O S&P 500 é um dos índices mais seguidos do mundo, pois reúne as maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos e oferece um amplo panorama das bolsas norte-americanas. Segundo a S&P Dow Jones Indices, empresa responsável pelo indicador, o peso dos EUA no mercado acionário mundial é tão grande que ultrapassa em nove vezes o do Japão, segundo país em importância.
Índices de ações servem para mensurar e monitorar o desempenho dos mercados. Dão aos investidores e aos profissionais da área visão dos riscos e retornos das regiões, países ou segmentos que cobrem. São usados também como referência para a estruturação de uma série de investimentos.
O S&P 500 “é considerado o melhor indicador de ações de grande capitalização dos EUA”, disse Hamish Preston, diretor de Índices de Ações dos EUA na S&P Dow Jones. “Dá uma percepção ampla de para onde vão as bolsas norte-americanas”, acrescentou George Sales, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais em São Paulo (Ibmec-SP).
Grosso modo, o S&P 500 está para os Estados Unidos como o Ibovespa, principal índice da B3, está para o Brasil. “Acompanha o mercado dos EUA como o Ibovespa acompanha o do Brasil”, explicou Pietra Guerra, analista da área de Research da XP Investimentos.
As semelhanças não param por aí. Confira a seguir detalhes do funcionamento do S&P 500, sua importância e o que ele representa para os investidores.
O que é o S&P 500
O S&P 500 é um índice do mercado norte-americano de capitais. É considerado o principal indicador de ações de companhias de grande porte dos Estados Unidos. Reúne cerca de 500 empresas de capital aberto domiciliadas no país, listadas na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE, na sigla em inglês) e na Nasdaq. Ele representa cerca de 80% da capitalização de mercado disponível nos EUA.
Ações de grande capitalização, ou “large caps”, também conhecidas com “blue chips”, são papéis de empresas com alto valor de mercado nas bolsas, geralmente líderes em suas áreas de atuação, e que têm muita liquidez. Ou seja, são objeto de movimentação financeira significativa e conseguem ser facilmente compradas ou vendidas pelos investidores.
Dado o tamanho, a importância do mercado e a representatividade do índice, o S&P 500 é acompanhado de forma ampla ao redor do mundo. Os ativos referenciados ou indexados a ele são estimados em US$ 13,5 trilhões, segundo levantamento da S&P Dow Jones. São, por exemplo, fundos que replicam o desempenho do indicador ou que o usam como referência.
O S&P 500 foi lançado em março de 1957 pela Standard & Poor’s e completou 65 anos em 2022. Uma versão anterior do índice, com 90 ações, existia desde 1928. O indicador de ações mais antigo dos EUA é o Dow Jones Industrial Average, criado em 1896 e composto por 30 empresas de grande porte. Ambos são mantidos pela S&P Dow Jones Indices, divisão da S&P Global.
Como funciona
O S&P 500 é um índice ponderado por capitalização de mercado ajustada à livre flutuação. Ele acompanha em tempo real as ações que o compõe e reflete uma média ponderada do desempenho destes papeis nas bolsas, subindo ou caindo.
“As ações não têm peso igual. Há uma ponderação feita com base na capitalização das empresas”, diz Sales. As companhias que estão no topo do indicador, de maior valor, têm proporcionalmente maior peso e influência em sua performance do que as que estão na base, de valor menor.
De forma geral, o S&P 500 reúne as ações das 500 empresas com maior valor de mercado dos Estados Unidos e os papeis entram no indicador conforme atingem tal patamar. Pelas regras da S&P Dow Jones, para serem adicionadas as companhias devem ter capitalização mínima de US$ 14,6 bilhões.
Mas a capitalização de mercado, que é a quantidade ações de uma empresa multiplicada pelo preço, não é o único critério observado na hora de incluir uma companhia no índice. “Há uma série de sutilezas”, comentou Preston.
Para entrar no S&P 500, a empresa tem que ser de fato domiciliada nos EUA. Não basta ter papéis listados em bolsas norte-americanas. São aceitas somente ações ordinárias listadas na NYSE, Nasdaq e na Bolsa de Opções de Chicago (Ciboe, na sigla em inglês).
A companhia tem que apresentar um histórico positivo de ganhos recentes, e suas ações, uma taxa mínima de liquidez. A representação setorial é mais um fator importante, pois o índice tem que manter um equilíbrio ponderado entre atividades econômicas, de acordo com a importância delas nas bolsas.
Descumprir um ou mais fatores não implica em exclusão automática. A S&P Dow Jones tem como política evitar sempre que possível o giro nas composições de seus indicadores. Daí a possibilidade de permanência de uma ação, mesmo que ela deixe de cumprir alguns requisitos temporariamente.
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Quais ações estão presentes no S&P 500
Estão presentes no S&P 500 empresas gigantes dos Estados Unidos. As dez primeiras do índice são Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet (Google), Tesla (veículos elétricos), Berkshire Hathaway (holding do bilionário Warren Buffett), UnitedHealth Group (saúde), Johnson & Johnson, Nvidia (tecnologia) e Meta (Facebook).
A capitalização de mercado somada de todas as empresas que compõem o indicador está em US$ 31,9 trilhões.
Para efeito de comparação, o número de ações que integram o S&P 500 é superior ao total de empresas listadas em bolsa no Brasil, 449. Nos EUA, há mais de 4 mil companhias de capital aberto.
As empresas têm diferentes pesos no S&P 500, conforme o tamanho. Nesse sentido, a Apple, primeira da lista, tem mais influência no comportamento do índice do que uma companhia que está na parte final do rol, como a marca de roupas Ralph Lauren. O indicador contava, em jullho de 2022, com 503 ações.
Da mesma forma, alguns setores têm mais peso no índice do que outros e, portanto, maior influência no desempenho. Como o S&P 500 reflete a performance das maiores empresas dos EUA, ele engloba atividades variadas.
A área com maior representação no S&P 500 é a de tecnologias da informação, com participação de 26,8%; seguida de empresas de saúde (15,1%); finanças (10,8%); consumo discricionário, ou bens e serviços não essenciais (10,5%); serviços de comunicação (8,9%); bens e serviços industriais (7,8%); bens de consumo essenciais (7%); energia (4,4%); serviços de utilidade pública como gás, água e eletricidade (3,1%); imóveis (2,9%); e materiais, incluindo commodities não agrícolas (2,6%).
O índice usa o Padrão Global de Classificação Industrial (Gics, na sigla em inglês) na definição dos setores.
Como as ações que compõe o índice são escolhidas?
O S&P 500 é supervisionado e administrado por um comitê formado por profissionais da S&P Dow Jones, mas que atua de forma independente. Eventuais mudanças na composição do indicador são realizadas trimestralmente em março, junho, setembro e dezembro.
Na última atualização, por exemplo, em junho de 2022, entraram na lista as empresas Vici Properties (imóveis), Keurig Dr Pepper (bebidas) e ON Semiconductor (tecnologia); e saíram Cerner (tecnologias para o setor de Saúde), Under Armour (material esportivo) e IPG Photonics (ferramentas a laser).
Para incluir uma ação no índice, o comitê leva em consideração uma série de critérios como a capitalização de mercado, liquidez e histórico de ganhos. No último caso, por exemplo, o acumulado de ganhos dos últimos quatro trimestres precisa ser positivo, assim como o resultado do trimestre mais recente, antes de eventual adição.
Mesmo que tais variáveis sejam atendidas, a entrada da ação no S&P 500 não é garantida, pois o colegiado irá atentar também para a representatividade do setor da companhia e tentará evitar o giro da composição do indicador sempre que possível.
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Como investir no S&P 500
Não é possível investir diretamente num índice. Eles servem para monitorar os mercados e seus diversos recortes. “O S&P 500 dá visibilidade à movimentação das bolsas dos Estados Unidos”, afirmou Guerra. Como o indicador cobre cerca de 80% da capitalização nos pregões dos EUA, ele oferece um ampla visão daquele mercado. “É muito representativo”, acrescentou.
Índices, no entanto, servem de parâmetro para investimentos. Podem ser replicados e usados como blocos de construção de produtos. Um bom exemplo são os ETFs (sigla em inglês para “fundos negociados em bolsa”). Chamados também de “fundos passivos” ou “fundos de índice”, os ETFs são fundos de ações que buscam replicar o desempenho de um determinado indicador.
Na B3, por exemplo, há pelo menos três ETFs que seguem o S&P 500: IVVB11, da BlackRock, SPXB11, do BTG Pactual, e SPXI11, do Itaú. Há também BDRs de ETFs, que são recibos de cotas de fundos negociados no exterior e que podem ser comprados na B3. A missão do gestor de um ETF é aderir ao máximo ao comportamento do índice de referência.
Guerra explica que ETFs atrelados ao S&P 500 são generalistas, mas oferecem oportunidade de diversificação internacional, monetária e setorial. Um investidor que costuma aplicar todo o seu dinheiro em ativos brasileiros, por exemplo, passa a ter exposição a outra região, ao dólar e a atividades que não têm grande representatividade no mercado nacional, como TI e saúde.
A S&P Dow Jones não oferece produtos para investimentos, apenas os índices, mas em seu site há uma lista de ETFs atrelados ao S&P 500 disponíveis em vários países. Confira clicando aqui.
Índices são utilizados como base para outros investimentos. Fundos de ações ativos têm por objetivo superar um índice de referência, que pode ser o S&P 500. Diferente do ETF, aqui o gestor tem que trabalhar para conseguir um desempenho superior ao do indicador. Há fundos assim disponíveis no Brasil, que investem em ações norte-americanas e são referenciados pelo S&P 500.
“Mas o S&P 500 é muito difícil de bater”, destacou Preston. Segundo a pesquisa Spiva (sigla para S&P Indices versus Active), que compara os desempenhos de fundos ativos aos de seus índices de referência, no último ano, 85% dos fundos tiveram performance abaixo do S&P 500, e somente 15% superaram o indicador.
Ainda de acordo com o levantamento da S&P Dow Jones, em dez anos, 83% dos fundos registraram desempenho inferior, e 17% ultrapassaram o índice. “Isso explica por que o S&P 500 é tão seguido. Ele é sinônimo de ações de grande capitalização dos Estados Unidos”, ressaltou Preston.
O S&P 500 é referencia ainda para quem investe diretamente em ações de grandes empresas norte-americanas. Quem monta uma carteira de papeis pode acompanhar o S&P 500, comparar o desempenho e, eventualmente, fazer ajustes. A lógica vale também para BDRs de ações norte-americanas negociadas na B3. “Isso faz sentido, dada a amplitude do índice em relação ao mercado”, observou Guerra.
O S&P 500 representa cerca de 80% do mercado acionário dos EUA. Mais: em escala mundial, as ações norte-americanas são as que têm maior peso. Na composição do S&P Global Broad Market Index (BMI), índice mundial de ações da S&P Dow Jones, a participação de papeis dos Estados Unidos é de 58%.
Dada a relevância dos EUA, ações do país são importante opção de diversificação para investidores de outras nações, incluindo o Brasil, na avaliação de Preston. “Ações dos Estados Unidos têm potencial para aliviar vieses domésticos”, declarou ele, que é um dos autores de relatório recente da S&P Dow Jones sobre a relevância de papeis norte-americanos para a América Latina.
O relatório informa que os investidores em geral dão maior importância aos mercados de seus países do que a oportunidades internacionais, e classifica tal tendência como “viés doméstico”. De acordo com este raciocínio, muitos investidores latino-americanos provavelmente têm baixa exposição a ações dos Estados Unidos.
Para Preston, investir em papeis norte-americanos ajuda a reduzir a exposição a riscos locais não só pela exposição internacional, mas pela diversificação setorial. As bolsas dos EUA têm forte presença de empresas de tecnologia e saúde, por exemplo, setores com baixa representação no mercado brasileiro.
O que são e como operar minicontratos de S&P 500
São derivativos, contratos futuros de S&P 500 e representam mais uma opção de investimento referenciada pelo índice. De acordo com a B3, o produto permite ao interessado negociar hoje na bolsa brasileira um contrato de expectativa de preço futuro para o portfólio de ações do S&P 500. É um acordo de compra e/ou venda para negociar um índice por determinado preço em data futura.
Padronizado, tem como característica principal se ajustar financeiramente todos os dias para apuração de ganhos e perdas.
Há dois tipos de contratos assim na B3: o Futuro Mini de S&P 500 (ISP), em que cada ponto do índice equivale a US$ 50,00; e o Microcontrato Futuro de S&P 500 (WSP), versão para pessoas físicas – pois tem uma tamanho 20 vezes menor -, cada ponto do índice equivale US$ 2,50. Estão disponíveis também opções sobre Futuro de S&P 500.
De acordo com a B3, estes produtos funcionam como um instrumento para minimizar ou gerenciar o risco da carteira (hedge), para diversificação de portfólio, alavancagem com exposição a ativos estrangeiros, além de oportunidades para novas estratégias, como “day trade” e arbitragem.
São negociados da mesma forma que os demais contratos futuros na bolsa, como o Ibovespa B3. A B3 recomenda que o investidor procure sua corretora para eventuais operações na área, de acordo com seu perfil e apetite ao risco. Os contratos são negociados em pontos – cada um representado por um valor em dólares – e têm liquidação financeira em reais.
Ainda de acordo com a B3, estes contratos contam com a atuação de formadores de mercados, responsáveis por manter ofertas em tela, de acordo com parâmetros de quantidade mínima e spreads máximos definidos pela bolsa, de forma a dar liquidez ao mercado.
“Se a pessoa acredita que o índice vai subir, compra. Se acha que vai cair, vende”, explicou Sales. “São indicados para investidores com maior conhecimento do mercado”, acrescentou Guerra.
O S&P 500 tem relação com os investimentos no Brasil?
Como visto acima, o S&P 500 funciona como referência ou indexador de uma série de investimentos disponíveis no Brasil, como ETFs, fundos ativos e contratos futuros. Mas é um indicador do mercado norte-americano e não tem influência direta no comportamento da bolsa brasileira.
Eventos que afetam o S&P 500 podem, no entanto, influenciar também o mercado brasileiro de ações. Por exemplo: a aceleração da inflação nos Estados Unidos e o aumento da taxa básica de juros por lá, com perspectiva de diminuição da atividade econômica. Este cenário tende a deprimir as bolsas nos EUA e se reflete também no Brasil.
Os investidores estrangeiros respondem por cerca de metade dos investimentos na B3. Com os juros em alta nos Estados Unidos, muita gente migra para investimentos de renda fixa norte-americanos e a bolsa brasileira cai. O Ibovespa é pressionado para baixo também pelos juros altos no Brasil, que tornam os títulos de renda fixa locais mais atraentes.
“Mas a composição das bolsas aqui e nos EUA é diferente, então é possível uma subir enquanto a outra cai”, lembrou Guerra. Os setores com maior peso no S&P 500 e no Ibovespa são diferentes. Lá, TI e saúde têm grande relevância; aqui, finanças e commodities. Estas particularidades podem fazer com que os dois índices se comportem de maneira diversa, mesmo dentro do mesmo contexto macroeconômico internacional.
Em 2022, ambos acumulam queda (até sexta-feira, 22 de julho). O S&P 500 de 16,88%, e o Ibovespa de 4,81%.
Qual a importância do S&P 500
O S&P 500 é um dos índices mais acompanhados do mundo, pois oferece uma visão ampla do mercado de ações dos Estados Unidos, de longe o maior de todos. Conforme explicado anteriormente, os EUA respondem por 58% do mercado acionário global, e o S&P 500, por 80% do mercado norte-americano. “Seguir, mensurar e comparar o índice dá coloração para narrativas de impacto no mercado global”, declarou Preston.