Nos últimos anos, três letras têm ganhado destaque no mundo dos negócios e dos investimentos: ESG. Cada vez mais presente em discursos corporativos, decisões financeiras e na estratégia de grandes empresas, o termo se tornou um dos pilares da sustentabilidade empresarial e um critério essencial para investidores que buscam mais do que retorno financeiro. Mas afinal, o que significa ESG e por que ele se tornou tão relevante?
Muito além de uma tendência passageira, o ESG reflete uma transformação na forma como empresas são avaliadas e geridas. A pressão por transparência, responsabilidade social e práticas sustentáveis cresce em ritmo acelerado, impulsionada por consumidores, acionistas e reguladores. Ignorar essa realidade pode representar um risco significativo para negócios que desejam se manter competitivos. Antes de entender como essa sigla impacta o mercado, é fundamental conhecer seu significado e os pilares que a sustentam.
O que é ESG?
ESG é a sigla para Environmental, Social and Governance (ambiental, social e governança), e se refere a um conjunto de práticas que avaliam o comprometimento de determinado ente – empresas, instituições financeiras ou mesmo o governo – em relação à sustentabilidade de suas ações.
O termo foi utilizado pela primeira vez em 2004, em um relatório publicado pela ONU chamado Who Cares Wins – na tradução literal, “quem se importa, ganha”. O documento teria surgido de uma provocação do ex-secretário geral da entidade, Kofi Anan, quando falava a diversos CEOs de instituições financeiras sobre a necessidade de se adotar práticas de sustentabilidade no mercado financeiro.
Existem, inclusive, profissões diretamente associadas ao ESG, como engenheiros ambientais e analistas de sustentabilidade e de impacto social. E mesmo profissões mais tradicionais estão sendo impactadas por essas demandas, segundo Paula Batich, coordenadora da pós-graduação ESG do Senac.
“Profissionais de finanças, gestão de RH, marketing e logística, por exemplo, são algumas das áreas em que esses conhecimentos de ESG têm se tornado especialmente relevantes”, disse Paula em entrevista ao Estadão.
Pilares do ESG
Cada letra da sigla representa um dos três pilares ou dimensões do ESG. Existem organizações que dão foco a um ou outro especificamente, e outras que desenvolvem os três aspectos em conjunto.
Veja como cada um deles funciona na prática:
Environmental (pilar ambiental)
Essa dimensão do ESG se refere à postura da empresa em relação ao cuidado e preservação dos recursos naturais e do meio-ambiente de forma geral.
Entre as boas práticas ambientais, podemos destacar:
- utilização de energias renováveis, como solar ou eólica, no lugar de combustíveis fósseis;
- sistemas de controle de emissão de gases poluentes;
- reciclagem e descarte adequado do lixo e reutilização de materiais sempre que possível;
- sistema eficaz de controle de resíduos, a fim de evitar a poluição do ar, água e solo;
- utilização racional de matéria-prima, de forma a evitar o desperdício e o desmatamento.
Social (pilar social)
Já os critérios sociais estão associados à forma como a empresa lida com todas as pessoas que, de alguma maneira, fazem parte do seu ecossistema. Isso se refere tanto ao ambiente interno, diretamente ligado à operação, quanto ao externo, considerando os impactos que a organização exerce na sociedade.
Alguns exemplos do pilar social:
- respeito às leis trabalhistas;
- políticas de bem estar e de segurança para os funcionários;
- promoção e defesa da diversidade no quadro de pessoal;
- remuneração adequada;
- preocupação com a experiência dos clientes;
- ações voltadas às famílias dos funcionários e à comunidade;
- engajamento em causas sociais e beneficentes;
- parcerias com ONGs que possam ajudar a promover o bem estar social.
Governance (pilar de governança)
Por fim, o último dos critérios ESG diz respeito aos valores da empresa e a todas as ações que ela promove para garantir a idoneidade e transparência de suas atividades.
Entre as ações de governança, podemos destacar:
- plano de carreira claro, que demonstre ao funcionário onde ele pode chegar e quanto pode ganhar;
- contabilidade organizada e, preferencialmente, auditada;
- cumprimento das obrigações fiscais e trabalhistas;
- divulgação de fatos relevantes sempre que necessário, para que toda a sociedade tome conhecimento do que se passa na empresa;
- criação de canais de denúncias sobre discriminação e assédio.
O pilar de governança está diretamente ligado ao social e ambiental, pois é ele que fiscaliza as práticas de ambos.
Stakeholders e a relação com o ESG
O próprio conceito de ESG deixa claro que as empresas são estruturas vivas. Por isso, o que elas fazem acaba influenciando a vida de pessoas direta e indiretamente ligadas à operação em si.
Essas pessoas são os stakeholders – ou “partes interessadas”, na tradução literal. Entre elas, estão os colaboradores, sócios, clientes, fornecedores e todos os grupos que, de alguma forma, sentem o impacto das políticas e ações da organização.
Quando se fala em ESG, a gestão dos stakeholders toma mais importância ainda. Quando engajados, esses grupos podem ser os maiores defensores de uma empresa. Já quando quando se sentem prejudicados ou não concordam com o posicionamento da organização frente a temas sensíveis, também podem ser os seus maiores críticos.
Por isso, para que um negócio possa ser sustentável no longo prazo, ele precisa estar atento às expectativas e interesses de todas as partes envolvidas. Além disso, a empresa deve ser sempre transparente na comunicação de ações que possam impactar os stakeholders de alguma forma.
Da palavra, surgiu a expressão “capitalismo de stakeholder”, popularizada por Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial. Essa forma de capitalismo é baseada nos mesmos preceitos do ESG, pois direciona a atenção das empresas para questões sociais e ambientais. Em outras palavras, as organizações não se prendem somente aos interesses dos acionistas, pois também é seu papel atender aos anseios da sociedade.
Importância do ESG para as empresas
Por tudo o que vimos até aqui, já deu para entender que os preceitos ESG abrangem uma grande variedade de aspectos que influenciam as relações humanas. Em relação ao universo empresarial, podemos destacar alguns aspectos importantes que trazem vantagens competitivas ao negócio. Acompanhe.
1. Otimização do processo produtivo
Estabelecer políticas voltadas ao meio ambiente pode trazer ganhos significativos para a atividade em si. Reciclagem de lixo, gestão de resíduos, utilização de fontes limpas de energia: tudo isso traz redução de custos e se reflete positivamente no processo produtivo.
2. Melhoria das relações com stakeholders
Na visão ESG, os resultados da empresa devem beneficiar não só o acionista, mas todas as partes que, de alguma forma, são impactadas pela sua atividade. Se a organização consegue estabelecer relações nas quais todos ganham, isso gera confiança mútua e se reflete positivamente em diversos espectros sociais.
3. Fortalecimento da gestão
Quando a empresa não possui um bom modelo de governança corporativa, fica muito mais exposta a erros dos administradores, a conflitos de interesses e, dependendo da estrutura societária, à interferência familiar em muitos casos. Por outro lado, processos de gestão públicos e padronizados profissionalizam e fortalecem a condução do negócio ao longo dos anos.
4. Maior controle de riscos
Em maior ou menor grau, toda atividade está sujeita a algum risco. Mas existem variáveis que a empresa pode controlar para evitar prejuízos à operação.
Por exemplo, organizações que respeitam leis trabalhistas, cumprem obrigações fiscais e possuem processos eficientes de cuidado ambiental estão bem menos sujeitas a eventuais problemas com a Justiça – o que reduz bastante os riscos de prejuízos que possam ocorrer em virtude de multas ou processos judiciais futuros.
5. Melhoria da imagem da empresa
Se a organização trabalha bem todos os aspectos anteriores, tem boas chances de construir uma marca forte e sustentá-la ao longo do tempo. Cria-se, assim, uma imagem positiva junto à sociedade e ao mercado como um todo.
O perigo do greenwashing no ESG
A agenda ESG tem crescido no mundo todo, seja por pressão da sociedade ou de investidores preocupados com o futuro dos negócios. Com isso, muitas organizações buscam tirar proveito dessa tendência se apresentando como sustentáveis, mesmo sem atender aos critérios necessários.
Essa prática é conhecida como greenwashing – ou “lavagem verde”, na tradução. A expressão se aplica a empresas que tentam enganar o público criando uma falsa imagem de sustentabilidade.
Na prática, o greenwashing pode ocorrer de diversas formas. A empresa pode, por exemplo, falsificar selos ambientais e rótulos dos seus produtos, omitir determinados componentes nocivos de seus rótulos, ou até divulgar falsas ações ESG somente para ser reconhecida pela sociedade.
O greenwashing é um forte inimigo do ESG, pois abala a confiança do mercado nos preceitos de sustentabilidade. Quando ocorrem escândalos corporativos, denúncias trabalhistas ou desastres ambientais com empresas ditas ESG, isso acaba afetando também as organizações comprometidas com a causa.