Imagine comprar um carro novo e fazer a alteração de titularidade pelo celular assim que o pagamento for transferido para a loja, sem precisar de cartório. Ou fazer um investimento em renda fixa ou ações no fim de semana, sem ser obrigado a criar apenas uma ordem na plataforma da corretora. Ou ainda, resgatar um investimento em um domingo e ter o valor na conta em segundos. Esses são apenas alguns poucos casos de uso previstos para o real digital, que ganhou o nome de Drex.

Embora pareçam coisa do futuro, essas funcionalidades devem estar em breve à disposição de milhões de brasileiros. O Banco Central (BC) já deu início ao programa-piloto do Drex, que será a moeda digital oficial do Brasil.

Mas afinal, o que é o Drex e como ele vai funcionar na prática? Qual é o objetivo da autoridade monetária do país com essa inovação e, principalmente, quais vantagens ela oferecerá? 

Neste guia produzido pelo InfoMoney, você ficará por dentro de tudo o que precisa saber para estar preparado para mais essa revolução digital nas transações financeiras. Importante lembrar: o Drex não é Pix nem criptomoeda, mas deve mudar radicalmente a forma como você faz usa o dinheiro para comprar e investir.

O que é o Drex?

O Drex será a primeira moeda virtual oficial do Brasil. Basicamente, trata-se de uma extensão das tradicionais cédulas físicas de dinheiro, mas será transacionada exclusivamente no ambiente digital. 

“Assim como a nota de R$ 1 é o mesmo real que está na sua conta corrente no banco”, pontua Aristides Cavalcante, chefe de cibersegurança do BC. Ou seja, cada R$ 1 equivalerá a 1 Drex.

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As regras e fundamentos para manter a estabilidade do real serão mantidas e será possível fazer transações financeiras, transferências e pagamentos com Drex.

Grosso modo, uma CBDC é a versão virtual da moeda de um país – uma moeda alternativa, embora com o mesmo valor do dinheiro tradicional utilizado no dia a dia ou transacionado por meio de aplicativos. 

Entre as principais características, o Drex:

  • é classificado como Central Bank Digital Currency (CBDC, Moeda Digital de Banco Central, na sigla em inglês);
  • será emitido e ficará sob custódia do Banco Central;
  • a cotação frente a outras moedas será a mesma do real hoje;
  • a distribuição para o público será intermediada pelos bancos;
  • promete maior segurança jurídica e mais privacidade no compartilhamento de dados pessoais.

Inicialmente referida como Real Digital, a moeda digital brasileira foi rebatizada de Drex em agosto de 2023.

Segundo o BC, cada letra do nome equivale a uma característica da ferramenta:

  • o “D” representa a palavra digital;
  • o “R” representa o real;
  • o “E” representa a palavra eletrônica;
  • e o “X” passa a ideia de modernidade e de conexão, além de repetir a última letra do Pix, sistema de transferência instantânea criado em 2020.

Qual é o objetivo do Banco Central com o Drex?

Ao lançar o Drex, o BC tem como principais objetivos diminuir os custos de operações bancárias – como a emissão de papel-moeda – e ampliar o contingente de pessoas no mercado financeiro. O foco são os “consumidores conectados ao mundo digital”, segundo a autarquia.  

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Ainda de acordo com o BC, a adoção do real digital deve facilitar o acesso dos brasileiros a recursos financeiros por meio da tecnologia, em medida que faz parte de uma série de iniciativas da autoridade monetária rumo à digitalização da economia do país, para que esteja mais preparado para a chamada Web 3.0 (ou Web3, nova fase da Internet baseada em tecnologia blockchain). 

Segundo o BC, o real digital tem “o potencial de melhorar a eficiência do mercado de pagamentos de varejo e de promover a competição e a inclusão financeira para a população ainda inadequadamente atendida por serviços bancários”. 

Mais do que moeda digital, o Drex pretende ser uma infraestrutura que deverá integrar, pela primeira vez em um só lugar, tanto dinheiro quanto ativos financeiros, a exemplo de ações, debêntures, títulos públicos e até certificados de propriedade de imóveis e automóveis.

Entre os efeitos esperados estão produtos financeiros melhores e mais rentáveis para todos os participantes da cadeia (de emissores a investidores), maior agilidade e disponibilidade para investir, sem precisar necessariamente obedecer aos horários bancários, além da possibilidade de surgimento de novos instrumentos.

Por esses motivos, há grande expectativa de que a novidade represente para o mercado financeiro um salto similar – ou até mais alto – ao que foi dado pelo Pix na cultura de pagamentos do brasileiro.

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Como vai funcionar o Real Digital e quais suas principais vantagens?

A moeda digital brasileira poderá ser acessada por meio de uma carteira digital sob responsabilidade de bancos ou instituições financeiras autorizados pelo BC. 

Apenas instituições financeiras, no entanto, irão acessar diretamente o Drex junto ao BC, assim como acontece hoje com o dinheiro físico. Já os usuários finais (varejo) terão acesso a versões intermediadas por bancos, o chamado “Real tokenizado”.

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Eles terão duas diferenças principais: o Drex será um passivo do Banco Central, enquanto o real tokenizado será um passivo da instituição financeira, uma representação digital dos depósitos bancários detidos pela entidade.

De resto, espera-se que as duas versões tenham as mesmas funcionalidades. Mas quais serão elas? Muitas serão ainda descobertas no futuro, quando o Drex for efetivamente, lançado, mas algumas já foram pensadas no âmbito de programas de experimentação do BC.

Entre os casos de uso pensados estão:

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  • Troca de titularidade de veículo pelo celular;
  • Investimento e resgate de produtos financeiros 24 horas por dia, 7 dias por semana;
  • Compra de pequenas participações de imóveis fracionados em tokens;
  • Compra de até 1 centavo de título público;
  • Uso de ação como garantia para tomar empréstimos;
  • Empréstimos com “dinheiro digital carimbado”, estimulando a oferta de créditos setoriais;
  • Empréstimos mais abertos e baratos com uso de finanças descentralizadas (DeFi), que poderiam até incluir crédito entre pessoas;
  • Interação com Internet das Coisas (IoT), exemplo: TVs poderão ser programadas para pagar por um filme usando moeda digital.

Essas inovações serão permitidas por conta da compatibilidade do Drex com contratos inteligentes (smart contracts), transformando-o em “dinheiro programável”.

Além disso, a ideia é que, no futuro, o Drex seja utilizável em qualquer país do mundo, sem necessidade de conversão – o que pode inibir, por exemplo, crimes como a lavagem de dinheiro.

Segundo o BC, as novidades não deixarão de lado ferramentas já conhecidas dos brasileiros para movimentar dinheiro, como pagamentos e transferências com Pix, além de saques em dinheiro físico. 

Saiba quais serão as 10 maiores vantagens do uso do real digital:

  1. Incentivar a inovação e a concorrência no ambiente virtual;
  2. Inibir a prática de crimes financeiros, como lavagem de dinheiro;
  3. Dar maior agilidade a transações nacionais e internacionais; 
  4. Reduzir a emissão de papel-moeda; 
  5. Facilitar o rastreamento do dinheiro;
  6. Facilitar a tributação;
  7. Poderá ser usada para fazer compras no varejo; 
  8. Poderá ser usada em qualquer lugar do mundo, sem necessidade de conversão para a moeda local; 
  9. Terá a mesma cotação em relação às outras moedas; 
  10. Garantirá maior segurança jurídica e mais privacidade no compartilhamento de dados pessoais. 

O real digital será uma criptomoeda?

O Drex usa uma tecnologia que nasceu com o Bitcoin (BTC) e é diretamente inspirado no Ethereum (ETH), ambas criptomoedas. No entanto, o BC defende que a moeda digital brasileira não será um criptoativo.

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A principal diferença é que a regulamentação e o controle do Drex ficarão inteiramente a cargo do BC, ao passo que as criptomoedas têm uma gestão descentralizada, o que nem sempre é garantia de segurança ou transparência. 

Em linhas gerais, o Drex será emitido exatamente da mesma forma que o real convencional, e por isso terá curso forçado, ou seja, será obrigatório que seja aceito em território nacional.

As criptomoedas, por sua vez, não são consideradas moeda pelas autoridades brasileiras. A Receita Federal as trata, desde 2019, como um ativo que precisa ser informado na Declaração de Ajuste Anual, além de sofrer incidência de imposto sobre ganhos de capital.

Qual é a diferença entre Pix e real digital?

Você também já deve ter ouvido alguém comparar o real digital ao Pix, como se fossem a mesma coisa. Não são e, ao contrário do que muita gente pode pensar, há grandes diferença entre os dois. 

Embora possa ser considerado uma espécie de “primo” do Pix, por permitir transações instantâneas entre instituições financeiras diferentes, o Drex funcionará de maneira distinta, via DLT (blockchain), e tem um conceito mais amplo.

O Pix é um meio de pagamento que já funciona e foi apresentado pronto ao público, enquanto que o Drex vai ser, além da representação digital do real, um ambiente novo, desenvolvido em uma plataforma que vai permitir que mais inovações surjam no futuro a partir de iniciativas privadas e dentro desse ambiente integrado, regulado e digital.

Outra diferença pode estar no custo. Ao contrário do Pix (na maioria dos casos), o uso do Drex poderá implicar em custo para o usuário final.

“O Drex sempre está associado a um serviço financeiro. Então, essa prestação de serviço tem lá seu custo de operacionalização e o lucro de quem oferece esse serviço. É natural que os custos da plataforma sejam parte desse serviço”, afirmou Fabio Araujo, coordenador do Drex no Banco Central, em live realizada no canal da autoridade monetária no YouTube, em agosto de 2023.

Atuais participantes do Piloto Drex

O Comitê Executivo de Gestão (CEG) selecionou 16 empresas e consórcios para a implementação do Drex. Veja quais são:

  • Bradesco, Nuclea e Setl
  • Nubank
  • Banco Inter, Microsoft e 7Comm
  • Santander, Santander Asset Management, F1RST e Toro CTVM
  • Itaú Unibanco
  • Basa, TecBan, Pinbank, Dinamo, Cresol, Banco Arbi, Ntokens, Clear Sale, Foxbit, CPqD, AWS e Parfin
  • Caixa, Elo e Microsoft
  • SFCoop: Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred
  • XP, Visa
  • Banco BV
  • Banco BTG
  • Banco ABC, Hamsa, LoopiPay e Microsoft
  • Banco B3, B3 e B3 Digitas
  • Consórcio ABBC: Banco Brasileiro de Crédito, Banco Ribeirão Preto, Banco Original, Banco ABC Brasil, Banco BS2 e Banco Seguro, ABBC, BBChain, Microsoft e BIP
  • MBPay, Cerc, Sinqia, Mastercard e Banco Genial
  • Banco do Brasil

Quando o real digital será lançado?

O BC ainda não anunciou oficialmente uma data para que a moeda digital será implementada no país. Uma estimativa sobre esse prazo deve ser divulgada após a conclusão de todas as etapas de teste.

A primeira fase do piloto iniciou em abril de 2023, na qual foram selecionadas instituições financeiras para participar dos testes. Nessa etapa, foram avaliados aspectos técnicos e operacionais da nova moeda digital.

Já a segunda fase começou a ser implementada no final de setembro de 2024. Agora, objetivo é testar funcionalidades mais complexas, como os serviços financeiros disponibilizados por meio dos smart contracts. A expectativa é de que essa segunda fase leve meses para ser concluída, o que, segundo o BC, deverá ocorrer até o final do primeiro semestre de 2025. 

Para a segunda fase de testes, foram escolhidos 13 temas relativos a transações digitais. Veja quais são esses temas e quais os respectivos consórcios envolvidos:

TemasConsórcios participantes
Cessão de recebívelABC e Inter
Crédito colateralizado em CDBBB, Bradesco e Itaú
Crédito colateralizado em títulos públicosABBC, ABC e MB
Financiamento de operações de comércio internacional (Trade Finance)Inter
Otimização do mercado de câmbioXP-Vista e Nubank
Piscina de liquidez para negociação de títulos públicosABC, Inter e MB
Transações com Cédulas de Crédito BancárioABBC
Transações com ativos do agronegócio (CVM)TecBan, MB e XP-Visa
Transações com ativos em redes públicasMB
Transações com automóveisB3, BV e Santander
Transações com créditos de descarbonização – CBIOSantander
Transações com debêntures (CVM)B3, BTG e Santander
Transações com imóveisBB, Caixa e SFCoop
Fonte: Banco Central