4 riscos para o Bitcoin em que o investidor precisa ficar de olho nos próximos meses

Apesar de riscos elevados, analistas reconhecem potencial de investimento, ponderando a exposição dentro da carteira

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Bitcoin passou por um primeiro semestre bastante conturbado. Depois de quase quatro meses bem positivos, chegando a bater a máxima histórica em torno de US$ 64 mil em meados de abril, a maior criptomoeda do mundo engatou uma forte correção de quase 50% em poucas semanas.

Mesmo assim, desde junho, a moeda passou a ter uma oscilação menor, se mantendo entre US$ 30 mil e US$ 35 mil na maior parte do tempo. Mas, se não é nenhuma novidade que o Bitcoin é um ativo de grande risco, alguns fatores entraram no radar dos especialistas e que devem ser monitorados nos próximos meses.

Riscos como a grande volatilidade das criptomoedas é algo intrínseco ao seu modelo, e não deve mudar tão cedo. Contudo, outros tópicos, como o impacto ambiental da mineração de moedas digitais, tornaram-se pontos de grande discussão no mercado, impactando o preço dos ativos.

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Um dos principais temas discutidos atualmente é o impacto da regulação e rejeição de governos contra o Bitcoin e seus pares, reforçado pela decisão da China de proibir negociações no país e iniciar uma perseguição aos mineradores. Por outro lado, para alguns especialistas, mesmo esse assunto pode não ser tão negativo (veja clicando aqui).

Veja abaixo os 4 principais riscos para o Bitcoin:

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1.Volatilidade

O maior risco apontado pelos especialistas é a grande volatilidade dos ativos digitais, que não só é um problema para o investidor diante das fortes variações repentinas, mas também atrapalha, no caso do Bitcoin, o seu uso como uma moeda digital.

“A volatilidade anualizada do Bitcoin é mais de duas vezes superior à de ativos considerados de alto risco, como o Ibovespa. Este alto risco reduz a atratividade da cripto na carteira do investidor, pela possibilidade de ocasionar perdas expressivas, bem como dificulta o seu uso como meio de pagamento, uma vez que espera-se estabilidade por parte do usuário no valor de uma moeda”, avalia a XP.

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“O fornecimento limitado e altamente inelástico de algumas criptomoedas pode exacerbar a volatilidade”, diz o UBS. “O uso limitado no mundo real e a extraordinária volatilidade de preços também indicam que muitos compradores estão buscando ganhos especulativos”.

Em 2021, o mercado teve uma boa amostra do impacto desse alto nível de especulação, conforme traders que fizeram apostas altamente alavancadas no Bitcoin, foram forçados a zerarem posições, levando a grandes oscilações dos preços (veja mais clicando aqui).

Já Moura, da AMX Law, explica que o Bitcoin tem grandes flutuações porque ainda está se consolidando. “Por isso que quando uma grande empresa fala que irá utilizá-lo, isso aumenta a liquidez e, consequentemente, seu valor”, afirma.

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Além disso, ele ressalta que há uma tendência de redução da volatilidade dos preços, e isso é perceptível comparando o mercado com o que era, por exemplo, há cinco anos. “Aconteceu uma queda significativa dois meses, mas em geral ao longo dos dias a moeda tem ficado mais estável”, diz.

Na mesma linha, Bernardo Teixeira, CFO da Ripio, reforça que o maior risco hoje é a volatilidade, impulsionada recentemente por uma série de fatores, como a perseguição chinesa, regulações e falas de Musk; mas, mesmo com o preço em queda, o que se vê é uma maior adoção do Bitcoin, com novos investidores pessoa física e também grandes empresas entrando no mercado, o que no médio e longo prazo tendem a ser positivos.

2. Regulação e perseguição governamental

Nas últimas semanas, a China restringiu sua indústria de criptomoedas, fechando operações de mineração e ordenando que grandes bancos e firmas de pagamento como a Alipay não façam negócios com empresas de criptoativos.

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Na semana passada, esse combate às moedas digitais se espalhou para o Reino Unido, onde os reguladores proibiram a corretora Binance, uma das maiores do mundo, a realizar qualquer operação local, vetando até mesmo propagandas da empresa em território britânico.

Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) reforçou preocupações com a extrema volatilidade, riscos ambientais e uso para fins ilícitos. Na França, o ministério das finanças ordenou que todas as corretoras que desejam operar no país deverão disponibilizar uma lista com todos os nomes de investidores que possuem a moeda na carteira por “questões de segurança”.

Para Fabio Alves Moura, sócio-diretor do AMX Law, esses movimentos estão ligados a uma necessidade de controle maior dos governos sobre as criptos. “Isso não apenas por conta de aspecto arrecadatório, mas também porque mais de 80 países estão discutindo a criação de moedas digitais próprias”, avalia.

Segundo ele, essas moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) podem ter uma usabilidade parecida com algumas criptomoedas, mas “em estrutura e filosofia por trás é completamente diferente, uma vez que as criptomoedas têm a ideia de fugir do controle estatal e da política monetária”.

Já Marcos Viriato, CEO da fintech Parfin, destaca que notícias sobre regulações pode realmente trazer correções nos preços do Bitcoin e outras moedas digitais, mas que para ele, “enquanto alguns enxergam um risco, essa pode ser uma oportunidade”.

Ele avalia que uma regulação pode acabar por facilitando a adoção por parte de investidores institucionais, trazendo uma maior segurança para que esses grandes players entrem no mercado cripto, o que no médio e longo prazo teria um impacto positivo.

3. Impacto ambiental

Outro tema que passou a ser bastante discutido é o impacto que o Bitcoin tem no meio ambiente, em especial o seu processo de mineração, de onde são criadas novas moedas (veja mais aqui). O debate aumentou principalmente após o CEO da Tesla, Elon Musk, anunciar que a companhia estava suspendendo o pagamento de seus carros com bitcoins por conta desse alto uso de energia suja usado na mineração.

Em um mundo cada vez mais ligado aos conceitos do ESG, as criptomoedas não escaparam das preocupações ambientais também. Atualmente, para se criar novos bitcoins é utilizado uma grande quantidade de energia, sendo que até pouco tempo atrás a maior parte dos mineradores estavam localizados na China, país que utiliza o carvão como principal fonte energética.

Porém, a própria perseguição chinesa aos mineradores pode ter um impacto positivo nessas preocupações, já que a mudança desses equipamentos para outros países pode levar a utilização de energias mais limpas na maioria das mineradoras. Mesmo assim, o debate ainda pode gerar preocupação nos próximos meses.

“No cenário atual, parte dos investidores tem se mostrado cada vez mais crítica sobre a forma como o Bitcoin é “extraído”, principalmente devido à grande quantidade de energia consumida através de combustíveis fósseis”, avalia a equipe de analistas da XP.

“Em nossa visão, o maior problema do Bitcoin talvez não seja seu consumo massivo de energia, mas a motivação dos mineradores ao buscarem as fontes mais baratas de energia que, por sua vez, tendem a ser as mais poluentes […] Entendemos que mineração não é o principal desafio frente aos obstáculos a serem enfrentados no combate às mudanças climáticas. Mas ela é um deles. Fato é que não existe uma bala de prata quando o tema é a redução das emissões de CO2”, conclui a XP.

4. “Meme coins” e fraudes

O aumento da especulação usando o Bitcoin e outras criptomoedas também tem preocupado especialistas e potenciais novos investidores.

Em um dos focos de análise estão as chamadas “meme coins”, com o principal caso sendo a Dogecoin, uma moeda digital criada a partir de um meme de internet e que analistas reforçam que não tem fundamentos sólidos, mas mesmo assim já disparou 3.200% este ano sustentada por falas vagas de Elon Musk e apoio de investidores pessoa física em fóruns virtuais.

Mais recentemente, um token chamado Titan caiu até quase 0 após chegar a valer US$ 65 poucos dias antes. Entre os nomes que apoiavam o projeto estava o empreendedor bilionário Mark Cuban.

Além da existência dessas moedas sem sustentação e que podem pegar qualquer investidor de surpresa, existem ainda os golpes feitos com criptoativos, os chamados scams.

Esse tipo de assunto não é novidade no mundo das moedas digitais, mas tem surgido de formas diferentes e acaba sempre minando a credibilidade de ativos mais consistentes, como o Bitcoin e Ethereum. Isso reforça a necessidade do investidor estar sempre atento, investindo com profissionais e empresas conhecidas, além de ser preciso estudar e entender o investimento que será feito.

Riscos não tiram o potencial de investimento

Apesar de todas essas questões, analistas não deixam de ver potencial no investimento em criptoativos. O principal ponto é o investidor entender o que está comprando, assim como saber seu alto risco e não ter uma exposição exagerada.

Segundo a XP, considerando esses riscos, “investidores com alto apetite por risco podem considerar possuir entre 1% e 5% de criptomoedas em seu portfólio”.

Já Viriato, da Parfin, lembra que o Bitcoin foi criado para se auto-ajustar, e portanto, questões como regulamentação e até o debate ambiental, podem até pesar no curto prazo, mas tendem a serem corrigidas ao longo do tempo.

Além disso, ele destaca que outros pontos de risco estão sendo mitigados e podem ajudar os investidores, como por exemplo, o risco de dominância. Até pouco tempo, o Bitcoin representava mais de 70% do total do valor do mercado de criptoativos, sendo que atualmente esse percentual está abaixo de 50%.

Isso permite que o investidor tenha mais vantagens em diversificar entre as moedas digitais. Viriato ressalta que ainda há uma forte correlação dentro do mercado, ou seja, quando o Bitcoin sobe forte, acaba puxando os preços de outros ativos, mesmo que eles não sejam parecidos em proposta, a mesma coisa no movimento oposto. “Mas isso tem mudado, temos visto tokens como Ethereum e Ripple ganhando força. Esse risco de dominância hoje é menor”, avalia.

O surgimento de fundos de criptoativos, como os recentes ETFs da Hashdex e QR Capital, também facilitam o acesso a esse mercado, trazendo opções com custos menores e investimento inicial mais baixo, o que também ajuda na criação de um mercado mais maduro, ajudando no preço no longo prazo.

Após encerrar 2020 em torno de US$ 29 mil, o Bitcoin engatou uma forte valorização e chegou a vale US$ 64 mil em abril, marcando sua máxima histórica até hoje. Desde então, caiu forte e atualmente é cotado na casa de US$ 32 mil, acumulando ainda uma valorização de cerca de 8,5% este ano.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.