Magazine Luiza planeja criação de super app no formato do Wechat após 2018 “quase perfeito”

App da varejista precisa se transformar em uma prioridade de brasileiros com pouco espaço de armazenamento no smartphone

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – O Magazine Luiza já é bem-sucedido na omnicanalidade, conceito favorito do universo do varejo nos últimos anos. Para o futuro, a intenção da empresa é caminhar no sentido de se tornar uma plataforma, copiando alguns negócios chineses, como Tencent e Alibaba, em um formato ainda inédito em terras nacionais.

Durante o evento para investidores Magazine Luiza Day, os executivos da varejista comentaram a evolução de suas respectivas áreas a uma vasta plateia de interessados no crescimento dos negócios. Em geral, pintaram 2018 como um ano altamente positivo – e dizem esperar movimento semelhante para 2019.

“Inicialmente, todos achavam que 2018 seria um ano melhor do que foi macroeconomicamente. Tivemos uma eleição tensa e uma Copa do Mundo morna”, disse Frederico Trajano, CEO. O herdeiro da companhia não acredita que exista perfeição nos negócios . Mas comemora: “se teve um ano que a gente se aproximou da perfeição, foi este”.

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O mercado também gostou do desempenho da empresa em 2018. Até agora, as ações (MGLU3) já subiram mais de 113% desde o início do ano – algo impressionante para uma empresa que acumulou crescimento de 17.700% ante a mínima em 2015.  

Segundo Trajano, a varejista operou em um “equilíbrio muito grande”, o que permitiu que praticamente concluísse um ciclo iniciado em 2000 em direção ao formato em que o digital e o analógico se conversam em todas as etapas do negócio – o famoso conceito omnichannel. “Agora, nos tornaremos uma plataforma que, ao invés de pensar com um CNPJ, pensa em milhares”.

Muito além do marketplace, o modelo idealizado para o Magalu deve englobar serviços mais robustos e muito mais numerosos, incluindo, por exemplo, contas digitais e outras ferramentas que permitiriam a outras empresas, hoje totalmente analógicas, se pivotassem para o digital através do super app da varejista. Qualquer semelhança com o Wechat e o Alibaba não é mera coincidência. 

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Enquanto o objetivo divulgado da empresa é que seu app se torne um dos mais usados pelos clientes (o app do Alibaba, por exemplo, é aberto cerca de 8 vezes ao dia), Trajano não quis dar mais detalhes sobre os próximos serviços que deve lançar para atingi-lo: “a concorrência está de olho”.

Super Apps: isso ainda pode ser grande no Brasil

Está de olho mesmo. Deixar de ser uma varejista para investir no negócio de plataforma não é ambição exclusiva do Magalu: dois dias antes do evento da empresa da família Trajano, o GPA fez uma entrevista coletiva em que usou exatamente os mesmos termos – plataforma, Super App – para definir seu futuro. O primeiro passo da supermercadista foi adquirir um aplicativo de entregas semelhante ao Rappi.

Enquanto isso, modelos mais próximos ao do Magalu também já deram os primeiros passos na caminhada rumo à China. A fintech do Mercado Livre, Mercado Pago, já tem maquininha de cartão, carteira digital, cartão de crédito, pagamento por QR Code, entre outros serviços que podem ser utilizados por terceiros.

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Trajano, porém, não vê o Magazine atrasado nesta frente. “Só vai ser viável criar um super app de uma forma que realmente se assemelhe ao criado pelas empresas chinesas quando a legislação brasileira mudar”, explica, fazendo referência ao Open Banking. “A maioria das carteiras digitais é rio sem água. As pessoas abrem conta, mas não colocam dinheiro”. No atual cenário, ele considera que toda a concorrência brasileira também está apenas engatinhando – portanto, ele não está para trás.

Também vale lembrar que o conceito em si é extremamente novo. Apenas as chinesas criaram aplicativos nesse formato de forma bem-sucedida: a Amazon, por exemplo, não tem carteira digital ou serviços para varejistas além do marketplace.

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Considerando esta perspectiva, o que pode preocupar mais é a própria Tencent. Em outubro, a chinesa realizou um aporte de US$ 200 milhões na fintech Nubank, o que deu direito a uma fatia de 5% da brasileira. Não foram divulgadas grandes intenções relacionadas a esse investimento, mas nada impede que o maior portal de serviços de internet do dragão asiático decida utilizar a empresa parceira como uma forma de pivotar novos serviços por aqui, conforme já alertaram analistas do setor.

Por que app

Para uma empresa que tem mais de 700 lojas e um e-commerce de crescimento exponencial, focar no aplicativo é uma maneira de tentar fugir da estagnação. Segundo os executivos, o cliente do aplicativo compra com frequência muito maior que os demais: “o app é o cartão de crédito da internet”, comparou Trajano, ao divulgar que os clientes que pagam com o cartão da própria Magazine compram 5 vezes mais que os usuários de cartões de outras emissoras.

Considerando isso, a empresa não vê como se contentar em oferecer um aplicativo utilizado pelos clientes apenas a cada 10 anos, na hora de trocar a geladeira. Figurando há algum tempo entre os mais baixados das lojas de aplicativos de smartphones, eles precisam que, dentre todas as opções disponíveis, o Magalu seja um ícone indispensável na telinha de aparelhos com espaço limitado de armazenamento.  

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney