A evolução dos dividendos da Petrobras em 5 gráficos

Em 2022, a Petrobras chegou a ocupar o patamar de maior pagadora de dividendos do mundo, mas nem sempre a petroleira teve uma distribuição de proventos tão agressiva

Carla Carvalho

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Junto com a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2024, a Petrobras (PETR4) anunciou o pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) no valor de R$ 13,45 bilhões.

Embora o resultado e os proventos tenham vindo abaixo do que o mercado esperava, o fato é que, nos últimos anos, a petrolífera tem sido uma das maiores pagadoras de dividendos, não só da bolsa brasileira, mas também entre as suas concorrentes mundiais.

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Para os investidores, o apelo do dinheiro no bolso parece ser tão (ou mais) forte do que propriamente os resultados da empresa, e não é para menos: nos últimos três anos, a Petrobras distribuiu mais dividendos do que entre 2010 e 2020. Mas que acompanha o mercado acionário e o histórico da companhia, sabe que essa performance não é regular.

Entre resultados robustos vindos do pré-sal, controle de preços, escândalos de corrupção e desinvestimentos, os resultados – e principalmente os dividendos – oscilaram fortemente nos últimos anos. Com dados fornecidos por Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria, montamos cinco gráficos que ajudam a entender essa dinâmica de 2010 para cá. Acompanhe e entenda a evolução dos dividendos da Petrobras.

Desde 2021, a Petrobras está entre as três empresas do setor que mais pagaram dividendos

Em 2021, a Petrobras pagou US$ 13 bilhões em dividendos, um salto ante ao ano anterior, quando os proventos distribuídos ficaram na casa de US$ 1,28 bilhões.

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Mas o recorde veio em 2022, com a distribuição de US$ 37,29 bilhões. O valor superou o somatório do que Exxon Mobil, Chevron e Petrochina pagaram aos acionistas no mesmo período. Cabe lembrar que 2022 foi o ano em que a Petrobras registrou o lucro recorde de US$ 36,62 bilhões, resultado fortemente impactado pela disparada do petróleo na época.

Em 2023 a brasileira se manteve em primeiro lugar no ranking de dividendos das petrolíferas, tendo distribuído US$ 20,27 bilhões. Em segundo e terceiro lugar, vieram Exxon (US$ 14,93 bilhões) e Chevron (US$ 11,33 bilhões).

Evolução do dividend yield da Petrobras

Em 2021, o petróleo tipo Brent era comercializado a uma média de US$ 60 o barril. No ano seguinte, a escassez gerada pela guerra da Ucrânia e por sanções econômicas impostas à Rússia fizeram a commodity disparar e alcançar a média de US$ 90, sendo que, em determinados momentos, o barril chegou a bater US$ 110. 

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Com o mercado aquecido, a Petrobras foi a empresa do mundo que mais pagou dividendos em 2022, com dividend yield (DY, ou valor do dividendo em relação ao preço da ação) de 58,84% em 12 meses. Para se ter uma ideia, isso representou quase 60% do valor de mercado da companhia na época.

A partir de 2023, os preços do petróleo começaram a recuar à medida que o abastecimento se regularizava, atingindo média anual em torno de US$ 80. Isso se refletiu no dividend yield da Petrobras e de suas concorrentes, mas ainda assim o indicador permaneceu elevado, como podemos observar na tabela e no gráfico abaixo:

                           Dividendos Pagos (US$ bilhões)             Dividend Yield (12 meses)

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Empresa202120222023202120222023
Petrobras13.03137.29820.27919,94%58,84%29,58%
Exxon Mobil14.92414.93914.9418,47%5,80%3,34%
Chevron10.17910.96811.3366,29%4,84%3,37%
Petrochina8.8499.30911.08710,89%10,15%
Equinor1.7975.38010.9063,41%4,86%10,05%

Dividendos x investimentos (CAPEX)

Desde a descoberta do pré-sal até meados da década passada, os investimentos da Petrobras superaram em muito a sua distribuição de dividendos. 

Na época, havia um contexto favorável para isso. Em 2003, teve início o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (PRONIMP), três anos antes de as primeiras reservas de petróleo serem encontradas na Bacia de Santos, em 2006. O programa impulsionou a indústria naval e offshore nacional, e o pré-sal colocou o Brasil em posição de destaque na produção de petróleo. 

Em 2013, ano do maior CAPEX dos últimos tempos (R$ 90 bilhões), a produção chegou a 300 mil barris por dia. Dois anos depois, o Brasil já produzia mais petróleo do que o seu consumo interno, com investimentos na ordem de R$ 69 bilhões. 

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Em 2016, a petrolífera atingiu a marca de um milhão de barris por dia, mas com queda nos investimentos, que somaram R$ 46,5 bilhões no ano e continuaram a cair, sob efeito do início da Operação Lava-Jato em 2014 e do impeachment da presidente Dilma Rousseff dois anos depois. 

Superado o período de maior turbulência, os investimentos crescem novamente em 2018, alcançando R$ 56,13 bilhões, mas com muitas oscilações nos anos seguintes. 2021 registra o menor CAPEX da história recente (R$ 8,76 bilhões); 2022 mostra forte reação (R$ 24,97 bilhões), tendência que se mantém em 2023 (R$ 42,20 bilhões), mas ainda bem distante da média de 2010 a 2015 (R$ 78,60 bilhões).

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Participação da União nos dividendos da Petrobras

A União detém 28,67% de participação total na Petrobras, mas tem o controle da empresa por ter 50,26% das ações ordinárias PETR3, com direito a voto. O recorde de resultados alcançado pela empresa nos últimos anos fez com que a parcela de lucro destinada ao Estado também crescesse de forma exponencial.

Em 2021, os cofres públicos receberam US$ 20,84 bilhões em dividendos, um salto comparado aos US$ 1,90 bilhões de 2020. Em 2022, o valor mais do que dobrou – foram US$ 55,79 bilhões – e, em 2023, recuou para U$ 28,14 bilhões, devido à queda do resultado ante o menor preço médio do petróleo no mercado internacional.

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Até 2023, a Petrobras distribuía como dividendos extraordinários o total de 60% da diferença entre caixa operacional e investimentos – desde que o seu endividamento ficasse abaixo de US$ 65 bilhões. Desde julho do ano passado, os critérios mudaram, com o dividendo trimestral da Petrobras estabelecido de no mínimo 45% de seu fluxo de caixa livre, isso também quando a dívida bruta da empresa for menor do que US$ 65 bilhões.

Recentemente, os acionistas conseguiram aprovar a distribuição de R$ 21,95 bilhões em dividendos extraordinários referentes ao resultado de 2023. O valor ficou abaixo dos R$ 43,9 bilhões que poderiam ser distribuídos além do dividendo obrigatório, respeitada a regra de endividamento máximo, mas analistas ficam na expectativa de que o valor restante possa ser pago no segundo semestre.

Parte dos R$ 72,4 bilhões de dividendos obrigatórios de 2023 foi paga ainda no ano passado.