Taxa de desemprego volta a surpreender e rendimento médio estável é bom sinal, dizem analistas

Renda média ainda alta tende a manter atual bom momento de consumo das famílias; desemprego pode fechar ano em torno de 9,0%

Roberto de Lira

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Os dados da PNAD Contínua divulgados nesta quarta-feira (31) pelo IBGE, que mostraram uma taxa de desemprego trimestral em abril de 8,5%, voltaram a surpreender os analistas pela manutenção da resiliência do mercado de trabalho. No entanto, eles citaram a queda no contingente de pessoas que buscam emprego tem forte interferência no indicador.

Outro destaque nos dados do mês apontado pelo especialista foi o comportamento positivo do rendimento médio, que aponta a continuidade do bom momento do consumo das famílias, favorecido tanto pelas transferências de renda do governo como pelo reajuste do salário-mínimo.

O dado de abril ficou abaixo dos 8,8% da taxa de desemprego no trimestre encerrado em março e significou estabilidade ante o período de três meses encerrado em janeiro. Também foi o número de desocupação mais baixo para o mês desde abril de 2015.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, destacou que o desemprego de 8,5% no trimestre findo em abril ficou abaixo da expectativa de taxa de 8,9%, mas ponderou que a melhora se deu pela menor taxa de participação, ou seja, menos pessoas procurando emprego.

“A população ocupada teve queda de 0,6% no trimestre e o rendimento médio ficou estável, sinais de que o mercado de trabalho está desacelerando”, afirmou.

A economista comentou ainda que a estabilidade no rendimento médio na margem (em R$ 2.891) é uma boa notícia para o Banco Central, podendo contribuir para a mudança no cenário e permitindo o início dos cortes da Selic a partir de agosto.

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“Na comparação com o ano anterior, a evolução da massa salarial segue positiva em 9,6% em termos reais e deve manter o nível de consumo, mesmo com a alta dos juros e o aperto no crédito observado”, afirmou.

Os economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac, do Banco Original, também a queda na taxa de participação (61,6% para 61,4% na passagem de março para abril) como um dos fatores para a melhora na taxa de desemprego, uma vez muitas pessoas consideradas aptas a trabalhar não estão procurando emprego e, por isso, não fazem parte do cálculo do indicador.

“Um possível incentivo para esse movimento são os estímulos de transferência de renda por parte do governo, com contornos de renda permanente. Já a taxa de informalidade foi de 38,9% da população ocupada em abril”, disseram em sua análise.

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Para os meses à frente, a opinião dos economistas do Original é que a ocupação segue forte, mas que uma possível perda de fôlego da atividade econômica pode levar parte da população a voltar procurar emprego, o que pressionaria a taxa de desemprego.

“Ao mesmo tempo, temos visto uma certa migração da informalidade para a formalidade e que deve continuar ao longo do ano. Como consequência, esperamos que a taxa de desocupação resista em patamares baixos por mais algum tempo. Para 2023, projetamos uma taxa média de desemprego de 8,8%”, estimaram.

Piora deve ser moderada

Rafael Perez, economista da Suno Research, também acredita que o dado de abril abaixo das expectativas confirma a maior resiliência do mercado de trabalho nos primeiros meses do ano. Ele comentou que, de janeiro a março, houve um aumento do desemprego, principalmente devido à dispensa de trabalhadores temporários para a época de fim de ano. Contudo, passado esse período, os dados mais fortes da atividade econômica no início do ano, em especial do setor de serviços e de comércio, começam a se traduzir em indicadores melhores no mercado de trabalho.

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“Dessa forma, enxergamos que a perda de dinamismo do mercado de trabalho ao longo deste ano será mais moderada. E as recentes medidas do governo que visam a incentivar o consumo conjuntamente com as expectativas de um crescimento maior da economia, devem possibilitar uma queda menor no emprego e uma maior sustentação da demanda das famílias”, estimou.

Na análise de Claudia Moreno, economista do C6 Bank, a composição da Pnad no mês mostra que população ocupada parou de subir, em linha com a desaceleração da atividade. “Mas o que chama mais atenção é o fato de a população economicamente ativa estar caindo. Esses dois movimentos apontam para uma piora na dinâmica do mercado de trabalho”, alertou.

Ou seja, a queda na taxa de desemprego não está se dando pelo avanço da ocupação, mas pela diminuição do número de pessoas procurando emprego. “Daqui para a frente, deveremos ver uma redução da taxa de ocupação, refletindo o esfriamento da atividade econômica”, previu.

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Claudia citou ainda que os dados de renda também começam a mostrar uma mudança na trajetória de recuperação registada nos meses anteriores. “A renda real habitual do trabalhador caiu 0,3%, mas acumula alta de 7,4% em relação ao trimestre encerrado em abril de 2022. A massa de renda real também parou de subir, mas acumula alta de 9,6% na comparação anual”, comparou.

A projeção da economista do C6 Bank é que a taxa ajustada de desemprego deve apresentar leve elevação e encerrar 2023 em torno de 8,5%, ante uma projeção anterior de 8,7%. “A mudança se deve à surpresa no dado de desemprego, principalmente em função da queda registrada na taxa de participação”, explicou.

Ela destacou ainda que, se o PIB do primeiro trimestre, que será divulgado amanhã, confirmar o viés de alta, a projeção para a taxa de desemprego pode cair ainda mais.

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João Savignon, head de pesquisa macroeconomica da Kínitro Capital, comentou que o desviou do dado em relação à projeções se concentrou na queda da força de trabalho. “No entanto, o quadro geral do mercado de trabalho segue praticamente inalterado, isto é, robusto e com uma abertura sólida, especialmente dos rendimentos”, afirmou.

Ele disse esperar que o mercado de trabalho continue resiliente nos próximos resultados, mas que ao longo do segundo semestre apresente alguma moderação, em linha com a perspectiva de desaceleração gradual da atividade e a manutenção das condições monetárias apertadas.

“Para o próximo mês, chamamos a atenção para o movimento dos rendimentos reais e da massa salarial como um todo, dado o novo impulso pelo reajuste do salário-mínimo e dos servidores púbicos federais, confirmados em maio. Além disso, diversos Estados já encaminharam ou aprovaram projetos para reajustar de forma linear o salário do funcionalismo”, lembrou.

A XP Investimentos também destacou em relatório que a recuperação dos rendimentos reais do trabalho continua num bom caminho. “Nossa proxy para a renda disponível real das famílias avançou 0,7% em abril ante março e projetamos alta de 4,5% neste ano, o que ajuda a explicar o desempenho acima do esperado das despesas de consumo das famílias no curto prazo”, diz o texto da Análise Macro, assinado pelo economista Rodolfo Margato.

A projeção da XP é que o mercado de trabalho brasileiro apresentará leve desaceleração nos próximos meses. “Continuamos vendo um pouso suave no mercado de trabalho brasileiro este ano. A taxa de desemprego ajustada sazonalmente deve atingir cerca de 9% no final de 2023, de 8,2% no final de 2022. Calculamos uma taxa média de desemprego de 8,9% este ano, abaixo dos 9,3% do ano passado”, previu Margato.