Se você deseja ter uma renda extra todos os meses, mas não tem tempo ou disposição para um segundo emprego ou freelas esporádicos, montar uma carteira de dividendos é uma boa forma de obter renda passiva com investimentos.

Ao receber dividendos, você tanto poderá fortalecer o seu orçamento mensal quanto reinvestir esses recursos e ajudar o seu patrimônio a crescer cada vez mais.

À primeira vista, pode parecer que, para montar uma carteira de dividendos, basta escolher as ações e fundos imobiliários que mais distribuíram lucros nos últimos tempos. Mas uma carteira sólida requer uma análise mais aprofundada dos ativos, e é sobre isso que falaremos neste guia.Portanto, se você quer investir e está de olho nos melhores dividendos do mercado, continue a leitura e descubra como encontrá-los.

O que é carteira de dividendos

Como o próprio nome já diz, uma carteira de dividendos é uma seleção de ativos de renda variável que proporcionam ao investidor o recebimento de rendimentos periódicos.

Normalmente, os ativos mais comuns nas carteiras de dividendos são ações ou fundos imobiliários (FIIs). Mas também é possível receber proventos com alguns BDRs (Brazilian Depositary Receipts). Na sequência deste guia, falaremos mais detalhadamente sobre esses investimentos.Leia também: Dividendos em FIIs: como funcionam e como recebê-los?

Qual o perfil de quem investe em dividendos

A primeira coisa que o investidor deve ter em mente quando decide montar uma carteira de dividendos é que os resultados virão no médio e longo prazo.

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Além disso, para que a estratégia possa dar retornos consistentes, é importante escolher ativos com menor risco.

É claro que, na renda variável, não há garantia de rentabilidade, pois a volatilidade acaba sendo superior à da renda fixa. No entanto, uma boa avaliação desses ativos ajuda a mitigar o risco dos investimentos. Mais adiante, veremos como fazer isso.

Outro ponto importante para potencializar os ganhos de uma carteira de dividendos é, sempre que possível, reinvestir os proventos recebidos. Dessa forma, o investidor consegue aproveitar melhor o poder multiplicador dos investimentos sobre o patrimônio.

Tipos de carteira de dividendos

Existem diversos ativos que proporcionam dividendos, dentro os quais alguns se destacam, como as ações, os fundos imobiliários (FIIs) e os BDRs. A seguir, entenda como funciona cada um deles.

Dividendos de ações

De acordo com a legislação brasileira, todas as empresas que auferem resultado positivo devem distribuir parte desse lucro aos acionistas.

No entanto, dependendo do setor de atuação, a companhia consegue fazer isso com mais regularidade e em volumes mais expressivos.

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Ou seja, para montar uma carteira de ações com foco em dividendos, primeiramente é preciso entender o setor de atuação das empresas. Teoricamente, setores mais consolidados da economia demandam menos investimentos por parte das empresas, justamente por já estarem em níveis superiores de maturidade. É o caso, por exemplo, de companhias que atuam nos setores de energia elétrica e telecomunicações, por exemplo.

Por outro lado, empresas ainda novatas e/ou que atuam em segmentos da nova economia (como fintechs ou outras startups de tecnologia, por exemplo) normalmente apresentam prejuízos nos primeiros anos de vida, o que as impede de distribuir dividendos. Ou, mesmo que apresentem lucros, os resultados costumam não ser muito expressivos no início, e isso também compromete a sua capacidade de distribuí-los aos acionistas.

Dessa forma, se o objetivo for receber dividendos de ações, o ideal é optar por setores mais consolidados.

Mas atenção: isso não significa que empresas que não pagam dividendos sejam, necessariamente, um mau investimento. Dependendo do caso, as ações dessas empresas (small caps) podem ter valorização bastante superior à das companhias mais tradicionais, justamente pelo potencial de crescimento do seu setor de atuação. Logo, mesmo que o foco da carteira sejam dividendos, o ideal é sempre utilizar a maior quantidade possível de indicadores da análise fundamentalista para selecionar as ações.

Dividendos de Fundos Imobiliários (FIIs)

Da mesma forma que ocorre com as ações, os fundos imobiliários também são obrigados a distribuir os seus resultados aos cotistas.

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No caso dos FIIs, a lei estabelece um percentual de distribuição de 95% do resultado auferido pelo regime de caixa a cada semestre. Para fazer essa apuração, é utilizado o balancete semestral ou o balanço, encerrados em 30 de junho e 31 de dezembro de cada ano.

Também como as ações, os FIIs que não tiverem resultados positivos não distribuirão dividendos. Isso pode ocorrer quando o fundo está em estágio inicial (ainda não gera receitas) ou em virtude de algum problema, como vacância devido à má localização dos imóveis ou as restrições de circulação em shoppings e prédios corporativos durante a pandemia, entre outros.

No caso dos FIIs de “papel”, normalmente os indexadores desses fundos são o CDI e o IGP-M. Logo, quando os juros e a inflação sobem, os dividendos desses FIIs também tendem a aumentar.

Já FIIs de “tijolo” que atuam na compra e venda de imóveis podem ter dividendos menos regulares, pois os rendimentos só serão distribuídos quando houver a alienação de um imóvel.

Resumindo: para ter regularidade no recebimento de dividendos de FIIs, é preciso prestar atenção nos seguintes aspectos:

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  • estágio de maturidade do FII;
  • vacância (que sofre o impacto de localização, qualidade dos imóveis ou momentos específicos da economia);
  • evolução dos juros e dos índices inflacionários.

Dividendos de BDRs

Já quem deseja receber dividendos e, ao mesmo tempo, investir em grandes empresas internacionais, pode fazer isso por meio dos Brazilian Depositary Receipts (BDRs).

Esses títulos representam ações de companhias estrangeiras emitidos no Brasil e negociados na B3. Em outras palavras, ao adquirir um BDR, você pode passar a ter exposição a companhias como Netflix, Apple, Tesla, Meta (ex-Facebook) ou outras gigantes internacionais.

No entanto, apesar desses títulos serem emitidos e negociados no Brasil, a política de distribuição de dividendos dependerá do que a companhia lá fora pratica. E por isso, é importante saber que muitas companhias estrangeiras não têm por hábito distribuir dividendos. É justamente esse o caso das big techs americanas.

Quando a empresa lá fora distribui lucros, o investidor brasileiro recebe os dividendos na sua conta já em reais. Ou seja, ele não precisa se preocupar em fechar o câmbio, pois isso é feito pela instituição que emitiu o BDR.

Vantagens e desvantagens de investir com foco em dividendos

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A principal vantagem de investir com foco em dividendos é justamente ter entradas regulares de caixa a partir dos investimentos. De certa forma, é como se o investidor ganhasse duas vezes: com a renda passiva da carteira e com a valorização dos papéis ao longo do tempo.

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Por outro lado, no caso das ações, as melhores pagadoras de dividendos não costumam ser as empresas com maior potencial de valorização. Para que possa distribuir bons proventos e com regularidade, as companhias precisam apresentar um bom nível de maturidade, em geral em setores consolidados.

Em contrapartida, empresas em estágio inicial da operação e que atuam em setores com maior potencial de crescimento tendem a experimentar maior valorização de seus papéis. Desde que, é claro, apresentem uma boa performance ao longo dos anos.

Como funciona a carteira de dividendos

Neste tópico, veremos como funciona a carteira de dividendos sob dois aspectos: tributação e datas de pagamento dos proventos.

Tributação

Atualmente, os dividendos de ações e de fundos imobiliários são isentos de Imposto de Renda. Ou seja, quem investe nesses ativos paga o tributo somente o ganho de capital, obtido quando as ações ou as cotas dos FIIs são vendidas com lucro.No entanto, um projeto de reforma do Imposto de Renda prevê taxar em 10% os lucros e dividendos distribuídos pelas empresas aos acionistas.

A proposta faz parte do Projeto de Lei 2337/21, já aprovado pela Câmara e em tramitação no Senado desde 2021.Já no caso dos BDRs, os dividendos obedecem às regras de tributação do país que deu origem aos títulos. Algumas das alíquotas cobradas pelos países são as seguintes:

PaísAlíquota
Estados Unidos30%
Alemanha e Israel25%
Japão20%
Espanha, Argentina, França e Bolívia12,5% (em média)
China, Índia, Colômbia e México10%
Peru, Grécia e Romênia5%

Fonte: VBSO Advogados

O valor de dividendos de BDRs creditado na conta do investidor já é líquido do desconto das alíquotas acima. Além disso, quem recebe esses dividendos também precisará pagar IR aqui no Brasil. Quando o investidor receber os proventos, precisará reconhecê-los e pagar o tributo por meio do Carnê-Leão, que é a sistemática de recolhimento do IR durante o ano.

Datas de pagamento

Aqui, há dois conceitos para os quais o investidor que tem foco em dividendos deve estar atento: “data com” e “data ex“.No momento em que uma empresa listada na Bolsa divulga os seus resultados, as datas de pagamento dos dividendos também já costumam ser informadas.

A “data com” (ou “com dividendos”) representa o último dia em que o acionista deve ter ações da empresa para ter direito a receber os dividendos relativos àquele período.

Por exemplo, a empresa “X” anunciou em 02/05/2022 que pagaria dividendos no dia 30/06/2022 a quem tiver ações até o dia 10/06/2022. Nesse caso, a “data com” é 10/06/2022, ou seja, receberão os dividendos do período os acionistas que compraram e mantiveram as ações em carteira até essa data.

Já a “data ex” é o dia que sucede a “data com”. Logo, no exemplo acima, quem comprou ações depois de 10/06/2022 não receberá os dividendos a serem pagos em 30/06/2022.Além do pagamento dos dividendos, “data com” e “data ex” determinam também outros direitos do acionista, como subscrição, desdobramento ou agrupamento. Na prática, os conceitos servem para orientar o investidor quanto aos períodos propícios para investir com vistas a obter esses direitos.

Como calcular o dividend yield

Quem deseja montar uma carteira de dividendos precisa conhecer o dividend yield (DY) dos ativos. Esse indicador financeiro mede o desempenho da ação e do fundo imobiliário em relação aos proventos que pagam aos investidores.

O valor do dividend yield é expresso em uma taxa percentual, e demonstra o quanto foi pago de dividendos no período em relação ao valor do ativo. A sua fórmula é a seguinte: DY = (dividendos distribuídos no período por ação ou cota/valor da ação ou cota) x 100Na hora de montar uma carteira de dividendos, o DY permite que o investidor compare a distribuição de resultados de diferentes ações ou FIIs. Essa é uma informação importante para quem deseja ter renda passiva com investimentos.

No entanto, apesar de ser um importante indicador, o DY não deve ser o único critério de escolha dos ativos. Por exemplo, um DY elevado pode significar não uma melhora na performance dos ativos, mas uma queda na sua cotação. Por isso, é importante utilizar diversos indicadores financeiros para fazer a melhor escolha para a carteira de investimentos.

Como montar uma boa carteira de dividendos

Independentemente da estratégia da carteira (se para valorização no longo prazo ou para receber dividendos), escolher ativos de bons fundamentos é a primeira dica e vale para ações, fundos imobiliários e BDRs.

Dito isso, é preciso avaliar os aspectos mais específicos desses ativos. No caso dos BDRs, as opções acabam sendo mais limitadas. Isso porque apesar de o número desses títulos crescer cada vez mais (já são mais de mil listados na B3), a maioria ainda tem baixa liquidez. Fora isso, nem todos distribuem dividendos.

Já no caso das ações, o setor de atuação da empresa é um ponto importante a observar para montar uma carteira de dividendos. Companhias que atuam em segmentos mais tradicionais costumam distribuir resultados com mais regularidade do que as da nova economia.

Além disso, o tipo de ação também influencia no pagamento de dividendos. Para quem tem o objetivo de receber proventos, é interessante dar prioridade às ações preferenciais (PN). Essas são as que levam os dígitos 4, 5, 6, 7 ou 8 depois das letras que compõem o ticker da companhia. Por exemplo, CMIG4 é a ação preferencial da Cemig.

Esse tipo de ação dá ao investidor prioridade no recebimento de dividendos. Além disso, a lei confere ao acionista PN proventos, no mínimo, 10% superiores do que os pagos às ações ordinárias (ON).Outro ponto importante no caso das ações é saber sobre os projetos de investimentos das empresas. Planos de expansão ou de aquisição podem afetar o pagamento de dividendos em determinados momentos.

Por fim, no caso dos FIIs, observar a qualidade e a localização dos imóveis, assim como o segmento de atuação dos fundos, são alguns dos pontos principais para montar uma carteira. Tudo isso afeta diretamente a vacância dos imóveis e, consequentemente, as receitas e distribuição dos resultados pelos fundos.

Quanto preciso investir para viver de dividendos

Se o seu objetivo é viver de dividendos, primeiro você precisa determinar qual o valor necessário para cobrir os seus gastos no futuro.

Digamos que o somatório da sua previdência privada e contribuições para o INSS lhe garantam uma renda de R$ 5 mil por mês na aposentadoria. Mas, para cobrir seus gastos e manter o padrão de vida, você precisa de R$ 10 mil. Nesse caso, precisará buscar a diferença em investimentos que lhe garantam dividendos, certo?

Para fazer essa conta, é necessário estimar qual rendimento aproximado a sua carteira terá nos próximos anos, descontada a inflação. É claro que a projeção não será certeira, pois muitos fatores que influenciam o mercado acontecerão até você se aposentar. Mas, de qualquer forma, você precisa partir de uma projeção, justamente para saber se será possível ou não viver de dividendos.

Dito isso, suponha uma inflação média de 5% ao ano e um DY médio de seus investimentos de 8% ao ano até você se aposentar. Isso significa que os ganhos reais da sua carteira de dividendos (rendimentos – inflação) serão de aproximadamente 3% ao ano.

Com isso, você já tem as informações necessárias para estimar quanto precisará investir para viver de dividendos:

  • renda anual desejada após a aposentadoria: R$ 120 mil (R$ 10 mil x 12 meses)
  • renda anual do INSS + previdência privada: R$ 60 mil
  • ganho real médio dos investimentos: 3% ao ano

Patrimônio necessário para viver de dividendos: R$ 60.000 / 0,03 = R$ 2.000.000

Ou seja, considerando as variáveis acima (inflação média de 5% ao ano, DY médio de 8% ao ano e ganhos reais médios de 3% ao ano), você precisará acumular um patrimônio de R$ 2 milhões para que possa viver de dividendos de acordo com as suas premissas.