Principais institutos de pesquisa
A importância da amostra
Um dos segredos está na amostra. Assim como médicos conseguem descobrir doenças a partir da coleta de uma pequena quantidade de sangue de seus pacientes, é possível verificar preferências de grupos heterogêneos de pessoas consultando uma pequena fração deste contingente. Mas as semelhanças entre as duas ciências talvez parem por aqui.As amostras tornam as pesquisas eleitorais viáveis, já que seria impossível entrevistar todos os eleitores do país dentro de um prazo razoável a um custo acessível. O esforço teria que ser, em alguma medida, comparável ao de um Censo, que neste ano custará mais de R$ 2 bilhões. Só para comparar, uma pesquisa nacional do instituto Datafolha com 2.556 entrevistas e campo presencial em 183 municípios custa menos de R$ 500 mil.Mas para o método funcionar, é necessário garantir que a amostra seja realmente representativa. Isso significa que o grupo de entrevistados deve possuir as mesmas características e proporções da população estudada. Amostras bem construídas permitem a extrapolação dos resultados, que geram inferências estatísticas sobre o universo analisado.Assim como ocorre em outras modalidades de pesquisa de opinião, para as pesquisas de intenção de voto é fundamental observar as divisões do eleitorado por sexo, faixa etária, localidade, além de aspectos como nível de escolaridade, situação econômica etc.Como são definidas?
Muitos institutos utilizam como parâmetro para a composição das amostras dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de estimativas populacionais e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), ambos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O último Censo, realizado em 2010, também pode ser utilizado, mas com cautela, já que muitos de seus dados estão defasados.Pode-se dizer que a qualidade da amostragem é um dos principais diferenciais entre pesquisas, com capacidade de representatividade de um grupo, e enquetes, que não observam as proporções da população estudada e não possuem validade científica. As enquetes dependem da participação espontânea do interessado (o que gera o famoso viés de seleção) e não utilizam métodos estatísticos para sua realização.Nunca foi entrevistado para uma pesquisa eleitoral? Entenda o motivo
Você nunca foi entrevistado e por isso desconfia de pesquisas? Imagine que o Brasil tem 156.454.011 eleitores aptos a votar e a maioria dos institutos entrevista cerca de 2.000 pessoas em um levantamento. Isso significa que, grosso modo, a chance de você ser selecionado é de uma em aproximadamente 100.000 ‒ e pode ser ainda menor considerando os subgrupos das amostras.Há também muitos relatos em redes sociais de eleitores que se ofereceram para responder uma pesquisa conduzida por um entrevistador na rua, mas não foram selecionados e, por isso, levantaram suspeição sobre a credibilidade do processo. Mas a auto seleção não faz parte da metodologia usada pelos institutos em levantamentos eleitorais e sua adoção em campo poderia, inclusive, distorcer os resultados.A importância de acompanhar mais de uma pesquisa
Todas as etapas de uma pesquisa têm impacto relevante sobre o resultado alcançado: da elaboração do questionário e definição da ordem das perguntas, passando pela condução das entrevistas, pela checagem do material, até a eventual aplicação de fatores de ponderação, quando for o caso, para correção de possíveis distorções entre o perfil da amostra e a população.Mesmo assim, nenhuma pesquisa é definitiva. A intenção manifestada por um eleitor em um levantamento realizado em agosto pode não necessariamente se confirmar em voto no dia da eleição, em outubro. Também vale sempre lembrar que toda pesquisa tem margem de erro e intervalo de confiança ‒ conceitos abordados a seguir e que precisam ser considerados na interpretação dos resultados.Por isso, o recomendável é acompanhar com frequência os trabalhos divulgados por uma variedade de institutos com boa reputação no mercado e monitorar as tendências a partir da evolução dos dados. Já virou até um clichê da área dizer que muitas vezes o filme importa mais do que a fotografia de um momento específico.Também é importante dar atenção especial às diferenças metodológicas adotadas pelas empresas de pesquisa. Num contexto de profunda polarização política, analisar os dados com parcimônia é crucial para evitar escorregões ou conclusões equivocadas.“Pesquisas têm por natureza a incerteza. Por isso, é sempre importante fazer as análises utilizando as margens de erro reportadas pelos institutos e lembrar que elas são sempre maiores nos subgrupos do que no grupo como um todo”, observa Felipe Nunes, sócio-fundador da Quaest Pesquisa e Consultoria (entenda este e outros conceitos a seguir).Pesquisas eleitorais não fazem previsão
Não é incomum que pesquisas sejam criticadas por candidatos, sobretudo aqueles que aparecem em desvantagem na disputa em questão. Mas mesmo estes políticos costumam acompanhar com atenção os resultados divulgados e encomendar seus próprios levantamentos para desenhar estratégias de campanha.“Pesquisas eleitorais são sempre feitas sob muita pressão. Dependendo do clima e do ambiente de cada pleito, isso se intensifica. É o caso da eleição de 2022, que tem uma tendência muito grande à polarização”, observa Marcela Montenegro, diretora-executiva do Ipespe.Há também questionamentos por possíveis discrepâncias das pesquisas posteriormente verificadas em relação aos resultados das urnas, o que muitas vezes é tratado pelo público como erro dos institutos. Quanto mais próximo do pleito a pesquisa é divulgada e maior a diferença para o resultado revelado pelas urnas, mais alta a percepção de equívoco dos levantamentos pelos críticos. Mas prever o futuro não está no rol de atribuições dos levantamentos.“Pesquisas têm por função mostrar o que está acontecendo em cada momento, as tendências. Não necessariamente acertar o número final da votação, já que cada vez mais as pessoas deixam para decidir o voto na última hora. São várias fotografias que, no final, formam um quadro geral do que aconteceu”, explica Luciana Chong, diretora do Datafolha.“A pesquisa é válida para o momento da coleta. É um resultado perecível, porque, se duas horas depois da divulgação surge um fato importante na campanha, já não vale mais. Acusações contra um candidato, desempenho em debates, denúncias contra um ou contra outro: qualquer coisa pode impactar. É tudo muito dinâmico”, afirma Márcia Cavallari, CEO do Ipec.Os levantamentos, embora tenham por objetivo justamente medir opiniões e intenções da população, podem, em muitos casos, acabar por influenciar a decisão de voto do eleitor ‒ ainda que involuntariamente.Apesar da difícil mensuração, isso ocorre sempre que um eleitor decide apoiar quem está na frente, não comparecer à seção eleitoral em um pleito que já parece definido ou no chamado “voto útil”, quando o eleitor muda seu voto para reduzir as chances de vitória de um candidato indesejado.O poder das pesquisas em pautar o debate eleitoral e influenciar a opinião pública no processo, inclusive, faz com que a divulgação de levantamentos em anos de disputa tenha tratamento especial pela legislação brasileira.A Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997) determina que as entidades que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos, para divulgação, são obrigadas a protocolar junto à Justiça Eleitoral cada levantamento até 5 dias antes da publicação.O registro deve conter informações sobre o contratante, custo, origem dos recursos, metodologia e período de realização da pesquisa, plano amostral e ponderação quanto a sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho a ser executado.Também entram na lista estimativas para o intervalo de confiança e a margem de erro adotados, detalhamento sobre o sistema interno de controle e verificação dos dados coletados e a publicação do questionário completo a ser aplicado.Para os eleitores e aqueles profissionais que lidam com informação política cotidianamente, o registro das pesquisas de intenção de voto junto à Justiça Eleitoral pode ser um instrumento de segurança contra algumas formas de fraude e falsificação de levantamentos, com distribuição do conteúdo pelas redes sociais e aplicativos de mensagens.A divulgação de pesquisa fraudulenta ou sem prévio registro é uma irregularidade que pode render multa de mais de R$ 50 mil aos responsáveis. A legislação também veda a realização de enquetes (ou seja, levantamentos sem qualquer amostra representativa de uma população estudada) relacionadas ao processo eleitoral durante o período de campanha.Mas mesmo o registro junto ao TSE não é garantia de qualidade de uma pesquisa. O ideal é sempre considerar o histórico do instituto, verificar o questionário registrado, a distribuição da amostra prevista e a resultante do trabalho em campo, observar a metodologia aplicada e quem são os contratantes. A transparência (ou a falta dela) pode ser um indicativo importante sobre o trabalho de cada empresa.Protagonismo das pesquisas é cada vez maior nas eleições 2022
Levantamento feito pelo InfoMoney com dados disponibilizados pelo sistema do TSE mostra que já foram registradas 383 pesquisas eleitorais de abrangência nacional no país, de 1º de janeiro até 12 de agosto de 2022, por 85 empresas diferentes.Os dados mostram que mais da metade dos registros (58%) foi feito apenas nos últimos 70 dias considerados. Em abril, eram protocoladas em média 7 pesquisas por semana. Agora, são 26. E a tendência é o ritmo aumentar até outubro.Em campanhas, é muito comum dizer que o pontapé inicial de uma disputa se dá com o início do horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão ‒ neste ano, marcado para 26 de agosto.Embora muitos analistas digam que o poder influência dos meios tradicionais sobre a decisão de voto do eleitor diminuiu nos últimos anos, o momento é tido como um marco para as eleições. Com isso, também cresce a atenção sobre as pesquisas.
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