Por Lucas Sampaio

Desde que a pandemia começou, tudo fechou e as pessoas tiveram de ficar em casa por muito mais tempo do que imaginavam, trabalhando e estudando pelo computador. Em meio a este cenário, muitas dessas pessoas passaram a vislumbrar a contratação de um seguro residencial.

Mesmo com o aumento da procura, ele ainda é uma proteção pouco utilizada no Brasil: cerca de 85% dos domicílios não têm seguro, e até em mercados mais desenvolvidos, como São Paulo, a cobertura não chega a 25% dos lares.

Além de barato (há opções a partir de R$ 20 por mês), o seguro residencial também é prático e fácil de contratar. É como ir a um restaurante a quilo: você começa pelo o arroz e o feijão (o pacote básico) e vai montando o seu prato de acordo com a sua fome e as suas necessidades (escolhendo quais proteções adicionais vai contratar e o tamanho da cobertura).

No seguro residencial, o arroz e feijão funcionam como cobertura contra incêndio, queda de raio e explosão — ela é tão básica que, no caso de raio, só cobre os danos estruturais no imóvel. Com um detalhe: se o raio cair dentro de seu terreno. Ela não cobre equipamentos queimados, danos por oscilações de energia na rede ou se o raio cair no seu vizinho ou na rua, mas afetar a sua casa. Acredite: neste caso, é preciso ter contratada a cobertura de danos elétricos.

Com esses detalhes em mente, você então continua caminhando pelo bufê imaginário e escolhendo as opções disponíveis (e o tamanho da cobertura para cada uma): danos elétricos, furto e roubo de bens, danos a terceiros, despesas com aluguel, proteção contra vendaval, desmoronamentos… Há inúmeras opções; e já há seguradoras que incluem até bicicletas e pets no pacote (e a apólice cobre até se a sua bike for roubada na rua).

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As seguradoras costumam incluir também, até nos pacotes mais básicos, serviços como eletricista, chaveiro e reparos gerais. Apesar de terem um custo para as empresas, esses serviços fidelizam o cliente por serem práticos e tangíveis e agregam valor à apólice: como o seguro residencial costuma ser acionado com menor frequência, o uso dos serviços ajuda a ressaltar a utilidade do produto e a reter o cliente.

Uma mão segurando uma casa para simbolizar a compra de um imóvel
(Shutterstock)

“Desde que as pessoas passaram a ficar mais em casa, trabalhando e estudando, elas passaram a usar mais os serviços. Até por uma ‘sobrecarga’ do imóvel, pois um prédio não é projetado para ser usado por 100% do tempo — e as pessoas ficaram trancadas em casa”, afirma Jarbas Medeiros, diretor-executivo de ramos elementares da Porto (que agora não tem mais “Seguro” no nome).

“A construção elétrica e hidráulica não é projetada para ser usada assim, então, as coisas queimam mais, dá mais manutenção, e as pessoas usam mais os serviços”, diz o diretor-executivo da Porto, que é líder em seguros residenciais, com mais de 2,2 milhões de clientes. “E vemos isso como algo bom, porque o cliente está usando o seguro. Vemos também que, quem usa, renova o seguro. O seguro é algo muito intangível, e quando você usa você torna isso tangível”.

Como há muitas variáveis e pormenores nos seguros em geral (e no residencial em particular), as corretoras, as seguradoras e até as insurtechs costumam ter pacotes padrões, com as coberturas mais comuns. Mas, como nem sempre eles atendem às necessidades específicas de cada cliente, o InfoMoney preparou um guia sobre como contratar um seguro residencial.

Como funciona a cobertura do seguro residencial

Antes de contratar um seguro residencial, você precisa fazer duas estimativas, pois isso vai definir o tamanho das coberturas que você vai contratar: quanto custa o seu imóvel e quanto valem as coisas que estão dentro dele. No jargão do mercado, você vai calcular quanto vale o “prédio” (a estrutura física do imóvel a ser segurado) e quanto vale o “conteúdo” (o que tem dentro). Aqui, há dois pontos muito importantes:

O primeiro é que o custo do imóvel não é seu valor de mercado — ou quanto você acha que ele vale —, mas sim o preço para reconstruí-lo (custo de reposição). Se for uma casa, imagine o caso de ela pegar fogo por completo e você precisar destruí-la e refazê-la do zero. Nesse cálculo não entra o custo do terreno nem a valorização do imóvel, mas sim o custo da fundação, das paredes, do telhado, do acabamento… Se for um apartamento, os condomínios são obrigados por lei a terem seguro. Então imagine que, na mesma hipótese do incêndio, ele será devolvido a você como se estivesse na planta.

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O segundo, sobre o conteúdo, é que ele inclui tudo o que tem dentro do imóvel, desde melhorias como pisos, acabamentos e móveis planejados até bens como televisões, computadores, móveis, roupas e joias. Mas atenção: alguns seguros não cobrem o reembolso de joias e alguns itens, e outros têm limites específicos para cada categoria que foi perdida — roupas, por exemplo —, mesmo que o valor da sua cobertura para conteúdo seja alta. Então é muito importante ficar atento aos itens cobertos (e seus limites) para não descobrir isso quando for tarde demais.

Tem diferença entre seguro residencial para casa e apartamento?

Sim, e a principal é que o seguro residencial para casas é geralmente mais caro (por vários motivos). O primeiro é que uma casa é mais vulnerável, não só a desastres naturais mas também a roubos e assaltos (que costumam elevar o valor do prêmio do seguro residencial). Além disso, condomínios são obrigados por lei a contratar um seguro condominial, então, custos estruturais podem ser arcados pela seguradora do prédio, não a sua.

“Casa pode ter vendaval, destelhamento”, elenca Luciano Romano de Ávila, um dos sócios-fundadores do Piquenique Seguros, um clube de assinaturas. ”Via de regra casa é mais caro, principalmente se for casa de veraneio. Se tiver cobertura de roubo, ali que mora o problema.”

Tem diferença para proprietário, locador e locatário?

Todos podem contratar qualquer seguro (e com quaisquer proteções), mas Ávila dá uma dica: “Se você for um locador, você pode fazer só o seguro do ‘prédio’. Porque o ‘conteúdo’ é do locatário. Se você for locatário e morar em apartamento, você pode pegar só ‘conteúdo’. Porque a lei exige que o prédio tenha seguro”.

Como contratar um seguro residencial?

Definido o valor do “prédio” e do “conteúdo” (o que também é conhecido como “declaração de valor em risco”), o próximo passo é procurar um corretor de seguros, uma corretora ou até a própria seguradora — o que ficou muito mais fácil com a internet. Hoje, é possível cotar e contratar um seguro direto no computador ou celular, sem sair de casa nem precisar de atendimento humano.

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E a gama de possibilidades é bastante grande, para todos os tipos de cliente: há desde seguradoras como a Porto (que tirou o Seguro do nome), corretoras on-line como a Minuto Seguros, clubes de assinaturas como o Piquenique Seguros e insurtechs como a Youse, uma seguradora 100% digital.

Mas ainda há quem prefira o bom e velho corretor de confiança. Vai do gosto de cada um.

Seguro residencial tem franquia, como o de carro?

Tem, mas depende da cobertura. Assim como o condutor não paga a franquia do seguro de carro em caso de perda total, o cliente não paga taxa no residencial se for a cobertura básica, contra incêndio. Para as demais as seguradoras costumam cobrar uma porcentagem do valor da cobertura (que geralmente varia entre 10% e 15% do valor segurado).

Quais são as principais coberturas do seguro residencial (e o que elas incluem)?

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São inúmeras e as seguradoras têm oferecido um leque cada vez mais amplo de opções, como seguro de bicicletas e até de pets. Os principais são:

Incêndio, explosão e raio

É a cobertura básica e cobre danos em casos de incêndio, raio e explosão. Algumas seguradoras incluem na proteção básica também os danos por implosão, fumaça e queda de aeronave, outras cobrem esses riscos como coberturas opcionais e separadas.

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Muito importante: a cobertura de raios só cobre os danos estruturais no imóvel – e se o raio cair dentro do seu terreno. Ela não cobre equipamentos queimados, danos por oscilações de energia na rede elétrica ou se o raio cair no seu vizinho (ou na rua) e afetar a sua casa. Neste caso, é preciso ter contratada a cobertura de danos elétricos.

Danos elétricos

Esta é a cobertura correta para danos na rede elétrica do seu imóvel ou nos seus eletrodomésticos ou eletroeletrônicos, independentemente do motivo.

Furto e roubo de bens

É a cobertura que assegura no caso de a sua residência ser assaltada. A grande maioria das seguradoras só cobre casos de roubo ou furto qualificado, mas não de furto simples (quando não há tentativa de arrombamento, por exemplo).

“Tem de ter uma marca de pé no muro, um vidro quebrado, uma porta arrombada… Algum sinal do crime”, exemplifica Manes Erlichman, vice-presidente e diretor técnico da Minuto Seguros. “Furto simples, quando alguém entra na sua casa por algum descuido, não é coberto pelo seguro.”

Danos a terceiros

Trata-se da cobertura para indenizar e ressarcir vizinhos por eventuais problemas causados pelo seu imóvel (Sabe aquele vazamento no seu banheiro que infiltrou para o apartamento debaixo?) Também pode ser chamada por algumas seguradoras de “responsabilidade civil familiar”.

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Vendaval

É a cobertura para danos causados por ventos fortes e chuvas de granizo.

Perda ou pagamento de aluguel

Esta cobertura garante o pagamento de outro aluguel caso o imóvel seja destruído. O aluguel é pago ao inquilino ou proprietário do imóvel por um período determinado.

Outras coberturas

Aluguel, vazamento e/ou ruptura de tubulações, tremor de terra ou terremoto, impacto de veículos terrestres ou queda de aeronaves, quebra de vidros, espelhos, mármores e granitos, tumulto greve e lock-out e negócios em casa, entre outros.

É importante destacar que nem todas as coberturas são oferecidas por todas as seguradoras (e, às vezes, elas podem ser agrupadas de uma forma diferente). Na Porto, por exemplo, dano por fumaça ou queda de aeronave está incluso na cobertura básica de incêndio; na Youse, esses dano por fumaça faz parte da cobertura de vendaval e a queda de aeronave, junto com impacto de veículos.

3 erros de quem contrata um seguro residencial

Não subavalie os seus gastos em caso de uma emergência: o barato sai caro. “O valor da cobertura tem de ser o que vai repor o bem por completo”, diz Jarbas Medeiros, diretor-executivo de Ramos Elementares da Porto. Ele cita como exemplo um cliente que precisou gastar R$ 100 mil para consertar o telhado após um vendaval mas o limite da cobertura era de R$ 15 mil. “A pessoa tinha um seguro subcontratado, e nós pagamos só até a cobertura contratada”.

‘Já tenho seguro do imóvel no financiamento’: esse é um erro comum de quem financia o imóvel e contrata o seguro do SFH (Sistema Financeiro de Habitação). Medeiros alerta que a apólice vale para o prédio, para a construção, e tem ligação com a dívida que o cliente tem com o banco. “Se acontece um incêndio durante a construção, ele precisa quitar o financiamento e tem o seguro. Ele protege o imóvel, mas o objetivo é garantir o financiamento. O seguro não vai cobrir o ‘conteúdo’, danos a terceiros etc.”.

‘Moro em condomínio e lá já tem seguro’: a resposta é a mesma que a anterior: a proteção é só para o prédio, não para o conteúdo. Fora que apartamento costuma dar bastante problema – ainda mais com as pessoas passando mais tempo em casa. “Condomínio dá bastante problema, de danos a terceiros, Pode ter vazamento, seu cachorro pode morder o do vizinho…”.

5 dicas valiosas para quem vai contratar (ou já tem)

• Cláusula de valor de novo: a maioria dos seguros usa uma taxa de depreciação para bens antigos. Então quando você precisa acionar o seguro em caso de roubo, por exemplo, pode acabar recebendo menos que o valor do bem (e daí não consegue comprar uma TV igual à que foi levada). Se você contratar essa cláusula, paga um pouco mais no seguro mas garante que vai receber o valor integral do bem, sem depreciação.

• Mude a apólice sempre que necessário: no meio da vigência do seguro é possível fazer endossos e alterar a apólice, mesmo que ele seja anual. É normal você perceber que não precisa tanto de uma cobertura contratada mas esqueceu de uma mais importante, por exemplo. Por isso é possível fazer ajustes no contrato.

Na Youse, por exemplo, o cliente pode fazer a gestão da apólice no celular ou no computador e até escolher desativar algumas coberturas ou assistências mês a mês, mexendo na franquia. “Não tem um intermediário, a própria pessoa no sofá da sala tem a possibilidade de gerir a apólice”, diz Uribe Teófilo, gerente de produtos da Youse. “Por mais que você não entenda na entrada, você tem a possibilidade de entender o produto e mudar depois. A sugestão é se relacionar com o seguro, pois ele é feito pra ser usado, independentemente de você ter tido um sinistro.”


• Fique atento às pegadinhas das coberturas: a cobertura básica de raio não cobre danos elétricos como a queima de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, mesmo que o raio caia na sua casa; a cobertura de roubo e furto não cobre furto simples, apenas qualificado, então você não será indenizado se esquecer a porta de casa aberta e alguém entrar e levar a sua TV ou computador; os veículos não são cobertos pelo seguro residencial, então se a sua casa pegar fogo o seguro não vai pagar o carro que estava na garagem, por isso precisa ter o seguro do carro e da casa.


• Veja quais bens são garantidos: essa é uma continuação da dica anterior. As condições mudam de uma seguradora para outra não só nas coberturas, mas também nos bens que são garantidos. Algumas, por exemplo, não indenizam joias; outras, colocam limites baixos para itens como roupas, mesmo que o valor total contratado como “conteúdo” seja baixo. Por isso é essencial ler os pormenores do contrato.


• Use e abuse do pacote de assistências: seguro é feito para se usar. O seguro residencial é mais barato exatamente porque as ocorrências são mais baixas, então as seguradoras oferecem assistências, de chaveiro a encanador, para fidelizar o cliente. Não tenha medo de usá-las, porque é isso mesmo que as seguradoras querem (apesar de ser um custo extra para elas, as assistências ajudam a estreitar o relacionamento e fidelizar o cliente.

“Com as pessoas ficando em casa mais tempo, elas passaram a contratar mais o seguro residencial por causa do pacote de assistências”, diz Manes Erlichman, vice-presidente e diretor técnico da Minuto Seguros. “A utilização [das assistências] aumentou bastante e isso é bom, porque o seguro é um produto intangível. Uma forma de você tangibilizar iss