Taxar aço e alumínio de novo, Trump? Será que funciona?

Presidente americano sobretaxou os produtos no primeiro mandato, mas medida teve efeito contrário do esperado, até reduzindo empregos na cadeia de consumidores do insumo nos EUA

Roberto de Lira

Indústria siderúrgica (Foto: Divulgação/CSN)
Indústria siderúrgica (Foto: Divulgação/CSN)

Publicidade

Mais uma vez, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaça uma sobretaxação sobre importações de itens de aço e alumínio, uma medida que deve afetar diretamente o Brasil. O político republicano já adotou procedimento semelhante em seu primeiro mandato, mas em 2019, quando o presidente brasileiro era o aliado Jair Bolsonaro, a decisão foi atenuada com a estipulação de cotas de embarque.

Essa imposição de tarifas é uma prática que parece bem ao agrado do recém-empossado mandatário americano, mas especialistas duvidam de sua eficácia. Como de praxe, Trump argumenta que a decisão visa proteger a indústria nacional. Mas muitas vezes, o resultado obtido é mínimo, isso quando o impacto não é exatamente o oposto.

Quando ele usou em 2018 a famigerada Seção 232, uma disposição da Lei de Expansão do Comércio de 1962 que permite que o presidente aumente as tarifas sobre certos produtos por razões de segurança nacional, a alegação era que a indústria militar estava sendo prejudicada.

Continua depois da publicidade

Mas o líder dos EUA provocou uma reação em cadeia que acabou por prejudicar os próprios consumidores americanos. O think tank Council of Foreign Relations cita em análise recente um estudo de 2020 realizado por economistas das Universidades de Harvard e da Califórnia, que apontou uma criação de apenas 1.000 empregos na indústria do aço desde o tarifaço de 2018.

No entanto, houve perdas de 75 mil vagas nas cadeias de produção que utilizam o aço e que viram seus custos subir.

Já o American Iron and Steel Institute (AISI) reconheceu em documento publicado em janeiro que a indústria de aço doméstica ainda não atingiu o objetivo de operar com um mínimo de 80% de utilização de sua capacidade. E pediu mudança nas exceções de cotas para as importações, citando especificamente os tubos usados pela indústria de petróleo. O documento cita a Coreia do Sul como um fornecedor que preocupa, mas não fala do Brasil.

Continua depois da publicidade

Alguns especialistas afirmam que as tarifas encolhem a economia: a Tax Foundation, estima que a combinação das tarifas de Trump e de Joe Biden já reduziram o produto interno bruto (PIB) dos EUA em 0,2% e devem resultar na perda de 142.000 empregos no longo prazo.

Parte disso vem de um efeito rebote, com países afetados pelas medidas retaliando os EUA, normalmente visando o setor agrícola dos EUA, que depende sensivelmente das exportações.

Há ainda um impacto indireto a ser considerado. As siderúrgicas brasileiras que podem ser afetadas compram muito carvão dos EUA e uma queda de vendas externas implica em compras menores do insumo.

Continua depois da publicidade

Por outro lado, há quem defenda o uso de tarifas como forma de pressão. Uma análise de 2022 feita pelo Economic Policy Institute defendeu que as tarifas de Trump ajudaram mais a realocar as cadeias de suprimentos em setores estratégicos do que a reduzi-las que as medidas têm apenas um impacto mínimo e transitório nos níveis de preços dos EUA.

O Council, por vez, alerta que pode não ser possível reverter os efeitos das medidas. A explicação é que uma vez impostas, as tarifas são difíceis de remover porque as empresas se acostumam com o novo ambiente e fazem lobby contra sua suspensão.

Nos EUA, por exemplo, um imposto sobre picapes foi estipulado durante uma disputa comercial com a Europa em 1964 e permanece em vigor até hoje. “Se as tarifas levarem os parceiros comerciais a encontrar novos compradores e vendedores, esses novos relacionamentos podem perdurar”, diz o think tank.

Planilha

Resultados do 3º trimestre

Acesse gratuitamente a planilha secreta do InfoMoney para acompanhar a temporada de balanços. Clique no link abaixo para receber a sua por email.