Com a digitalização, o sistema financeiro do futuro começa a ser desenhado
O presidente do Banco Central brasileiro fala sobre a "revolução tecnológica" que acontece no mundo das finanças
“Uma característica notável do momento atual é a velocidade das mudanças tecnológicas e o seu impacto no sistema financeiro.
Os avanços tecnológicos têm proporcionado uma diminuição exponencial dos custos de produção, de armazenamento e de processamento de dados; a rápida evolução nos sistemas de pagamentos; bem como novas tendências de serviços financeiros.
Esse processo, que já vinha se desenvolvendo nos últimos anos, ganhou ainda maior impulso durante o período da pandemia, e terá importante consequências para a digitalização do sistema financeiro no pós-pandemia.
Para compreender a importância do processo de digitalização do sistema financeiro, é preciso inicialmente entender as transformações recentes no modelo de negócios dessa indústria.
O setor financeiro vem se tornando cada vez mais uma indústria baseada em informação e em tecnologia.
Dessa forma, quanto mais informação, mais eficiente passa a ser o processo de intermediação.
Por exemplo, quanto mais informação a instituição financeira detém sobre o cliente e seus hábitos de consumo, mais facilmente ela pode customizar sua oferta de produtos para as necessidades do cliente; e com menor assimetria de informação, ela pode também ofertar um serviço com menor custo.
A face mais visível dessa revolução tecnológica no setor financeiro ocorre nos serviços de pagamento. Nesse setor, especialmente importante é a convergência de tecnologias de pagamentos, de texto e de conteúdo. Essa convergência tende a resultar em um processo de verticalização de diversos serviços em uma mesma cadeia.
Também merecem destaque o crescente uso de serviços em nuvem e as inovações em moedas eletrônicas. Tais mudanças têm concorrido para o desenvolvimento de sistemas de pagamento totalmente digitais.
Nesse ambiente de inovações tecnológicas, o Banco Central do Brasil (BCB) tem desenvolvido diversas iniciativas no âmbito da sua Agenda BC#, com vistas a proporcionar à população acesso a um mercado financeiro moderno e inclusivo.
Entre as diversas iniciativas da Agenda BC# para aumentar a digitalização do Sistema Financeiro Nacional (SFN), estão o desenvolvimento de um sistema de pagamento instantâneo (Pix) e a implementação do Open Banking.
O Pix, que começou a operar em novembro de 2020, permite pagamentos e transferências instantâneas 24 horas por dia, sete dias por semana. No futuro, novas funcionalidades serão agregadas ao Pix, que poderá inclusive funcionar como base para uma plataforma digital multipropósito, provendo outros serviços públicos de forma mais eficiente.
Para 2021, está prevista a implementação do Open Banking, que irá promover uma maior democratização das informações financeiras, de forma simples, segura e rápida, mas sob o controle dos clientes.
A evolução tecnológica nos meios de pagamento também tem exigido que os próprios bancos centrais evoluam para melhor cumprir suas missões institucionais. Neste novo ambiente de sistemas de pagamento digital, veremos o surgimento de moedas digitais emitidas por bancos centrais.
A moeda digital poderá servir como uma porta de entrada para indivíduos desbancarizados, e será um importante fator de inclusão financeira, principalmente em economias emergentes.
No futuro, uma moeda digital emitida pelo BCB será uma decorrência natural de avanços como o Pix, o Open Banking e a modernização da legislação cambial.
De agora em diante, a tendência é haver cada vez mais sistemas integrados de negociação por meio de tecnologias como o blockchain. Isso vai permitir outro importante processo de digitalização do sistema financeiro: a tokenização de ativos.
O registro de ativos será cada vez mais realizado de forma digital, e não mais de forma física. Uma vantagem desse registro digital é a possibilidade de se negociar ativos, inclusive os ativos não-financeiros, com menor custo, maior velocidade, transparência e segurança.
Além disso, esse tipo de registro permite uma maior divisibilidade dos ativos, o que também facilita a sua negociação.
Para viabilizar com segurança o desenvolvimento de tantas inovações, em 2021 começará a funcionar o sandbox regulatório do BCB, que é um ambiente de testes para novas ideias e tecnologias.
O sandbox permitirá que modelos de negócios inovadores sejam autorizados a operar por prazo determinado, com regulamentação específica e sob monitoramento do BCB. Os modelos que obtiverem sucesso, após análise do regulador, poderão receber autorização de funcionamento.
A evolução tecnológica tem sido uma das maiores aliadas do BCB para tornar o SFN mais eficiente e para promover a democratização dos serviços financeiros.
Nesse sentido, a digitalização é um dos instrumentos mais efetivos que temos para alcançar esses objetivos, pois nos permite atender as pessoas de forma muito mais ampla e eficiente, sendo, portanto, um dos pilares em nossa tarefa de desenhar o sistema financeiro do futuro.”