3R + Enauta: o alívio e as preocupações no radar do mercado com o avanço da fusão

Especulação de que queima de caixa da 3R poderia fazer com que negócio não se concretizasse ficou para trás, mas acordo de lock-up está no radar

Lara Rizério

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Alívio nas preocupações. Foi assim que o mercado recebeu no fim da semana passada a notícia da 3R Petroleum (RRRP3) de que seu conselho de administração aprovou a incorporação da Enauta (ENAT3), formando uma companhia de petróleo com “alto” potencial de crescimento nos próximos anos, segundo fato relevante divulgado ao mercado.

O colegiado da petroleira também aprovou a incorporação da Maha Energy Holding, em medida que viabiliza que a 3R Offshore passe a ser totalmente detida pela 3R, o que era uma condição precedente para a incorporação da Enauta. Com isso, na sexta, as ações da 3R fecharam com ganhos de 7,14% e os da Enauta com alta de 3,65%, para depois reverterem parte dos ganhos na sessão desta segunda.

De acordo com o Bradesco BBI, a notícia tranquiliza o mercado, uma vez que houve muita especulação após a queima de caixa da 3R no primeiro trimestre de 2024 (1T24) de que o negócio poderia não ser concretizado.

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Segundo o documento divulgado na manhã da última sexta, a Enauta passará a ser uma subsidiária integral da 3R e suas ações deixarão de ser negociadas no Novo Mercado, com o cancelamento do seu registro de companhia aberta.

Serão emitidas 213.210.661 novas ações ordinárias, nominativas, escriturais e sem valor nominal pela 3R a serem atribuídas aos acionistas da Enauta. As novas ações são representativas de 47% do capital social da 3R, o que equivale, para cada ação da Enauta, o recebimento de 0,809225 ação da 3R.

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3R e Enauta são duas das principais produtoras independentes de óleo e gás do país, habilitadas a operarem ativos em campos onshore e offshore, incluindo campos no pré-sal. Através de suas subsidiárias, ambas atuam nos segmentos de upstream (exploração e produção), e a 3R nos segmentos midstream (processamento de petróleo) e downstream (logística de vendas dos derivados acabados) da cadeia de petróleo e gás.

As empresas concordaram em indicar para compor o conselho da nova companhia Harley Lorentz Scardoelli, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, Rogério Paulo Calderón Peres, André Marcelo da Silva Prado, Ricardo de Queiroz Galvão, Mateus Tessler Rocha e Matheus Dias de Siqueira.

Os membros indicados ao colegiado também informaram sua intenção de nomear Décio Oddone para diretor presidente da nova empresa, Rodrigo Pizarro Lavalle da Silva para diretor financeiro, Pedro Rodrigues Galvão de Medeiros para diretor de Relações com Investidores, e Carlos Ferraz Mastrangelo para um cargo de direção sem designação específica.

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O JPMorgan ressaltou ver a potencial transação como positiva para a 3R, que deverá se beneficiar de sinergias operacionais e financeiras e de uma posição sólida no cenário de consolidação, com redução do risco de pequenas empresas através de carteiras de ativos maiores. O banco reiterou assim recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para RRRP3.

O Bank of America manteve recomendação de compra para as ações das duas companhias que vão se unir, ressaltando ainda os próximos passos da operação. A fusão deverá ser concluída em cerca de 60 dias.

Em primeiro lugar, ambas as empresas deverão convocar as respectivas Assembleias Gerais Extraordinárias (AGEs), previstas para ocorrer no mesmo dia, o que deverá ocorrer em cerca de 30 dias. A aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá ocorrer neste mesmo prazo. Após a AGE, os acionistas da Enauta terão mais 30 dias como prazo de retirada.

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Preocupações endereçadas?

Enquanto parte do mercado vê com alívio o avanço na fusão, o Bank of America destacou algumas preocupações. Uma delas está relacionada ao acordo de lock-up (intervalo de tempo no qual o investidor não pode vender as ações da empresa) dos principais acionistas da nova empresa, dadas as preocupações quanto a um potencial overhang (excesso de ações no mercado, podendo pressionar os papéis).

“É importante ressaltar, no entanto, que alguns dos nomes citados para o Conselho de Administração possuem certa relação com alguns dos acionistas (Gerval, Bradesco, Jive, Queiroz Galvão) – isso, a nosso ver, poderia mostrar que alguns dos acionistas estão alinhados com a estratégia de longo prazo da empresa e, portanto, não venderiam suas participações na nova companhia no curto prazo”, avaliam os analistas do BofA, gerando alívio sobre o tema.

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(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.