Criptomoedas

As moedas digitais e a revolução em curso nos meios de pagamento

A pandemia retirou as divisões entre mundo real e digital, e as empresas e instituições financeiras precisam se preparar, afirma uma das maiores especialistas do mundo em criptomoedas e blockchain

“As inovações esperadas para 2024 e 2025 deverão ser antecipadas para 2022 e 2023.

Ao acelerar as compras online e o uso de plataformas de pagamentos e investimento, a pandemia exigiu uma adaptação das redes de entrega e da segurança cibernética, porque foi preciso responder de forma segura e rápida às novas demandas. 

A inteligência artificial e o armazenamento de dados são peças-chave nesse processo. A migração para a nuvem cresce de forma massiva. E o que chama a atenção é que muitos estão escolhendo usar sua própria nuvem porque não confiam no Google ou na Amazon.

Mas algumas das mudanças mais relevantes e disruptivas estão acontecendo no segmento de meios de pagamento, com o crescimento acelerado das moedas digitais e das tecnologias associadas a ela.

Hoje, investidores institucionais, bancos e fundos têm bitcoin na carteira. E isso só tende a aumentar porque as funcionalidades do Bitcoin são muito semelhantes a alguns atributos do ouro.

O que aconteceu com o ouro em 1800, quando o metal passou a ser uma referência de valor, acontece agora com o Bitcoin, que ganha a função de reserva de valor e também de proteção contra a perda de valor de moedas fiduciárias, como o dólar.

As tecnologias do Bitcoin e do blockchain – sistema por trás do bitcoin, que pode ser entendido como um grande livro-caixa, que registra todas as transações, de forma descentralizada, anônima e imutável – melhoraram muito nos últimos dez anos.

São mecanismos seguros e que funcionam – é só parar para pensar que o Bitcoin foi criado em 2008 e nunca foi hackeado. E é democrático, já que não há autoridade central para decidir quem terá mais ou menos.

Mas, existem, é claro existem pontos a serem aprimorados. Para não ter manipulação, é preciso haver uma regulamentação melhor para moderar o preço e as oscilações.  

Outro impulso para o Bitcoin são os estímulos dos governos para combater os efeitos das crises. Sempre que o governo imprime muito dinheiro surge a dúvida: como pagar todo esse dinheiro de graça?

Muitos dizem: “Ok, a economia americana não vai falir, mas preciso diversificar meu dinheiro em ativos como ouro, Bitcoin, commodities e imóveis”. Então, quando o dólar cai, o bitcoin sobe.

Existe mais uma explicação para a valorização do Bitcoin, que é a simples disseminação de informações: muito mais pessoas conhecem essa moeda hoje.

A razão número 1 para isso é a entrada do Paypal, que passou a aceitar o bitcoin como pagamento. O efeito é gigantesco, afinal o Paypal tem 300 milhões de usuários. 

Isso nos leva ao Facebook. Se o Facebook lançar sua criptomoeda, o diem, bilhões de pessoas entrarão nesse ecossistema.

Se o Facebook desenvolver o conjunto certo de parcerias com empresas para pessoas comprarem e venderem coisas, seria uma economia totalmente diferente, para a qual o mundo não está pronto.

Os governos não estão preparados para uma rede de comércio de quase 3 bilhões de usuários, maior que a população da China e da Índia juntas. É enorme.

Mas não são apenas as empresas que estão olhando para esse universo. Hoje, qualquer banco central no mundo está pensando em desenvolver sua moeda digital, ou mais especificamente uma criptomoeda específica, que deve ser o grande destaque nos próximos anos: a stablecoin.

A China já está desenvolvendo sua stablecoin, e os Estados Unidos e muitos países emergentes estão avaliando isso.

Uma stablecoin (“moeda estável”, em tradução literal) é uma espécie de dinheiro programável. É uma criptomoeda projetada para minimizar a volatilidade relacionada a um ativo, como soja, ouro, minério de ferro ou uma cesta de ativos.

Além de ativos reais, é possível lastrear a stablecoin em um algoritmo, uma non collateralized stablecoin. Se uma empresa, por exemplo, quer criar uma stablecoin, mas não tem lastro como dinheiro ou minério, pode lançar um algoritmo e rodá-lo de forma anônima, reduzindo ou aumentando a quantidade de tokens.

Se o preço cair abaixo do valor de uma moeda fiduciária, o fornecimento do token é reduzido e vice-versa. Ao longo do tempo, é possível manter a estabilidade em relação a um preço-alvo projetando sua própria moeda. A inteligência artificial por trás disso é fascinante. 

Como algumas moedas flutuam demais, sobretudo em países emergentes, é natural que bancos centrais estejam se movimentando nessa direção e estudando as stablecoins em busca de alguma estabilidade.

Essas inovações fazem parte de um conceito mais amplo, que deve ser cada vez mais discutido: as DeFis, as finanças descentralizadas.

Trata-se da ideia de que as transações financeiras não devem depender de intermediários, como bancos, porque a tecnologia do blockchain, que usa contratos inteligentes para registrar todas essas movimentações, permite descentralizar tudo o que envolve dinheiro.

Qualquer banco que tenha pessoas inteligentes está observando as mudanças e analisando como atuar. Ainda não vimos grandes aquisições de criptos ou blockchain, mas vamos começar a ver.

A maioria dos bancos não pode se dar ao luxo de desenvolver algo assim por conta própria – é muito caro e lento, e demanda profissionais com conhecimento sobre o assunto.

Toda instituição financeira, empresa de pagamentos ou varejista deveria abrir um departamento dedicado a stablecoins e criptomoedas.

Há três anos eu já dizia isso, mas, de um ano para cá, com a pandemia retirando as divisões entre mundo real e digital, definitivamente esse não é mais o assunto que as companhias vão querer deixar para depois.”

Depoimento a Priscila Yazbek