O dinheiro, principalmente aquele usado no dia a dia, geralmente fica armazenado em carteiras, cartões de débito e, mais recentemente, em e-wallets, como a Apple Pay e o Google Pay. O universo das moedas digitais funciona da mesma maneira. Para guardar Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH), Litecoin (LTC) ou outro criptoativo qualquer, é preciso usar carteiras de criptomoedas.  

Neste guia, o InfoMoney explica como funcionam as wallets, na tradução para o inglês. Revela também como protegê-las, por que são importantes e como escolher uma.

O que é uma carteira de criptomoedas?

Quando uma pessoa transfere criptomoedas para outra, esses ativos ficam guardados na blockchain. A blockchain é o famoso banco de dados descentralizado que nasceu com o Bitcoin (BTC) no final de 2008.

As carteiras são os softwares e os dispositivos físicos que dão aos usuários acesso a esses ativos digitais armazenados nesse sistema. Além disso, elas também permitem o envio de moedas digitais sem a necessidade de intermediários.

Na prática, as wallets são semelhantes a contas bancárias, mas com uma grande diferença: é o dono da carteira o responsável pela posse e segurança de seus ativos, não o banco. 

Como funciona?

À primeira vista, o funcionamento de uma carteira de criptomoeda parece complexo. No entanto, ao comparar a tecnologia com serviços mais conhecidos, como transferência bancária e envio de e-mail, fica mais fácil entender. Veja abaixo:

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Depois que uma carteira é criada, imediatamente é gerada uma “seed” (semente, em português). Essa seed é uma sequência de 12 a 24 palavras (em inglês), que funciona como uma senha de recuperação de sistema. Guarde bem e não mostre para ninguém. Se perder, dê adeus aos seus fundos.

Logo após a criação da seed, a carteira libera uma chave privada, uma chave pública e um endereço. A chave privada é como a senha de sua conta bancária. Não se deve passá-la para ninguém, pois é por meio dela que se tem acesso às criptomoedas.

A chave pública, por sua vez, é como sua conta bancária. Suas criptomoedas ficam guardadas nela, e só podem ser liberadas com a chave privada. Como é pública, qualquer um pode ver, mas ninguém pode movimentar os fundos dela.

Por fim, o endereço é como o número da sua conta no banco – ou pode ser comparado também com seu PIX. É esse endereço, derivado da chave pública, que deve ser informado em transferências de criptomoedas. Ele é basicamente uma sequência alfanumérica como esta aqui: 1G2bAat5x1HUXrCPQbtMDqcw7o5MNn5owX.  

É possível também fazer uma analogia com o envio de e-mails:

Para enviar uma mensagem para alguém, você precisa entrar em seu serviço de e-mail – como Gmail ou Yahoo, por exemplo -, digitar sua senha, escrever a mensagem e colocar o endereço do destinatário, certo? 

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No caso das criptomoedas, a chave privada é a senha do e-mail. A pública, por sua vez, é a conta de e-mail (Gmail, Yahoo etc). Por fim, o endereço da carteira de criptomoedas é o endereço do e-mail – fulano@gmail.com.

Todo esse mecanismo de chaves e endereços é baseado em criptografia, técnica que consiste na troca de mensagens protegidas entre duas ou mais partes.

Tipos de “wallets”

Há vários tipos de wallets no mercado, com “sabores” e formatos diferentes. No geral, no entanto, os modelos disponíveis podem ser divididos em dois grandes grupos: hot wallets (carteiras quentes) e cold wallets (carteiras frias).

Veja a seguir as diferenças entre elas.

Hot wallet

As hot wallets são aquelas carteiras conectadas à Internet. Elas são mais práticas que as cold wallets, mas costumam ser mais vulneráveis a ataques virtuais. Há versões para mobile, web e desktop.

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Mobile

São carteiras de criptomoedas que podem ser baixadas em lojas de aplicativos de celular, como o Google Play e a Apple Store. Para quem quer fazer compras em estabelecimento que aceitam Bitcoin e altcoins, elas são uma “mão na roda”.

Apesar da praticidade, essas wallets são mais vulneráveis a programas maliciosos, visto que estão online. O Brasil também sofre com uma “epidemia” de roubos de celular. Por isso, manter todas as criptomoedas em uma mobile wallet é ainda mais arriscado por aqui.

Alguns exemplos de mobile wallets são Coinomi, Trust Wallet e Exodus.

Web

As carteiras quentes para web são aquelas que podem ser acessadas pelo próprio navegador. O usuário só precisa entrar na página da wallet e inserir dados como login e senha para movimentar suas criptomoedas.

Assim como as mobile wallet, elas são práticas. Porém, como sempre estão conectadas à internet, também são mais suscetíveis a ataques de hackers.

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As duas web wallet mais conhecidas são a MetaMask e a Blockchain.com. 

Desktop

As carteiras para desktop são programas que podem ser baixados e instalados no próprio HD do computador. Diferente do que ocorre com as web e mobile wallets, nesse tipo de carteira as informações do usuário ficam armazenadas no PC, e não na internet.

No geral, elas são mais seguras que as carteiras de criptomoedas para mobile e para web. No entanto, o usuário precisa ser cuidadoso e manter o equipamento longe de malwares, vírus e outros.

Dois exemplos são a Electrum e a Exodus.

Cold wallets

As carteiras frias de criptomoedas são aquelas que não estão ligadas à rede mundial de computadores. Por ficarem fora da web, geralmente são mais seguras. Há dois principais tipos.

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Hardware wallet

As hardware wallets são dispositivos físicos em que é possível armazenar criptomoedas. Elas são pequenas e muito semelhantes a pen drives.

Por não estarem conectadas à Internet, são mais seguras que as hot wallets. Por outro lado, não são nada práticas, em especial para aqueles que precisam usar criptomoedas no dia a dia.

As principais hardware wallets do mercado são das marcas Ledger e Trezor.

Paper wallet

É basicamente um pedaço de papel impresso com as chaves privada e pública. Há programas, como o BitAddress, em que é possível gerar uma paper wallet.

Por serem físicas, são mais seguras que as hot wallets. No entanto, também oferecem riscos, tanto virtuais como físicos.

O computador da pessoa pode, por exemplo, estar infectado com algum vírus no momento da criação da carteira. Ou, ainda, a tinta utilizada na impressão pode se desgastar com o tempo, fazendo com que as informações se apaguem.

Qual a diferença entre uma wallet e uma exchange?

Umas das máximas difundidas no universo das criptomoedas, principalmente entre os investidores mais antigos, é a seguinte: “Exchange não é wallet”. E a afirmação é verdadeira.

Uma wallet é um software ou um dispositivo em que é possível guardar as informações que dão acesso às criptomoedas armazenadas na blockchain. Ou seja, é nela que ficam as chaves privadas e públicas, bem como os endereços.

Uma exchange, por outro lado, é uma plataforma que permite negociações com criptomoedas, não uma wallet. É possível deixar as criptomoedas nelas, claro, mas nesse caso suas chaves pública e privada ficam em posse da corretora. Portanto, é ela que faz a custódia dos seus ativos.

Deixar as criptomoedas em uma wallet ou na exchange?

Muitos investidores de criptomoedas se perguntam se é melhor deixar as criptomoedas em wallets ou em exchanges. As duas possibilidades têm lados positivos e negativos.

O lado negativo de se deixar em corretoras é que elas, por movimentarem muitas criptomoedas, são visadas por hackers. No mundo, há diversos casos de exchanges que perderam os ativos dos investidores.

Em outubro de 2021, a corretora Coinbase, uma das maiores do mundo, revelou que hackers roubaram criptomoedas de pelo menos 6 mil clientes. Segundo a empresa, terceiros não autorizados exploraram uma falha em um processo de recuperação de conta da companhia para obter acesso às contas das vítimas e transferir recursos.

No entanto, por serem visadas por criminosos virtuais, as corretoras costumam investir pesado em segurança. No Brasil, desconsiderando os golpes disfarçados de exchanges, não há casos sérios de hacks.

Além disso, mesmo que o mercado de criptomoedas não seja regulamentado, boa parte das corretoras brasileiras ou com operação por aqui costuma andar conforme manda a legislação. Portanto, se ocorrer algum problema, como fraude ou falência, o usuário pode recorrer à Justiça. No caso de possíveis problemas com wallets, seria um pouco mais complicado pedir apoio judiciário.

Já o lado positivo de usar wallets é a possibilidade de virar seu próprio banco. O usuário passa, portanto, a ficar responsável por cuidar de suas criptomoedas e fazer os cálculos das taxas de transferências. Também não precisa pagar as taxas geralmente cobradas pelas corretoras. Tem ainda mais segurança, desde que tome as devidas precauções contra vírus e programas maliciosos.

Apesar de a autonomia gerada pelo uso de wallets ser vista por alguns como positiva, outros a veem como um problema. Isso porque não é todo mundo que tem tempo ou vontade de entender os pormenores do mercado de criptomoedas. Nesse caso, manter as moedas nas corretoras pode fazer mais sentido.

Qual carteira de criptomoedas escolher

A escolha do tipo de carteira de criptomoeda vai depender do objetivo.

Dia a dia – Se a ideia é usar suas criptomoedas no dia a dia para comprar cafezinho em alguma padaria ou pagar contas, por exemplo, o ideal é mantê-las em mobile wallets. Elas são práticas e funcionam quase como carteiras usadas para guardar dinheiro de papel.

Longo prazo – Já se você tem um patrimônio “gordo” em criptomoedas, e planeja segurar os ativos por muito tempo, uma boa pedida é colocá-las em hardware wallets, pois são mais seguras. Para proteger ainda mais o patrimônio cripto, uma possibilidade seria guardar o dispositivo em um cofre.

Custódia – Por fim, se você não quer ser o responsável por custodiar e cuidar de seus ativos, vale deixar as criptomoedas nas corretoras. Nesse caso, é importante analisar se a exchange é séria, e não um golpe.

Como fazer uma análise de risco de uma carteira de criptomoedas

Antes de escolher uma carteira de criptomoeda, é preciso pesquisar a fundo sobre ela. Os pontos abaixo devem ser levados em consideração.

Reputação – É importante verificar se a carteira e as pessoas por trás dela são sérias. Redes sociais, sites de notícias, opiniões publicadas em lojas de aplicativos são ótimas fontes. É interessante também conversar com outros usuários.

Tipos de criptomoedas suportadas – Algumas carteiras dão suporte para poucas criptomoedas, enquanto outras dão para várias. Se você pretende ter diferentes tipos de ativos, opte por aquelas wallets que aceitam as moedas de seu portfólio.

Facilidade de uso – Algumas carteiras de criptomoedas têm melhor usabilidade do que outras. Analise as opiniões de outros usuários a respeito desse aspecto. Uma boa alternativa também é testar várias delas e verificar qual você prefere.

Segurança – Antes de escolher a carteira, vale a pena entrar no site de cada uma e analisar quais são as medidas de segurança oferecidas. Há autenticação de dois fatores (2FA, na sigla em inglês)? Há biometria? Quanto mais níveis de segurança, melhor.

Importância de fazer uma carteira de criptomoedas

Quando Satoshi Nakamoto lançou o white paper (guia) do Bitcoin no final de 2008, a ideia dele – ou deles – era que os usuários pudessem enviar BTC um para o outro sem a necessidade de intermediários.

Além disso, a figura mítica por trás da primeira criptomoeda do mundo queria que os usuários começassem a administrar seus próprios fundos, não mais os bancos.

Uma carteira de criptomoeda é importante, portanto, porque dá ao usuário a possibilidade de virar seu “próprio” banco e ter autonomia sobre suas próprias finanças.

Por se valer de criptografia, a wallet também protege o patrimônio em criptomoeda. No entanto, o usuário também precisa fazer a lição de casa e ter cuidado com investidas de hackers e programas maliciosos.  

Vantagens e desvantagens das wallets

Cada tipo de carteira de criptomoedas tem suas vantagens e desvantagens.

A praticidade é a principal vantagem das hot wallets. Uma carteira para smartphone, por exemplo, facilita a vida de quem quer usar criptomoedas para pagamentos do dia a dia. A desvantagem desse grupo reside no fato de elas estarem conectadas à Internet, o que as deixa mais vulneráveis a ataques virtuais.

Já as carteiras frias são mais seguras porque não estão online. Uma hardware wallet, que é bem parecida com um pen drive, é a mais recomendada para quem precisa guardar grandes quantidade de ativos digitais por bastante tempo. A desvantagem desse grupo é a falta de praticidade.

Como proteger sua carteira de criptomoedas?

Usuários que optam por gerenciar seus próprios fundos em carteiras precisam ter cuidados com segurança. Abaixo há algumas dicas. Parte delas foi sugerida pelo site Bitcoin.org, criado pelos desenvolvedores envolvidos no BTC. As recomendações valem, no entanto, para carteiras que suportam outras criptomoedas também.

Proteção – Você precisa guardar sua seed a setes chaves. Isso porque se alguém tiver acesso ela, terá acesso a seus fundos. Portanto, é ideal colocá-la em um local seguro (não vale tirar um print e deixar o arquivo na galeria do celular). Mas cuidado para não guardar muito bem e esquecer onde colocou.

Se você não encontrar mais a seed, infelizmente terá que dar adeus aos seus fundos. Não existe um serviço de recuperação de senhas no mercado de criptomoedas. Estima-se que 20% dos 18,8 milhões de BTC minerados (emitidos) estejam perdidos por causa de perda de informações de acesso. Em dólar, o valor é algo em torno de US$ 216 bilhões.

Distribuição – Não deixe grandes quantidades de criptomoedas em apenas uma carteira. “Se você não deixaria 1.000 dólares em seu bolso, talvez você deva ter a mesma consideração com a sua carteira de Bitcoin”, disse o Bitcoin.org.

Backup – Faça backups da wallet com frequência. Dessa forma, é possível se proteger contra possíveis falhas, sejam humanas ou virtuais. As carteiras têm procedimento diferentes, mas no geral oferecem opção de backup dentro da própria plataforma.

Atualização – É ideal manter a sua carteira de criptomoedas com a última versão do software. Essas atualizações costumam corrigir possíveis problemas, dando um “upgrade” nos processos de segurança.