O halving do Bitcoin, palavra que vem de “half” (metade em inglês) é o nome de um dos eventos mais importantes envolvendo a primeira criptomoeda do mundo, o (BTC).

Em maio de 2020, o número de bitcoins entrando em circulação a cada 10 minutos – “pagos” como recompensa por bloco minerado – caiu pela metade, de 12,5 BTC para 6,25 BTC. O evento acontece de forma programada no código da criptomoeda, e acontece a cada 210.000 blocos minerados, ou aproximadamente a cada quatro anos. Antes de 2020, ocorreu outras duas vezes – e o próximo está previsto para o final de abril de 2024.

A briga cada vez mais acirrada pela possibilidade de “ganhar” criptomoedas pelo processo de mineração é o que dá importância para o halving. O número de novos BTC entrando em circulação diminui, mas a demanda deve, em teoria, permanecer a mesma ou aumentar, possivelmente elevando o preço da moeda.

“A teoria é que haverá menos Bitcoin disponível para compra se os mineradores tiverem menos para vender”, disse Michael Dubrovsky, cofundador da PoWx, uma organização sem fins lucrativos que faz pesquisas sobre criptomoedas.

Mas o declínio periódico na taxa de produção de Bitcoin pode ter um significado mais profundo do que qualquer movimento de preços de curto prazo para o funcionamento da moeda. A recompensa em bloco é um componente importante do Bitcoin, pois garante a segurança de seu sistema, que não tem um controle central. À medida que as recompensas diminuem para zero nas próximas décadas, isso poderia desestabilizar os incentivos econômicos necessários para dar segurança ao Bitcoin.

Para aqueles que tentam entender esse assunto complexo, aqui está um guia do InfoMoney que explica tudo sobre o assunto.

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O que é o halving do Bitcoin?

Novos bitcoins entram em circulação como recompensas para blocos minerados, produzidos pelos esforços de “mineradores”, que usam equipamentos eletrônicos caros para ganhá-los, ou “minerá-los”.

Aproximadamente a cada quatro anos, o número total de bitcoins que os mineradores podem ganhar é reduzido pela metade. Em 2009, o sistema recompensava mineradores com 50 BTC a cada 10 minutos. Três halvings depois, a quantidade foi reduzida para 6,25 BTC a cada 10 minutos. Em 2024, cairá para 3,125 BTC.

O processo terminará quando o número de BTC em circulação atingir 21 milhões. Estima-se que isso ocorrerá em algum momento próximo ao ano de 2140.

Quem definiu esse sistema?

O criador do Bitcoin, o pseudônimo Satoshi Nakamoto, que pode ter sido um indivíduo ou uma equipe, desapareceu cerca de um ano após lançar o projeto. Então, Nakamoto não está mais por perto para explicar por que escolheu essa fórmula específica para colocar novas criptomoedas em circulação. Mas, os primeiros e-mails escritos por Nakamoto lançaram alguma luz sobre o pensamento da misteriosa figura (ou figuras).

Pouco depois de lançar o white paper (manual) do Bitcoin, Nakamoto resumiu as várias maneiras pelas quais sua política monetária escolhida (o cronograma pelo qual os mineradores recebem recompensas em bloco) poderia funcionar, ponderando as circunstâncias sob as quais essa política poderia levar à deflação (quando o poder de compra de uma moeda aumenta) ou à inflação (quando o poder de compra diminui).

Na época, Nakamoto não sabia quantas pessoas usariam o novo dinheiro digital (se é que alguém usaria). Uma das explicações dadas na época foi a seguinte: “As moedas precisam ser inicialmente distribuídas de alguma forma, e uma taxa constante parece ser a melhor fórmula”.

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Com a maioria das moedas emitidas pelo Estado, um banco central, como o BC, no Brasil, e o Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, tem ferramentas à sua disposição que permitem adicionar ou remover moedas fiduciárias de circulação. Se a economia brasileira “tropeçar”, por exemplo, o BC pode aumentar a circulação de reais e incentivar os empréstimos comprando títulos dos bancos. Alternativamente, se quiser remover reais, pode vender títulos de sua conta.

Para melhor ou pior, o Bitcoin é um pouco diferente. O cronograma de fornecimento está predefinido.

Ao contrário da política monetária de moedas emitidas por Estados, que se desdobra por meio de processos políticos e instituições humanas, a política monetária do Bitcoin é escrita em um código de computador. Mudá-lo exigiria um trabalho imenso e um consenso de toda a comunidade de usuários da criptomoeda.

“Ao contrário da maioria das moedas nacionais com as quais estamos familiarizados, como dólares ou euros, o Bitcoin foi projetado com uma oferta fixa e um cronograma de inflação previsível. Haverá apenas 21 milhões de unidades de BTC. Esse número predeterminado faz com que a moeda seja escassa, e é essa escassez, junto com sua utilidade, que influencia amplamente seu valor de mercado”, escreveu a empresa de serviços de criptomoedas Blockchain.com em seu blog antes do halving de 2016.

Outro aspecto único do Bitcoin é que Nakamoto programou a recompensa do bloco para diminuir ao longo do tempo. Essa é outra maneira pela qual o projeto se difere dos sistemas financeiros modernos, em que bancos centrais controlam a oferta de dinheiro. Em contraste com a recompensa do halving do Bitcoin, a oferta do dólar praticamente triplicou desde 2000.

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Nakamoto deixou pistas de que criou o Bitcoin por motivos políticos. O primeiro bloco da criptomoeda traz a imagem de uma manchete de 2019 do jornal britânico The Times: “The Times 03/Jan/2009 Chanceler à beira do segundo resgate aos bancos”.

Muitos passaram a interpretar essa declaração como um sinal das crenças e objetivos políticos de Nakamoto. Se amplamente adotado, o Bitcoin poderia potencialmente reduzir o poder que bancos e governos têm sobre a política monetária, incluindo resgates de instituições em dificuldades. Conforme mostrado com a recompensa por bloco minerado, nenhuma entidade central pode criar BTC fora de um estrito cronograma programado no código da criptomoeda.

Como o halving do Bitcoin pode influenciar o preço da criptomoeda?

Um halving chama atenção principalmente porque muitos acreditam que, após o evento, o Bitcoin aumenta de preço. A verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer. O Bitcoin passou por três halvings até agora, que podemos considerar como precedentes.

O halving de 2012 deu a primeira demonstração de como os mercados responderiam ao cronograma de fornecimento pouco ortodoxo de Nakamoto. Até então, a comunidade em torno do Bitcoin não sabia como um declínio repentino nas recompensas afetaria a rede. Como se viu, o preço começou a subir logo após o evento.

No segundo halving, em 16 de julho de 2016, o BTC caiu 10%, para US$ 610, mas depois se recuperou. Embora o impacto imediato no preço tenha sido pequeno, nos 365 dias seguintes após a redução da recompensa o BTC subiu 284%, batendo nos US$ 2.506. Alguns argumentam que o aumento foi o resultado atrasado do halving. A teoria é que quando a oferta de BTC diminui, a demanda permanece ou aumenta, elevando o preço.

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Olhando para o halving mais recente, em 2020, também podemos ver que o preço do BTC registrou um ótimo desempenho no ano seguinte ao evento. No período, a criptomoeda valorizou 559%.

Por que os mineradores recebem recompensas?

O Bitcoin não funcionaria sem recompensas por bloco. Existem duas partes para fazer o Bitcoin funcionar, disse o pesquisador independente pseudônimo Hasu para o site especializado CoinDesk. “O estado do livro-razão (sistema) do Bitcoin deve responder à pergunta ‘quem é o dono do que e desde quando?’”.

A primeira parte (“quem é dono do que?”) é resolvida por criptografia. Apenas o proprietário de uma chave privada (que é como um código de acesso secreto) pode gastar o Bitcoin.

“O segundo ponto (“desde quando?”) é o grande desafio e não havia sido resolvido antes do Bitcoin”, explicou Hasu. Sem essa solução, seria fácil para as pessoas “gastarem duas vezes” suas moedas, efetivamente criando dinheiro do nada.

Sem as recompensas por bloco, a rede estaria um caos. Hasu falou que se os mineradores tiverem poder de computação suficiente, eles podem atacar a rede de duas maneiras: gastando duas vezes as moedas ou interrompendo as transações. Mas, eles são fortemente incentivados a não tentar, porque correriam o risco de perder suas recompensas emitidas por bloco.

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“A teoria do jogo que protege o Bitcoin exige que a) os mineradores tenham um incentivo para minerar blocos de forma honesta, e b) os mineradores tenham um custo por serem desonestos”, disse Dubrovsky. Em outras palavras, os mineradores perderão dinheiro se não seguirem as regras.

Quanto mais mineradores direcionarem poder de computação para o Bitcoin, mais difícil será atacar a rede, porque um invasor precisaria ter uma parte significativa desse poder de processamento, conhecido como hashrate, para executar essa investida.

Quanto mais dinheiro eles podem ganhar por meio de recompensas em bloco, mais poder de mineração vai para o Bitcoin e, portanto, mais protegida é a rede.

O que acontece quando as recompensas em bloco ficam muito pequenas ou desaparecem?

Os mineradores precisam de um incentivo para fazer o que fazem. Eles precisam ser pagos. Afinal, eles não estão executando computadores caros e consumindo eletricidade por nada.

Mas, a consequência do declínio nas recompensas por bloco é que, eventualmente, elas serão reduzidas para zero. As taxas de transação, que os usuários pagam cada vez que enviam uma transação, são a outra maneira pela qual os mineradores ganham dinheiro.

Teoricamente, essas taxas são opcionais, mas, na prática, uma transação sem pagamento adequado pode ter que esperar muito tempo para ser processada se a rede estiver congestionada. O tamanho da taxa é definido pelo usuário ou pelo software da carteira onde o usuário guarda as criptomoedas.

Espera-se que essas tarifas pagas por usuários se tornem uma fonte de remuneração mais importante para os mineradores à medida que a recompensa por bloco cai.

“Em algumas décadas, quando a recompensa ficar muito pequena, a taxa de transação se tornará a principal compensação para os nós (participantes da rede). Tenho certeza de que em 20 anos haverá um volume de transações muito grande ou nenhum volume”, escreveu Nakamoto.

Alguns pesquisadores do Bitcoin dizem que existe a chance de as taxas de transação não serem suficientes. Se isso ocorrer, as transações precisarão ficar mais caras ao longo do tempo para que a rede possa se manter segura.

“O sistema não pode realmente funcionar sem custos de transação muito caros porque o Bitcoin não pode processar grandes quantidades de transações na rede”, disse Dubrovsky.

E, como discutido acima, são as recompensas de mineração que atraem mais poder de computação para o Bitcoin, protegendo-o contra possíveis ataques que tentam burlar as regras da rede. Não está claro se uma futura recompensa menor por bloco atrairá os mineradores da mesma maneira, mesmo quando complementada com taxas.

“Não acho que o último halving tornou o Bitcoin significativamente menos seguro, mas, em oito ou 12 anos, podemos nos encontrar em apuros”, disse Hasu.

Parte do problema é que, mais de uma década após o nascimento do Bitcoin, o mercado ainda está descobrindo o verdadeiro custo de proteger a rede contra invasores.

“Ninguém sabe o nível correto de segurança necessário para manter o Bitcoin seguro. Atualmente, o BTC paga algo como US$ 5 bilhões por ano e não há ataques bem-sucedidos; no entanto, ainda não se sabe se o valor é adequado. O Bitcoin pode estar pagando demais. Para realmente descobrir o nível mínimo de segurança necessário para evitar ataques, as recompensas de mineração precisariam ser reduzidas até o ponto em que os ataques comecem a acontecer, e depois devem ser aumentadas até que os ataques parem”, argumentou Dubrovsky.

“É claro que isso seria catastrófico para o Bitcoin, mas pode realmente chegar a algum tipo de cenário como esse se as recompensas diminuírem e a comunidade em torno da criptomoeda não fizer nada a respeito”, acrescentou.

Hasu disse que “espera” que as taxas de transação sejam suficientes para incentivar a segurança do Bitcoin no final, mas ele acha que vale a pena se preparar para o pior cenário.

“Deve ficar claro que o incentivo para atacar o Bitcoin hoje é maior do que há cinco anos. Agora temos líderes mundiais falando criticamente sobre isso. Quanto mais o Bitcoin cresce, mais eles podem vê-lo como uma ameaça e podem eventualmente se sentir forçados a reagir. Esse seria o pior caso, de qualquer maneira”, disse Hasu.

Apesar de parecer um assunto distante, é interessante refletir sobre essa questão e pensar nas perspectivas futuras da criptomoeda. “É impossível prever o que acontecerá, mas se queremos um sistema que possa durar 100 anos, devemos estar prontos para o pior cenário”, disse Hasu. “O pior cenário é que a demanda por espaço de bloco não aumente de maneira adequada. Como resultado, as recompensas em bloco acabariam tendendo a zero.”