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Dono da Vai de Bet, o empresário José André da Rocha Neto deu nova versão sobre a origem do acordo de patrocínio entre a casa de aposta e o Corinthians, rescindido de maneira unilateral em junho do ano passado. Em depoimento à Polícia Civil, o empresário afirma que foi ele quem teve a iniciativa de procurar o clube paulista para oferecer o negócio. A versão contradiz Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, que afirmou às autoridades que encontrou a marca por meio do ChatGPT e, assim, conseguiu o contato da empresa. Ele é dono da intermediadora suspeita de fazer repasses de parte da comissão a uma empresa “laranja”.
A oitiva de José da Rocha Neto foi realizada pelo Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) em 11 de dezembro de 2024 por meio de videoconferência. O Estadão teve acesso ao depoimento na íntegra, no qual o empresário conta que fechou pessoalmente a parceria e que em nenhum momento Cassundé esteve envolvido na negociação. Ele foi questionado por mais de uma vez se conheceu ou chegou a se encontrar com o intermediário apontado no contrato, mas negou.
Procurado pela reportagem, o advogado de Cassundé, Claudio Salgado, disse, em nota, que as informações prestadas em junho foram “sustentadas por provas de como os fatos aconteceram”. Ele também afirmou que, após os depoimentos colhidos recentemente, “as autoridades que apuram os fatos solicitaram e receberão na semana que vem mais evidências de como se deram as tratativas de patrocínio”.
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José da Rocha Neto afirmou à polícia que, ao tomar conhecimento da busca do Corinthians por um novo patrocinador máster, entrou em contato com Antônio Pereira dos Santos, também conhecido como Toninho, empresário de Goiânia do ramo sertanejo, ex-empresário de Gusttavo Lima, embaixador da Vai de Bet, e parceiro de nomes como a dupla Maiara e Maraísa, e Marília Mendonça. O dono da casa de aposta afirma ter pedido ajuda ao amigo em 25 de dezembro de 2023 porque ele teria contatos no futebol. O encontro com membros do Corinthians aconteceu logo no dia seguinte, no Hotel Tivoli, em São Paulo
“Chegando lá em São Paulo, estava o Marcelinho (Marcelo Mariano, diretor administrativo), o presidente (Augusto Melo) e mais três pessoas, Toninho e duas que não sei o nome”, disse José André da Rocha Neto em seu testemunho. “No meio da reunião, o presidente saiu para uma outra reunião, deixou o Marcelinho lá com essas três pessoas. Pedi um tempo para pensar, subi para o quarto do hotel. Pensei, desci depois de duas horas, e fechei o negócio”, completa.
“Não foi algo muito pensado porque já tinha outras empresas interessadas. Foi tipo um leilão, então fui para fechar logo”, continua. “Deixamos certo que a (comissão) da intermediação seria nesses R$ 360 milhões, mas não me meti em porcentual de intermediador”.
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O empresário disse que não teve contato com mais ninguém do Corinthians após fechar o acordo, com exceção de Marcelo Mariano, com quem discutiu como a marca da Vai de Bet seria utilizada no clube, e que não participou da coletiva do anúncio da parceria porque estava de férias em Orlando, nos Estados Unidos. Por isso, pediu a André Murilo de Paes Bezerra, diretor administrativo da Vai de Bet, para participar do anúncio.
André Murilo prestou depoimento no mesmo dia e também afirmou que nunca teve contato com Alex Cassundé e que, em nenhum momento, recebeu ligação do intermediário apontado no contrato com o Corinthians e não tem conhecimento de conversas entre Cassundé e qualquer outro representante da marca. Após o caso vir à tona, José André conta que acionou a equipe jurídica da Vai de Bet.
“Não recordo o mês exato, mas começou a sair essa notícia de ‘laranja’. Chamei o jurídico e pedi para eles notificarem o Corinthians porque era para sair notícia boa, mas só saía notícia ruim. Não tinha como pagar R$ 10 milhões para só sair notícia ruim. Então a gente viu um jeito de destratar”, disse José Rocha sobre a rescisão, ocorrida em 7 de junho de 2024.
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O acordo de R$ 360 milhões da Vai de Bet com o Corinthians previa o pagamento de R$ 10 milhões ao longo dos 36 meses de contrato – ao todo, o clube recebeu R$ 66 milhões pelo tempo de parceria. O contrato previa o também pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela à Rede Media Social Ltda. Ou seja, 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato.
Após os pagamentos da comissão, a Rede Social Media Ltda, cujo CNPJ está no nome de Alex Cassundé, repassou parte dos valores por meio de PIX à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, empresa com endereço na Avenida Paulista que serviria como “laranja”. Ela está no nome de Edna Oliveira dos Santos, mulher de origem humilde que vive em Peruíbe, no litoral paulista.
Outra versão
Alex Cassundé prestou depoimento à Polícia Civil em 25 de junho e negou que tenha cobrado por sua parte na negociação. Ele disse que não conhecia a empresa até perguntar por “dicas de como encontrar uma empresa de bet” ao ChatGPT, inteligência artificial generativa da OpenAI. Foi a partir da resposta, segundo ele, que encontrou a Vai de Bet e chegou ao contato de um sócio da casa de apostas.
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Com a resposta em mãos, ele acionou o ex-superintendente de marketing do clube, Sérgio Moura, e encaminhou o contato a Marcelo Mariano. Cassundé atuou na campanha de Augusto Melo, no final de 2023, e apontou sua ligação com o clube por meio dos dirigentes.
Do R$ 1,4 milhão pago à empresa de Cassundé, R$ 1 milhão foi transferido para a Neoway. Em seu testemunho, ele afirmou que o pagamento era referente a um serviço de telemedicina, mas que foi vítima de um golpe. Contudo, não registrou Boletim de Ocorrência.
Segundo relatório técnico da DPPC, as primeiras informações disponíveis no aparelho celular de Alex Cassundé datam de 30 de maio de 2024, exatamente um dia depois do início das investigações, reforçando a hipótese de que o aparelho foi restaurado ou que todas as informações anteriores tenham sido deliberadamente apagadas.
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Próximos passos
A Polícia Civil ainda aguarda informações de dados financeiros solicitados por meio da quebra de sigilos bancários. Segundo o delegado Tiago Fernando Correia, apenas a Caixa Econômica respondeu e de maneira parcial. A investigação quer resposta nas quais a Neoway Soluções Integradas e Edna Oliveira dos Santos possuem contas.
Em 12 de dezembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) derrubou a liminar que suspendeu a votação do impeachment de Augusto Melo. Com isso, o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr., pode convocar nova reunião. Se a destituição for aprovada, o tema ainda terá de passar pelo crivo da assembleia de associados. O presidente tem confiança de que não será tirado do cargo em um eventual retorno da votação.
Para Augusto Melo, a movimentação fere o estatuto do Corinthians Isso porque a Comissão de Ética e Disciplina recomendou a suspensão da votação até o fim das investigações da Polícia Civil no caso da Vai de Bet.
Membros da diretoria corintiana serão os últimos a serem ouvidos pela Polícia Civil. Ainda não há data para a próxima oitiva, que deve ter Antônio Pereira dos Santos como uma das testemunhas.