Para quem busca investimentos mais rentáveis, mas não abre mão de segurança, a letra de câmbio (LC) é uma das alternativas do mercado.
Esse título faz parte da família de renda fixa, assim como CDBs (Certificado de Depósito Bancário), LCIs e LCAs (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio). Por causa do nome, muitas pessoas associam as letras de câmbio ao comércio internacional. Mas na verdade, esse título nada tem a ver com operações de câmbio, e investir nele é bastante simples.
Se você está procurando por novas opções de renda fixa para diversificar a carteira, leia este conteúdo que o InfoMoney preparou sobre as LCs e descubra se vale a pena investir nesses títulos.
O que é Letra de Câmbio (LC)
Da mesma forma que CDBs, LCIs e LCAs, as letras de câmbio são títulos de renda fixa emitidos por uma instituição financeira. A diferença é que, enquanto os três primeiros são emitidos somente por bancos, quem emite a LC é uma financeira.
Aqui, cabem parênteses para explicar a diferença entre bancos e financeiras. Tanto uns quanto outras são instituições que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e são reguladas pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Além de empréstimos, ambas as instituições podem oferecer títulos de emissão própria. No entanto, no caso das financeiras, as opções são mais restritas, pois essas instituições emitem somente LCs e RDBs (Recibos de Depósito Bancário).
Além disso, diferentemente dos bancos, as financeiras não oferecem aos clientes uma rede de agências ou conta corrente, e são instituições menores e menos conhecidas se comparadas aos grandes bancos. Por isso, essas instituições costumam oferecer mais risco nas operações, e esse é um dos motivos pelos quais as taxas de determinados títulos emitidos por elas – entre os quais estão as letras de câmbio – podem ser atrativas.
Resumindo: ao adquirir uma LC, você estará emprestando o seu dinheiro a uma financeira. A instituição, por sua vez, pagará juros pelo período em que os seus recursos ficarem aplicados.
Tipos de Letra de Câmbio
Existem três tipos de letras de câmbio: a prefixada, a pós-fixada e a híbrida. A seguir, entenda quais as diferenças entre cada uma delas:
LC prefixada
Na letra de câmbio prefixada, você já sabe qual a rentabilidade bruta (sem Imposto de Renda) no momento da aplicação. Isso significa que, independentemente do que acontecer com os juros (se caírem ou subirem) durante a aplicação, terá garantida a taxa acordada no momento da compra do título. A taxa da LC prefixada é expressa em percentual ao ano.
LC pós-fixada
Na letra de câmbio pós-fixada, você tem uma estimativa de quanto receberá pelo investimento ao final do prazo da aplicação. Isso porque ela é atrelada ao CDI, que, por sua vez, acompanha a variação da taxa Selic.
Assim, em momentos de alta da Selic, o seu ganho será maior com a LC, e vice-versa.
LC híbrida
Por fim, a letra de crédito híbrida é aquela em que parte da remuneração está atrelada a uma taxa fixa e a outra parte, a um índice de preços, que normalmente é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o principal indicador da inflação brasileira. Dessa forma, esse tipo de LC é uma boa alternativa em momentos de inflação alta, pois serve como uma forma de proteger o dinheiro da desvalorização.
Qual o valor mínimo para investir em Letra de Câmbio?
Não há um valor padrão no mercado para começar a investir em letras de câmbio. No entanto, esse título pode demandar aportes iniciais superiores aos de um CDB, por exemplo.
Nesse sentido, há instituições financeiras que partem de R$ 1.000 para as letras de câmbio. Mas você pode encontrar no mercado valores iniciais bem maiores, que chegam a cerca de R$ 10 mil, por exemplo. Esse acaba sendo um dos motivos pelos quais as LCs não são tão populares entre os investidores quanto outros títulos de renda fixa, como o próprio CDB, as LCIs e LCAs, ou mesmo os títulos públicos negociados no Tesouro Direto.
Vale a pena investir em LC para reserva de emergência?
Não. A letra de câmbio não é um investimento adequado para compor a sua reserva de emergência, e esse é um dos pontos aos quais o investidor deve prestar muita atenção se está pensando nesse título para a sua carteira.
Da mesma forma que não existe uma padronização para o investimento mínimo em LC, também não há um prazo mínimo para o investimento. Mas, em geral, as instituições financeiras estabelecem um prazo de carência longo nesses títulos – em média, de dois a três anos.
Por isso, o ideal é que o investidor tenha certeza de que não precisará dos recursos no curto prazo antes de investir em uma LC. Caso contrário, se precisar resgatar o título antecipadamente, terá de recorrer ao mercado secundário para fazer isso. Nessa situação, a negociação pode não ser vantajosa, pois há chances de que ele não consiga manter a rentabilidade que contratou no início da aplicação.
LC é investimento de curto, médio ou longo prazo?
Pelas razões apontadas no item anterior, a letra de câmbio costuma ser vista como um investimento destinado ao médio e longo prazo. Nesse sentido, títulos como CDBs, Tesouro Selic, LCIs e LCAs podem atender aos objetivos de quem procura diversificação no curto prazo. Lembrando que, no caso das LCIs e LCAs, também há uma carência, mas normalmente bem menor do que a das LCs.
A Letra de Câmbio tem cobertura do FGC?
Sim, a letra de câmbio está entre os títulos de renda fixa que possuem a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Apesar do nome, o FGC não é um fundo de investimento, e sim uma instituição privada, sem fins lucrativos, que tem o propósito de garantir ao investidor o ressarcimento de seus recursos no caso de falência das instituições financeiras.
Por determinação do Banco Central, instituições como Caixa Econômica Federal, bancos múltiplos, comerciais, de investimentos, financeiras, entre outras, devem participar do FGC. Essa participação se dá por meio de depósitos mensais realizados por essas instituições no fundo. Ou seja, são esses depósitos que asseguram ao investidor a devolução de seu dinheiro se a instituição financeira tiver problemas.
Em relação aos valores garantidos, o FGC assegura o ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF, até o limite de R$ 1 milhão. Digamos que você tenha R$ 300 mil e quer investir todo esse valor em títulos de renda fixa assegurados pelo FGC. Para garantir que todo o seu dinheiro fique protegido, é interessante dividir o montante entre duas instituições financeiras, no mínimo.
Quais são os riscos de investir em Letra de Câmbio?
Pelo fato de ser protegida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), a letra de câmbio é um dos títulos de renda fixa mais seguros do mercado. No entanto, é importante lembrar que esse título é emitido por financeiras, que, como mencionado anteriormente, são instituições menores do que os bancos tradicionais. Por isso, é importante avaliar a idoneidade e o histórico da instituição emissora antes de adquirir uma LC.
Caso a financeira venha a falir, o FGC ressarcirá o investidor, é verdade. Porém, não há um prazo estabelecido para que isso aconteça.
Nesse sentido, há histórico de pagamentos que ocorreram em até poucos meses depois da quebra da instituição. Mas há outros que demandaram alguns anos para que o investidor pudesse reaver os seus recursos. Até hoje, não há registro de não ressarcimento por parte do FGC, assim como também não há nenhuma garantia de prazo para que o fundo o faça.
Vantagens e desvantagens de investir em LC
Em relação às vantagens das LCs está a possibilidade de conseguir taxas maiores do que as de alguns CDBs, o que torna o investimento atrativo. É importante lembrar, no entanto, que por serem emitidos por instituições financeiras menores do que bancos, os papéis podem ter risco de crédito maior.
Além disso, as LCs não possuem custos adicionais, como as taxas de administração cobradas pelos fundos de investimentos ou a taxa de custódia que incide sobre os títulos públicos do Tesouro Direto. Nesse caso, o único custo do investimento é a tributação.
Por outro lado, as LCs não possuem liquidez imediata, e seus prazos costumam ser longos. Logo, caso seja preciso resgatá-las antes do prazo, a forma de se fazer isso é recorrendo ao mercado secundário – e lá, o investidor pode acabar sacrificando a rentabilidade que contratou no início da aplicação.
Tributação em Letra de câmbio
Sobre o rendimento das letras de crédito, incidirá o Imposto de Renda (IR) de acordo com a tabela regressiva para os títulos de renda fixa. Nesse sentido, as alíquotas variam de acordo com o prazo da aplicação, da seguinte forma:
Prazo da aplicação | Alíquota IR |
Até 180 dias | 22,5% |
De 181 a 360 dias | 20% |
De 361 a 720 dias | 17,5% |
Acima de 720 dias | 15% |
Ainda sobre o IR, não é preciso se preocupar com o recolhimento, já que o tributo é retido na fonte – ou seja, você já recebe o montante líquido dos impostos na hora do resgate.
Outro tributo que pode incidir na letra de crédito é o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na verdade, o IOF incide sobre os rendimentos de todo tipo de aplicação quando o resgate ocorrer antes de 30 dias do investimento. Para evitá-lo, é só respeitar o prazo de um mês para fazer o primeiro resgate.
Da mesma forma que o IR, as alíquotas do IOF são regressivas, começando em 96% até zerar no 30⁰ dia da aplicação:
N⁰ dias | Alíquota IOF | N⁰ dias | Alíquota IOF | N⁰ dias | Alíquota IOF |
1 | 96% | 11 | 63% | 21 | 30% |
2 | 93% | 12 | 60% | 22 | 26% |
3 | 90% | 13 | 56% | 23 | 23% |
4 | 86% | 14 | 53% | 24 | 20% |
5 | 83% | 15 | 50% | 25 | 16% |
6 | 80% | 16 | 46% | 26 | 13% |
7 | 76% | 17 | 43% | 27 | 10% |
8 | 73% | 18 | 40% | 28 | 6% |
9 | 70% | 19 | 36% | 29 | 3% |
10 | 66% | 20 | 33% | 30 | 0 |
O que rende mais, Letra de câmbio ou poupança?
Ainda hoje, a maioria dos brasileiros apontam a poupança como a modalidade preferida de investimento. Isso foi confirmado pelo último Raio X do Investidor Brasileiro, pesquisa da Anbima (Associação de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em parceria com o Datafolha.
De acordo com a pesquisa, a poupança apareceu como o investimento preferido em todas as classes sociais. O principal motivo apontado pelos entrevistados é a segurança que a modalidade proporciona.
No entanto, não é à toa que a poupança vem batendo recordes históricos de saques. Nesse sentido, existem investimentos tão seguros e bem mais rentáveis do que a poupança, e entre eles estão as letras de crédito. Para entender, é preciso primeiro saber como funciona o rendimento da velha caderneta.
Rendimento da poupança: como funciona
O primeiro ponto a entender é que os rendimentos da poupança acompanham a taxa Selic. Além disso, para o cálculo desses rendimentos, é preciso considerar dois períodos distintos: um antes e um depois de 4 de maio de 2012.
Para os depósitos realizados antes de 4 de maio de 2012, o rendimento da poupança é de 0,5% ao mês (ou 6,17% ao ano) + Taxa Referencial (TR). No entanto, a TR permaneceu zerada por alguns anos a partir de 2017. Quando isso acontece, o investidor recebe pela poupança somente a taxa fixa.
No caso de depósitos feitos depois de 4 de maio de 2012, o rendimento da poupança é calculado da seguinte forma:
– quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano, a poupança rende 70% dessa taxa + TR;
– quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, a poupança volta a render 0,5% ao mês + TR.
Exemplo de comparação entre Letra de câmbio e poupança
Imagine que um investidor tenha R$ 2.000 e está em dúvida se adquire uma LC ou se coloca esse valor na poupança. Ele não precisará dos recursos pelos próximos dois anos, ou seja, esse será o prazo da aplicação em qualquer uma das modalidades escolhidas.
A maioria das LCs do mercado rende algo próximo de 100% do CDI. Dessa forma, esse exemplo considera um título pós-fixado com uma Selic de 13,75% ao ano.
No caso da poupança, a remuneração é de 6,17% ao ano (já que a Selic é superior a 8,5% ao ano) mais a variação da TR, que em agosto de 2022 estava projetada em 0,18% ao mês, de acordo com dados fornecidos pela XP Investimentos.
No caso da LC a 100% do CDI, com a Selic a 13,75% ao ano, o investimento renderia em torno de R$ 492,43 em dois anos. O rendimento líquido (já descontado o Imposto de Renda de 17,5%) seria de 11,26% ao ano.
O rendimento da aplicação na poupança, por outro lado, seria de 8,48% ao ano, o que resultaria em R$ 353,75 no período.
Confira a simulação para uma aplicação de R$ 2.000 por dois anos:
Cenário | Retorno da Poupança | Valor a receber | Retorno de 100% do CDI (líquido de IR)** | Valor a receber*** |
Selic a 13,75% ao ano | 8,48% ao ano | R$ 2.353,75 | 11,26% ao ano | R$ 2.492,43 |
* A TR considerada foi de 0,18% ao mês, de acordo com estimativas da XP Investimentos.
** O CDI utilizado foi de 13,65% ao ano.
*** Valor líquido de Imposto de Renda (17,5%)
Quem pode investir em Letra de Câmbio
Desde que o investidor tenha o valor do aporte mínimo exigido e que não precise resgatar os recursos antes do vencimento, qualquer um pode investir em letras de crédito. O título é considerado uma alternativa de diversificação na renda fixa e, dependendo do caso, com rendimentos maiores do que outros títulos da categoria. Além disso, pelo fato de contarem com cobertura do FGC, têm riscos limitados.