A polêmica história da caça ao rei da criptomoeda que virou filme da Netflix

Documentário conta a história da QuadrigaCX e a morte de seu fundador, Gerald Cotten, que criou diversas teorias da conspiração

Rodrigo Tolotti

Gerald Cotten, fundador da QuadrigaCX (fonte: reprodução)
Gerald Cotten, fundador da QuadrigaCX (fonte: reprodução)

Publicidade

Entre 2017 e 2018, o Bitcoin (BTC) passou por um dos seus momentos mais difíceis. Em um espaço de seis meses, sua cotação disparou para uma máxima de US$ 20 mil e rapidamente caiu mais de 60% do topo. Isso em um cenário em que muitas pessoas investiram todas suas economias na maior criptomoeda do mundo sem nenhum entendimento sobre ela, resultando em muitas histórias dramáticas de grandes perdas.

E no meio desse turbilhão, uma corretora que vinha se destacando no Canadá acabou protagonizando uma das histórias mais curiosas – e polêmicas – que já existiram até hoje no mundo cripto. Não bastasse as cotações derretendo, investidores da QuadrigaCX viram todos os seus ativos sumirem quando o CEO da companhia, Gerald Cotten, faleceu sem deixar ninguém com acesso aos criptoativos da empresa, tornando impossível o pagamento aos clientes.

Pelo menos essa era a versão contada publicamente.

Uma trama cheia de conspirações e reviravoltas, a história da QuadrigaCX e seu fundador é um dos mais novos lançamentos do catálogo da Netflix.

O documentário “Não Confie em Ninguém: A Caça ao Rei da Criptomoeda” conta como US$ 190 milhões sumiram após a morte de Cotten. Porém, o que poderia parecer apenas uma infelicidade se tornou um caso de polícia conforme teorias surgiram de que ele poderia estar vivo e havia aplicado um golpe nos usuários da sua corretora.

Com 1h30 de duração, o filme consegue resumir bem assuntos complexos, trazendo explicações curtas – mas acertadas – sobre o que são criptomoedas, blockchain e alguns outros termos desse mercado, conseguindo inserir facilmente qualquer leigo no assunto na história.

Continua depois da publicidade

O roteiro tem uma boa construção, colocando em ordem os fatos e trazendo as explicações para que o espectador não se perca enquanto assiste.

Porém, existe um certo desequilíbrio quando o diretor Luke Sewell busca trabalhar as diferentes teorias que foram surgindo conforme as semanas se passavam após o caso ser revelado. Com entrevistas focadas principalmente em ex-clientes da Quadriga, o filme tem dificuldade de ampliar diversos debates levantados por esse caso e passa boa parte focado em questões que não têm tanta importância quanto outras para o caso, mas que ganham a mesma relevância no filme.

Como uma obra focada para o grande público e que precisa ser atrativa, “Não Confie em Ninguém” passa a maior parte do tempo dramatizando essas teorias, mostrando seus personagens sofrendo e contando como foram impactados por tudo que aconteceu. Isso não seria necessariamente um problema, mas acaba tirando espaço de outros pontos importantes, como se aprofundar na indústria de falsos atestados de óbito que existe na Índia ou sobre a teoria envolvendo um esquema Ponzi com a Quadriga.

Continua depois da publicidade

Essas são decisões que provavelmente foram tomadas de forma consciente, buscando tornar o filme mais fácil, mas pode afastar quem já conhece essa história. Investidores cripto de longa data ou pessoas que estudam bastante o mercado podem não ter nada de novo no lançamento da Netflix.

Criptomoedas e conspirações

O documentário tem também um ponto importante que busca trabalhar, que é como o mundo das moedas digitais está envolto de muitas teorias de conspiração e pessoas que tendem a acreditar nessas narrativas alternativas.

O longa abre com um monólogo indicando que esse será um ponto importante do roteiro, mas aos poucos vai deixando o debate de lado e parece que se perde ao ponto de dar um destaque até exagerado a algumas teorias sem fundamentos.

Continua depois da publicidade

Vale lembrar que a criação do Bitcoin se dá no cenário da crise de 2008, quando muitas pessoas perderam qualquer confiança que tinham nas grandes instituições financeiras. A base dos ideais da criptomoeda lida exatamente com a intenção de dar poder aos seus usuários, que podem negociar ativos e fazer transações sem interferência de nenhum governo, banco ou outra instituição.

Essa é uma discussão bastante complexa e a história das criptos mostra a dificuldade de existirem ativos 100% independentes de qualquer governo ou banco. Não há como chegar a uma conclusão, mas enquanto o filme chega a levantar o debate, ele se perde em desenvolver o tópico, preferindo apenas manter essa questão como um alerta para o que pode ter acontecido na história da Quadriga.

A história da QuadrigaCX e Gerald Cotten

Fundada em 2013 no Canadá por Gerald Cotten, a QuadrigaCX rapidamente cresceu e se tornou a maior corretora de criptomoedas do país, em um cenário em que havia pouco conhecimento sobre ativos digitais entre o público geral, sendo  um mercado ainda muito nichado.

Continua depois da publicidade

Veja também: Casal é acusado de tentar lavar mais de US$ 3,6 bi em bitcoins roubados

Porém, com o boom do Bitcoin em 2017, a companhia passou a ganhar muitos novos clientes – e bastante dinheiro -, o que acabou durando pouco uma vez que, em poucos meses, a criptomoeda perdeu mais de 60% de seu valor. Na época, corretoras no mundo todo sofreram com o fluxo de clientes tentando resgatar seus ativos diante do pânico e não são raros os casos de investidores que não viram seu dinheiro.

A Quadriga parecia ser apenas mais uma dessas empresas conforme seus clientes relatavam que não conseguiam sacar seus ativos, mas a história ganhou outros rumos quando jornais do mundo inteiro noticiaram que Cotten havia morrido durante uma viagem à Índia, deixando US$ 190 milhões em criptomoedas “travados” já que ele seria o único com as chaves de acesso às carteiras.

Continua depois da publicidade

Porém, mais do que uma coincidência estranha, o fato só veio à público em fevereiro de 2019, mais de um mês após acontecer, segundo o atestado de óbito divulgado, o que levantou suspeitas – e muitas teorias.

As três principais hipóteses levantadas foram: 1) Cotten fingiu sua morte como parte de um grande golpe, mudou de aparência e nome e está escondido em algum lugar do planeta; 2) sua esposa, Jennifer Robertson, foi responsável por sua morte e ficou com o dinheiro dos clientes; 3) Cotten está realmente morto e os fundos se perderam.

O resto dessa história pode ser conferido em “Não Confie em Ninguém: A Caça ao Rei da Criptomoeda”.

Até onde as criptomoedas vão chegar? Qual a melhor forma de comprá-las? Nós preparamos uma aula gratuita com o passo a passo. Clique aqui para assistir e receber a newsletter de criptoativos do InfoMoney

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.