Os dividendos são uma das formas de se ganhar dinheiro com ações. A estratégia de investir com foco nos dividendos é considerada mais defensiva e estável, se comparada com a estratégia de lucrar com a valorização das cotações na Bolsa.
Isso ocorre porque, no primeiro caso, é principalmente o desempenho de cada empresa (o seu lucro) que irá afetar a remuneração do acionista. Já aqueles que buscam ganhar com a valorização das ações estão mais sujeitos às crises do mercado como um todo, que podem impactar as cotações.
Mas como saber se a estratégia de dividendos está realmente funcionando? É preciso acompanhar a carteira com regularidade e atenção. Neste guia do InfoMoney, você vai aprender a fazer isso. Confira:
O que são dividendos
Quando uma empresa tem lucro, ela é obrigada, por lei, a distribuir parte desse lucro para os seus acionistas. Isso pode ser feito pela distribuição de dividendos ou Juros sobre Capital Próprio (JCP).
Para o investidor, a diferença é basicamente a tributação. Os dividendos são isentos do Imposto de Renda (IR), enquanto os JCP pagam IR de 15%. Neste guia, quando mencionarmos dividendos genericamente, nos referimos tanto aos dividendos quanto aos JCP (a não ser quando estiver especificado).
Um dos mitos mais disseminados do mercado de capitais é o de que as companhias são obrigadas a distribuir 25% do lucro líquido na forma de dividendos. Na verdade, a Lei das Sociedades Anônimas dá liberdade para as companhias decidirem o quanto vão distribuir – elas precisam especificar isso no estatuto social. Se elas não especificarem, a lei diz que pelo menos 50% do lucro líquido precisa ser distribuído. Na prática, a maioria das companhias acaba optando por distribuir os 25%, mas há algumas que optam por percentuais superiores. Esta é uma forma de atrair e reter acionistas.
Geralmente, as boas pagadoras de dividendos são empresas que não precisam fazer elevados investimentos – por isso, elas podem distribuir parcela mais generosa do lucro. São companhias com geração de caixa estável e de setores já consolidados. Também não são, de forma geral, empresas muito endividadas.
Já as companhias que crescem de forma acelerada precisam usar parte do lucro para bancar o crescimento, e por isso suas ações são mais procuradas por investidores que estão de olho na valorização dos papéis e não no recebimento de proventos. Nas épocas em que os mercados estão em tendência de alta, ações das empresas que crescem mais rápido geralmente se valorizam com mais força do que as companhias que pagam bons dividendos.
Mas, nas épocas de incerteza e crise, o inverso também costuma acontecer.
Tanto os investidores de perfil mais moderado ou conservador quanto os mais arrojados podem se beneficiar de carteiras de dividendos, já que as ações que tradicionalmente pagam mais proventos costumam oscilar menos que o mercado – ou seja, os dividendos conferem estabilidade às carteiras.
Como acompanhar meus dividendos
Para acompanhar a carteira de dividendos, o investidor deve se manter informado sobre as notícias a respeito do desempenho da companhia – pois a distribuição dos proventos depende dos lucros e dos projetos da empresa, que podem requerer novos investimentos. O acompanhamento pode ser feito por meio da leitura de relatórios de análise produzidos por corretoras, que levam em conta vários aspectos, inclusive a política de remuneração ao acionista de cada empresa.
Essas políticas, que deixem claro para os investidores quais são as regras e critérios que elas seguem para distribuir o lucro, são uma boa prática de governança corporativa. Embora grande parte delas seja bem básica e aborde apenas o quanto do lucro será distribuído (o chamado payout) em que periodicidade, algumas podem ser um tanto complexas, atrelando o pagamento dos proventos ao endividamento da companhia ou a outros fatores.
É o caso da Petrobras, por exemplo, que relaciona o montante a ser distribuído à cotação do petróleo tipo Brent, dentre outros aspectos.
O investidor deve reavaliar o investimento para saber se ele está valendo a pena. Ele pode repetir um procedimento que já deve ter feito ao comprar uma ação visando receber dividendos: avaliar a cotação do papel e o quanto ele costuma pagar em proventos.
Pense que, ao investir em uma ação para obter ganhos com os dividendos, você “empatou” parte do seu capital. Poderia, alternativamente, ter comprado um título de renda fixa que lhe pagasse juros. Então é necessário levar em conta o quanto você gastou para comprar a ação e o quanto ela vai retornar na forma de dividendos.
É possível saber isso por meio de um indicador chamado dividend yield, uma taxa que representa o retorno que o investidor teria apenas com a distribuição de proventos (sem considerar eventual valorização da ação).
Ele é calculado pela divisão dos dividendos e JCP pelo valor da ação. Quanto maior o dividend yield, maior é o retorno que o investidor terá.
Note que o preço da ação, que varia diariamente, entra no denominador do indicador – portanto, quanto mais cara a ação, menor é o dividend yield (considerando dividendos constantes). O acompanhamento periódico da carteira e do dividend yield permite que o investidor busque as ações mais baratas e que pagam mais proventos, fazendo trocas quando for necessário e rentabilizando o seu capital da melhor forma.
Aqui é necessário fazer uma ressalva: é importante que o investidor analise todo um conjunto de dados e perspectivas para a empresa, em vez de se apegar a um só indicador para montar e acompanhar a sua carteira. Isso porque as empresas podem apresentar dividend yields elevados em determinado momento, mas por conta de lucros extraordinários.
Se elas não conseguirem manter os seus lucros no futuro, é possível que as cotações caiam na Bolsa. Portanto, o investidor ganharia com o recebimento de dividendos, mas poderia perder com a desvalorização dos papéis. Fazendo uma analogia, ele receberia uma boa fatia, mas de um bolo que está cada vez menor.
Portanto, é necessário prestar atenção também à sustentabilidade do pagamento dos dividendos no longo prazo – e fazer mudanças na carteira quando a ação de determinada empresa não se mostrar mais atraente.
Por outro lado, se a empresa tem um dividend yield baixo, mas está investindo em bons projetos, que vão multiplicar a sua capacidade de geração de resultados no futuro, o investidor pode se beneficiar tanto da valorização do papel na Bolsa quanto de mais dividendos lá na frente.
A análise, como se percebe, é um pouco mais complexa do que parece à primeira vista, e é importante buscar informação especializada sobre a companhia e suas perspectivas.
Com relação aos aspectos operacionais, o acompanhamento da carteira de dividendos é simples. Cada empresa distribui esses proventos em uma periodicidade definida, sendo mais comum o pagamento trimestral ou anual.
Mas há exceções. Alguns bancos distribuem dividendos todos os meses e ainda fazem distribuições complementares, semestrais ou anuais. Esta é uma forma de aumentar a atratividade das ações. O dividendo mensal é bem interessante para quem deseja complementar a renda após a aposentadoria, por exemplo.
As empresas divulgam os valores a serem pagos de proventos, assim como as datas de pagamento, a “data com” e a “data ex-dividendo”, por meio de avisos aos acionistas em seus sites. Também os informam à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à B3.
Os investidores também podem consultar os valores a receber por meio das corretoras em que têm conta, no Canal Eletrônico do Investidor (site da B3) e por meio de aplicativos que consolidam os investimentos (também chamados de agregadores de investimento).
Na data de pagamento, os proventos são depositados na conta indicada pelo investidor. Os dividendos são isentos do Imposto de Renda (IR). No caso dos JCP, há incidência de IR à alíquota de 15%, mas o valor é depositado já líquido na conta indicada pelo acionista.
O que é data com e data ex
Os dividendos são o lucro distribuído por uma companhia a seus acionistas, mas estes últimos podem variar muito porque as ações são transacionadas na Bolsa. Alguém que é acionista hoje pode não ser mais amanhã. Por isso, é necessário que a companhia estabeleça uma data até o qual o acionista terá direito a determinado dividendo que foi anunciado.
Até esta data, quem tinha a ação tem direito ao dividendo. É isso o que é chamado de “data com”, ou seja, quem tinha o papel até esta data vai receber os proventos.
Depois, vem a “data ex”, ou seja, o investidor que comprou a ação depois não tem mais direito àqueles dividendos. As ações passam a ser negociadas “ex-dividendos”. O preço do papel não embute o pagamento desse provento – por isso, no primeiro dia da “data ex”, há um desconto na cotação da ação (o valor do dividendo é subtraído da cotação quando o pregão abre).
Mas esse ciclo recomeça em seguida: quem se torna acionista da empresa poderá receber os dividendos referentes ao exercício social seguinte, se mantiver os papéis até a próxima “data com”.
Importância de acompanhar os meus dividendos
Muitos investidores que têm uma carteira de dividendos se acostumam com o crédito desse provento na conta e se esquecem de acompanhá-la. Essa mentalidade de “buy and hold” (comprar e manter) é bastante comum quando se trata desse provento.
No entanto, é importante que o investidor revisite a sua carteira periodicamente para atestar se aqueles ativos continuam sendo os mais interessantes ou se é necessário trocar as ações. Afinal, mesmo que determinado papel continue pagando bem, é possível que haja outros ainda mais interessantes.
O fato de uma empresa ter sido uma generosa pagadora de dividendos no passado não significa que ela sempre será. Mesmo que ela não tenha mudado a sua política de distribuição de dividendos, ou seja, que ela continue distribuindo o mesmo percentual de lucro de antes, os resultados das empresas são variáveis. Ela pode ter tido um lucro não recorrente, por exemplo.
Se ela lucra menos no futuro, o valor distribuído tende a ser menor. Por isso, é necessário prestar atenção às tendências do mercado e ao desempenho das companhias, suas necessidades de capital e seus endividamentos.
Geralmente, as boas pagadoras de dividendos são companhias já consolidadas e que não precisam investir muito. No entanto, o mundo dos negócios é cada vez mais dinâmico e as tecnologias disruptivas podem mudar as perspectivas de companhias de setores tradicionais – até mesmo elas podem ter que aumentar investimentos para sobreviver às mudanças ou mesmo podem se tornar menos lucrativas com o passar do tempo.
Portanto, o ideal é que o investidor mantenha uma postura ativa, mesmo que seu objetivo for apenas obter a renda dos dividendos.
Como reinvestir os meus dividendos
Se o objetivo do investidor for complementar a renda, usará os recursos recebidos com os dividendos para bancar seus gastos e necessidades. No entanto, a estratégia de dividendos também pode ser usada com outra finalidade: alavancar o patrimônio.
Quando o investidor reinveste os proventos que recebe, ou seja, usa o dinheiro para comprar mais ações, a quantidade de papéis que ele tem aumenta – e, consequentemente, ele receberá mais dividendos no futuro. Essa estratégia pode ser ainda mais bem-sucedida se as ações tiverem sido bem selecionadas e tiverem valorizado ao longo do tempo. Seria como se, ao mesmo tempo, o bolo tivesse crescido e o investidor tivesse uma fatia maior dele.
Algumas companhias contam com programas de reinvestimento de dividendos. Ao receber os proventos, eles são usados automaticamente para comprar novas ações – o investidor pode estipular o percentual que deseja reinvestir. É uma forma de realizar esse investimento de maneira programada e automática. No entanto, elas são minoria.
A forma mais usual de reinvestimento de dividendos é o investidor se programar e utilizar a sua corretora. Quando os proventos forem creditados em sua conta, é só utilizar o valor para comprar mais ações por meio do home broker.