Que os mercados ao redor do mundo estão cada vez mais conectados, não é novidade. A todo momento, a tecnologia nos traz novas facilidades que vão desde simplificar o processo de receber e mandar dinheiro ao exterior a alternativas sofisticadas de investimentos internacionais.
Em meio a tudo isso, é comum que surjam dúvidas sobre investir em dólar ou não. Afinal, será que isso é para todo mundo? Vale a pena mesmo para quem mora no Brasil e não pretende sair daqui? Se sim, devo comprar a moeda ou existem outras formas de dolarizar os investimentos?
Para responder a essas e a outras perguntas, o InfoMoney elaborou esse guia. Portanto, se o assunto lhe interessa e se, a exemplo de tantos outros investidores, você quer diversificar seu patrimônio e está em busca de novas alternativas, siga com a leitura.
Por que investir em dólar morando no Brasil?
Mesmo para quem não vive no exterior e nem planeja mudar para fora do país, há boas razões para pensar em dolarizar os investimentos. A principal delas é a possibilidade de diversificar o patrimônio em uma moeda forte, o que atenua o risco de mercado da carteira.
O raciocínio é muito simples: se todo o seu dinheiro está investido no país, o seu patrimônio sentirá os solavancos da economia local com mais força. E isso é ainda mais acentuado nos países emergentes, que, historicamente, possuem muito mais altos e baixos do que os mais desenvolvidos.
Imagine que um grave problema nacional, como uma crise política ou uma recessão, balance a economia por determinado período. Invariavelmente, isso refletirá em todo o mercado financeiro, e atingirá tanto a renda fixa quanto a renda variável.
No entanto, quando parte do patrimônio está alocada em ativos internacionais, consegue-se blindá-lo desses efeitos. Na linguagem do mercado, a diversificação internacional é uma forma de reduzir a volatilidade dos investimentos.
Além do risco, outro aspecto importante a considerar na internacionalização do patrimônio é a diversidade de opções que podemos encontrar lá fora. Por exemplo, atualmente há quase 500 empresas listadas na bolsa brasileira, ao passo que, no mercado norte-americano, esse número supera 6.500 companhias entre as duas bolsas do país – NYSE e Nasdaq.
Qual o melhor momento para investir em dólar?
A grande maioria dos especialistas concorda que não há um momento mais ou menos propício para começar a investir no exterior.
Nas palavras de Thiago Favery, head da área de investimentos no mercado internacional da XP, o melhor momento para internacionalizar o patrimônio é sempre hoje. Para exemplificar, ele relembra a evolução do dólar e do S&P 500 – principal índice de ações do mercado norte-americano – desde o final de março de 2020. Na ocasião, o dólar estava em R$ 5,06, chegando a bater R$ 5,73 dois meses depois com o agravamento da pandemia. No mesmo período, o S&P 500 estava em 2.300 pontos.
Em cerca de dois anos, a cotação média da moeda estava cerca de 13% abaixo, a R$ 5,00, e o S&P 500 rondava os 4.200 pontos, alta de 82% no período.
“Se tivéssemos investido com o câmbio a R$ 5,73 e comprado o S&P a 2.300 pontos, teríamos perdido 13% na variação cambial frente a um ganho de 83% na bolsa. Isso mostra que, muitas vezes, o investidor se prende ao câmbio ou a alguma outra variável e esquece que, do outro lado, existem boas oportunidades. Às vezes o pior momento do câmbio pode ser o melhor momento para a renda variável”, observa Favery.
Para ele, internacionalizar os investimentos vai além de investir em dólar. É diversificar o portfólio, para torná-lo mais equilibrado. “Quando adicionamos ativos internacionais a uma carteira 100% Brasil, temos um retorno adicional e conseguimos mudar bastante o perfil da volatilidade”, explica.
Tharcisio Santos, sócio e co-CIO da Vita Investimentos, compartilha da mesma opinião sobre a importância da diversificação em ativos internacionais, em especial para cumprir os objetivos de longo prazo.
“Entendemos que sempre é importante o investidor ter ativos fora do Brasil, seja diretamente ou por meio de opções no mercado brasileiro. Dependendo de cada planejamento (se há intenção de morar fora, por exemplo), o percentual de alocação de ativos em outra moeda pode aumentar. Mas em todas as situações, considerando que o Brasil hoje representa menos de 3% do PIB mundial, não há razão para não diversificar fora daqui”, explica.
É claro que é preciso ter o perfil adequado para encarar a volatilidade da taxa de câmbio. Além disso, Tharcisio aconselha a fazer essa diversificação de forma gradual, para evitar se expor a uma só variação cambial.
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Tipos de investimentos em dólar
Você pode dolarizar seus investimentos adquirindo diretamente ativos internacionais ou fazendo isso aqui no Brasil mesmo, sem precisar mandar dinheiro ao exterior. Veja a seguir algumas formas de investir em dólar.
Dólar em espécie
Atenção: o primeiro ponto a entender sobre a moeda física é que as cotações que vemos diariamente se referem ao dólar comercial, que é o dólar utilizado nas transações comerciais entre países e empresas ao redor do mundo. Já o dólar acessível às pessoas físicas é o dólar turismo, aquele que encontramos nas instituições financeiras e casas de câmbio e que utilizamos para viajar.
O dólar turismo chega a ser de 20 a 30 centavos mais caro do que o dólar comercial, e um dos motivos dessa diferença de preços é o volume de negociações de cada um. Isso porque os valores das transações feitas por pessoas físicas são muito menores do que os das empresas.
Dessa forma, os custos que envolvem a negociação da moeda (IOF, gastos administrativos, logística, spread da instituição financeira, entre outros) ficam menos diluídos no caso do dólar turismo, o que encarece a cotação.
Outro ponto importante a observar é que o preço de compra de uma moeda estrangeira será sempre maior do que o preço de venda. E isso não se aplica somente ao dólar, mas a qualquer moeda que se deseje negociar. É claro que pode acontecer de você comprar dólar turismo (ou outra moeda) a um preço mais baixo e vendê-la depois de uma valorização.
Porém, o contrário também pode acontecer, sem falar no risco que você assume ao guardar as notas em casa. Portanto, adquirir dinheiro físico não é o mais recomendável para quem pensa em internacionalizar os investimentos.
Conta internacional
Atualmente, é possível ter acesso a ativos internacionais por meio de uma conta no exterior oferecida por instituições com atuação no Brasil.
A facilidade da língua é uma vantagem, além de você não precisar lidar com uma legislação diferente da brasileira, nem de uma corretora fora do país para fazer seus investimentos.
Na XP, a conta internacional está disponível para clientes com patrimônio líquido a partir de R$ 10 mil. Nenhuma taxa é cobrada na abertura e as transações são feitas por meio do aplicativo da corretora.
As remessas ao exterior são feitas em valores mínimos de R$ 500, sendo que o investimento mínimo em bonds gira em torno de US$ 5 mil.
Fundos cambiais
Os fundos cambiais sempre foram considerados uma boa alternativa para diversificar o patrimônio em ativos internacionais. E a boa notícia é que, de tempos para cá, eles estão bem mais acessíveis, pois você pode encontrar opções que exigem baixos aportes mínimos.
Para que seja considerado cambial, esse fundo deve manter, no mínimo, 80% do patrimônio investido em ativos relacionados a moedas estrangeiras. O mais comum é que esses fundos estejam relacionados às moedas fortes mais conhecidas, como o dólar ou euro.
Mas o gestor também pode optar por alocar os recursos do fundo em cestas de moedas, com participação de yuan, iene e libra, por exemplo. Dessa forma, as cotas de um fundo cambial acompanham diretamente as oscilações desses ativos, para cima ou para baixo.
ETFs
Outra opção para investir em ativos internacionais de forma indireta – ou seja, sem abrir uma conta lá fora – são os Exchange Traded Funds, ou simplesmente, ETFs.
O objetivo desse investimento é replicar determinado índice ou ativo financeiro do mercado. Na bolsa brasileira, você pode encontrar ETFs que acompanham o S&P 500 ou índices relacionados a outras economias, como os MSCI, que refletem países europeus mais desenvolvidos, mercados emergentes, e assim por diante. E também é possível acessar determinados setores da economia global com ETFs, como tecnologia, saúde, financeiro, industrial, materiais básicos, entre outros.
Em termos operacionais, adquirir cotas de um ETF é tão simples quanto investir em ações, pois tudo é feito pelo home broker da corretora.
BDRs
Já os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) são indicados para quem deseja investir em ativos específicos, de determinadas empresas. Esses títulos representam ações de companhias estrangeiras, e são negociados na bolsa brasileira e em reais.
Na prática, quem adquire um BDR não está investindo diretamente nas ações dessas empresas, mas sim em títulos que as representam. Por sua vez, essas ações permanecem lá fora em uma instituição financeira custodiante, e dão lastro a esses recibos no Brasil.
Atualmente, há mais de 800 BDRs listados na B3, que vão desde as gigantes mundiais mais conhecidas até empresas de mercados emergentes e que atuam na nova economia. Analistas alertam para o fato de que é preciso conhecer bem a empresa, pois todo o risco do investimento está concentrado nelas.
Além disso, a liquidez desses títulos ainda está concentrada em poucos emissores, o que também é um ponto de atenção em relação ao ativo.
Mercado futuro de dólar
Entre todas as opções que vimos, essa é a que exige mais conhecimento e experiência por parte do investidor na hora de operar. O dólar futuro é uma espécie de derivativo que permite negociar hoje o preço do dólar em um prazo determinado no futuro.
Normalmente, esse tipo de contrato é utilizado para garantir o valor do dólar quando há algum compromisso na moeda a ser pago no futuro. Mas muita gente utiliza a operação com fins especulativos, somente para tentar ganhar com as oscilações de preços da moeda.
A alta volatilidade dessa operação exige muito cuidado. Além de conhecimento e experiência, o investidor precisa ter disponibilidade para acompanhar o mercado se desejar operar no mercado futuro.
É melhor investir em dólar ou euro?
Como ambas são moedas fortes, tudo vai depender do momento da economia.
Nesse sentido, Favery observa que, possivelmente, as perspectivas de alta de juros nos EUA acabaram por enquanto. Na linguagem do mercado, provavelmente o Fed (Federal Reserve, banco central americano) já tenha atingido a taxa terminal, ou seja, o pico dos juros.
“A partir de agora, deverá haver estabilidade de juros nos EUA até o final do ano. Já na Europa, os juros ainda devem aumentar. Por isso, acreditamos que haja espaço para o euro se fortalecer frente ao dólar, o que o torna a opção mais favorável neste momento”, avalia.