Setor de serviços mostra resistência, mas aperto monetário deve trazer desaceleração, dizem analistas

Serviços às famílias mantêm força em maio ante abril, mas a expectativa é que o setor caminhe de lado nos próximos meses

Roberto de Lira

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Os dados de serviços em maio divulgados nesta quarta-feira (12) pelo IBGE comprovaram o momento de volatilidade do setor, afirmam economistas. O indicador de atividade tem oscilado entre altas e baixas nos últimos meses, ora mostrando influência do mercado de trabalho ainda aquecido, ora sofrendo com as condições monetárias e financeiras domésticas apertadas.

O setor cresceu 0,9% em maio, devolvendo parte da perda de 1,5% em abril. Antes disso, havia caído 3,1% em dezembro e mostrado alta de 1,1% e de 0,0% em fevereiro e marços, respectivamente.

Um dos destaque de alta em maios foi para o segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios, citou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, lembrando que o crescimento de 2,2% no mês recuperou parte da queda de 4,3% no mês anterior.

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Ela também comentou sobre a nova alta de 1,1% nos serviços prestados às famílias, que têm um peso importante no cálculo do PIB.

“Na nossa visão, o impacto dos juros altos deve persistir sobre os serviços fazendo com que o setor continue andando de lado ao longo de 2023, ainda que possa apresentar volatilidade no mês a mês”, estimou.

O C6 Bank manteve a previsão de crescimento de 2% para o PIB para 2023, embora com viés de alta, uma vez que os dados recentes de atividade têm vindo mais fortes do que o esperado. “Para 2024, nossa estimativa é que o crescimento do PIB seja de 1%.”

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O Santander Brasil apontou como destaque o índice de difusão, que atingiu 75% em maio, ante 25% em abril, com oito das doze atividades apresentando crescimento na margem.

No entanto, o banco continua vendo sinais de desaceleração para a atividade ampla à frente, uma vez que os segmentos mais cíclicos indicam uma tendência contínua de desaceleração devido a condições financeiras altamente restritivas.

Marco Caruso e Igor Cadilhac, economistas do PicPay, alertaram que a surpresa da PMS de junho reafirma uma a mensagem já captada na divulgação do IPCA ontem, a de que a inflação de serviços ainda inspira cautela.

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“No fundo, a leitura que fica é que os sinais de estabilização ou queda dos serviços vem sendo mais lentos, abrindo espaço para uma maior preocupação com o legado inflacionário. Além disso, também é fonte de pressão a resiliência do mercado de trabalho e a renda ampliada. Para 2023, projetamos um avanço de 1,5% do setor de serviços”, comentaram os economistas.

Para Ariane Benedito, economista Esh Capital, os serviços de transporte e de informação e comunicação devem continuar apresentando maior resiliência nos próximos meses, o que não deve mudar tão rapidamente. No entanto, ela disse que o segundo semestre deve apresentar crescimento menor para serviços, e a continuidade de serviços prestados as famílias ganhando maior protagonismo para o setor.

“A questão dos juros tem grande influência para serviços e varejo e, se concretizado o início o ciclo de cortes em agosto, conforme a expectativa, há chances de melhora na demanda para esses setores. Por fim, o crescimento do dado acima do esperado corrobora com a melhora da percepção sobre a atividade do segundo trimestre de 2023”, afirmou.

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Para o Itaú, o setor de serviços vem apresentando alguns números positivos, em linha com a resiliência do mercado de trabalho. Mas para o 2º trimestre, a estimativa é que o indicador do IBGE encerre perto da estabilidade, com os serviços oferecidos às famílias registrando contribuições positivas.

Já a análise do Bradesco é que o resultado do mês confirmou resiliência do setor de serviços no curto prazo e reforçou a expectativa do banco de crescimento de 0,3% do PIB do segundo trimestre. “Para os próximos meses, em particular a partir do terceiro trimestre, esperamos uma desaceleração mais pronunciada do setor, em linha com o elevado grau de aperto monetário”.