Contudo, o Tribunal de Contas da União (TCU) negou pedido para suspender dividendos de R$ 43,7 bilhões da estatal, anunciados no último dia 3 de novembro, no mesmo dia da divulgação de resultados positivos da companhia.
Porém, Ruy Hungria, analista da Empiricus, cita que dois fatores principais ajudaram na performance das ações da companhia.
“Em primeiro lugar, membros da equipe de transição do novo governo deram sinais de menos intervencionismo do que o mercado vinha esperando, o que ajudou a acalmar os ânimos e reduzir os receios dos investidores”, afirma. No último dia 24, Jean Paul Prates disse que o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva não será “intervencionista” na Petrobras e mudanças na petrolífera serão feitas de forma gradual. “Não haverá atitude despótica, essas coisas vão ocorrer conversando com os investidores”, disse ele, em entrevista na saída do CCBB, sede do governo de transição. Contudo, as falas de Prates e outros membros da equipe de transição seguem monitoradas de perto pelos investidores.
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Outro fator apontado por Hungria é que o petróleo se valorizou nas últimos dias por conta de queda maior do que a esperada dos estoques nos Estados Unidos, além dos últimos acontecimentos envolvendo a manutenção das metas de produção da Opep+ ( corte de produção em 2 milhões de barris por dia, cerca de 2% da demanda mundial, de novembro até o final de 2023) e expectativas de reabertura na China. Desde o dia 30 de novembro, o contrato futuro do petróleo brent com vencimento em fevereiro avança cerca de 6%, já superando a casa dos US$ 87 o barril.
Além disso, cabe destacar que, na semana antes das eleições, a última cheia de outubro, os ativos PETR4 já tinham caído quase 14% vendo maiores chances de vitória de Lula. Ou seja, como destacou Bruno Magalhães, CIO da Sterna Capital, alguns temores sobre a estatal já estão precificados o que, somados ao maior ânimo recente no mercado de petróleo, guiou a maior resiliência dos ativos da Petrobras.
Algumas casas mantêm compra, mas com cautela
Cabe ressaltar ainda que a sinalização de Prates de transição gradual nas políticas também acaba reverberando entre os analistas que mantêm recomendação de compra para a estatal e reiteraram sua visão positiva para a ação após o plano de negócios divulgado no dia 1 de dezembro, ainda que destacando o alto risco político que envolve os ativos da companhia. A visão de que a companhia ainda pagará bons dividendos em 2023 também guia a recomendação positiva para os papéis.
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A XP destaca que, nos últimos anos, a Petrobras apresentou uma das mais bem-sucedidas reviravoltas corporativas do mundo, sendo que o plano de negócios divulgado no último dia 1 foi mais um passo na direção certa. Os analistas ressaltam que, no entanto, o cenário mais provável é de uma mudança no rumo dos planos nos próximos meses e anos.
Para os analistas da casa, o fluxo de notícias negativas (principalmente no âmbito político) provavelmente significa que a Petrobras permanecerá barata, a menos que haja uma forte mudança nas diretrizes econômicas do governo recém-eleito (o que parece extremamente improvável neste estágio).
“Portanto, o retorno da Petrobras aos acionistas provavelmente dependerá dos dividendos dos próximos anos. Achamos que os dividendos para 2023 ainda podem ser bons, pois leva tempo para a Petrobras mudar radicalmente o rumo de suas práticas. Mas, a partir de 2024, muito vai depender da política de preços dos combustíveis (e da vigência da lei das estatais). Mantemos nossa recomendação de compra, mas alertamos para o alto risco (político) para a ação”, avalia a equipe de análise.
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Após a apresentação do novo plano de negócios da Petrobras, a Genial Investimentos atualizou os seus modelos com as novas premissas de produção e investimentos. Além disso, optou por aumentar ainda mais a taxa de desconto para refletir o momento de maior incerteza (custo médio ponderado de capital de 16% versus 12% nos nomes privados), resultando em um corte no preço-alvo de R$ 40 para R$ 30 por ação (potencial de valorização de 16% frente o fechamento de sexta). A recomendação da casa mantém de compra devido os níveis de avaliação ainda descontados e com projeção de 19% rendimentos em dividendos em 2023 – em grande parte justificados por maior risco político percebido.
“Por último, sugerimos que investidores interessados no case da Petrobras o faço com parcimônia e com foco no recebimento de proventos, antes de mais nada”, apontam os analistas. Eles destacam que a preferência no setor permanece em cases de empresas privadas como PRIO (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3), mas observam “a PETR4 barata demais para ser desprezada”.
O Bradesco BBI também está entre as casas que ainda recomendam compra para a ação da companhia, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo de R$ 53 para os ativos PETR4 (upside de 104%), destacando em suas últimas análises os bons pagamentos de dividendos (ainda que em linha com as “majors” internacionais), mas também ressaltando os riscos políticos envolvidos.
Assim, mesmo aqueles com recomendação de compra para os papéis veem com cautela a montagem de posição nos ativos e destacam preferência por outros ativos no setor.
O BTG Pactual ressalta que a visibilidade do futuro da Petrobras é a menor em anos e há muitas dúvidas sobre sua alocação de capital e política de preços de combustível, enquanto o espaço para alavancagem é grande.
“Assumindo US$ 55 bilhões de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) anual (com US$ 80-90 o preço do brent), a Petrobras pode aumentar seus investimentos (orgânico inorgânico) para mais de US$ 100 bilhões. Embora isso possa parecer exagerado, mostra o poder de fogo da Petrobras e tememos que a empresa possa mais uma vez se tornar um instrumento para os planos de crescimento econômico do governo”, avaliam os analistas.
Eles apontam que o cenário mais negativo que possuem para a empresa ainda não se materializou e parte do ruído pode se dissipar, por isso acham que múltiplos muito baixos não justificam ainda um rebaixamento para venda (a recomendação atual para os ativos é neutra).
Entretanto, a alocação de capital/política de dividendos são os principais catalisadores e os analistas apontam que vão acompanhá-los de perto. “Por fim, sinalizamos que um pagamento de dividendos menor pode implicar em grande queda em relação aos níveis atuais (cerca de 40%)”, avaliam. Os analistas possuem preço-alvo de R$ 37,50 para os ativos PETR4 (ainda um upside de 45%).