Assim como no Brasil, os Estados Unidos têm diferentes tipos de fundos de investimento que podem ser chamados de nomes diferentes a depender da complexidade da estrutura, do público-alvo, entre outros fatores.

É assim com os mutual funds, ou fundos mútuos de investimento, em inglês, e os hedge funds, ou fundos de hedge (proteção).

Entenda, a seguir, as principais diferenças entre esses produtos, em que investem, para quem são voltados e como um investidor brasileiro pode acessá-los.

O que são mutual funds?

são produtos disponíveis em mercados como Estados Unidos e Canadá que se assemelham aos fundos de investimento brasileiros.

Eles agregam recursos de diversos clientes para aplicação em uma ou mais classes de ativos. Um gestor profissional lida com os ativos de acordo com os objetivos detalhados no prospecto.

Esses fundos podem comprar ações, títulos ou outros ativos, em geral com foco na diversificação, e em entregar um retorno acima do benchmark (referência) adotado. Em troca, eles costumam cobrar taxas anuais e de performance, que reduzem seus retornos gerais.

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Nos Estados Unidos, é comum que trabalhadores apliquem recursos destinados à aposentadoria em mutual funds, por meio de planos de aposentadoria patrocinados pelos empregadores.

O que é um hedge fund?

Nos hedge funds, a estrutura de hedge significa “proteção” do capital.

Tais produtos têm a prerrogativa de poder investir em diversas classes de ativos ao mesmo tempo, como títulos públicos e privados, ações, moedas tradicionais, criptomoedas, derivativos etc.

Com isso, os hedge funds podem combinar alocações e variar a exposição do patrimônio aos diferentes mercados, de acordo com a conjuntura, com o objetivo de obter os melhores resultados, visando proteger o patrimônio do investidor.

“Nesses fundos, existe uma flexibilidade para que o gestor mude de estratégia rapidamente, diante do comportamento do mercado, caso necessite”, afirma Clara Sodré, analista de alocação de fundos da XP Investimentos.

“O objetivo é ganhar com as fortes oscilações dos ativos, buscando diferentes oportunidades.”

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Quais são as diferenças?

Os mutual funds representam uma categoria bastante ampla na indústria de fundos internacionais, que reúne diversas classes de produtos, abertos a todos os tipos de investidores.

Em linhas gerais, tais fundos possuem uma política de investimento “mais simples”, com foco bem definido, afirma Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank.

Já os hedge funds costumam ter estratégias mais complexas, com prazos mais longos e grau de sofisticação bem maior.

Um aspecto importante é que, apesar das particularidades, é possível encontrar hedge funds dentro e fora do leque de mutual funds. A diferença será o acesso ou não ao público de varejo.

Normalmente, os fundos de hedge no exterior com acesso livre estão identificados como “alternativos”, dentro da divisão de multimercados globais, embaixo do grande guarda-chuva de mutual funds.

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No caso dos hedge funds exclusivos ou voltados a um público específico, existem exigências próprias. “Se for uma estrutura restrita, vai demandar uma qualificação [do investidor], seja de tamanho de aporte ou conhecimento sobre o produto e a indústria”, explica Clara, da XP.

Nesse ponto, ela ressalta que o critério de investidor qualificado existente no Brasil – válido atualmente para quem possui mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras – não garante acesso no exterior.

“O arcabouço regulatório tende a ser diferente em cada país. Isso quer dizer que, lá fora, as regras de qualificado são distintas”, afirma Clara.

Como funcionam os mutual funds?

Assim como no Brasil, é possível segmentar o mercado de mutual funds no exterior em renda fixa, multimercados e renda variável (que investem em ações, por exemplo).

“Cada mutual fund tem uma seleção de ativos mais delimitada”, diz Larissa, do C6 Bank. “Existem desde fundos que investem somente em renda fixa americana até produtos cujo foco é renda variável da China, por exemplo.”

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Sobretudo no mercado internacional, há uma infinidade de opções de investimento. Isso permite que, dentro do universo de mutual funds, existam produtos com diversos níveis de risco e tipos de estratégia.

E os hedge funds?

Nesse caso, há uma liberdade maior de atuação dos gestores, que podem mesclar diversas estratégias: renda fixa, variável, mercados alternativos etc.

Como esses produtos buscam retornos diferenciados, o risco normalmente é maior. Com isso, é comum exigir do investidor um aporte inicial mais elevado e também um prazo dilatado de carência para eventuais resgates dos recursos.

Para que público se destinam cada um deles?

Segundo especialistas, tanto os mutual quanto os hedge funds internacionais são indicados para o investidor interessado em diversificar sua carteira.

“Existem diversas alternativas para se investir no exterior, mas, via fundos, o cliente consegue aportar em vários ativos ao mesmo tempo”, afirma a planejadora financeira do C6 Bank. “Há um leque maior de opções e o custo tende a ser mais acessível.”

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Segundo ela, as vantagens incluem também o ganho de escala e uma gestão especializada dos recursos. “Principalmente para o cliente que está começando a investir no mercado externo, é uma boa pedida delegar essa missão a um profissional.”

Um ponto de atenção é que, para remunerar esse trabalho de análise, escolha e compra e venda de ativos por parte do gestor, além de outros custos operacionais, os fundos cobram uma taxa de administração, identificada no exterior como “ongoing charge”.

Em alguns casos, pode existir também a chamada “taxa de performance”, ou “performance fee”, definida em regulamento e que só pode ser cobrada quando o produto ultrapassa uma meta de rentabilidade pré-definida. Na prática, o gestor fica com uma parcela do rendimento dos cotistas, como “prêmio” pelo bom desempenho.

Tais custos precisam ser analisados com cuidado, pois podem reduzir de forma considerável o ganho final dos investidores, afirmam especialistas.

Eles destacam, no entanto, que antes de qualquer escolha é fundamental que o interessado reflita sobre o horizonte e objetivo da aplicação.

“Há um mercado gigantesco a ser explorado pelo investidor brasileiro quando faz esse processo de diversificação no exterior”, afirma Clara, da XP.

Ela conta que, mesmo para o cliente mais conservador, recomenda-se destinar uma parcela para investimentos no exterior – que, no caso, seria uma exposição apenas à renda fixa global, na faixa de 2% dos recursos totais, com um horizonte de seis meses.

“Já para quem tem um perfil moderado e mira mais de três anos, cabe a indicação de ter hedge funds na carteira”, diz Clara.

Como é comum no mercado, as alocações internacionais recomendadas pela XP vão aumentando de acordo com o perfil do investidor.

Na categoria “agressivo”, por exemplo, a fatia pode chegar a 20% do portfólio, para clientes que podem deixar os recursos aplicados por cinco anos ou mais. O mix envolve fundos globais de renda fixa, multimercados e renda variável (com e sem proteção contra a variação cambial).

Os hedge funds são sempre mais arriscados?

Na opinião de Clara, da XP, não é correto colocar os hedge funds “na mesma caixinha” e dizer que esses produtos são necessariamente mais arriscados que alguns mutual funds.

Ela ressalta que, mesmo com a flexibilidade, os gestores de fundos de hedge precisam definir uma estratégia, que pode ser mais conservadora ou mais agressiva, o que irá se refletir nos níveis de volatilidade esperados para aquele produto.

“Na hora de investir, é preciso entender qual é a estratégia [do fundo] e o nível de risco ao qual ficará exposto”, afirma. São dados que estão disponíveis nos prospectos dos produtos e precisam ser analisados antes da escolha.

Isso vale tanto para os mutual quanto para os hedge funds.

Em linhas gerais, Clara indica um hedge fund para quem deseja proteção contra as movimentações do mercado internacional, mas não sabe operar. “Esse cliente encontrará no hedge fund um time de analistas e gestores olhando para essa carteira e fazendo as movimentações.”

De acordo com ela, tais produtos tendem naturalmente a contribuir para a diversificação dos recursos e oferecerem “riscos mais controlados”, justamente por estarem na fronteira entre a renda fixa e a variável, operando em busca das melhores alternativas.

“O fundo não fica dependente da alta ou da baixa do mercado. Consegue fazer um mix.”

Quais as diferenças em relação aos fundos de investimento no Brasil?

O conceito da indústria de fundos no exterior é similar ao usado no mercado brasileiro, com diferenças principalmente regulatórias.

“No Brasil, a regulação é feita pela CVM [Comissão de Valores Mobiliários] e existem políticas bastante rígidas sobre a divisão dos fundos, em que ativos podem investir, limites de alavancagem etc”, comenta Larissa, do C6 Bank.

No mercado internacional, há uma flexibilidade maior. Com isso, além de uma variedade mais ampla de tipos de investimento, os fundos mútuos podem realizar operações de forma mais abrangente, com estratégias simultâneas, se necessário.

“Não existe tanta regulamentação quanto aos tipos e prazos dos ativos, por exemplo”, diz a especialista.

Em termos práticos, para quem investe diretamente em fundos globais, um lembrete importante é que as aplicações estão sujeitas à variação cambial, o que vale para qualquer tipo de produto.

É preciso também estar atento aos detalhes e características de cada mercado. “Os títulos de renda fixa no exterior, por exemplo, são majoritariamente pré-fixados, o que traz uma volatilidade maior”, lembra Clara, da XP.

Como operar?

Os investidores interessados em mutual ou hedge funds internacionais têm dois caminhos para acessar esses fundos:

  • Abrir conta em um banco ou corretora que opere no Brasil e invista no exterior. Uma das vantagens é que os aportes para cobrir os custos das operações podem ser feitos em reais, pois os valores internacionais são convertidos automaticamente. O mesmo acontece com o crédito das remunerações e resgates;
  • Abrir conta em uma corretora internacional. Neste caso, as transações são feitas em dólar, mediante o envio de recursos para essa instituição.

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