Bond é a denominação genérica para títulos de renda fixa negociados no exterior, tanto públicos como privados. Representam uma possibilidade grande de diversificação para investidores acostumados a aplicar somente em ativos brasileiros. Está cada vez mais fácil ter acesso a papéis internacionais.

A palavra em inglês bond significa “obrigação”, entre outros sentidos. Um governo ou uma empresa tomam dinheiro emprestado no mercado e assumem a “obrigação” de restituir o valor em determinado prazo e com o acréscimo de juros. O bond, grosso modo, comprova a obrigação que seu emissor tem com quem o comprou, ou seja, o investidor.

Bond significa ‘obrigação’: obrigação de devolver o dinheiro”, reforça o professor de Economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo (FGV), Alberto Ajzental.

O que são Bonds?

Bonds são como os títulos de dívida existentes no mercado brasileiro. Por exemplo, os títulos públicos disponíveis no Tesouro Direto e as debêntures emitidas por empresas.

O termo designa não só papéis emitidos por empresas e governos estrangeiros, mas títulos lançados por companhias do Brasil e pelo Tesouro do País no exterior, geralmente denominados em dólar. Podem ser precificados em outras moedas também.

Assim como em papéis locais, os investidores brasileiros podem aplicar dinheiro em títulos internacionais. É uma forma bastante eficaz de diversificar o portfólio, pois o mercado internacional expande consideravelmente o universo de opções de investimentos.

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De acordo com levantamento de analistas da XP, o estoque de bonds (títulos soberanos e corporativos) nos Estados Unidos em 2021 era de US$ 32,6 milhões (R$ 169,7 trilhões pelo câmbio atual). No mesmo período, no Brasil, o total acumulado em papéis semelhantes era de apenas R$ 6,3 trilhões.

Na mesma pesquisa, os analistas mostram que o volume médio de bonds corporativos negociados no mercado secundário nos EUA em 2021 foi equivalente a R$ 200 bilhões por dia. No Brasil, na mesma época, a negociação diária média era de R$ 1,6 bilhão, levando-se em consideração debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).

Isto mostra que o mercado americano, além de ser muito maior, é extremamente mais líquido. Ou seja, é potencialmente mais fácil e vantajoso vender títulos de renda fixa no mercado secundário lá do que é aqui, sem ter que esperar pela data de vencimento do papel.

Como funcionam?

A dinâmica dos bonds é semelhante à dos títulos de renda fixa do Brasil. Um governo precisa de recursos para financiar a dívida pública, ou uma empresa quer levantar dinheiro para realizar investimentos, então emitem papéis no mercado, que são comprados por investidores, com determinado prazo de pagamento, acrescido de juros.

O tamanho dos juros é determinado pelo risco de crédito, ou seja, a qualidade do emissor neste quesito. Quanto maior a possibilidade de calote, maiores as taxas. As agências internacionais de classificação de risco, como Moody’s, Fitch e S&P, atribuem notas aos papéis de empresas e governos, que se enquadram em “grau de investimento” (mais seguros), “grau especulativo”, “vulnerabilidade” e até “default” (calote). O prazo é outro fator de precificação.

Os títulos do Tesouro americano, ou Treasuries, são considerados não só os bonds de menor risco, como os investimentos mais seguros do mundo. Este guia trata destes papéis em especial. São eles que vão servir de patamar para as emissões privadas.

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“Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos são ativos livres de risco e utilizados para precificar os papéis privados”, observa a diretora de Relações com Empresas e Eventos da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercados de Capitais (Apimec), Mara Limonge.

Neste sentido, se uma empresa quer lançar bonds no mercado internacional, terá que pagar a remuneração de títulos públicos americanos acrescida de mais uma taxa, que vai depender de seu risco de crédito. O mesmo ocorre no Brasil: títulos privados de renda fixa são atrelados a algum tipo de papel do Tesouro e pagam um extra como spread.

O investidor pode esperar o vencimento do bond para receber o valor de face, ou seja, nas condições estabelecidas na hora da contratação. Mas pode também vendê-lo no mercado secundário. Tais papéis podem ser negociados em bolsa ou em mercado de balcão.

No caso dos Estados Unidos, o mercado secundário é muito ativo. “Há uma super liquidez, o investidor consegue vender rapidamente”, diz Limonge.

O governo dos EUA tem um sistema semelhante ao Tesouro Direto brasileiro – que, não por acaso, chama-se Treasury Direct e é destinado ao público em geral. Lá, o investir consegue comprar e participar de leilões de títulos públicos com quantias a partir de US$ 100. Para utilizar o site, porém, é necessário ter um número da seguridade social do país, equivalente ao nosso CPF, endereço e conta corrente nos Estados Unidos. É voltado para residentes.

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Como investir em Bonds?

É possível investir em bonds a partir o Brasil de diferentes formas.

Existem diversas gestoras que oferecem fundos de investimentos em renda fixa internacional, ou seja, que investem em bonds. Produtos assim podem ser encontrados nas plataformas de negociação de corretoras e bancos.

Outra opção são ETFs de renda fixa internacional. Existem dois listados na B3: BNDX11 e USDB11. ETF é a sigla em inglês para fundos de índices negociados em bolsa. São fundos de gestão passiva que têm por objetivo seguir o índice a que estão atrelados. Nos dois casos citados, o primeiro investe em títulos de países desenvolvidos e o último em bonds dos EUA.

ETFs são opções baratas de investimento, têm baixas taxas de administração e permitem aplicações a partir de valores pequenos. Os dois fundos citados têm taxas de administração de 0,25% ao ano e os valores das cotas giram em torno de R$ 95.

É possível também investir em BDRs de ETFs, que são recibos negociados na B3 de cotas de ETFs listados no exterior. A Bolsa disponibiliza mais de 20 BDRs de ETFs de renda fixa.

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BDRs e ETFs podem ser comprados nas plataformas de negociação de corretoras e bancos como se fossem ações. Sobre eles incidem taxas de corretagem e eventuais emolumentos da B3. BDRs podem ter que pagar também percentual referente à taxa de administração do ETF listado lá fora. Fundos de gestão ativa têm taxas de administração geralmente mais altas que os ETFs e podem te ainda taxa de performance.

É importante lembrar que investimentos no exterior, além do riscos de crédito e de mercado, têm risco cambial. Como são cotados em moedas estrangeiras, principalmente o dólar, estão expostos à variação do câmbio. No caso de fundos de investimento de gestão ativa, há opções com ou sem exposição ao câmbio.

É possível investir ainda diretamente no exterior. Corretoras e bancos brasileiros têm oferecido esta opção para seus clientes por meio de contas internacionais que podem ser abertas nas próprias plataformas das instituições (sites e aplicativos).

A XP, por exemplo, oferece atualmente mais de 30 opções de bonds de crédito privado, títulos de dívidas emitidos em dólar por empresas do Brasil, Estados Unidos e de países da América Latina.

O valor mínimo de investimento em bonds na XP é de US$ 5 mil. Segundo Diego Correia, gestor da área de investimentos internacionais, é um dos mais baixos do mercado. “Estabelecemos esse número visando à democratização do acesso dos investidores brasileiros ao mercado internacional”, afirma. “A seleção de bonds leva em consideração ativos com alta liquidez de diferentes setores e geografias”.

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A Avenue oferece diretamente títulos do Tesouro americano, como T-bills, T-notes e T-bonds. A desvantagem, de acordo com Guilherme Zanin, analista da Avenue, é que o investimento mínimo é elevado. “Estamos falando de US$ 50 mil”, diz. Isso ocorre por causa da grande procura pelos papéis.

Embora os juros dos Estados Unidos estejam em patamar historicamente alto, eles são muito mais baixos do que no Brasil. Em janeiro de 2023, taxa básica da economia americana estava entre 4,25% e 4,5% ao ano, enquanto a Selic brasileira era de 13,75% ao ano.

Tipos de Bonds

Bonds podem ser públicos, como os títulos da dívida pública de um país, também chamados de “soberanos”; ou corporativos, aqueles emitidos por empresas ou outras instituições privadas. A palavra é empregada genericamente para designar títulos de dívida.

Entre os títulos do Tesouro dos EUA há três tipos mais comuns de bonds: T-bills. T-notes e T-bonds. Os primeiros têm prazos de vencimento que variam de um mês a um ano. Os juros são pagos no vencimento. As T-notes variam de dois a dez anos e pagam juros semestrais. Os últimos tem prazos de 20 ou 30 anos e pagam juros semestrais.

Todos estes bonds são prefixados, ou seja, a taxa a de retorno é a definida na hora da contratação.

Com o avanço dos preços nos Estados Unidos, ganharam espaço também títulos protegidos da inflação – que, aliás, está em seu maior patamar em 40 anos. São os “Tips”. Neste caso, além de uma taxa prefixada, o papel cobre a variação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês). Funciona como os títulos Tesouro IPCA+ no Brasil. O pagamento de juros é semestral e os prazos de vencimento são de cinco, dez ou 30 anos.

“Os Tips são mais úteis em períodos com possibilidade de inflação, mas eles carregam também deflação, se houver”, observa Limonge. O CPI dos EUA ficou em 6,5% em 2022. “Com este nível de inflação, os Tips passam a despertar o interesse”.

No mercado internacional, existem mais classificações de bonds. Um Eurobond é um título internacional emitido e negociado em determinado mercado, mas denominado em moeda que não é a do país da emissão. Por exemplo: uma empresa brasileira lança na Europa bonds em dólar.

São chamados de global bonds títulos que podem ser emitidos em mais de um mercado e que podem também ser denominados na moeda de um dos países de emissão. Por exemplo: uma empresa brasileira lança títulos em dólar simultaneamente nos Estados Unidos e no Japão.

Qual o valor mínimo para investir em Bonds?

Para investir em bonds a partir do Brasil, os valores mínimos variam de acordo com o produtos e com a corretora utilizada.

É melhor investir em Bonds ou no Tesouro Direto?

Dados os níveis de inflação e das taxas de juros, o momento (janeiro de 2023) é considerado propício para investir tanto em títulos do Tesouro americano como no Tesouro Direto do Brasil, assim como em papéis de renda fixa privada. “São taxas que não se repetirão tão cedo, talvez só com outra pandemia”, comenta Limonge.

Apesar de as taxas nos EUA estarem historicamente altas, são muito mais baixas do que a Selic, então o retorno dos títulos públicos brasileiros é maior. Para Zanin, da Avenue, o investimentos em Treasuries é indicado para quem prefere aplicar seus recursos numa moeda forte, como o dólar, ter a segurança do mercado americano e não se importar com retornos mais baixos.

Limonge diz que considera atualmente o Tesouro Direto “um cavalo selado”, ou seja, pronto para cavalgar – ou, no caso, render. Em janeiro de 2023, por exemplo, os papéis prefixados do Tesouro brasileiro pagavam juros acima de 13% ao ano. Isso quer dizer o investidor continuará a receber este valor mesmo quando a Selic cair bem abaixo de 13%.

Os títulos brasileiros atrelados à inflação, por sua vez, pagavam mais de 6%, além do IPCA, na mesma época. São pelos menos 6% de retorno em juros reais, mais do que pagam os papéis americanos.

Para Limonge, deve investir em bonds quem já tem recursos suficientes investidos no Brasil e busca diversificação em termos de moeda e mercado. O dólar é o principal padrão monetário global e, portanto, oferece segurança. “O momento é vantajoso”, afirma. “E a probabilidade de o real se valorizar significativamente em relação ao dólar em médio prazo não existe”.

Tributação dos Bonds

Segundo manual da XP sobre tributação de investimentos no exterior, incide Imposto de Renda sobre os ganhos de capital na venda de ativos como bonds e ETFs, mas somente se as vendas dentro de um mesmo mês superarem R$ 35 mil. O ganho de capital é a diferença entre o valor de compra e o de venda. Se houver prejuízo, não há cobrança.

Acima das vendas de R$ 35 mil, se o ganho de capital for de até R$ 5 milhões, a alíquota é de 15%; de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões, de 17,5%; de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões, de 20%; e acima de R$ 30 milhões, de R$ 22,5%.

Os rendimentos dos juros dos bonds são tributados da mesma forma progressiva, dependendo dos ganhos, mas neste caso não há faixa de isenção.

Nos Estados Unidos, dividendos pagos por ETFs pagam 30% de imposto na fonte. Os dividendos pagos por BDRs são tributados no Brasil com base na tabela progressiva do IR, que vai da faixa de isenção até 27,5%. Estão isentos rendimentos mensais até R$ 1.903,98.

Fundos de investimento disponíveis no Brasil que investem em renda fixa internacional são tributados pela tabela regressiva de IR , de 22,5% a 15%. O imposto incide sobre o lucro obtido no momento do resgate, e a alíquota diminui conforme o prazo de aplicação aumenta. Incide também IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) regressivo, mas se o prazo de aplicação for menor do que 30 dias.

Diferença entre Bonds e Debêntures

Os bonds corporativos são semelhantes às debêntures existentes no Brasil.

No Estados Unidos, todas as debêntures são consideradas bonds, embora nem todos os bonds sejam debêntures. No Brasil, o termo debênture é usado somente para designar títulos corporativos.

Riscos e vantagens de investir em Bonds

O risco de investir em bonds, quando se fala em títulos do Tesouro dos EUA, é considerado zero no que diz respeito à possibilidade de calote. Em papéis de empresas, depende do emissor. O investidor deve consultar a classificação de risco da companhia e seu histórico.

Há risco de mercado, pois o preço do bond pode oscilar a longo do tempo no mercado secundário. O risco de liquidez nos EUA é bem menor do que no Brasil, pois como explicado anteriormente, o mercado de títulos por lá é muito mais liquido.

Para brasileiros, há o risco cambial. Com papéis em dólar, há risco de redução de ganhos e até de perdas em caso de desvalorização da moeda americana. Na outra mão, se a divisa se valorizar, os ganhos são maiores.

As vantagens são a possibilidade de retorno real sobre um investimento em moeda forte. As taxas de juros praticadas são menores do que no Brasil, mas são aplicadas sobre valores em dólar. Contam também a segurança e a robustez do mercado dos EUA, e sua liquidez. Se você precisar de dinheiro, conseguirá vender seus títulos rapidamente.

“Cabe ao investidor decidir se quer mais retorno com maior risco ou mais garantia com menor rendimento”, comenta Ajzental.

Investir no exterior protege também o investidor de eventuais incertezas e oscilações do mercado brasileiro. É recomendado como forma de diversificação.