6 ações caem mais de 40% e 5 sobem mais de 20%: destaques do Ibovespa no 1º semestre

Frigoríficos e Embraer foram destaque de ganhos na Bolsa, enquanto Azul, educacionais e Magalu estiveram entre as maiores quedas

Lara Rizério

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Um semestre bastante negativo para o Ibovespa se desenhou, com o índice fechando em queda de mais de 7%, afetado principalmente por ações de empresas ligadas ao consumo doméstico em meio à visão de juros altos por mais tempo tanto aqui quanto no exterior.

Por outro lado, empresas como frigoríficos BRF (BRFS3), JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) , além da Embraer (EMBR3), com várias delas tendo características de serem exportadoras, destacaram-se positivamente, em meio ao salto do dólar nesta primeira metade do ano.

Confira os destaques de baixa e de alta do Ibovespa no primeiro semestre de 2024:

Maiores quedas

Azul (AZUL4) e CVC (CVCB3): quedas de 54,15% e 44%

A primeira metade do ano não foi nada positiva para as ações da aérea Azul (AZUL4). No começo de 2024, os ativos foram muito pressionados pela recuperação judicial da Gol (GOLL4) nos Estados Unidos. Enquanto os analistas de mercado viram a princípio a RJ da rival como positiva para a Azul, com a companhia podendo ganhar espaço com uma eventual fraqueza ou diminuição das operações da Gol em meio ao processo, os papéis foram pressionados pelo aumento da percepção de risco com o setor em geral. AZUL4 chegou a ter alguns lampejos na Bolsa após a notícia de que estava interessada em “explorar oportunidades” com a Gol, dando sinalizações de fusão.

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Contudo, a alta do petróleo e do dólar, que correspondem a boa parte dos custos da companhia, acabou também por afetar as ações da companhia. O BTG Pactual ressalta que as aéreas estão entre as mais afetadas por um real mais fraco, com cerca de 80% de suas vendas em reais, enquanto cerca de 50% de seus custos caixa (principalmente combustível) são em dólares americanos. Contudo, cabe ressaltar, o Bradesco BBI destacou que a Azul precifica, no atual patamar das ações, um dólar a R$ 6,50 (ou seja, patamares bem acima dos atuais), mantendo assim compra para os ativos.

A alta do dólar também acaba por afetar ações de empresas relacionadas a aéreas, como de companhias de turismo, caso da CVC (CVCB3), também entre as maiores baixas do Ibovespa. Em meados de maio, os papéis da empresa ainda tiveram perdas com saídas da companhia como a do presidente do conselho de administração, Valdecyr Maciel Gomes, assim como a de outros três membros do colegiado. Além disso, o mercado segue precificando os desafios de a companhia melhorar o balanço, após frustração com os resultados do primeiro trimestre de 2024.

Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3): baixas de 52,75% e 49,28%

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As educacionais também estão entre as maiores baixas do Ibovespa, tanto por fatores macro – com juros altos por mais tempo afetando a visão do mercado com as condições da população para aderir aos cursos das companhias e endividamento alto -, mas também com o aumento do cerco do governo em alguns pontos, como ensino a distância.

Em revisão recente para as recomendações do setor, o Morgan Stanley entendeu que o setor continuará com múltiplos baixos. A análise destaca que a sustentabilidade de demanda ainda é incerta e que a alavancagem dos players ainda persiste. A piora na regulação faz com que o ensino à distância fique ainda mais arriscado, segundo o banco. O momento atual é composto por mais regulamentação através do Ministério da Educação e Cultura (MEC), enquanto há ainda aguardo por uma regulação própria. Os analistas do banco possuem recomendação equivalente à neutra para Cogna e Yduqs.

Magazine Luiza (MGLU3): queda de 43,95%

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Os juros altos por mais tempo, com a Selic sendo mantida em 10,5% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), além do cenário de maior risco para o Brasil, seguem afetando empresas de consumo e varejo, com destaque para o Magazine Luiza (MGLU3). Além disso, Magalu também é vista como uma das empresas mais afetadas negativamente pela alta do dólar, conforme apontou recentemente análise do Santander.

O movimento ocorre mesmo após alguns desdobramentos positivos para o setor e também para a companhia. A taxação das compras internacionais com valor de até US$ 50 em 20% gera alívio parcial para as domésticas, mas o cenário concorrencial segue bastante desafiador. Desta forma, o Magalu, em uma estratégia “se não pode vencê-los, junte-se a eles”, anunciou no fim do semestre acordo com a plataforma chinesa Aliexpress para venda de seus produtos em ambos os marketplaces. No último dia 24, MGLU3 saltou 12,28% reagindo à notícia.

Antes mesmo desse anúncio, no início de junho, o Itaú BBA ressaltou ter uma visão mais construtiva para o Magalu, mas mantendo recomendação neutra. O banco avalia que a companhia superou as estimativas de rentabilidade nos últimos trimestres, mas a receita ainda ficou aquém das expectativas, o que levou a equipe de research a adotar uma postura ainda cautelosa em suas previsões de crescimento da receita no momento.

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MRV (MRVE3): desvalorização de 40,52%

O ano já começou difícil para as ações da MRV (MRVE3) em meio às especulações sobre mudança de guidance em fevereiro e prévia operacional. O noticiário mais negativo perdurou com resultados pouco animadores. No fim de maio, o Goldman Sachs ressaltou não estar muito positivo com os papéis MRVE3, avaliando que a construtora segue enfrentando dificuldades na desalavancagem. Já o Itaú BBA afirmou estar positivo com as construtoras de baixa renda e tem recomendação de compra para MRV, mas apontou ter preferência por Direcional (DIRR3) e Cury (CURY3).

Confira as maiores baixas do Ibovespa no semestre:

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EmpresaTicker PreçoVariação percentual
AzulAZUL4R$ 7,34-54,15%
YduqsYDUQ3R$ 10,41-52,75%
Cogna COGN3R$ 1,77-49,28%
CVCCVCB3R$ 1,96-44%
Magazine LuizaMGLU3R$ 12,05-43,95%
MRVMRVE3R$ 6,68-40,52%

Maiores altas

BRF (BRFS3), JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3): altas de 64,16%, 29,55% e 27,42%

As ações de frigoríficos e empresas de proteínas foram destaques no primeiro semestre, com atenção para a BRF. A virada nas operações da dona da Sadia e Perdigão, levando a um resultado considerado histórico no primeiro trimestre de 2024 (1T24), animaram os ativos BRFS3, com muitos analistas também discutindo se a alta já foi longe demais. Recentemente, o JPMorgan reiterou recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para o papel, pois vislumbra uma forte perspectiva de negócios à frente tanto nas operações internacionais quanto nas operações no Brasil, bem com uma avaliação atraente. O banco americano explica que a “redução do endividamento e a melhoria dos indicadores operacionais (KPIs) devem tornar o negócio mais previsível e menos volátil, qualificando-o para uma reavaliação”. O Goldman Sachs, por sua vez, tem recomendação neutra para os papéis.

Para o setor em geral, analistas destacaram uma melhora do ambiente de preços enquanto que, no fim do semestre, houve um novo gatilho após notícias de que o Ministério do Comércio da China lançou uma investigação antidumping sobre as importações de carne suína da União Europeia (UE), após uma denúncia apresentada pela empresa estatal China Animal Husbandry Group. Analistas apontaram que, embora ainda não estivesse claro se as alegações resultariam em medidas anti-dumping e em mudanças no atual fluxo comercial global, poderiam levar a um aumento expectativas no curto prazo para as exportações brasileiras de proteínas. Além disso, mais recentemente, a alta das ações de frigoríficos também se relaciona com o avanço do dólar, uma vez que as companhias ou possuem operações no exterior ou têm boa parte da receita de exportação.

Embraer (EMBR3): ganhos de 61,46%

“Super tese”, visão de quebra de duopólios, ânimo com novos contratos e hedge com dólar e em momentos difíceis para o mercado em geral: esses foram os motivos para as ações da EMBR3 dispararem na contramão da Bolsa. Em março, de forma emblemática, diversas casas passaram a revisar bem para cima os números da companhia. Em destaque na ocasião, o Morgan Stanley dobrou o preço-alvo para os ADRs (recibo de ações negociados na Bolsa americana), com os analistas destacando a empresa “como o terceiro player no mercado de aeronaves comerciais, ganhando espaço e possivelmente quebrando o duopólio de Boeing e Airbus”. JPMorgan e Goldman Sachs seguiram o ânimo com os papéis da fabricante de aviões. Já em junho, a companhia anunciou ainda encomenda de 20 jatos E2 feita pela companhia Mexicana de Aviación. Para o início do segundo semestre, o mercado está de olho na feira de aviação de Farnborough, na Inglaterra, que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de julho, podendo ser um gatilho para os papéis.

Cielo (CIEL3): ganhos de 24,67%

A Cielo (CIEL3), em processo de fechamento de capital, registra uma das maiores altas do Ibovespa no semestre, ainda que sem um prêmio significativo para a OPA. No fim de abril,  os acionistas rejeitaram em assembleia proposta de minoritários para realização de reavaliação das ações. Na prática, isso significa que a oferta pública seguirá nos termos da última proposta realizada e o processo poderá terminar entre o fim de julho e começo de agosto.

Os controladores, Banco do Brasil (BBAS3) e Bradesco (BBDC4), aceitaram a elevação do preço na oferta pública de ações (OPA) a R$ 5,60, com a condição de que minoritários votassem contra a realização de novo laudo, devendo ser esse o preço do fechamento de capital.

Confira as maiores altas do Ibovespa no semestre:

EmpresaTicker PreçoVariação percentual
BRFBRFS3R$ 22,67+64,16%
EmbraerEMBR3R$ 36,15+61,46%
JBSJBSS3R$ 32,27+29,55%
Marfrig MRFG3R$ 12,36+27,42%
CieloCIEL3R$ 5,63+24,67%

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.