A Amazon vai comprar a Saraiva? Não faz o menor sentido, afirmam analistas; ações desabam

Forte rumor da aquisição fez as ações da Saraiva dispararem na véspera, mas uma análise da estratégia da Amazon mostra que o negócio não vai em linha com o que a companhia faz

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Na tarde da última terça-feira (27) um novo rumor envolvendo a Saraiva (SLED4) surgiu no mercado e fez as ações da companhia dispararem na reta final do pregão, subindo quase 22%. Assim como ocorreu há cerca de seis anos, a novidade envolve uma possível compra da empresa pela Amazon, mas se isso realmente acontecer, será uma grande surpresa.

Recentemente aumentaram os rumores de que a empresa de Jeff Bezos estaria se preparando para ampliar suas operações no Brasil, passando a ofertar mais que apenas livros, com produtos eletrônicos sendo vendidos por meio do esquema de marketplace. Alguns analistas não descartaram a Amazon fazer alguma aquisição no País, mas segundo o BTG Pactual, a Saraiva não seria o tipo de ativo que a companhia costuma comprar.

Os analistas Fabio Monteiro e Luiz Guanais, em relatório publicado nesta quarta-feira (28), afirmam que a compra da Saraiva “vai no sentido oposto da estratégia de crescimento da Amazon no mundo”. “As últimas aquisições da empresa foram focadas em ativos de inovação ou com execução superior”, explicam. E parece que o mercado parou para avaliar o negócio também, com as ações da Saraiva recuando até 9% nesta quarta. 

Em relatório recente, o BTG já havia reforçado que a companhia de Bezos tem um foco grande em crescimento orgânico e esta provavelmente será a estratégia usada para aumentar sua participação no Brasil. Outro ponto bastante questionável no negócio é o preço que foi divulgado pelo blog “O Antagonista”, que deu a notícia na tarde de terça.

A proposta da Amazon seria de US$ 200 milhões, cerca de R$ 650 milhões. A questão é que o valor de mercado da Saraiva hoje na bolsa é de R$ 130 milhões, ou seja, um prêmio considerável ante o atual preço das ações – um valor 400% superior ao que a companhia vale hoje. A quantia equivale ainda a sete vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação, na sigla em inglês) da empresa para 2017, segundo previsões de mercado.

Um dos grandes argumentos que justificaria a compra da Saraiva seria a estratégia da Amazon de lançar uma operação já conhecida no exterior, com a retirada de produtos nas lojas físicas. O problema é que a companhia ainda não tem pontos físicos e por isso usaria as unidades da Saraiva (ou ainda um rumor sobre a Livraria Cultura) para fazer isto. Além disso, a brasileira também vende eletrônicos, o que poderia ajudar na expansão de Bezos no Brasil.

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Por outro lado, como apontam os analistas do BTG, a entrada mais forte da Amazon no Brasil muda o cenário competitivo para os players domésticos e apenas alguns poucos vão sobreviver, sendo que entre eles está a própria Amazon. A companhia é gigante no exterior e tem a força necessária para crescer por aqui, com um ótimo serviço e estrutura. Será que Jeff Bezos não confiaria em sua própria força para tentar conquistar o Brasil?

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.