23 ações do Ibovespa negociam abaixo do valor patrimonial: o que vale comprar?

Empresas ligadas à economia doméstica dominam lista, mas é preciso cautela com indicador - ele sozinho não sinaliza oportunidade clara na Bolsa

Lara Rizério

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Com o Ibovespa renovando mínimas do ano nas últimas sessões, dos 86 papéis de 83 empresas brasileiras que compõem o índice, 23 são de empresas que negociam abaixo do seu valor patrimonial, conforme levantamento da Elos Ayta Consultoria.

O levantamento foi feito com a avaliação da relação entre os preços das ações do principal índice da Bolsa brasileira e o valor patrimonial das empresas (P/VPA), com base no fechamento das ações em 22 de maio deste ano. Ao levar em conta esse indicador, quando o resultado fica próximo a um, há a sugestão de que a ação está sendo negociada em equivalência ao seu valor patrimonial – este resultante da subtração de passivos, como dívidas, do patrimônio líquido da companhia, que inclui bens e direitos. A princípio, quando o resultado está acima de 1, a companhia está sendo negociada de forma sobrevalorizada. Quando aquém, o papel está subvalorizado.

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Esses indicadores são referências importantes para auxiliar o investidor em uma análise. Porém, não se pode tomar uma decisão utilizando esses indicadores de forma isolada. É preciso avaliar caso a caso, buscar médias históricas e comparar com os valores de outras empresas do setor.

Abaixo, segue o quadro das 23 ações de 21 companhias cujas ações negociam abaixo do valor patrimonial e que compõem o Ibovespa.

As 23 ações que compõem o Ibovespa e negociam abaixo do valor patrimonial
EmpresaCódigoSetorP/VPA (em vezes)
AzulAZUL4Transporte aéreo-0,16
Cogna COGN3Serviços educacionais0,32
GPA PCAR3Alimentos0,32
UsiminasUSIM5Siderurgia0,42
IRB ReIRBR3Resseguradoras0,61
EztecEZTC3Incorporações0,62
MRVMRVE3Incorporações0,62
Gerdau MetGOAU4Siderurgia0,63
HapvidaHAPV3Serviços médico-hospitalares0,67
EletrobrasELET3Energia elétrica0,72
GerdauGGBR4Siderurgia0,75
BradescoBBDC3Bancos0,78
EletrobrasELET6Energia elétrica0,81
Grupo SomaSOMA3Tecidos vestuário e calçados0,81
AllosALOS3Exploração de imóveis0,83
Iguatemi SAIGTI11Exploração de imóveis0,84
LWSA (Ex-Locaweb)LWSA3Programas e serviços0,84
BradescoBBDC4Bancos0,87
Banco do BrasilBBAS3Bancos0,90
Cyrela CYRE3Incorporações0,93
DexcoDXCO3Madeira0,95
Isa CteepTRPL4Energia elétrica0,98
Magazine LuizaMGLU3Eletrodomésticos0,99
Fonte: Elos Ayta Consultoria

Como destacado acima, nem todas as ações são vistas como uma boa oportunidade de investimentos para os acionistas, com algumas teses bastante controversas e mostrando divisão do mercado, enquanto outras são vistas como oportunidades (mais ou menos claras).

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No caso da Azul (AZUL4), a compilação LSEG com analistas de mercado que cobrem a empresa mostra bastante divisão entre os ativos, com leve visão positiva (6 recomendações de compra, 4 de manutenção e 1 de venda). A aérea conta com tese positiva de casas como o Bradesco BBI e JPMorgan para as ações, enquanto a Genial Investimentos recentemente passou a ter uma visão neutra para os ativos (ante compra), ao ver uma  desaceleração dos aumentos de tarifa praticados pelas aéreas, além de uma volatilidade maior do câmbio por conta da política fiscal do governo. Enquanto isso, os conflitos geopolíticos mantêm a pressão sobre o petróleo, o que eleva os custos das companhias do setor. Do lado positivo, analistas que têm uma tese de compra para a Azul ressaltam o acordo de compartilhamento de voos com a Gol anunciado na semana passada, que foi visto como uma antecipação de uma possível fusão. “Acreditamos que as sinergias de fusões e aquisições poderiam atingir R$ 1,3 bilhão a R$ 1,7 bilhão por ano, acrescentando R$ 11,00 a R$ 14,00 por ação da Azul”, avalia o BBI.

Ações domésticas descontadas?

Diversas companhias com teses de investimentos bastante atreladas ao cenário doméstico também aparecem na lista, como a companhia de educação Cogna (COGN3), as varejistas GPA (PCAR3), Magazine Luiza (MGLU3) e Grupo Soma (SOMA3) e as construtoras/incorporadoras EzTec (EZTC3), MRV (MRVE3) e Cyrela (CYRE3). A companhia de tecnologia LWSA (ex-Locaweb; LWSA3) e a empresa de saúde Hapvida (HAPV3) também negociam abaixo do seu valor patrimonial, muito impactadas pelo cenário recente de juros mais altos. No segmento de shoppings, Allos (ALOS3) e Iguatemi (IGTI11) estão na lista.

Para Cogna, há uma divisão do mercado, com compilação LSEG apontando 3 recomendações de compra, 3 neutras e 2 recomendações de venda. As ações chegaram a despencar após o resultado do primeiro trimestre, com analistas, como do BBI, ressaltando que as margens foram impactadas por alta nas despesas de marketing, resultado das campanhas envolvendo a Anhanguera e o ciclo mais pesado de captação de matrículas no período. A recomendação da casa é neutra para os ativos, com base em uma avaliação relativa para outras do setor. Outras casas, como a XP e o Itaú BBA, possuem recomendação equivalente à compra para os ativos, destacando a reestruturação bem-sucedida e o endereçamento da alavancagem.

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Em Hapvida, analistas têm visto sinais positivos com melhora sequencial nas tendências do índice de sinistralidade e lucratividade, bem como de adições líquidas e geração de fluxo de caixa, o que inclusive motivou uma elevação de recomendação recente pelo Goldman Sachs. De acordo com compilado LSEG, as 8 casas que cobrem o papel possuem recomendação de compra para os ativos.

Para a varejista Magalu, que está perto de negociar em linha com o seu valor patrimonial, há apenas 1 recomendação de compra, enquanto há 8 de manutenção e 2 de venda. Analistas viram, no 1º trimestre, sinais positivos com a adoção de uma estratégia que envolveu corte de custos e aumento de taxas aos vendedores de seu marketplace, com o objetivo de elevar sua rentabilidade, em vez de focar em crescimento de vendas, em meio a um ambiente de juros altos. Contudo, o faturamento ainda fraco em meio a um ambiente desafiador para o e-commerce ainda levam os analistas a ficarem um pouco mais reticentes com as ações. A reticência também vale quando o assunto é GPA, com 9 recomendações de manutenção para os ativos, incluindo a do BBI. No 1T24, o banco viu margem bruta do varejo de alimentos saudável e despesas controladas como reflexo de projetos orçamentários de base zero e projetos de contenção de despesas. No entanto, os itens não recorrentes e as elevadas despesas financeiras líquidas continuam a impactar a qualidade dos resultados e a conduzir prejuízos. “Por enquanto, mantemos nosso tom cauteloso em relação à companhia, pois ainda vemos uma limitada geração de caixa recorrente nos próximos dois anos”, avalia.

Já no segmento de real estate, casas como o Goldman Sachs mostraram uma visão positiva para Cyrela após o 1T24, enquanto recomenda ficar longe de MRV e EzTec. O banco espera que o forte desempenho da Cyrela em vendas e margens brutas deva continuar, dado seu foco no segmento de alta renda em áreas com maior valor de escassez, o que acredita diferenciar seu produto. Enquanto isso, para MRV, o Goldman Sachs manteve recomendação neutra, pois continua a ver a construtora enfrentando dificuldades na desalavancagem. Para a Eztec, a recomendação é de venda, uma vez que acredita que a empresa oferecerá descontos para aumentar o volume de vendas e enfrentará dificuldades no poder de precificação. O JPMorgan também ressaltou preferência pela Cyrela, assim como o BBA.

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Os shoppings apresentam uma história distinta, com casas como o Goldman Sachs, Itaú BBA, Bradesco BBI e Bank of America com uma visão positiva para o setor em geral. A Allos, por sinal, é a top pick do BofA no setor, ainda que o banco americano veja uma falta de catalisadores para os papéis em geral com um cenário crescente de risco relacionado à reforma tributária. ALOS3 é a preferida do banco dada a estratégia de reciclagem do portfólio que pode criar catalisadores positivos para os ativos.

IRB (IRBR3), de resseguros, está na lista, contando com apenas 1 recomendação de compra e 4 de manutenção: o JPMorgan recentemente elevou a ação de equivalente à venda para neutra, enxergando que a ação negocia a um valor justo.

Bancos, siderúrgicas e elétricas: os dois lados da moeda

Dois bancos ainda fazem parte da lista, mas com histórias bem distintas na visão da maior parte dos analistas. As instituições financeiras são o Bradesco (BBDC4), ainda com uma visão mais reticente de boa parte do mercado (10 recomendações de manutenção para BBDC4 e 2 de compra, segundo LSEG), e o Banco do Brasil (BBAS3), com uma projeção mais positiva (11 recomendações de compra e 1 de manutenção).

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Com relação ao Bradesco, para o Itaú BBA, o pior das provisões de crédito pode ter ficado para trás, mas o banco ainda avalia que a receita líquida de juros (NII, na sigla em inglês) levará mais tempo para se recuperar, mantendo recomendação neutra, enquanto segue com compra para Banco do Brasil.

Duas siderúrgicas também ganham destaque na lista: Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4), com uma preferência maior por GGBR4 (12 recomendações de compra e 1 de manutenção) em relação à USIM5 (3 recomendações de compra e 8 de manutenção). Na última sexta-feira (24), o BofA elevou a recomendação de GGBR4 de neutra para compra por conta do valuation, enquanto rebaixou Usiminas a neutro com atraso na redução do custo de caixa, que pressiona a geração de caixa.

Por fim, estão duas elétricas: Eletrobras (ELET3;ELET6), com os ativos ELET3 contando com 6 recomendações de compra, e Isa Cteep (TRPL4). Para TRPL4, há apenas 1 recomendação de compra, 5 de manutenção e 5 de venda. As duas companhias encontram uma grande relação, já que recorrentemente tem entrado no radar a notícia de que a Eletrobras pode se desfazer de sua fatia na Isa Cteep – sendo inclusive um fator de pressão para TRPL4. No fim de abril, o BBI rebaixou as ações TRPL4 para equivalente à venda também destacando aumento de alavancagem, que poderia afetar os dividendos no médio e longo prazos. Já a recomendação de compra do banco para ELET6 tem se mantido, com os analistas apontando que um desfecho sobre o imbróglio entre a empresa e o governo federal para que se abandone o litígio da União sobre o limite máximo de 10% dos votos visto como fundamental para desbloquear valor para a ação.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.