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Museus grandiosos são inaugurados pelo mundo com a retomada da vida cultural

Uma onda de novos empreendimentos em locais como Berlim, Hong Kong e Paris mostra uma efervescência não vista há décadas

Com perspicaz capacidade de adaptação, instituições culturais do mundo todo utilizam surpreendentes recursos tecnológicos para compensar os efeitos de um ano estagnado. Primeiro do mundo a ter um acervo totalmente digitalizado em altíssima resolução, o museu holandês Mauritshuis, em Haia, permitiu que as pinceladas de Vermeer e Rembrandt pudessem ser apreciadas de longe — no confinamento do lar — como nunca antes.

Alternativas como essa se mostraram tão perfeitas a ponto de o espectador conseguir apreciar as obras quase sem notar que foi transportado para uma realidade virtual.

Quase. Nada se compara à imersão real no mundo da arte. Uma onda de inaugurações internacionais sinaliza que a retomada da indústria atinge dimensões há décadas não vista. “É instigante ver a efervescência cultural em algumas metrópoles. Diversos projetos curatoriais represados por causa da pandemia ganharam vida depois de muito discutidos durante o lockdown”, diz Felipe Melo, sócio da consultoria Art_Ahead.

Epicentro desse burburinho, a Europa é sede do maior empreendimento artístico e educativo do século, o berlinense Humboldt Forum. Desde sua abertura em setembro, o espaço adotou medidas sanitárias para receber mais de 300 mil visitantes — tornando-se o destino cultural mais popular da Ilha dos Museus.

Mas, se depender do apetite dos asiáticos de Hong Kong, os holofotes vão para o recém-inaugurado M+, cujo investimento de quase 3 bilhões de dólares lhe trouxe confiança para rivalizar, em tamanho e acervo, com o britânico Tate Modern e o Museu de Arte Moderna de Nova York.

De civilizações antigas à cultura contemporânea, essas são as iniciativas mais deslumbrantes que estão devolvendo a experiência física — e fundamental — da arte à humanidade. Confira.

(Per Ole Hagen/Getty Images)

Museu Munch

Bem antes de abrir as portas em Oslo em 22 de outubro, esse novo espaço já causava comoção entre os que ficaram sem ingresso para espiar a inauguração do maior acervo dedicado à vida e à carreira de Edvard Munch. As obras do mais famoso pintor escandinavo — muitas delas nunca antes vistas — são a razão de ser desse museu, que custou cerca de 300 milhões de euros. A célebre obra O Grito atrai todos os holofotes, mas há muito mais a apreciar. Em uma torre de 13 andares, 11 galerias conduzem os visitantes pelo fascinante legado de Munch: 26 mil pinturas, fotografias, aquarelas, desenhos e gravuras, além de 10 mil itens pessoais.

(David von Becker/Getty Images)

Humboldt Forum

Inaugurado em Berlim em 23 de setembro, o novo Humboldt Forum é o maior empreendimento cultural da Europa deste século. Foram duas décadas de espera e um investimento de 680 milhões de euros para reerguer um antigo Palácio Real prussiano. Vitrine para coleções de museus etnológicos, seu acervo conta com mais de 20 mil itens trazidos da África, Ásia, Oceania e Américas por colonizadores europeus.

(Khaled Desouki/AFP via Getty Images)

Grande Museu Egípcio

Se novos atrasos não minarem a inauguração — prevista para o fim de 2021 —, será possível testemunhar a abertura do maior museu arqueológico do mundo, em Gizé, no Egito. Com um vasto apanhado de 3.500 anos de história, o museu conta com mais de 100 mil artefatos da pré-história ao período greco-romano, incluindo mais de 5 mil relíquias da tumba do jovem faraó Tutancâmon. Financiador majoritário do museu, o Japão emprestou 75% do custo estimado de 1 bilhão de dólares para sua construção.

(Luc Castel/GettyImages)

Bourse de Commerce

Nunca é tarde para realizar sonhos e, por que não?, construir um museu para chamar de seu. Há 20 anos, um dos empresários mais bem-sucedidos da França aguarda esse momento: François Pinault, hoje aos 84 anos, enfim pôde escancarar, com generosidade, sua impressionante coleção de arte moderna e contemporânea. Nela estão consagradas obras, de Mondrian e Rothko a Jeff Koons e Cindy Sherman. A alguns passos do Louvre, seu museu particular em Paris, inaugurado em 22 de maio, ocupa um majestoso edifício do século 18 onde antes funcionou a Bolsa de Mercadorias para o comércio de grãos, açúcar e similares. O projeto de restauro custou 160 milhões de euros.

(Zhang Wei/China News Service via Getty Images)

M+

Para não deixar dúvida quanto à sua intenção de se tornar um dos maiores complexos de cultura visual contemporânea do mundo, o recém-inaugurado M+, em Hong Kong, consumiu um investimento de quase 3 bilhões de dólares para erguer um edifício de 65 mil metros quadrados, onde 33 galerias de arte se entremeiam com cinemas e salas multimídia. Parte da coleção de 8 mil objetos — fora os 47 mil itens de acervo — foi doada pelo diplomata suíço Uli Sigg, dono da maior coleção de arte chinesa de que se tem notícia.