Toda vez que o valor do Bitcoin (BTC) sobe de forma meteórica ou cai drasticamente, o debate sobre o valor real da criptomoeda ganha espaço nas redes sociais e no noticiário. É muito provável que, em junho de 2022, quando a moeda registrou sua segunda maior queda mensal em 11 anos, você tenha ouvido frases como o “BTC vai a zero”, “é uma moeda que não vale nada” ou “é uma bolha prestes a explodir” sair da boca de economistas ou agentes públicos.
O fato é que não é possível saber exatamente para onde o preço vai e qual o “verdadeiro” valor do Bitcoin – os traders técnicos mais experientes podem até publicar previsões baseadas em análises gráficas, mas eventos macroeconômicos aumentam muito o grau de incerteza. No entanto, algo incontestável é que o Bitcoin vale mais que zero – e já chegou a bater em quase US$ 70 mil em seu melhor momento. Neste guia, o InfoMoney explica brevemente como é definido o valor do BTC.
Resistência à censura
O Bitcoin permite realizar transferências rápidas sem a necessidade de um intermediário. É uma forma de transacionar valor (e dados) entre pessoas sem a interferência de governos ou corporações.
Isso por si só é valioso, e existem experiências práticas que mostram o porquê, como nos casos do WikiLeaks e OnlyFans, ou da Meduza, a agência independente de notícias da Rússia que foi bloqueada pelo Kremlin e recorreu a doações em Bitcoin e outras criptomoedas para resistir ao ataque governamental.
Simplificando, o BTC é resistente à censura em uma era de censura financeira crescente – isso tem algum valor.
Resistência ao confisco
É difícil confiscar Bitcoin – não é impossível, mas é difícil. Exige que o confiscador obtenha as chaves privadas criptográficas de uma carteira de BTC, o que, por sua vez, requer a cooperação do detentor da chave.
Isso ajuda a explicar o apelo que o Bitcoin tem em pessoas que vivem sob regimes repressivos. Mesmo no Ocidente, há casos extremos em que essa qualidade pode ser vantajosa – impedindo, por exemplo, que a Justiça congele unilateralmente todos os ativos de um réu antes que ele seja condenado por um crime (uma prática que deixa o acusado incapaz sequer de pagar por um advogado).
Em 2015, Nathan Cook, CTO da plataforma de finanças descentralizadas Zen Protocol Development, disse o seguinte sobre essa questão:
“Um proprietário de Bitcoin não tem mais o problema enfrentado pelo proprietário de qualquer outro ativo transferível: ‘Meus direitos de propriedade serão respeitados?’ Os detentores de BTC o possuem em virtude de fatos materiais independentes de suas relações sociais. O mundo pode virar as costas para o Bitcoin, sim, e seu valor pode cair para frações de centavo, mas aqueles que o possuem têm essa posse garantida, independentemente da situação”.
Escassez
O Bitcoin tem uma oferta limitada e um cronograma previsível de emissão: 6,25 BTC são minerados a cada 10 minutos, e esse valor é reduzido pela metade a cada quatro anos e continuará sendo reduzido pela metade até que a oferta circulante atinja 21 milhões de unidades, algo previsto de acontecer em algum momento em 2140.
Depois de 2140, nenhum BTC será criado a menos que o algoritmo do software seja alterado por um consenso da rede, o que é teoricamente possível, mas improvável porque iria contra os interesses de praticamente todos os envolvidos (mineradores, usuários, desenvolvedores etc).
Como tal, alguns investidores veem o BTC como uma proteção contra a inflação, um papel tradicionalmente desempenhado pelo ouro. Indiscutivelmente, o BTC é ainda mais escasso que o ouro porque não é possível saber quando alguém vai desenterrar o metal precioso do solo ou de um asteroide. Por outro lado, sabe-se com certeza quanto BTC existirá no futuro.
Críticos apontam que existem milhares de outras criptomoedas com características semelhantes ao BTC, e afirmam que isso significa que o original não é escasso. No entanto, defensores do Bitcoin dizem que não é bem assim.
Como pioneiro, o BTC tem os efeitos de rede a seu favor. A moeda tem o mais alto hashrate (nível de poder de computação dedicado à segurança) entre as criptos que usam prova de trabalho (proof-of-work, ou PoW), um mecanismo pelo qual os participantes concordam sobre qual conjunto de registros é verdadeiro.
Por esse motivo, é (quase) impossível hackear o Bitcoin que está na blockchain principal (a segurança das exchanges centralizadas é outra história), o que sem dúvida torna a criptomoeda na mais segura do mercado. Existem outros mecanismos de consenso, como a prova de participação (proof-of-stake, ou PoS), mas nenhum foi tão testado quanto o PoW.
Isso não quer dizer que outras criptos não possam ter valor, mas há uma razão pela qual o BTC até hoje ainda tem a maior capitalização de mercado entre as criptos, apesar da proliferação de concorrentes – e isso não tem a ver apenas com o reconhecimento de seu nome.
O cenário é diferente quando comparado com a impressão desenfreada de dinheiro encabeçada por bancos centrais, atingindo máximas históricas em muitos países, como os Estados Unidos. Diante disso, algumas pessoas podem preferir ter Bitcoin como um seguro contra a possibilidade de que a inflação do dólar não seja transitória.
Conclusão
Há quem diga que nada disso acima vale alguma coisa ao serem levadas em consideração os riscos inegáveis relacionados ao Bitcoin, como repressões regulatórias, bugs de software e concorrência futura.
No entanto, é cada vez mais difícil negar que a invenção de Satoshi Nakamoto (criador ou criadores do BTC) não vale pelo menos um centavo.