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O Ibovespa bateu recorde de fechamento na última segunda-feira (19) ao encerrar o último pregão aos 135.778 pontos, alta de 1,36%. Boas notícias no exterior e também domésticas motivaram o bom resultado, disseram analistas. Antes, o maior patamar, de 134.193 pontos, havia sido atingido em 27 de dezembro do ano passado.
A valorização do principal índice da B3 acompanhou a alta das Bolsas americanas, em meio à redução das apostas de recessão nos Estados Unidos e diante da possibilidade crescente de queda dos juros no país em 0,25 ponto porcentual em setembro ao menos. “Há consenso de que haverá queda dos juros americanos em setembro, apesar de falas contrárias de alguns dirigentes do banco central dos Estados Unidos”, diz Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital. “Os dados mais recentes sobre a economia americana têm contribuído para afastar os temores quanto a uma possível recessão por lá”, disse Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.
Há ainda uma expectativa de sucesso nas negociações de um cessar-fogo em Gaza, na Palestina, o que diminuiria as tensões no Oriente Médio, agravada nos últimos dias. Com isso, os contratos futuros do petróleo recuaram mais de 2,5% ontem.
No cenário doméstico, declarações do diretor do Banco Central Gabriel Galípolo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre metas de inflação animaram os investidores. “O aparente alinhamento entre as falas do presidente Lula e do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, parece ser o motivo da alta de hoje (ontem)”, diz Inácio Alves, analista da Melver.
Na visão de Takeo, a tendência de alta do índice da Bolsa ontem continuará, a despeito do fechamento em baixa registrado na sexta-feira (-015%), após oito altas seguidas. “O fluxo de estrangeiros está forte, e já soma R$ 4 bilhões em agosto.”
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A XP também lembra que, depois de uma forte saída de estrangeiros na 1ª metade de 2024, que acumulou quase R$ 40 bilhões, os fluxos finalmente voltaram a ser positivos em julho e até agora em agosto.
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“Vemos isso como resultado de uma melhora no cenário macro externo e uma descompressão de riscos domésticos, ilustrando a melhora do sentimento em relação ao mercado de ações brasileiro. Porém, olhando para a indústria de fundos, os fundos de ações registraram seu maior nível de saída líquida dos últimos 12 meses. O ADTV (em português, Volume Médio de Negociações Diárias) da B3 em julho caiu abaixo de R$ 22 bilhões pela primeira vez desde 2019, enquanto a capitalização de mercado aumentou para R$ 4,4 trilhões, com 373 empresas listadas”, avaliam os estrategistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Felipe Veiga, que assinam o relatório da XP.
O JPMorgan ressalta que “a maré virou, com os estrangeiros ‘navegando’ novamente” em agosto, após uma entrada de R$ 3,5 bilhões em julho, o que representa uma reviravolta significativa em relação à grande saída observada no primeiro semestre, que chegou perto de R$ 40 bilhões.
A visão dos estrategistas é que os rendimentos mais baixos dos Treasuries — agora impulsionados pela aproximação da flexibilização monetária do Fed — são uma fonte direta de capital para mercados de alto beta (medida do risco decorrente da exposição a movimentos gerais de mercado), com o Brasil como o principal mercado.
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“Além disso, é preciso reconhecer que o cenário já estava muito sombrio: o Brasil era o mercado com pior desempenho até agora e o real era a moeda com pior desempenho. Foi incrível observar a resiliência do mercado brasileiro no início do mês, quando os temores de recessão nos EUA ressurgiram e o desmonte do carry trade [operação em investidor toma dinheiro emprestado barato em moeda forte e depois investe em outra com rendimentos mais elevados] estava em pleno vigor. Do ponto de vista local, as manchetes também foram mais amenas, com o Poder Executivo falando sobre responsabilidade fiscal e o banco central tentando melhorar a credibilidade da política monetária adotando um tom hawkish [mostrando preocupação com o fiscal e indicando juros altos]”, avaliam os estrategistas do JPMorgan.
Tudo isso permitiu que as ações subissem e o real se apreciasse. “O que é interessante notar, no entanto, é que o Brasil está vendo entradas de capital, enquanto fundos e ETFs de mercados emergentes continuam a ver saídas. (…) A alocação de ativos por consenso indica que os fundos de mercados emergentes estão aumentando as alocações no Brasil, mas diminuindo no México e na China”, avalia a equipe de estratégia, que aponta que o país segue sendo o mercado de maior consenso overweight (exposição acima da média) entre os emergentes.
O Itaú BBA aponta que houve uma entrada líquida de R$ 3 bilhões nos últimos cinco pregões de investidores estrangeiros no mercado de ações à vista, somando R$ 10,8 bilhões desde os picos de resgates em meados de junho, reduzindo sua saída acumulada no ano para R$ 32,5 bilhões. Investidores institucionais locais permanecem como vendedores líquidos, com uma saída de R$ 8,6 bilhões até agora neste mês.
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O setor financeiro continua sendo a categoria com melhor desempenho, seguido pelos setores doméstico e commodities. Em termos setoriais, Alimentos & Bebidas, Saúde e Grandes Bancos foram os melhores desempenhos na semana passada, enquanto Transporte, Educação e Agronegócio foram os piores desempenhos. No contexto dos mercados emergentes, o Brasil se destaca, com o segundo melhor desempenho na semana passada, atrás apenas da Coreia do Sul.
(com Estadão Conteúdo)