Light (LIGT3): ação desaba 16% após prejuízo bilionário e com atenção à estratégia para manter operações

Analistas destacam resultados fracos e impactados também por não-recorrentes, com investidores de olho no futuro da empresa

Lara Rizério

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Diferentemente do esperado, a Light decidiu fazer grandes ajustes nos resultados financeiros de 2022 para iniciar as negociações de dívida com um quadro mais limpo. Essa foi a visão do JPMorgan após os resultados da Light (LIGT3), divulgados na noite da última terça-feira (28). Após o balanço, as ações caíram forte, com baixa de mais de 10% durante boa parte do dia e fechando em queda de 16,31%, a R$ 1,95.

A distribuidora de energia do Rio de Janeiro fechou o ano de 2022 com um prejuízo de R$ 5,67 bilhões, afetada por efeitos não recorrentes contabilizados no quarto trimestre, que impactaram negativamente o resultado líquido consolidado. Em 2021, a distribuidora registrou lucro de R$ 398 milhões.

Segundo a companhia, a maior parte dos ajustes que impactou o quarto trimestre de 2022 se refere a uma provisão para devolução integral de créditos de PIS/Cofins aos consumidores nos termos da Lei 14.385/2022. Essa provisão impactou negativamente o resultado líquido em R$ 2,7 bilhões. Assim, surpreendendo as expectativas do banco e do consenso, a Light “jogou a toalha” na tese de crédito líquido do PIS/Cofins, provisionando assim os valores controversos no 4T22.

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O JP ainda ressalta a fala do CEO Octavio Pereira Lopes de que não vai colocar curativo na reestruturação da dívida e está tentando antecipar a renovação da concessão que vence em 2026.

“Nós iniciamos discussões com a Aneel e o Ministério de Minas e Energia em busca da renovação antecipada em bases que garantam a sustentabilidade da concessão e do nosso negócio. A renovação precisa levar em consideração as particularidades do Rio de Janeiro, especialmente em relação às perdas não técnicas em áreas de severa restrição operacional e a altíssima reincidência no furto de energia e inadimplência em áreas convencionais”, disse ele.

A proposta está em linha com o que vem sendo discutido também para a Amazonas Energia, outra distribuidora em situação difícil, como destaca a Reuters. Os dois casos vêm pressionando o novo governo a buscar rapidamente uma solução definitiva para reverter a piora das concessões, que em um dos casos pode até culminar em caducidade.

Segundo a administração da Light, enquanto a concessão não é renovada, foram traçadas estratégias para manter a continuidade das operações. As iniciativas envolvem, por exemplo, a utilização de recursos oriundos de vendas de ativos, obtenção de extensão de prazos de pagamento junto a fornecedores e credores, captações em bancos ou mercado de capitais, aumento de capital, redução de investimentos que não prejudiquem as operações e atuação nos âmbitos regulatório e jurídico/legal.

“Para ajudar e assessorar a companhia a lograr as diversas estratégias mencionadas acima, a administração contratou uma série de consultores, assessores legais, regulatórios e financeiros”, disse a Light.

Adicionalmente, existiam importantes provisões para devedores duvidosos, contingências e imparidades fiscais (na sua maioria não recorrentes e em parte não caixa). Os resultados operacionais ficaram abaixo das projeções, com os volumes em queda além do esperado e as perdas em altas marginais, levando ao “impressionante” prejuízo líquido do ano de R$ 5,6 bilhões (US$ 1,1 bilhão).

“Por um lado, saudamos a decisão da LIGT3 de realizar os tão esperados ajustes que já haviam sido feitos por outras empresas do setor em relação à mesma batalha sobre o PIS/Cofins. Por outro lado, o grande prejuízo líquido ressalta que a Light está chegando a um ponto crítico em que precisa acertar o futuro de sua concessão com o governo, o regulador e os credores. A LIGT3 está em negociações com o governo para uma extensão antecipada da concessão, o que aceleraria o processo de reestruturação”, destaca o JPMorgan, citando que o CEO vê como improvável o cenário de não-renovação da concessão. O resultado e o impacto para os acionistas da LIGT3 permanecem incertos, mas os analistas acreditam que um cenário de aquisição da empresa seja possível após a definição da concessão.

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O índice de alavancagem da Light subiu para 3,32 vezes a relação entre dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda ajustado) dos últimos doze meses, ante 3 vezes no trimestre anterior. A empresa atende a covenants  (cláusulas contratuais junto às instituições financeiras credoras) de 3,5 vezes, mas está cada vez mais próxima desse patamar crítico.

O banco ainda cita fala do CEO em entrevista que a Light não deveria usar sua posição de caixa de R$ 2 bilhões nem tomar empréstimos novos para pagar dívidas de curto prazo, pois isso não constituiria uma solução de longo prazo.

Para ele, os ajustes feitos nos resultados do 4T22 permitem à Light iniciar negociações objetivas e concretas com os credores. A empresa busca uma solução de longo prazo com a reestruturação do balanço, mas muitas opções estão sendo consideradas, como o reperfilamento da dívida e, eventualmente, um aumento de capital enquanto negocia uma extensão antecipada da concessão com o governo federal (a concessão expira em 2026).

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Mais importante ainda, Lopes afirmou que deveria ser uma reestruturação extrajudicial. O CEO está confiante de que o governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apoiam a busca de uma solução estrutural para os desafios da Light. Segundo ele, a prorrogação da concessão permitiria uma negociação com os devedores em 90 dias e com o governo em 12 meses.

O Itaú BBA destaca os resultados da companhia como fracos, mas citam a visão da gestão de que, apesar dos desafios de liquidez, a empresa provavelmente conseguirá continuar fornecendo seus serviços para a população nos próximos 12 meses.

A empresa não divulgou seus números trimestrais, e parece que houve alguns ajustes contábeis que impossibilitaram a comparação com os números de previsão da casa.

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As perdas de energia atingiram 26,51% no 4T22, de 25,98% no 3T22, muito acima do nível regulatório de 21,53%. A inadimplência recorrente aumentou para 3,6% da receita bruta, que também está muito acima do nível regulatório e de seus trimestres anteriores.

A empresa destaca que cumpriu todos os seus covenants financeiros no 4T22, mas não cumpriu nenhum das cláusulas não financeiras de duas de suas debêntures devido a um rebaixamento da classificação de crédito.

O BBA também aponta que a Light listou uma série de possíveis medidas que poderia tomar para garantir a continuidade do serviços, como negociar a postergação do pagamento da amortização da dívida, uma potencial capitalização, reduzindo o nível de capex sem comprometer a qualidade do serviço, tentar suspender o repasse do crédito tributário de PIS/Cofins ou negociar com o regulador para aumentar o nível de perdas regulatórias.

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Repercussões após balanço

Neste sentido, os analistas avaliaram a teleconferência desta quarta como um catalisador importante, pois foi a primeira vez que a nova gestão apresenta resultados e compartilha sua visão sobre a estratégia da empresa. Tanto o JPMorgan quanto o Itaú BBA possuem recomendação equivalente à venda para os ativos LIGT3.

Na teleconferência, o CEO destacou que a distribuidora tem um cenário desafiador pela frente para conseguir restabelecer seu equilíbrio econômico-financeiro, citando que os números da empresa mostram o “tamanho de desafio”.

Lopes afirmou que o combate a furtos de energia e inadimplência é inviável em áreas com restrições operacionais do Rio de Janeiro.

Diante das dificuldades de caixa, a companhia já cortou despesas e investimentos que não são fundamentais para os serviços prestados e não trazem retorno. O executivo reforçou ainda a intenção da companhia de antecipar renovação da concessão da distribuidora.

Em entrevista à Reuters, diretores da Aneel apontaram que a situação da distribuidora fluminense  é muito preocupante e uma solução deve ser encontrada ainda este ano para que a empresa possa se recuperar das dificuldades financeiras sem que consumidores sofram grandes impactos de medidas do governo, dividindo-se o ônus, .

Um dos pontos cruciais será chegar a uma divisão “adequada” do ônus financeiro que a empresa tem por não conseguir operar em determinados locais de sua área de concessão, como aqueles dominados por milícia ou tráfico, segundo Helvio Guerra e Agnes da Costa, que estiveram no Rio de Janeiro para um evento nesta quarta-feira.

“A solução (para a Light) tem que sair logo; não dá mais para segurar isso. Até o fim deste ano espero que se tenha ao menos um encaminhamento”, disse Guerra.

Guerra lembrou que, em alguns casos, a Aneel já aceitou flexibilizar parâmetros regulatórios dos contratos de distribuição, mas isso geralmente ocorre quando há troca de controlador. No caso da Light, a empresa diz que pretende manter a concessão e uma devolução seria “muito pouco provável”.

O diretor da Aneel acrescentou ainda que qualquer que seja a solução para Light, ela tem que ser bem percebida e aceita pela população.

“Isso tem que ser muito bem tratado para que haja uma percepção do consumidor do Rio que essa solução é positiva para melhorar a qualidade do serviço”, frisou.

(Com Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.