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Um novo ruído impacta as ações da Ambev (ABEV3) na sessão desta quarta-feira (1). Se, desde que o escândalo contábil na Americanas (AMER3), os ativos ABEV3 têm um desempenho negativo na Bolsa (com queda de 8%) por terem em comum o trio de acionistas Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, desta vez uma acusação mais direta sobre um suposto rombo da fabricante de bebidas impactou os ativos na Bolsa, ainda que analistas façam muitas ressalvas sobre o tema e vejam a reação como exagerada.
Um pouco depois da abertura do mercado, por volta das 10h30 (horário de Brasília), a coluna Radar Econômico, da Veja, publicou um estudo feito pela AC Consultoria e contratado pela Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), que representa produtores menores do que a Ambev. A associação apontou um rombo estimado em R$ 30 bilhões em supostas manobras tributárias feitas por empresas de bebidas.
A publicação informou que o estudo acusaria a Ambev de inflacionar o preço de componentes necessários à produção do refrigerante e que são passíveis de isenção e geração de créditos fiscais na Zona Franca de Manaus, o que levaria ao acúmulo irregular de mais créditos tributários do que teria direito.
Com isso, as ações passaram a cair cerca de 4% (em um dia negativo para o Ibovespa) e chegaram à mínima de R$ 12,85 no dia, ou baixa de 5,93%. No fechamento da sessão, os papéis ABEV3 fecharam em queda de 3,51%, a R$ 13,18.
Em nota, a Ambev se defendeu e disse que “as acusações da Cervbrasil não têm qualquer embasamento. Calculamos todos os nossos créditos tributários estritamente com base na lei. Nossas demonstrações financeiras cumprem com todas as regras regulatórias e contábeis, as quais incluem a transparência do contencioso tributário. A Ambev está entre as 5 maiores pagadores de impostos no Brasil.”
Posteriormente, o economista André Paiva, da AC Consultores, disse ao portal O Antagonista que o contencioso de R$ 30 bilhões diz respeito a toda a indústria de bebidas frias da Zona Franca de Manaus – da qual a Ambev faz parte. Paiva não soube dizer o valor específico da cervejaria, mas afirmou que o problema em si merece investigação. O InfoMoney teve acesso ao estudo e o nome da Ambev não foi mencionado.
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Antes mesmo do esclarecimento, a notícia já tinha sido vista com ressalvas por muitos analistas de mercado. Bancos como o Credit Suisse e BTG Pactual viram o movimento como exagerado.
O BTG ressalta que a CervBrasil é a associação que representa o Grupo Petrópolis (GP) e outras cervejarias brasileiras menores, tendo sido historicamente vocais e veementemente contra os créditos tributários gerados por empresas como Ambev e Coca-Cola na produção de concentrados de refrigerantes na Zona Franca de Manaus (ZFM ).
Basicamente, as empresas que operam na ZFM estão isentas do IPI, mas quem compra concentrado delas ainda consegue reconhecer créditos tributários com base na alíquota nominal do IPI. Lembra ainda que os R$ 30 bilhões mencionados no artigo, na verdade, referem-se a estimativas da Receita Federal relacionadas a reivindicações de impostos acumulados em disputa entre o fisco e as empresas de bebidas. Sendo assim, aponta, a parte eventualmente relacionada à Ambev é “indiscutivelmente muito menor”.
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O banco lembra que essa história remonta a um longo caminho uma vez que, desde o governo Temer, o governo vem tentando reduzir o crédito de IPI sobre concentrados de forma a reduzir tal distorção. O crédito consiste numa devolução feita pelo governo às empresas do setor em crédito pelo pagamento de IPI. O benefício caiu de uma base de 20% em
agosto de 2018 para 8% atualmente, o que significa que boa parte dele já está perdido. Na verdade, essa é uma razão importante para a pressão de margem que as engarrafadoras do grupo Coca-Cola (KO) que operam no Brasil nos últimos anos, avalia o banco.
No caso da Ambev ,o impacto deve ser ainda menor dado o tamanho das bebidas não alcoólicas (Non-Alcohol Beverages – NAB) para todo o negócio (7% da projeção do Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações esperado para 2022.
“Então, qualquer discussão relativa a eventuais mudanças no funcionamento da ZFM deve ser bastante diluída”, destaca o BTG, ressaltando que não há muita novidade nesse tema.
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Com base nos números do terceiro trimestre de 2022, a Ambev tem R$ 5,6 bilhões de perdas “possíveis” relacionadas a créditos fiscais associados à Zona Franca de Manaus (pouco menos de 3% do valor de mercado).
Mas parece justo dizer que, se esses créditos deixarem de existir, as empresas provavelmente repassarão parte desses custos aos preços, avaliam os analistas do BTG. Eles citam outros possíveis riscos que consideram maiores, como uma reforma tributária potencialmente mais ampla que possa enfrentar os incentivos fiscais associados a pagamentos de Juros sobre Capital Próprio (JCP), além do cenário macro desafiador. “Portanto, pensamos que esse ruído em particular é muito exagerado, mas permanecemos neutros quanto às ações da Ambev”, afirmam.
Um analista ouvido pelo InfoMoney também menciona que a Ambev reporta até R$ 5,6 bilhões como o risco “possível”, mas outros valores já foram removidos por conta de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
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Além disso, o especialista vê o número de R$ 30 bilhões reportado com desconfiança, mas que, mesmo se fosse correto, não quebraria a Ambev, “que é muito maior” [que a Americanas]. Mas, reforça, a expectativa que havia para que um evento desse acontecesse depois do “caso Americanas” acabou impactando a ação.
O Goldman Sachs, que tem recomendação de venda para a ação, destaca alguns outros números, mas reforçando que a Ambev tem um balanço patrimonial sólido. A Ambev, destaca, tem R$ 86,9 bilhões em possíveis contingências fiscais que não estão provisionadas (incluindo imposto de renda e contribuição social, ICMS e IPI, PIS e Cofins e outros litígios), enquanto registra um saldo acumulado de R$ 986 milhões em provisões para disputas e litígios gerais.
Mais tarde, o JPMorgan também destacou que houve uma má interpretação sobre o conteúdo do relatório da consultoria, no contexto do barulho recente da Americanas, o que levou a uma reação exagerada. O banco tem recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para o ativo, com preço-alvo de R$ 16,50.
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Cabe apontar que, na véspera, o Citi destacou que as ações da Ambev estão sofrendo pressão por conta das polêmicas envolvendo a Americanas e a 3G Capital, mas a empresa não deve ser impactada pelo processo de recuperação judicial da varejista.
Os analistas do banco apontam ainda que o acordo de acionistas atual da fabricante de bebidas tem vigência até 2034, o que torna bastante improvável uma venda dos ativos por parte do trio de bilionários para tentar sustentar as operações da Americanas.
Operacionalmente, a Ambev também passa por um momento operacional e competitivo relativamente favorável, ocupando posição de liderança no seu mercado e com crescimento, o que reduz riscos. O Citi tem recomendação de compra para Ambev, com preço-alvo de R$ 18,50.