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Quem vai assumir o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido após a dramática, mas esperada, renúncia de Liz Truss nesta quinta-feira (20)? E como os mercados locais vão reagir enquanto esse vácuo de poder não é resolvido?
O Partido Conservador busca um nome de consenso e que assuma a liderança do governo em meio a uma crise de credibilidade institucional e de índices de custo de vida crescentes no país.
No momento, as apostas sobre a substituição estão caindo sobre o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, com possibilidades também da ex-secretária de Defesa Penny Mordaunt. Mas já se fala no retorno de Boris Johnson, que renunciou ao cargo em julho.
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Por outro lado, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, clama por eleições gerais, que em meio ao caos político, poderia levar à uma mudança radical de poder.
Truss conseguiu a proeza de protagonizar a mais breve estadia de um chanceler no número 10 da Downing Street, residência oficial dos primeiros-ministros britânicos. Antes dela, George Canning permanecera no cargo por apenas 119 dias, em 1827, mas ele morreu, vítima de tuberculose.
Para Rachel de Sá, chefe de economia e head conteúdo da Rico, a agora ex-primeira-ministra herdou uma situação política e econômica já instável, que vem desde a aprovação do Brexit, em 2016, e piorou com a pandemia. No lado político, a recente renúncia de Johnson após acusações de corrupção, assédio e de comportamento inadequado dentro do gabinete na pandemia minaram a credibilidade do governo.
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No lado econômico, o principal problema, destacou, é a inflação do país, que já está na casa dos 10,1%, especialmente por conta da crise energética. “Apesar de não depender da Rússia, (o Reino Unido) usa muito gás na matriz energética”, disse Rachel em entrevista ao Radar InfoMoney.
Lenha na fogueira
Truss assumiu o cargo nesse turbilhão e suas primeiras medidas não ajudaram, destacou Raquel. “Uma das primeiras decisões foi o congelamento dos preços de energia. Não ficou claro quem iria pagar a conta”, comentou. Logo depois disso, aconteceu a morte da rainha Elizabeth II e o país “parou” por 10 dias pelo luto oficial e as cerimônias fúnebres.
Na volta, foi anunciado o mini-orçamento, que somado ao plano de energia somava cerca de 200 bilhões de libras. “Os mercados viraram de ponta-cabeça. A libra caiu, os juros da dívida dispararam e isso gerou problemas de instabilidade no mercado, especialmente dos fundos de pensão, que estavam alavancados”, listou.
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Rachel destacou ainda que o plano fiscal não passou pelo Office for Budget Responsibility (OBR), órgão independente que fiscaliza as finanças públicas do Reino Unido. A instabilidade a partir daí só aumentou, ministros saíram, e a primeira-ministra teve sua liderança minada e foi obrigada a renunciar.
Uma curiosidade é que Rachel Sá foi uma das responsáveis pela agenda de visitas que Liz Truss fez ao Brasil em 2018, quando ocupava o cargo de ministra-chefe da Fazenda britânica. A economista trabalhava no escritório brasileiro do equivalente inglês ao ministério de Relações Exteriores. “Ironicamente, ela tinha interesse pela parte fiscal. Mas não tinha posições claras e pragmáticas sobre o tema”, comentou. Ela lembrou que Truss tinha muito trânsito interno dentro do Partido Conservador.
Reação morna nos mercados
O impacto moderado dos mercados após a renúncia da primeira-ministra – a libra subiu num primeiro momento e depois voltou a cair – se explica, segundo Raquel, pelo entendimento que a saída é apenas um primeiro passo em busca da estabilidade. “Não está tudo resolvido. Vão eleger um novo primeiro-ministro e o nível de instabilidade dentro do Partido Conservador é enorme”, avaliou.
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Para o JP Morgan, o ligeiro rally dessa manhã mostrou que muito do impulso positivo da libra por conta do retrocesso fiscal já foi esgotado. “De um ponto de vista estratégico, mantemos a visão de que o viés positivo da libra está limitado ao alívio político, enquanto as perspectivas de crescimento fraco amplificado por medidas de austeridade e inflação alta no próximo ano devem manter o câmbio sob pressão.”
Esse é o mesmo entendimento do estrategista do CitiFX, Vasileos Gkionakis. “O ‘rally ‘de alívio pode ter um pouco mais a percorrer. Teriam que acontecer mudanças estruturais consideráveis e fundamentais para reduzir a dor econômica, algo que ainda está para ser decidido”, afirmou em relatório a clientes.
Para ele, mesmo que fique tudo resolvido na atual crise política, a credibilidade do Reino Unido foi impactada pelos recentes desenvolvimentos. “As perspectivas macroeconômicas do Reino Unido já eram de baixa, exacerbadas pela inflação ainda persistente e complicações pós-Brexit. Além disso, a recente turbulência política ao lado da volatilidade do mercado reduziu o apetite dos investidores pelos ativos”, comentou.
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Para Pedro Tiezzi, analista de Investimentos da SVN, nesses 45 dias de gestão de Liz Truss, a impressão que ficou é que nada foi feito e esse tempo precisará ser recuperado. Segundo ele, a única previsão possível no momento é muita volatilidade nos mercados. “A pauta política se somou à pauta inflacionária”, afirmou.
Próximo primeiro-ministro
Entre os nomes para substituir Liz Truss, o mais forte no momento é Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças. Ele concorreu ao cargo após a saída de Johnson e, embora tenha perdido a votação do Partido Conservador, teve a preferência entre os parlamentares.
Sunak poderia trazer mais segurança do ponto de vista fiscal, uma vez que sempre criticou cortes de impostos não financiados. Como estava à frente da Economia no período da pandemia também seria uma liderança mais conhecida, mas lhe falta apoio dentro do partido.
O outro nome apontado é o e Penny Mordaunt, ex-secretária de Defesa, que ficou em terceiro lugar na disputa com Truss e Sunak. Embora seja mais próxima do grupo da primeira-ministra que renunciou, Mordaunt criticou algumas decisões sobre benefícios sociais na Câmara dos Comuns recentemente.
#BringBackJohnson
Entre os nomes, não está totalmente descartada a volta de Boris Johnson, que caiu em julho após várias denúncias e escândalos. Apoiadores subiram nas redes sociais nesta quinta-feira a hashtag #BringBackJohnson (tragam Johnson de volta, numa tradução livre). Uma enquete realizada pelo tabloide The Mail mostrou que 72% dos leitores apoiariam sua volta.
Ele está de férias no Caribe, mas interlocutores passaram a comentar que o ex-primeiro-ministro aceitaria retornar caso seu nome trouxesse consenso e representasse estabilidade política. Houve quem lembrasse de seu discurso de despedida do cargo, encerrado com um: “hasta la vista, baby””.
Ben Wallace, secretário de Defesa, e Jeremy Hunt, o novo ministro das Finanças, disseram recentemente à imprensa que estão satisfeitos em seus lugares, o que diminui suas chances.
Eleições gerais?
Por fim, existe o desejo do Partido Trabalhista de aproveitar a crise política e econômica para retornar ao poder, perdido desde 2010. Para isso, seria necessário a convocação antecipada de eleições gerais. A próxima eleição está marcada para 2025.
A hipótese de antecipação é considerada remota porque os conservadores têm uma maioria de 80 assentos no parlamento e somente se o Partido não chegar a um consenso sobre um futuro líder é que aconteceria uma convocação.
Mas o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, renovou nesta quinta-feira os apelos para uma eleição geral imediata, alegando que o governo atual está atolado demais em brigas políticas para liderar o país. A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, acompanhou o pedido, dizendo que uma eleição é “imperativo democrático”.
Uma pesquisa da Opinium divulgada no fim de semana apontou que, se uma eleição geral fosse convocada nesse momento, os trabalhistas garantiriam 411 assentos contra os 137 dos conservadores.
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