Para quem é um investidor e quando o assunto é investir em empresas, é comum que a primeira associação seja com o mercado acionário, ou seja, companhias que já fizeram o seu IPO (oferta pública de ações). No entanto, há formas de investir nas empresas que não estão listadas na bolsa, e uma delas é o venture capital

Mesmo em meio às turbulências do cenário econômico, o mercado de venture capital tem crescido de forma consistente no Brasil. 

De forma geral, essa modalidade atrai tanto empresas que estão em busca de financiamento para seus projetos quanto investidores que buscam opções para rentabilizar a sua carteira, já que esta é uma modalidade de investimentos usada para apoiar negócios iniciantes ou com algum tipo de dificuldade financeira, por meio da compra de uma participação acionária visando uma valorização no futuro. 

Para explicar o que é, como funciona e quais as peculiaridades desse tipo de investimento, o InfoMoney preparou este guia. Continue a leitura e saiba mais a respeito dessa importante fonte de recursos para as empresas.

O que é venture capital?

Venture capital – também chamado de capital de risco – é um tipo de investimento em empresas normalmente iniciantes, de porte pequeno ou médio. 

Geralmente, as empresas que recebem esses recursos são startups, com baixo ou nenhum faturamento ainda. Por isso mesmo, essas companhias necessitam de um razoável volume de recursos para as suas atividades, o que torna essa uma modalidade de investimento de alto risco. 

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Para que serve o venture capital?

Para as empresas, o venture capital é uma forma de se financiar. Para os investidores, é uma forma de aplicar em empresas em estágio bastante inicial e conseguir uma valorização dos seus recursos no longo prazo. 

As empresas recorrem ao investimento de venture capital por uma questão de necessidade. 

De forma geral, uma companhia que já abriu o seu capital na bolsa, tem mais facilidade de obter novas fontes de financiamento, pois todo o mercado já a conhece e pode acompanhar os seus resultados que devem ser divulgados trimestralmente. 

O mesmo nível de governança e transparência não acontece com empresas mais jovens ou recém constituídas, em especial se atuam em setores da nova economia – como tecnologia ou afins.

É justamente aí que entra o venture capital: o investimento de fora do mercado de capitais ajuda essas empresas a crescer e levar adiante os seus projetos e pode, inclusive, ajudar a preparar a empresa para fazer um IPO no futuro, ou mesmo para uma fusão ou venda, se essa for a estratégia dos sócios.

Como o investimento funciona

Existem duas formas de fazer o investimento na modalidade de venture capital e ambas dependem das responsabilidades, direitos e deveres dos fundadores das empresas e dos investidores. 

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Elas podem ser divididas em duas modalidades: 1)General Partner (parceiro geral), quando todos os investidores têm a mesma autonomia para decidir sobre as estratégias da empresa; e 2) Limited Partner (ou parceiro limitado), quando nem todos os participantes possuem a mesma participação na companhia. Neste caso, alguns entram com os recursos financeiros e outros com foco na gestão da empresa.

Quando um fundador de companhia busca um investimento de venture capital, um dos primeiros passos necessários é preciso determinar qual será o nível de participação de cada acionista, qual será o nível de atuação dos investidores e quais são os níveis de poderes e responsabilidades de cada um. 

Para que o investimento tenha sucesso, os sócios também devem entrar em acordo sobre como deverão dividir as decisões de gestão ou se a entrada de um investidor se limitará ao aporte financeiro. Neste segundo caso, quando a empresa cresce e as metas são atingidas, os investidores que entraram somente com o capital, podem resgatar a sua participação nos lucros e se retirar do negócio. Na linguagem do mercado, esse acerto de contas é conhecido como exit, ou evento de liquidez.

Além de estabelecer as diretrizes, competências e respectivos percentuais de participação, outra definição essencial na busca por venture capital é determinar em qual fase de desenvolvimento a empresa se encontra. Se na fase mais inicial, quando precisa de capital para ‘tirar sua ideia do papel’, se já está em uma fase mais desenvolvida, mas ainda precisa de apoio ou se já está em um momento de crescimento e aceleração. 

Para cada uma dessas etapas, há ‘atores’ do ecossistema de startup e classificações diferentes de capital. As mais comuns são: 

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  • Incubadoras: com o próprio nome sugere, as incubadoras servem para ajudar startups ainda em sua fase inicial a validar e testar hipóteses em um ambiente seguro, para se desenvolver de acordo com a estratégia definida. Muitas dessas incubadoras existem dentro de universidades e apoiam os estudantes na criação de novos negócios. Mas não há uma regra: outras instituições e organizações podem funcionar como incubadoras. 
  • Aceleradoras: são entidades privadas que possuem a capacidade de investir em projetos inovadores, seja com capital próprio ou de terceiros. O que difere as aceleradoras das incubadoras é que, para entrar em uma aceleradora, essas empresas precisam ter algum grau de evolução ou um modelo de negócio viável. Ou seja, a empresa já possui uma atuação, mas ainda precisa de um impulso para chegar ao seu objetivo.

Rodadas de investimento

Outra etapa do funcionamento do venture capital são as rodadas de investimento. É por meio desse processo que as empresas efetivamente captam recursos, e ele também obedece etapas, de acordo com o nível de maturidade e grau de risco do negócio.

De acordo com a evolução da empresa, as rodadas avançam e passam a se chamar “séries” com letras que as identificam, conforme veremos na sequência.

Investimento pré-seed

Nessa primeira etapa, os projetos não se formaram completamente ou ainda são muito incipientes. Isso significa que, na verdade, o investidor aposta mesmo é nas ideias do de quem criou o negócio.

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De forma geral, o que se vê é uma grande participação da família e/ou de amigos nessa fase da empresa. Não há uma faixa de valores específicos para o período pré-seed, mas, na prática, observa-se que eles não costumam ultrapassar R$ 1 milhão.

Investimento semente (ou seed capital)

O investimento leva este nome porque foi feito na primeira etapa de uma empresa que ainda não ‘nasceu’ oficialmente. Nesse primeiro momento, é comum que os investimentos sejam menores e com retornos mais altos. Os riscos, por outro lado, também são muito maiores, já que a empresa ainda não validou a sua tese e não tem um modelo de negócio funcional. 

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Nessa segunda etapa, já houve algum tipo de validação dos projetos, e o próximo passo é começar a validar o modelo de negócio em si. Ou seja, os recursos levantados nessa fase da rodada de investimentos serão utilizados para o desenvolvimento dos produtos e para financiar a contratação de novos serviços ou funcionários essenciais para o desenvolvimento do primeiro produto viável. 

Diferentemente da fase pré-seed, agora, o empreendedor já precisa ter projeções de mercado para mostrar aos investidores. Aqui, também não há valores definidos, mas, geralmente tendem a ficar entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões.

Séries A, B, C e seguintes

Quando a empresa já está em uma etapa de maturidade, os aportes acontecem em  séries (A, B, C, D… e quantas outras forem necessárias) que se diferenciam pelo estágio de evolução do negócio.

Para fazer uma captação em série A, a empresa precisa ter demonstrado algum êxito e ter boa aceitação do mercado ao qual se destinava. Esse investimento em série A é o impulso necessário para a companhia expandir sua atuação inicial, seja para fidelizar a sua base de clientes, para começar a atuar em novos mercados, mudar seu produto, entre outros. 

Neste momento, os investimentos são mais vultuosos e costumam reunir uma série de gestoras de capital de risco no que são chamadas de rodadas de investimento. Esses aportes costumam ser superiores a R$ 5 milhões mas não há regras específicas determinando o valor de aporte. 

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Depois desse primeiro investimento, os que seguirem, entraram na ordem alfabética, como série B, série C, série D e assim por diante. Não há um limite de ‘letra’ para as rodadas de investimento, mas essas rodadas não costumam passar da letra E ou F, já que após essas rodadas, os investidores esperam não precisar realizar mais aportes na empresa. 

Além disso, nesse momento, o que as companhias buscam é se consolidar ainda mais, seja adquirindo outros negócios ou se lançando no mercado internacional. Nessa fase, o risco do investimento fica menor, e outros fundos podem se interessar por entrar no negócio como os fundos de private equity.

Qual a diferença entre venture capital e private equity?

Assim como o venture capital, o private equity também é uma forma de captação para o financiamento de empresas fora do mercado de capitais. Porém, as duas modalidades possuem algumas diferenças entre si, que são as seguintes:

Setor de atuação da empresa

Normalmente, o foco de atuação do venture capital são empresas que atuam em segmentos inovadores, como fintechs, biotecnologia e outras áreas que envolvam tecnologia avançada. Por sua vez, o private equity não possui um nicho específico, pois engloba todos os setores da economia, inclusive os mais tradicionais.

Fase de desenvolvimento do negócio

Como vimos, o venture capital acompanha a empresa desde os primeiros passos, quando o negócio ainda é incipiente ou mesmo não passa de uma ideia inicial. Quando finalmente atingem um certo grau de desenvolvimento mas ainda precisam de suporte até que abram o capital ou se reestruturem de alguma forma, é que entram os fundos private equity. Por isso, pode-se dizer que o risco desses fundos é relativamente menor do que o do venture capital.

Percentual de participação na empresa

Diferentemente do private equity, o venture capital não tem como prioridade a participação majoritária na empresa investida. Ao contrário, normalmente as rodadas de investimento iniciais atraem, em média, de 10 a 20% do capital total necessário.

Já no private equity, o objetivo é ter a maior parte ou o controle total da empresa em alguns casos. O tamanho dos cheques também é diferente. Enquanto no venture capital, somas menores são capazes de fazer muita diferença paras as companhias, no private equity, os aportes costumam estar nas casas de dezenas de milhões. 

Como investir em venture capital?

O investimento em venture capital pode ser feito por investidores individuais (que tenham recursos e conhecimento suficiente para isso), por meio de um Fundo de Investimento em Participações (FIP), ou por meio de companhias que adquirem participação em outras empresas.

Os FIPs podem investir em empresas de capital aberto ou fechado, e são estruturados como fundos fechados. Ou seja, só é permitido o resgate das participações no vencimento predeterminado, ou se uma assembleia de cotistas decidir pela sua liquidação.

A regulamentação dos FIPs está disposta na Instrução CVM 578/2016, e eles são destinados somente a investidores qualificados e profissionais. Enquadram-se na definição de investidor qualificado a pessoa jurídica que detém, no mínimo, R$ 1 milhão investidos comprovadamente no mercado, ou quem possua determinadas certificações da CVM

Já o profissional é aquele que possui recursos investidos superiores a R$ 10 milhões, ou que sejam instituições financeiras, agentes autônomos, fundos de investimentos, entre outros equiparados pela lei.

Quando uma grande empresa quer investir em outras menores, ela pode fazer isso por meio da criação de um Corporate Venture Capital (CVC), uma modalidade que tem crescido no Brasil nos últimos anos. 

Em 2022, 13 companhias listadas na B3 lançaram iniciativas de financiamento a negócios em estágios iniciais, enquanto oito fizeram o mesmo no ano anterior. Os dados fazem parte da pesquisa da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) divulgada no fim de fevereiro de 2023.

Ainda no ano passado, o mercado de CVC captou R$ 3 bilhões e, de acordo com Marcio Barea, gerente de estudos e pesquisas da ABVCAP, nem as readequações sofridas pelo mercado de venture capital abalaram o ritmo e os valores dessas captações. Tudo indica, portanto, que o setor deve continuar aquecido.