O metaverso, utopia futurista que busca unir os mundos real e virtual, ainda está em construção. No entanto, algumas plataformas já começaram a desenhar essa nova camada de realidade, e desenvolveram universos digitais, onde é possível comprar pedaços de terra para construir casas e negócios digitais, que ficaram conhecidos como “terrenos no metaverso”.

Neste guia, o InfoMoney explica o que são esses terrenos virtuais do metaverso, onde encontrá-los e como comprar um. Também revela quem está apostando nesse mercado que parece ter saído de um filme de ficção cientifica, e quais as vantagens e riscos de apostar nele.

O que são terrenos do metaverso?

Antes de definir os que são terrenos do metaverso, é preciso explicar o que é esse tal de metaverso, que nos últimos meses ganhou espaço nas editorias de economia e tecnologia.

Em resumo, o conceito se refere a um espaço coletivo que mescla o físico e o virtual. Para acessá-lo, seria preciso usar tecnologias como óculos de Realidade Aumentada e de Realidade Virtual. Para imaginar esse lugar, pense no OASIS, do filme Jogador Nº 1, dirigido por Steven Spielberg, ou na simulação construída pela inteligência artificial de Matrix, longa dirigido por Lilly e Lana Wachowski.

Os terrenos virtuais são as terras existentes em plataformas que já “namoram” com o metaverso, como a Decentraland (MANA) e o The Sandbox (SAND) – vamos falar delas logo abaixo. Esses pedaços de solo virtual ficam dispostos em mapas digitais divididos em lotes.

O detalhe é que apesar de estarem situados apenas no ambiente virtual, esses terrenos custam dinheiro (criptomoedas, no caso), têm registro de propriedade e podem (ou não) valorizar com o tempo. Portanto, já existe um mercado imobiliário dentro desses universos online.

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Essa economia digital é possível porque cada terreno do metaverso é negociado como um token não fungível (NFT, na sigla em inglês). Um NFT é a representação de um item exclusivo, que pode ou não ser digital. Fazendo um paralelo com o segmento de imóveis, um token não fungível é como a escritura de um imóvel, mas com algumas diferenças:

A primeira é que ele é basicamente uma sequência de letras e números, e não um documento físico. A segunda é que não há necessidade de ir a um cartório para comprovar registrá-lo. Isso porque um NFT fica guardado em uma blockchain, grande banco de dados descentralizado e imutável que nasceu com o Bitcoin (BTC) no final de 2008.

Quais os principais metaversos?

Há duas principais plataformas de metaverso no mercado.

Decentraland (MANA)

Criada em 2015, é um universo virtual 3D construído na blockchain do Ethereum (ETH). Nela, os usuários podem comprar terrenos e transformá-los em negócios digitais. Os desenvolvedores colocaram a venda 90 mil lotes, cada um com 16m x 16m, e todos já foram comprados. No entanto, ainda existe o comércio de terras no mercado secundário. Esses espaços virtuais podem ser adquiridos com MANA, o token nativo da plataforma, ou ETH.

The Sandbox (SAND)

Semelhante ao Decentraland, o The Sandbox é um ambiente virtual que dá aos usuários a possibilidade criar projetos digitais, como empresas, casas e espaços para eventos. Foi lançado em 2012 como concorrente do Minecraft, mas passou por um reposicionamento em 2018 e entrou no mercado de blockchain e criptomoedas.

O SAND é o token usado para adquirir propriedades. Na plataforma, que também roda no Ethereum, há 166.464 terras disponíveis, cada uma com 96 metros quadrados. Ainda há terrenos, e a plataforma costuma ofertá-los em vendas públicas anunciadas no site.

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Outros projetos, como Axie Infinity (AXS), Gala (GALA), MyNeighborAlice ([ativo=ALICE]) e Enjin Coin (ENJ) também surfam nessa onda do metaverso.

Onde comprar terrenos do metaverso?

É possível comprar terrenos direto dos desenvolvedores (no caso do The Sandbox) ou no mercado secundário. As duas principais plataformas têm suas próprias vitrines online, mas também há pedaços de terras em marketplaces de NFTS, como o OpenSea.

O OpenSea é um mercado P2P de tokens não fungíveis, itens digitais raros e colecionáveis. Para encontrar terras do metaverso por lá, basta ir na busca e digitar o nome da plataforma, como “Decentrand” ou “The Sandbox”. Antes de fazer qualquer compra, no entanto, é importante analisar se as páginas dos metaversos no marketplace são verdadeiras (há um “v” de verificado”, e não fakes. Além de terrenos, há uma série de outros objetos virtuais, como obras de arte, música e destaques do esporte.

Quanto custa um terreno do metaverso?

No dia 20 de dezembro, o terreno mais barato vendido no marketplace da Decentraland custava 4.200 MANA, o equivalente a US$ 13.524. No OpenSea, o pedaço de terra mais em conta desse metaverso era negociado a 3.4 Ether, o que dá cerca de US$ 13.402.

No marketplace do The Sandbox e na coleção da plataforma no OpenSea, os preços dos espaços virtuais começavam a partir de 3.01 ETH – algo em torno de US$ 12 mil. O dado também é de 20 de dezembro. 

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O que influencia o preço de um terreno no metaverso?

Os preços dos terrenos do metaverso são influenciados pelos mesmos fatores que afetam o mercado imobiliário e o mercado de NFTs.

Escassez

Se a plataforma é badalada, atrai cada vez mais usuários e tem poucos terrenos, os valores dos lotes tendem a aumentar. Se ocorrer o oposto, no entanto, eles caem. É a mesma lógica por trás da valorização de imóveis em regiões nobres de grandes cidades. No caso das duas principais plataformas do metaverso, o número de terrenos disponíveis é fixo, e não deve aumentar.

Tamanho

Assim como no mercado imobiliário do mundo real, o tamanho de uma propriedade virtual também importa – e muito. Quanto maior o local, mais caro ele é. Tanto em Decentraland como em The Sandbox, por exemplo, há os “estates”, que são espaços virtuais compostos por dois lotes ou mais. Os preços deles são maiores.

Localidade

Imóveis em regiões nobres ou próximos de locais com grande fluxo de pessoas, como shoppings, costumam ser mais valorizados. O metaverso funciona de maneira semelhante.

No The Sandbox, por exemplo, há alguns moradores famosos, como o rapper Snoop Dog, a Atari SA e a série “The Walking Dead”. Terrenos vizinhos dessas celebridades custam mais caro.

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De acordo com a plataforma, isso ocorre porque esses moradores atraem maior tráfego. E com mais usuários passando perto da localidade, mais chances os proprietários têm de ganhar dinheiro. Algumas formas de monetização dos lotes são aluguel do espaço para desenvolvedores, criação de games e até mesmo anúncios.

As maiores vendas de terrenos do metaverso

O mercado do metaverso está aquecido. Confira abaixo alguns dos terrenos mais caros vendidos em 2021 nas principais plataformas.

US$ 4,3 milhões – Em novembro, a Republic Realm, fundo de investimento em imóveis digitais, comprou um terreno do The Sandbox por US$ 4,3 milhões. Foi a maior venda registrada até agora. O espaço pertencia à Atari SA. As informações sobre a negociação foram divulgadas pelo jornal The Wall Street Journal.

US$ 2,5 milhões – Também em novembro, um terreno em Axie Infinity foi vendido por 550 ETH, o equivalente a US$ 2,5 milhões. Foi a maior venda registrada no game, disse no Twitter a empresa por trás do projeto.

US$ 2,4 milhões – No mesmo mês, a Metaverse Group, afiliada da Tokens.com, comprou um espaço na Decentraland por 618 mil MANA, o equivalente na época a US$ 2,4 milhões. Com a disparada de preço da criptomoeda, a propriedade digital passou a valer US$ 3,5 milhões no final de dezembro. A área online comprada tem um espaço equivalente a 566 metros quadrados.

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US$ 913 mil – Em junho, um terreno da Decentraland foi vendido por 1,3 milhão de MANA, o equivalente a US$ 913 mil. A compradora foi a Republic Realm. O espaço virtual tem pouco mais de 66 mil metros quadrados.

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US$ 450 mil – Em dezembro, um investidor identificado como “P-Ape” pagou 71 mil unidades de SAND (US$ 450 mil na época) para ser vizinho do rapper Snoop Dog no metaverso do The Sandbox. O artista norte-americano entrou de cabeça nesse mercado, e sua vizinhança na plataforma é conhecida como “Snoopverse”.

Quantos dólares a venda de terrenos já movimentou?

Em 2021, as plataformas Decentraland e The Sandbox movimentaram juntas cerca US$ 390 milhões, segundo estatísticas do site NonFungible.com. A análise leva em consideração as vendas de terrenos e de itens das duas plataformas.

De acordo com dados do site DappRadar, em apenas uma semana de novembro de 2021 os dois principais metaversos movimentaram US$ 100 milhões com a venda de lotes virtuais.  

É possível ganhar dinheiro com isso comprando terrenos no metaverso?

As pessoas estão comprando terrenos no metaverso porque é possível monetizar os espaços. Há diversas formas de ganhar dinheiro com eles. Veja algumas delas.

Compra e revenda

Um usuário pode comprar o terreno, aguardar um tempo e vender mais caro no futuro. Se quiser construir uma mansão ou algum outro empreendimento para valorizar ainda mais o espaço também é possível. Há profissionais, como designers de 3D, que podem dar uma ajuda na construção.

Aluguel

É possível também alugar o pedaço de terra para outros usuários ou empresas interessadas em desenvolver negócios virtuais. O valor do aluguel vai depender da localização – quanto mais “nobre” o local, mais caro fica.

Eventos

Outra possibilidade é construir algum tipo de negócio virtual no terreno. Uma casa de eventos é uma boa pedida. A cantora norte-americana Ariana Grande, por exemplo, realizou uma apresentação em uma plataforma do metaverso.

Games

O proprietário do espaço também pode construir jogos dentro desses terrenos. Para lucrar, pode cobrar taxas dos usuários que querem ter a experiência.

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Outra forma de monetizar é colocar outdoors na propriedade e vender os espaços publicitários para outros players ou empresas. Donos de terrenos em locais com maior tráfego de usuários podem tirar maior proveito dessa possibilidade de negócio. 

Quem já está investindo no metaverso?

Entusiastas do mercado de criptomoedas, empresas de games, gestoras e big techs estão investindo pesado no metaverso.

Em outubro de 2021, o Facebook chegou a mudar seu nome para Meta. Em comunicado divulgado ao público, o fundador e presidente do grupo, Mark Zuckerberg, disse que a mudança se deve ao novo posicionamento da marca.

“Hoje somos vistos como uma empresa de mídia social, mas em nosso DNA somos uma empresa que constrói tecnologia para conectar pessoas, e o metaverso é a próxima fronteira, assim como a rede social foi quando começamos”.

Em 2021, a Nvidia lançou o NVIDIA Omniverse, uma plataforma colaborativa de simulação. Já a Microsoft deu vida ao Mesh, uma plataforma que permite a realização de reuniões com hologramas. A criadora do Windows ainda desenvolveu avatares 3D para o Teams, sua ferramenta de comunicação.

Até o Banco do Brasil resolveu entrar na “brincadeira”, e criou uma experiência dentro do jogo GTA. No game, o jogador pode abrir na instituição bancária uma conta para seu personagem, e pode até trabalhar como abastecedor de caixa.

A Bloomberg Intelligence estima que esse mercado deve gerar receitas de até US$ 800 bilhões (R$ 4,5 trilhões) em 2024, puxado principalmente pelos games e por eventos realizados nessa nova camada de realidade.

Como comprar terrenos no metaverso?

Um terreno do metaverso é um NFT. Para comprar e armazenar um deles, portanto, você precisa de uma carteira de criptomoedas. Algumas das opções são MetaMask, Coinbase Wallet e Bitski. Abaixo, veja como comprar um pedaço de terra virtual com a MetaMask, aceita tanto na Decentraland como na The Sandbox. A maneira de comprar tokens nas duas plataformas é semelhante.

1º passo

O primeiro passo é baixar a carteira em seu computador ou no celular. Para isso, basta acessar o site da MetaMask. No desktop, ela será instalada como extensão do navegador. O processo é bem simples, e gerará uma seed para você – sequência de 12 a 24 palavras (em inglês), que funciona como uma senha de recuperação de sistema.

2º passo

Depois de instalar a carteira, você deve comprar Ethereum e o token nativo da plataforma metaverso – SAND ou MANA, nesse caso – e enviá-los para sua a MetaMask. O token nativo é a moeda corrente dessas plataformas, e você precisa dele para adquirir terras e outros itens, como roupas. Já o ETH é necessário para pagar as taxas da blockchain do Ethereum, rede em que esses dois metaversos estão baseados. Chamadas de “gas”, essas taxas da blockchain do Ether não são fixas e mudam diariamente. Quanto mais congestionada a rede, mais caras elas ficam.

Lembrando que para adquirir essas criptomoedas é necessário comprá-las em alguma corretora. Após isso, é fazer a transferência para a sua carteira. No Brasil, exchanges como Binance, Coinext, Foxbit e Mercado Bitcoin disponibilizam criptomoedas do metaverso.

3º passo

Depois de finalizar os passos anteriores, é hora de acessar o metaverso desejado e fazer o cadastro. O processo também é bem simples – no geral, basta entrar no site do projeto, colocar seu e-mail e criar uma senha. Na sequência, é só navegar no marketplace da plataforma, escolher o terreno virtual e apertar o botão de compra.

Vale reforçar que os terrenos do The Sandbox são oferecidos apenas em vendas públicas. Os anúncios das ofertas ocorrem no próprio site do projeto com algumas semanas de antecedência. Assim que são colocados à venda, os lotes acabam em segundos. Quem não consegue comprar um, no entanto, pode encontrar os NFTs no mercado secundário em marketplaces como o OpenSea. O cadastro nessa plataforma é semelhante ao que foi descrito aqui acima. 

Como guardar seu terreno do metaverso com segurança

Depois que o terreno do metaverso é comprado, ele é enviado para a sua carteira de criptomoedas. Na prática, você recebe uma sequência de números e letras, que todo mundo ver, mas ninguém pode alterar. É extremamente importante guardar a senha da sua wallet com cuidado e implantar medidas de segurança no PC ou celular para evitar ataques de hackers. Procure também não perder sua senha, caso contrário você não conseguirá mais acessar seu terreno virtual.

Vantagens

Há vantagens de se investir em terrenos do metaverso. A principal delas é justamente a valorização. Se a plataforma escolhida realmente ganhar o coração dos entusiastas do mercado e dos investidores, os preços dos terrenos tendem a explodir.

Outra vantagem é a escassez. A quantidade de lotes da Decentraland e do The Sandbox, por exemplo, é fixa. Ao comprar um, portanto, o investidor está colocando dinheiro em um pedaço de terra virtual único, que ninguém mais tem.   

Riscos

Como todo mercado, investir em terrenos do metaverso também tem riscos. O principal é a plataforma onde o terreno virtual está localizado não vingar. Se isso acontecer, os preços tendem a cair. É a mesma lógica por trás da compra de imóveis reais para investimento – se a região escolhida virar palco de violência ou começar a ser depreciada, os valores das casas desabam.

Outro risco envolve a liquidez. Se você compra um token não fungível, e depois de um tempo resolve vendê-lo, não é de uma outra para outra que se consegue achar um comprador. É diferente do que ocorre com criptomoedas como o BTC e o ETH, por exemplo, que têm alta liquidez.