Entre as diversas estratégias de investimentos que envolvem o mercado internacional, uma das mais conhecidas é o carry trade. Utilizado normalmente por grandes investidores, o mecanismo busca lucrar com a diferença entre as taxas de juros de um país para outro. 

Teoricamente, a estratégia é simples, e pode proporcionar um bom retorno em cenários sem grandes sobressaltos. Porém, em períodos de volatilidade, além de gerarem expressivas perdas, essas operações podem impactar o mercado cambial e mexer com as principais bolsas do mundo.

A seguir, falaremos sobre o que é e como funciona o carry trade, o que se deve considerar ao avaliar essa prática e demais aspectos relevantes sobre o tema.

O que é carry trade?

Carry trade nada mais é do que tomar dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos e investir em outro que ofereça taxas mais altas. O lucro desse tipo de operação vem justamente do diferencial de taxas entre o investimento e o empréstimo.

Esse mecanismo envolve, essencialmente, dois conceitos: a alavancagem e a arbitragem.

Ou seja, esse mecanismo pode envolver o uso de alavancagem, onde o investidor utiliza capital emprestado para aumentar os retornos. Embora a arbitragem possa estar presente em algumas operações financeiras, o carry trade em si se baseia principalmente na exploração do diferencial de juros entre dois países.

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Na prática, a alavancagem financeira acontece quando o investidor movimenta recursos que não são seus para obter ganhos – exatamente como acontece no carry trade. Por sua vez, a arbitragem se dá quando ele faz o investimento em um mercado diferente daquele em que tomou emprestado os recursos, para receber juros acima dos que deverá pagar ao final do empréstimo.

Exemplo

Para ilustrar o carry trade, normalmente o iene é uma das primeiras moedas a serem lembradas como origem dos recursos, devido ao histórico de juros baixos no Japão. Suponha que um investidor tenha tomado emprestado 100.000 ienes japoneses a juros de 0,25% ao ano, e adquirido Treasuries (títulos do tesouro americano) com vencimento em um ano e que pagam 5% ao ano. 

Passado um ano, se a taxa de câmbio entre o iene e o dólar se mantiver estável, o investidor receberá 105.000 ienes pelos Treasuries e terá que devolver 100.250 ienes que tomou emprestado. Sem considerar taxas de fechamento de câmbio e tributação, o lucro da operação foi de 4.750 ienes.

Como funciona o carry trade?

Dependendo do tipo de ativo financeiro, volume investido, prazo e outras peculiaridades, cada operação poderá ser mais ou menos complexa. Mas, de forma geral, a lógica do carry trade segue três passos. 

O primeiro é identificar um par de moedas que ofereça um diferencial de juros atrativos. Como vimos, o iene é uma das divisas mais utilizadas para a operação, pelo retrospecto de juros baixos.

Definida a origem e o destino dos recursos, o segundo passo é montar a posição alavancada. Ou seja, tomar dinheiro na moeda com taxa de juros menor e investir no mercado que oferece juros maiores.

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Por fim, com os ativos escolhidos já na carteira, cabe ao investidor manter sua posição até quando decidir realizar os lucros, ou enquanto os juros estiverem favoráveis. No exemplo anterior, falamos sobre os Treasuries, mas é possível fazer carry trade com ações ou outros títulos do mercado.

O que avaliar no carry trade?

O diferencial de juros é a premissa básica de ganho no carry trade, mas esse não é o único aspecto que precisa ser avaliado nesse tipo de operação. Isso porque diversos outros aspectos podem afetar a estratégia, sobre os quais não temos ingerência, pois não há como prever muitas das movimentações do mercado.

Veja a seguir alguns exemplos.

Volatilidade do câmbio

No exemplo que vimos anteriormente, consideramos que o iene e o dólar se mantiveram estáveis durante o período do investimento. 

Agora imagine que, em vez dos EUA, o investidor tivesse escolhido um país para ganhar 10% ao ano ou mais – como o Brasil, por exemplo. Nesse caso, a operação estaria exposta a uma volatilidade cambial bem maior, típica de países emergentes. 

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Logo, no carry trade, é importante avaliar a volatilidade histórica das moedas envolvidas. Para o investidor, não basta somente um diferencial de juros interessante, pois uma variação cambial expressiva pode não apenas sacrificar todo o ganho, mas também amplificar as perdas, especialmente devido ao uso de alavancagem, tornando a operação de carry trade ainda mais arriscada.

Aspectos macroeconômicos

Outro ponto que precisa ser avaliado na estratégia é o comportamento de alguns indicadores macroeconômicos.

Por exemplo, um país com inflação sob controle, PIB em crescimento e contas públicas equilibradas oferece mais segurança ao investidor. Nesse caso, mesmo que o diferencial de juros seja menor do que em países de economias mais instáveis, pode valer a pena fazer o carry trade, se considerarmos o risco da operação.

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Liquidez das moedas negociadas

A liquidez é um aspecto importante em qualquer investimento. No carry trade, ela ganha mais relevância, pois o investidor precisa ter facilidade para entrar e sair da estratégia, de acordo com as mudanças do mercado.

Moedas como o dólar americano, o iene e o euro oferecem alta liquidez, facilitando a entrada e saída de posições de carry trade, embora mesmo essas moedas possam enfrentar desafios de liquidez em situações de crise.

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Quais os riscos do carry trade?

Vários fatores podem impactar negativamente o resultado do carry trade, desde a reversão de variáveis macroeconômicas até eventos geopolíticos. Confira alguns exemplos.

Mudança nas taxas de juros

Como vimos, o Japão manteve as taxas de juros baixas por muito tempo. Isso fez com que o país se tornasse uma das principais fontes de dinheiro barato no mundo ao longo dos anos.

Em agosto de 2024, o banco central japonês aumentou a taxa de juros de 0,1% para 0,25% ao ano – que pode parecer pouco para quem convive com juros de dois dígitos. Porém, a diferença foi o suficiente para sacudir o mercado financeiro mundial, dado o volume de operações dessa natureza especulativa.

Piora nos indicadores de economias fortes

Ao mesmo tempo que o Japão subiu os juros, alguns indicadores dos EUA assustaram o mercado. Para alguns especialistas, os alertas no mercado de trabalho americano poderiam sugerir uma desaceleração econômica do país.

Além disso, lucros abaixo do esperado das empresas de tecnologia também influenciaram vários investidores internacionais a desmontar posições de carry trade.

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Como observa Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, ver Warren Buffett vendendo 50% de sua posição em Apple é mais um fator de preocupação para um mercado já nervoso.

“A Berkshire Hathaway aumentando sua reserva de caixa para quase US$ 280 bilhões fez com que muita gente pensasse: ‘afinal, o que Buffett está vendo que eu não estou’, alertou Ferreira.

Eventos geopolíticos

Existem eventos que, embora não sejam diretamente ligados à economia, aumentam a instabilidade do mercado. 

Um exemplo disso é o aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio envolvendo Irã e Israel que, segundo Ferreira, também pode ter contribuído para a volatilidade cambial e das principais bolsas do mundo.