Com a proximidade das eleições, as pesquisas eleitorais têm se multiplicado no noticiário político brasileiro, norteado estratégias de campanhas e conquistado cada vez mais a atenção de tomadores de decisão no mercado financeiro e no mundo dos negócios. 

Tema de debates acalorados e controvérsias a cada novo pleito, as pesquisas de intenção de voto utilizam conceitos matemáticos para capturar uma fotografia representativa do sentimento da população em um momento específico da disputa a partir de um número reduzido de entrevistas.

Com 2 mil questionários aplicados ou até menos, é possível chegar a resultados precisos sobre as preferências de um universo de 156 milhões de eleitores. Mas como isso é possível?

Principais institutos de pesquisa

A importância da amostra

Um dos segredos está na amostra. Assim como médicos conseguem descobrir doenças a partir da coleta de uma pequena quantidade de sangue de seus pacientes, é possível verificar preferências de grupos heterogêneos de pessoas consultando uma pequena fração deste contingente. Mas as semelhanças entre as duas ciências talvez parem por aqui.

As amostras tornam as pesquisas eleitorais viáveis, já que seria impossível entrevistar todos os eleitores do país dentro de um prazo razoável a um custo acessível. O esforço teria que ser, em alguma medida, comparável ao de um Censo, que teve custo estimado em R$ 2,3 bilhões em 2022. Só para comparar, uma pesquisa nacional do instituto Datafolha com 2.556 entrevistas e campo presencial em 183 municípios custa menos de R$ 500 mil.

Mas para o método funcionar, é necessário garantir que a amostra seja realmente representativa. Isso significa que o grupo de entrevistados deve possuir as mesmas características e proporções da população estudada. Amostras bem construídas permitem a extrapolação dos resultados, que geram inferências estatísticas sobre o universo analisado.

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Assim como ocorre em outras modalidades de pesquisa de opinião, para as pesquisas de intenção de voto é fundamental observar as divisões do eleitorado por sexo, faixa etária, localidade, além de aspectos como nível de escolaridade, situação econômica etc.

Como são definidas?

Muitos institutos utilizam como parâmetro para a composição das amostras dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de estimativas populacionais e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), ambos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O último Censo, realizado em 2022, também é muito útil.

Pode-se dizer que a qualidade da amostragem é um dos principais diferenciais entre pesquisas, com capacidade de representatividade de um grupo, e enquetes, que não observam as proporções da população estudada e não possuem validade científica. As enquetes dependem da participação espontânea do interessado (o que gera o famoso viés de seleção) e não utilizam métodos estatísticos para sua realização.

Nunca foi entrevistado para uma pesquisa eleitoral? Entenda o motivo

Você nunca foi entrevistado e por isso desconfia de pesquisas? Imagine que o Brasil tem 156.454.011 eleitores aptos a votar e a maioria dos institutos entrevista cerca de 2.000 pessoas em um levantamento. Isso significa que, grosso modo, a chance de você ser selecionado é de uma em aproximadamente 100.000 ‒ e pode ser ainda menor considerando os subgrupos das amostras.

Há também muitos relatos em redes sociais de eleitores que se ofereceram para responder uma pesquisa conduzida por um entrevistador na rua, mas não foram selecionados e, por isso, levantaram suspeição sobre a credibilidade do processo. Mas a auto seleção não faz parte da metodologia usada pelos institutos em levantamentos eleitorais e sua adoção em campo poderia, inclusive, distorcer os resultados.

A importância de acompanhar mais de uma pesquisa

Todas as etapas de uma pesquisa têm impacto relevante sobre o resultado alcançado: da elaboração do questionário e definição da ordem das perguntas, passando pela condução das entrevistas, pela checagem do material, até a eventual aplicação de fatores de ponderação, quando for o caso, para correção de possíveis distorções entre o perfil da amostra e a população.

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Mesmo assim, nenhuma pesquisa é definitiva. A intenção manifestada por um eleitor em um levantamento realizado em agosto pode não necessariamente se confirmar em voto no dia da eleição, em outubro. Também vale sempre lembrar que toda pesquisa tem margem de erro e intervalo de confiança ‒ conceitos abordados a seguir e que precisam ser considerados na interpretação dos resultados.

Por isso, o recomendável é acompanhar com frequência os trabalhos divulgados por uma variedade de institutos com boa reputação no mercado e monitorar as tendências a partir da evolução dos dados. Já virou até um clichê da área dizer que muitas vezes o filme importa mais do que a fotografia de um momento específico.

Também é importante dar atenção especial às diferenças metodológicas adotadas pelas empresas de pesquisa. Num contexto de profunda polarização política, analisar os dados com parcimônia é crucial para evitar escorregões ou conclusões equivocadas.

“Pesquisas têm por natureza a incerteza. Por isso, é sempre importante fazer as análises utilizando as margens de erro reportadas pelos institutos e lembrar que elas são sempre maiores nos subgrupos do que no grupo como um todo”, observa Felipe Nunes, sócio-fundador da Quaest Pesquisa e Consultoria (entenda este e outros conceitos a seguir).

Pesquisas eleitorais não fazem previsão

Não é incomum que pesquisas sejam criticadas por candidatos, sobretudo aqueles que aparecem em desvantagem na disputa em questão. Mas mesmo estes políticos costumam acompanhar com atenção os resultados divulgados e encomendar seus próprios levantamentos para desenhar estratégias de campanha.

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“Pesquisas eleitorais são sempre feitas sob muita pressão. Dependendo do clima e do ambiente de cada pleito, isso se intensifica”, observa Marcela Montenegro, diretora-executiva do Ipespe.

Há também questionamentos por possíveis discrepâncias das pesquisas posteriormente verificadas em relação aos resultados das urnas, o que muitas vezes é tratado pelo público como erro dos institutos. Quanto mais próximo do pleito a pesquisa é divulgada e maior a diferença para o resultado revelado pelas urnas, mais alta a percepção de equívoco dos levantamentos pelos críticos. Mas prever o futuro não está no rol de atribuições dos levantamentos.

“Pesquisas têm por função mostrar o que está acontecendo em cada momento, as tendências. Não necessariamente acertar o número final da votação, já que cada vez mais as pessoas deixam para decidir o voto na última hora. São várias fotografias que, no final, formam um quadro geral do que aconteceu”, explica Luciana Chong, diretora do Datafolha.

“A pesquisa é válida para o momento da coleta. É um resultado perecível, porque, se duas horas depois da divulgação surge um fato importante na campanha, já não vale mais. Acusações contra um candidato, desempenho em debates, denúncias contra um ou contra outro: qualquer coisa pode impactar. É tudo muito dinâmico”, afirma Márcia Cavallari, CEO do Ipec.

Os levantamentos, embora tenham por objetivo justamente medir opiniões e intenções da população, podem, em muitos casos, acabar por influenciar a decisão de voto do eleitor ‒ ainda que involuntariamente.

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Apesar da difícil mensuração, isso ocorre sempre que um eleitor decide apoiar quem está na frente, não comparecer à seção eleitoral em um pleito que já parece definido ou no chamado “voto útil”, quando o eleitor muda seu voto para reduzir as chances de vitória de um candidato indesejado.

O poder das pesquisas em pautar o debate eleitoral e influenciar a opinião pública no processo, inclusive, faz com que a divulgação de levantamentos em anos de disputa tenha tratamento especial pela legislação brasileira.

A Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997) determina que as entidades que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos, para divulgação, são obrigadas a protocolar junto à Justiça Eleitoral cada levantamento até 5 dias antes da publicação.

O registro deve conter informações sobre o contratante, custo, origem dos recursos, metodologia e período de realização da pesquisa, plano amostral e ponderação quanto a sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho a ser executado.

Também entram na lista estimativas para o intervalo de confiança e a margem de erro adotados, detalhamento sobre o sistema interno de controle e verificação dos dados coletados e a publicação do questionário completo a ser aplicado.

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Para os eleitores e aqueles profissionais que lidam com informação política cotidianamente, o registro das pesquisas de intenção de voto junto à Justiça Eleitoral pode ser um instrumento de segurança contra algumas formas de fraude e falsificação de levantamentos, com distribuição do conteúdo pelas redes sociais e aplicativos de mensagens.

A divulgação de pesquisa fraudulenta ou sem prévio registro é uma irregularidade que pode render multa de mais de R$ 50 mil aos responsáveis. A legislação também veda a realização de enquetes (ou seja, levantamentos sem qualquer amostra representativa de uma população estudada) relacionadas ao processo eleitoral durante o período de campanha.

Mas mesmo o registro junto ao TSE não é garantia de qualidade de uma pesquisa. O ideal é sempre considerar o histórico do instituto, verificar o questionário registrado, a distribuição da amostra prevista e a resultante do trabalho em campo, observar a metodologia aplicada e quem são os contratantes. A transparência (ou a falta dela) pode ser um indicativo importante sobre o trabalho de cada empresa.

Protagonismo das pesquisas é cada vez maior

A profusão de pesquisas eleitorais às vésperas de cada pleito são um claro indicativo da importância dada a esse instrumento não apenas por candidatos aos mais diversos cargos, mas também pelos meios de comunicação e pela sociedade em geral.

O protagonismo assumido pelos instituto de pesquisa também tem resgatado um debate sobre as diferentes metodologias adotadas, que ganhou corpo com a emergência de levantamentos telefônicos sobretudo durante o pleito de 2018. A técnica já era velha conhecida dos chamados trackings eleitorais, contratados pelas campanhas para monitorar diariamente movimentações de opinião pública.

Mas antes de entender como cada instituto realiza sua própria pesquisa, é importante ter em mente alguns conceitos fundamentais do mundo da estatística. Vamos a eles: 

Conceitos fundamentais

População/universo

Conjunto de indivíduos, itens, eventos, membros ou unidades que possuem pelo menos uma característica em comum que se deseja medir (no caso das pesquisas de intenção de voto, o universo é normalmente o conjunto de eleitores com idade a partir de 16 anos).

Amostra

Grupo de elementos ou sujeitos selecionados a partir de uma população em quantidade significativamente inferior. Quando a amostra é representativa dessa população, supõe-se que os dados obtidos por meio dela possam ser generalizados para a população da qual se originou dela. A amostragem é o procedimento estatístico recomendado para pesquisas em que é inviável estudar todos os sujeitos da população. Tudo o mais constante, quanto maior a amostra, menor tende a ser a margem de erro da pesquisa.

Cotas

Distribuições previamente estabelecidas na amostra, que definirão as quantidades de entrevistas a serem cumpridas pelos pesquisadores em campo com alguns grupos selecionados. Normalmente os institutos trabalham pelo menos com cotas cruzadas de sexo e idade. Alguns incluem variáveis como renda, situação econômica, escolaridade, entre outras. 

Margem de erro

Todas as pesquisas eleitorais, por serem feitas com técnicas de amostragem, devem apresentar estimativas de margens de erro. Tal instrumento existe porque os levantamentos não são feitos com toda a população, mas com uma pequena porção dela, e exatamente essa representação pode conter imprecisões.

O fenômeno, também conhecido como erro amostral, nada mais é do que uma estimativa das possíveis diferenças entre a amostra selecionada e a população estudada, entre o valor medido e aquele que de fato se deseja medir. Os valores são estimados com base no número de entrevistas feitas. Tudo o mais constante, quanto maior a amostra, menor a margem de erro.

Esse conceito também deve ser considerado para subgrupos de uma pesquisa ‒ ou seja, categorias específicas que integram a amostra (por exemplo: mulheres, eleitores de baixa renda ou com Ensino Superior completo). Nestes casos, como os grupos são menores, a margem de erro envolvida é maior em comparação com a estimativa para a amostra de maneira geral.

Intervalo de confiança

É formado a partir dos valores máximo e mínimo da margem de erro prevista. Como os resultados de uma pesquisa nunca são exatos, mas estimativas sobre a população estudada, eles devem ser interpretados dentro de um intervalo de confiança.

Nível de confiança

O nível de confiança de uma pesquisa significa que, se ela tivesse sido feita mais de uma vez exatamente nas mesmas condições, esta seria a probabilidade de o resultado se repetir dentro da margem de erro.

Ponderação

Procedimento feito a posteriori, utilizado em paralelo à amostragem, com o intuito “corrigir” eventuais descasamentos entre a amostra e a população em análise quanto às proporções de determinadas características. Neste caso, são atribuídos pesos de modo a tornar mais representativa a amostra selecionada.

Como funciona uma pesquisa eleitoral?

Há significativas variações entre as metodologias usadas por cada instituto, mas muitos procedimentos são comuns a todas elas.

Em linhas gerais, há duas maneiras mais conhecidas de se fazer um levantamento: 1) presencialmente, com o envio dos pesquisadores a locais previamente selecionados para a realização das entrevistas e; 2) por telefone. 

Nos dois casos a literatura oferece exemplos de experiências bem-sucedidas, que indicam eficácia dos modelos, desde que outras etapas do processo sigam as práticas recomendadas no meio estatístico e não violem princípios consagrados. 

Levantamentos eleitorais feitos pela internet, por outro lado, ainda levantam polêmica no meio acadêmico e no próprio mercado de pesquisas pela alta dificuldade em engajar eleitores de baixa renda e por um componente conhecido como viés de seleção, já que o entrevistado escolhe participar do levantamento, sem decisão por parte do instituto. Desta forma, o princípio da aleatoriedade das pesquisas, alegam os críticos, estaria comprometido nesses casos, o que poderia afetar os resultados alcançados (entenda melhor abaixo)

Não há modelo é infalível. Por isso, cada instituto escolhe seu próprio caminho a partir de uma avaliação de vantagens e limitações de cada um. Empresas como Datafolha, Ipec, Quaest e MDA costumam trabalhar com o modelo presencial. Já Ipespe, Ideia, FSB Pesquisa e PoderData têm realizado pesquisas telefônicas. 

“Sendo muito honesto intelectualmente, cada um [dos modelos de pesquisa] tem suas vantagens e limitações”, observa Mauricio Moura, CEO do Instituto Ideia e pesquisador da Universidade George Washington, nos Estados Unidos. “É preciso administrar isso de acordo com o objeto da pesquisa, o perfil do questionário, o universo que estamos estudando”.

Pesquisas presenciais

Do lado das pesquisas face a face, alguns dos argumentos favoráveis são o maior acesso à população de baixa renda (maioria do eleitorado) e a possibilidade de utilização de recursos visuais, como discos com nomes de candidatos (o que elimina o viés em razão da ordem de apresentação das opções em perguntas estimuladas), cartelas para aferição da renda do eleitor e simulações de urnas eletrônicas.

“Preferimos divulgar apenas as pesquisas eleitorais de forma presencial porque entendemos que desta forma maximizamos as possibilidades para representar o eleitorado como um todo”, explica Márcia Cavallari, CEO do Ipec, instituto fundado por executivos do extinto Ibope Inteligência.

As pesquisas presenciais também são mais recomendadas no caso de questionários mais longos, por ser mais fácil engajar o entrevistado neste tipo de abordagem em comparação com levantamentos telefônicos, sobretudo aqueles conduzidos por robôs.

Por outro lado, levantamentos face a face costumam ser mais caros, por envolverem um trabalho mais complexo de planejamento e logística com deslocamento de equipes ‒ o que muitas vezes inviabiliza a contratação por empresas, veículos de comunicação e outras organizações.

Há também maior dificuldade em coletar dados de eleitores de renda mais elevada, que muitas vezes moram em condomínios fechados que dificultam o acesso do entrevistador ou que costumam transitar menos a pé em pontos de fluxo de suas cidades.

Esses problemas, inclusive, podem ter se intensificado com a pandemia de Covid-19, já que há um desequilíbrio entre as camadas da população que hoje trabalham em suas próprias residências. Além disso, protocolos sanitários (como o uso ou não de máscaras) podem influenciar na abordagem pelo pesquisador e na própria percepção do entrevistado sobre a pesquisa.

Pesquisas telefônicas

Na outra ponta, defensores das pesquisas telefônicas alegam que a modalidade é capaz de garantir qualidade aos resultados a preços acessíveis. “Nossas pesquisas tiveram um papel fundamental na democratização do acesso a esses levantamentos”, afirma Marcela Montenegro, diretora-executiva do Ipespe. O instituto realiza pesquisas telefônicas desde 1994 e ocupou papel de destaque nos debates sobre este método durante o pleito de 2018.

Há também quem argumente que pesquisas telefônicas podem tornar as entrevistas impessoais, facilitando a obtenção das respostas dos participantes. Por outro lado, pesquisas telefônicas têm mais dificuldades em acessar e engajar eleitores com renda mais baixa.

“É muito difícil encontrar gente da classe E na região amazônica. Sempre foi um desafio não só ligar, como a pessoa parar sua atividade e responder. Para a nossa sorte, esse desafio tem sido atenuado ao longo dos anos, porque mais pessoas no Brasil têm celular”, observa Moura.

É por esse conjunto de avaliações sobre cada modalidade de pesquisa eleitoral que o especialista se diz um “agnóstico” em relação a metodologias. “Não sou casado com nenhuma, trabalho com todas”, costuma dizer.

Os levantamentos mais recentes do Ideia registrados para divulgação trabalham mais com o modelo telefônico conduzido por operadores, mas o instituto também faz pesquisas presenciais e telefônicas feitas por URA, a depender da circunstância.

Pesquisas feitas pela internet

Mais recentemente, alguns institutos ganharam mercado oferecendo pesquisas feitas pela internet ─ modelo normalmente muito mais acessível para os contratantes, mas que alimenta polêmica entre especialistas. Uma das empresas que adotou essa estratégia foi a AtlasIntel.

A Atlas realiza suas entrevistas por meio da tecnologia conhecida como Random Digital Recruitment (RDR), na qual os entrevistados são recrutados organicamente durante a navegação de rotina na web em territórios geolocalizados em qualquer dispositivo (smartphones, tablets, laptops ou PCs).

Uma das polêmicas deste modelo envolve um possível “viés de seleção” de entrevistados, já que poderia haver uma maior tendência de participação de eleitores mais engajados, dispostos a entrar no link e dedicar alguns minutos a responder perguntas sobre suas preferências políticas.

Por outro lado, a AtlasIntel argumenta que tal modelo, em comparação com pesquisas presenciais domiciliares ou em pontos de fluxo, “evita o eventual impacto psicológico da interação humana sobre o respondente” e favorece a coleta de respostas mais fidedignas.

Já em comparação com o modelo telefônico, o instituto diz que os levantamentos pela internet permitem “um mapeamento granular de padrões de não resposta, de modo que os vieses decorrentes de taxas variáveis de não resposta possam ser adequadamente tratados durante o processo de construção de cada amostra.”

Como são escolhidas as perguntas?

Independentemente do modelo adotado, toda pesquisa eleitoral séria precisa dedicar especial atenção ao processo de elaboração do questionário que será aplicado pelos entrevistadores. As perguntas devem ser claras, objetivas e ser ordenadas de modo a não manipular o entrevistado.

“É uma etapa muito importante. Dependendo da ordem das perguntas ou da formulação, pode haver algum desvio. Não podemos começar uma pesquisa de intenção de voto falando sobre os problemas do país ou sobre a pandemia, por exemplo”, explica Montenegro.

Paralelamente ao questionário, os institutos elaboram o plano amostral. Normalmente, tanto em pesquisas presenciais quanto em telefônicas, realiza-se um sorteio dos municípios que participarão da pesquisa por um método com probabilidade proporcional ao tamanho (PPT).

Leia também: O que é fundo eleitoral e como o valor é dividido entre os partidos?

Seleção dos entrevistados

Isso significa que cidades que concentram um número maior de eleitores têm mais chances de serem selecionadas do que municípios menores. Neste processo, também é importante respeitar a distribuição do eleitorado por região do país.

“Por que sorteamos? Pelo mesmo motivo que a Champions League (campeonato de clubes de futebol europeus) sorteia o chaveamento dos times. O sorteio é um critério completamente neutro, sem viés”, explica Felipe Nunes, sócio-fundador da Quaest.

No caso das pesquisas presenciais, também é necessária a realização de sorteio dos locais onde serão feitas as entrevistas. Institutos como Ipec, Quaest e MDA, que fazem suas abordagens em domicílio, fazem este sorteio com base nos setores censitários (que são conjuntos de ruas e quarteirões) definidos pelo IBGE.

Já o Datafolha, que opta por fazer entrevistas em pontos de fluxo, utiliza uma base de dados própria com 70 mil pontos em 4.800 cidades para o sorteio do ponto em que o entrevistador estará posicionado para abordar os eleitores.

“Quando falamos em pontos de fluxo, não são necessariamente locais de grande circulação de pessoas. Muita gente imagina que fazemos pesquisas na porta do metrô ou na Avenida Paulista, mas geralmente são pontos localizados nos bairros (perto de uma padaria ou um mercado, por exemplo)”, explica Luciana Chong, diretora do Datafolha.

No caso das pesquisas telefônicas, após o sorteio dos municípios, a maioria dos institutos trabalha com um modelo conhecido como Random Digit Dialing (RDD) para as ligações, independentemente se a entrevista é conduzida por operadores ou robôs.

Essa tecnologia consiste no sorteio dos números que participarão da pesquisa (mantendo os DDDs selecionados para a amostra de modo a não distorcer as proporções geográficas), respeitando o princípio estatístico da aleatoriedade ‒ o mesmo princípio que impede que entrevistadores selecionem eleitores que se ofereçam para responder o questionário.

“Toda e qualquer pessoa que tenha um número telefônico fixo e/ou móvel tem a mesma chance de participar da nossa pesquisa, dentro do seu perfil sociodemográfico”, explica Marcelo Tokarski, sócio-diretor da FSB Pesquisa. O instituto usa a base de cadastros fornecida pela Anatel, com 800 milhões de números (muitos deles, inclusive, inoperantes) e sem qualquer identificação de usuário.

A FSB Pesquisa, o Ipespe e o Instituto Ideia normalmente realizam suas pesquisas eleitorais divulgadas ao público com entrevistas conduzidas por operadores. Já o PoderData, empresa do grupo de mídia Poder360, opta pela estratégia do uso de robôs.

Durante o trabalho de campo, os institutos de pesquisa adotam diferentes estratégias para a seleção dos entrevistados. O Datafolha, por exemplo, trabalha apenas com cotas de gênero e idade, e utiliza outros dados como resultados da própria pesquisa. Já o Ipec inclui dados de nível de escolaridade e condição de atividade (se o entrevistador trabalha ou não) em suas cotas.

A Quaest também considera a variável renda no momento de seleção das entrevistas, sempre respeitando as proporções gerais do eleitorado brasileiro ‒ embora neste caso a precisão dos dados oficiais disponíveis gere discussão entre os especialistas.

“Quando você não estabelece cota de renda, na minha avaliação, você deixa o campo muito solto. Eu sei que pesquisa presencial tem dificuldade de falar com gente rica. Se não estabeleço cota com faixas de renda grandes para a pessoa pelo menos ser obrigada a tentar trazer essas pessoas na amostra, tendo a ter na minha amostra pessoas com renda mais baixa, e isso pode enviesar o resultado, na minha avaliação”, justifica Felipe Nunes.

Do lado das pesquisas telefônicas, o Ipespe trabalha com cotas de sexo e idade, além de variáveis de controle por instrução e renda. Já o Instituto Ideia normalmente utiliza cotas de gênero, idade e renda. E a FSB Pesquisa considera, além destas variáveis, o tipo de telefonia (fixo e móvel).

Assim como as estratégias para a decisão de cotas variam, as bases de dados usadas pelos institutos para a definição da população estudada (e, portanto, referência em parâmetros para a amostra) mudam. Normalmente são utilizadas informações disponibilizadas por TSE e IBGE, mas algumas empresas lançam mão de bases próprias.

Todas as empresas citadas trabalham com verificação de pelo menos 20% das entrevistas feitas em campo, de modo a controlar a qualidade da condução das entrevistas.

Superada a etapa de coleta em campo, os institutos passam à etapa de ponderação, com a eventual aplicação de fatores para corrigir distorções entre o perfil da amostra e a população geral estabelecida como referência.

Neste caso, as estratégias também variam significativamente. De um lado, há empresas que realizam ponderações apenas quando identificam diferenças entre amostra e referência superiores à margem de erro estabelecida. É o caso de Ipec, Datafolha, Ipespe e MDA.

“Em teoria, nós não fazemos ponderação. A amostra já está desenhada proporcional [ao universo de eleitores] e os entrevistadores têm que cumprir cotas. É raríssimo [haver necessidade de ponderação]. Só em casos excepcionais, como intempéries em campo”, pontua Cavallari. E em caso de ser aplicado um fator de ponderação, o máximo que o instituto utiliza é 1,8.

Do lado oposto, Instituto Ideia, FSB Pesquisa e Quaest sempre fazem ponderações em seus levantamentos para ajustes na amostra vinda do campo.

“Às vezes, as subamostras têm uma margem de erro maior. Tento trabalhar com, no máximo, 6 pontos percentuais para cima ou para baixo nas amostras, mas nunca chega nisso. É raríssimo quando temos que ponderar a esse ponto”, explica Maurício Moura, do Ideia.

Já a Quaest, diferentemente de outros institutos, aplica fatores de ponderação posteriormente ao trabalho de campo independentemente de variações dos grupos gerais da amostra em relação à população estudada, mas foca nas distribuições de subgrupos.

O instituto trabalha com uma tecnologia chamada de multilevel regression and poststratification (pós-estratificação e regressão multinível, em português), baseada em sucessivos cruzamentos de microdados da população para a correção de eventuais distorções de representação.

“A partir de dados da Pnad, por exemplo, fazemos cruzamentos das variáveis que nos importam para chegar a uma definição de tamanho de subgrupos (como o percentual de homens brancos ricos do Sudeste). Fazemos 400 subdivisões na amostra com esses subgrupos, verificamos esse percentual na população e utilizamos o dado para criar uma ponderação estatística”, explica Felipe Nunes.

O especialista argumenta que, desta forma, não apenas as variações marginais são monitoradas, mas detalhes que poderiam não ser percebidos durante o trabalho de campo. “Você pode ter a marginal de idade e de renda correta, mas, se cruzar renda e idade, ela pode estar toda errada. Para evitar esse tipo de situação, usamos o MRP”, afirma.

“Não estamos interessados em colocar todo o peso do trabalho na amostragem, porque sabemos que há erros que vêm da coleta de campo. Então, usamos uma técnica estatística que não é simplesmente a ponderação tradicional do mercado. Trabalhamos com a ideia de que a amostra tem que variar dentro da margem de erro, mas que temos que corrigir variações de subgrupos”, diz.

Como determinação da Justiça Eleitoral, todos os institutos divulgam, no momento de registro de suas pesquisas (portanto, antes da execução), as estimativas para o tamanho máximo da margem de erro, considerando o total da amostra, e para os níveis de confiança.

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