A moratória da Rússia que fez o Ibovespa despencar mais de 15% em um dia e ter cinco circuit breakers em menos de um mês

1998 não foi um ano fácil para o mundo, após a crise dos Tigres Asiáticos; o Brasil tinha características parecidas com a Rússia e, por isso, sofreu mais

Anderson Figo

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SÃO PAULO — No dia 10 de setembro de 1998, o Ibovespa despencou 15,83% em mais um pregão de pânico causado pela moratória da Rússia, que vivia uma grave crise com a forte desvalorização de sua moeda, o rublo. Só naquele pregão a Bovespa, hoje B3, foi obrigada a acionar o circuit breaker por duas vezes. O mecanismo de paralisação automática dos negócios entrou em ação cinco vezes entre 21 de agosto e 17 de setembro daquele ano.

A Rússia era governada por Boris Yeltsin e havia se tornado a maior tomadora do Fundo Monetário Internacional, o FMI. O país vivia em um emaranhado de dívidas, com desorganização econômica, sonegação fiscal e inadimplência interna generalizadas. Mais da metade da população não pagava impostos.

Na primeira semana de agosto, o índice da bolsa de Moscou perdeu 24% de seu valor, e a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota das dívidas russas em moeda estrangeira. O presidente Yeltsin precisou interromper suas férias de verão para retornar a Moscou.

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Em 16 de agosto, o governo e o banco central sucumbiram às pressões sobre o rublo, e foi decretada moratória internacional de 90 dias. Houve desvalorização da moeda de 33% e foram suspensas as negociações com bônus internos de curto prazo. Era a senha para que o mercado internacional de crédito mergulhasse em novas e graves incertezas, com acelerada depreciação de todos os ativos financeiros ao redor do mundo.

A moratória da Rússia em 1998 é o tema do décimo segundo episódio de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo SpotifyAmazon MusicGoogle PodcastsSpreakerDeezerApple Podcats (iTunes)Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.

“O Brasil tinha uma série vulnerabilidades em comum com a Rússia. A gente tinha sérios desequilíbrios fiscais. Vamos lembrar o ajuste, a gente tinha prometido um ajuste no final de 1997, que tinha sido o famoso pacote 51, na esteira da crise asiática, e não tinha entregue. Então, nós tínhamos uma situação fiscal delicada. Nosso superávit primário, que era elevado em 1994, em 1997 e 1998 tinha praticamente desaparecido”, disse o economista Alexandre Schwartsman, colunista do InfoMoney e ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central.

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“A dívida vinha numa trajetória crescente. O Brasil tinha um desequilíbrio de contas externas também visível. Muito embora o país não tivesse crescido, o país praticamente não cresceu em 1998. A inflação foi baixíssima naquele ano. Ainda assim, apesar do crescimento zero praticamente, nós tínhamos um desequilíbrio externo enorme, o que era uma indicação clara de que a moeda estava supervalorizada”, completou.

Schwartsman conta os bastidores econômicos da crise russa que teve efeitos diretos no Brasil e no mundo. Em 1998, o Ibovespa acumulou uma queda nominal de 33,5%. Já o principal índice da bolsa de Moscou teve perda de 45,5% em 12 meses. Ouça o podcast acima.

Sobre o podcast

Os Pregões que Fizeram História é o podcast do InfoMoney que conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.

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O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estarão na série.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.