A reação do mercado à nova variante da Covid faz sentido ou foi exagerada?

Para alguns analistas, comportamento foi "irracional"; outros, dizem que o mercado reagiu naturalmente às incertezas

Mitchel Diniz

(Getty Images)
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SÃO PAULO – A sessão desta sexta-feira (26) era para ser tranquila, com pregão funcionando em horário reduzido nos Estados Unidos após as Bolsas terem fechado na véspera pelo feriado de Ação de Graças. Mas esta Black Friday acabou sendo muito mais conturbada do que se esperava, com a notícia de uma nova variante da Covid-19 derretendo Bolsas e commodities em todo o mundo. A nova cepa foi colocada em nível de “preocupação” pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas ainda não se sabe se a mutação do vírus, batizada de Omicron, é de fato resistente às vacinas ou qual seu nível de letalidade.

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O que se sabe é que o mercado não espera confirmações para reagir, mas será que o comportamento das Bolsas e commodities foi exagerado? Alguns analistas acreditam que sim. Para Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, o mercado entrou em um movimento irracional de manada.

“A gente ainda não sabe quais são os problemas dessa variante e pode ser que a vacina funcione, e nada muda. Nesse primeiro momento, como você tem falta de informações, o mercado tende a ser um pouco irracional e a derreter preços de alguns ativos que não deveriam derreter tanto assim”, afirma Franchini.

Irracional também foi o termo utilizado pelo JP Morgan em relatório distribuído aos seus clientes para classificar a reação dos mercados hoje. Os analistas do banco acreditam que a prontidão de resposta à Covid-19 está em um patamar bem diferente do de um ano atrás, e que não é possível ignorar os avanços de esforços globais para controle da pandemia, como vacinação ampla e a descoberta de antivirais orais.

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Em relatório divulgado mais cedo, analistas do Itaú BBA disseram que a reação do mercado à nova variante da Covid provavelmente foi “exacerbada” por liquidez baixa na sessão de hoje.

“Acreditamos que ainda é muito cedo para assumir que uma nova variante vá causar um grande impacto na economia global”, afirmaram. Para eles, a nova cepa descoberta na África do Sul não deve mudar os planos do Banco Central dos EUA (Federal Reserve) de acelerar a redução de estímulos em dezembro. Porém, o BBA que a perspectiva de um tapering ainda mais acelerado entrou em modo de espera por enquanto.

Reação natural

Para outros analistas, contudo, a reação de hoje dos mercados foi natural. “Já havia um movimento de lockdowns na Europa, que certamente aumentou o receio do mercado com relação a um potencial de novas restrições, esfriamento da economia e até uma recessão. Essa é a tese que o mercado está comprando”, afirmou Luiz Fernando Araújo, CEO da Finacap.

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Juan Espinhel, especialista em investimentos da consultoria Ivest, diz que o mundo já vinha avesso ao tema da pandemia e como a economia global ainda está sensível, qualquer possibilidade de movimento de lockdown poderia gerar um movimento como o visto hoje.

“Ainda não nos recuperamos das primeiras ondas pandemia em termos econômicos. Estávamos começando agora a tirar alguns estímulos nos Estados Unidos, na Europa, com os Bancos Centrais no mundo inteiro tentando acertar as contas. O temor do mercado vem disso”, explica Espinhel. Para ele não foi um movimento irracional, mas sim de incerteza.

Exagerado ou não, o comportamento do mercado deve responder às próximas informações a respeito da nova variante e como os países vão se comportar. Por enquanto,  a impressão que se tem, com diversos países restringindo voos da África e de nações onde casos da Omicron foram confirmados, é que pode haver retrocessos na retomada pós-pandêmica que se desenhava.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados