A história do ministro que usou criptomoedas para mudar o desfecho de uma guerra

O governo da Ucrânia fez história ao levantar quase US$ 180 milhões em criptomoedas

CoinDesk

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Enquanto o universo cripto estava agitado com a queda da exchange FTX, o ministro ucraniano da transformação digital, Mykhailo Fedorov, 31 anos, tinha uma preocupação mais urgente: impulsionar o país, em meio à guerra, em direção a um futuro digital.

Com mísseis zunindo no céu sobre a capital ucraniana de Kiev, apagões de energia e interrupções na internet, o trabalho do Ferov, que já foi head de uma agência de marketing, tornou-se exponencialmente mais difícil.

Desde o início da luta, as realizações de Fedorov incluem reconstruir milhares de estações de comunicações móveis destruídas pelos russos, obter terminais de satélite Starlink diretamente de Elon Musk, trazer o PayPal para a Ucrânia, liderar o lançamento de um novo fundo de risco para apoiar startups locais e inserir as criptomoedas no radar do país.

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Neste ano, a Ucrânia fez história ao lançar com sucesso a maior arrecadação de fundos em criptoativos do mundo. Quase US$ 180 milhões em doações foram arrecadados por vários fundos ucranianos desde o início da invasão russa, de acordo com a empresa de análise Crystal Blockchain, que atualizou o número pela última vez em 30 de setembro de 2022.

O ministério da Transformação Digital, ou Mintsyfra, como é chamado informalmente pelos ucranianos (“tsyfra” Kyivsignifica “dígito” em ucraniano), liderou esse esforço. O dinheiro foi gasto em armas e munições para o exército, além de ajuda humanitária para civis, segundo o ministério.

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Mensagens de texto com o governo

Alex Bornyakov, vice-ministro de transformação digital da Ucrânia, estava em seu carro com sua família, saindo de Kiev no segundo dia da guerra, quando recebeu uma ligação de seu chefe, Fedorov.

Fedorov sugeriu lançar uma arrecadação de fundos em cripto, além de fiat, já que o país precisava desesperadamente de dinheiro para lidar com a catástrofe que se desenrolava. Navegando em seu carro pelo tráfego denso enquanto “toda a Ucrânia estava em movimento”, Bornyakov ligou para Michael Chobanyan, fundador da primeira exchange de criptomoedas da Ucrânia, a Kuna, disse o vice-ministro ao CoinDesk.

“Naquela época, não tínhamos nenhuma expectativa”, falou em entrevista por e-mail. “Basicamente, não havia tempo para pensar se poderia funcionar ou não. Nós apenas fizemos o que podíamos.”

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O que Fedorov sabia na época era que o sistema fiduciário não estava funcionando para a Ucrânia. No segundo dia da guerra, o banco central do país introduziu limites severos às transferências de moeda estrangeira dentro e fora da Ucrânia para impedir a corrida à moeda nacional.

“Com isso, as doações do exterior pelos métodos tradicionais enfrentaram problemas. Então precisávamos de uma ferramenta para realizar essas transações rapidamente. E as criptomoedas foram nossa primeira escolha para isso. Até a chegada da ajuda principal, elas serviram como uma ponte para apoiar as Forças Armadas Ucranianas e o povo da Ucrânia”, disse Fedorov.

Foi assim que a Ucrânia se tornou a primeira nação a abrir uma arrecadação de criptomoedas durante uma guerra. Nas duas primeiras semanas de invasão, os doadores enviaram cerca de US$ 100 milhões em criptoativos para o país. Esse número pode parecer modesto em comparação com os milhões arrecadados em moeda fiduciária ao mesmo tempo, mas foi uma contribuição importante que permitiu à Ucrânia comprar 213 drones, armas e outros suprimentos para o exército, conforme Fedorov divulgou em agosto.

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Para comprar esses bens, a Ucrânia precisava trocar as doações cripto por dólares americanos, mas muitas exchanges estrangeiras relutavam em lidar com qualquer coisa relacionada à guerra, disse Sergii Vasylchuk, fundador do Everstake, um serviço de staking (processo de renda passiva). A única corretora que concordou foi a FTX, na época uma das maiores e aparentemente bem-sucedidas empresas cripto do mercado.

A sombra da FTX

Agora, após o colapso da FTX, a conexão entre a corretora e o governo ucraniano se tornou a base de uma teoria da conspiração envolvendo o Partido Democrata dos EUA e usada para semear mais divisões políticas aqui. É mais ou menos assim: ao usar a FTX como a exchange de criptomoedas para arrecadação de fundos durante a guerra, a Ucrânia “investiu” na FTX, e a exchange, liderada por seu fundador – Sam Bankman-Fried, que era um megadoador do Partido Democrata – foi usada pelo partido para lavar dinheiro sob o pretexto de ajuda dos EUA à Ucrânia. Esta teoria desafia a lógica.

Bornyakov refutou a teoria em um tuíte de novembro, explicando que a Ucrânia usou a FTX para sacar doações de cripto em março, mas nunca “investiu” nela. Ele reiterou isso na entrevista ao CoinDesk.

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O link com FTX é um problema agora, é claro. Mas em março, era uma tábua de salvação: “Eu não precisava correr e procurar lugares para trocar as criptos [das doações] por [moeda fiduciária]. Quando as pessoas me perguntavam, eu simplesmente apontava para a FTX”, disse Bornyakov.

Estado digital

Fedorov entende muito bem o poder da tecnologia blockchain. No entanto, pessoalmente, isso não é seu principal interesse e prioridade. A conquista de maior orgulho de Fedorov é o Diia, um aplicativo para smartphone que permite aos ucranianos obter cópias digitais de todos os seus documentos governamentais e solicitar uma variedade de serviços governamentais eletronicamente, por meio de uma única interface.

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Mintsyfra levou muito menos tempo do que qualquer um esperava para desenvolver o Diia, que agora, durante a guerra, provou seu valor, ajudando os refugiados a ter tranquilidade sobre a acessibilidade de seus documentos oficiais, disse Vasylchuk.

A guerra acelerou o desenvolvimento de recursos adicionais e agora os ucranianos também podem receber ajuda financeira do governo por meio da ferramenta, bem como doar para o exército e relatar os movimentos das tropas e equipamentos inimigos, disse Fedorov ao CoinDesk.

Ele acrescentou que ele e sua equipe consideram as criptomoedas “bastante empolgantes” com aplicações promissoras para o futuro da Ucrânia.

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