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A terceira alta seguida dos serviços no Brasil em julho, captada pelo IBGE e divulgada nesta quinta-feira (14), comprova a resiliência do setor mesmo num cenário de juros altos, embora seja possível perceber a perda de força gradual que atividade tem enfrentado. Para economistas, o mercado de trabalho aquecido tem segurado o desempenho do setor no ano, mas a expectativa é que o ritmo seja diminuído no segundo semestre.
O volume de serviços cresceu 0,5% em julho, após alta de 0,9% em maio e de 0,2% em junho. Mas a variação em relação ao mesmo mês do ano passado caiu nesses três meses, de 4,7% em maio para 4,1% em junho e 3,5% em julho. No ano passado, a taxa homóloga em julho tinha ficado em 6,3% ante o mesmo mês de 2021.
Os economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac, do PicPay, comentam que há uma dúvida hoje sobre a extensão do crescimento do setor de serviços e também em relação ao seu legado inflacionário. “Olhando à frente, a sua desaceleração parece certa, mas a grande incerteza reside no seu momento e na sua intensidade, afirmam.
Para ela, no entanto, ainda existe espaço para um bom desempenho no segundo semestre sem grandes consequências nos preços, que já mostram uma dinâmica favorável. “Para 2023, projetamos um avanço de 2,8% da Pesquisa Mensal de Serviços”, estimam.
Sobre o resultado do mês, que veio em linha com as expectativas do PicPay, os economistas destacam a expansão da demanda em três das cinco atividades na pesquisa, com a principal contribuição positiva vindo dos transportes (0,6%), especialmente de cargas (1,4%), que atingiu o ponto mais alto da série histórica.
“Além disso, os serviços prestados às famílias (1%) acumularam o quarto resultado positivo consecutivo, se beneficiando do período que as famílias saem de férias. Do lado negativo, os serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%) devolveram os ganhos do mês anterior”, citaram.
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Ariane Benedito, economista da Esh Capital, concorda que o dado do IBGE referente a julho contribui para uma melhor perspectiva do nível de atividade brasileira, mas deixa uma ponta de dúvida com a parcela da inflação doméstica.
“Isolando a variável de atividade, a condição de melhora da receita das empresas que atuam nos segmentos de transporte (…) responde ao crescimento as expectativas de consumo interno”, comenta.
No caso de preços, a economista diz que os serviços prestados às famílias estão em linha com os últimos dados de mercado de trabalho, que mostram continuidade de melhora na renda. “Vale destacar, que não esperamos mudanças na política monetária do Banco Central para as próximas reuniões, mesmo com algum movimento altista no IPCA nos próximos meses”, diz.
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A expectativa de Ariane é de continuidade qualitativa para o setor de serviços em agosto, mas em menor magnitude e com os mesmos vetores de impacto dos três grupos que apresentaram crescimento no mês de julho.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, avalia que o setor de serviços tem registrado expansão no ano, mas num ritmo mais fraco comparado ao do ano passado. Ela também argumenta que a resiliência pode ser explicada pelo mercado de trabalho aquecido – que sustenta a massa salarial – e pela manutenção do crédito ao consumo.
“Daqui para a frente, acreditamos que o setor deve andar de lado até o final do ano, impactado pelo efeito dos juros altos que inibem o consumo de serviços. Nossa previsão é de que o setor termine o ano com expansão de 3,0%”, estima.
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O dado de hoje não alterou a projeção do C6 Bank para o crescimento do PIB, de 3% em 2023 e de 1,5% em 2024.
O Bradesco, por sua vez, avalia que os resultados de julho da PMS reforçam a expectativa de que o setor de serviços seguirá com algum dinamismo no trimestre, ainda que em ritmo mais lento do que no primeiro semestre. “Assim, não alteramos nossa expectativa de desaceleração gradual da atividade econômica. Esperamos crescimento do PIB de 2,7% em 2023 e de 1,5% em 2024”, diz o banco em relatório.
Desaceleração e estabilidade
Para João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, os dados dos serviços vieram um pouco abaixo da projeção no mês, mas a avaliação é que a atividade segue firme. “O dado de hoje representa o 2º ponto mais alto da série histórica e, nos últimos três meses de avanços consecutivos, as atividades de serviços acumularam crescimento de 2,2%”, destaca.
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Ele também cita que as aberturas da pesquisa mostraram que os motores de serviços seguem firmes, com destaque para os serviços prestados às famílias. “A exceção fica para os serviços profissionais, administrativos e complementares, que devolveram a alta do mês passado e possuem carrego negativo para o 3º trimestre”, alertou..
A leitura da Kínitro permanece de desaceleração gradual da atividade ao longo do segundo semestre, mas em um ritmo mais lento do que o esperado no início do ano e do indicado pelo consenso do mercado.
“Na ausência de um grande driver para o setor no curto prazo, a tendência é de observarmos uma moderação ou mesmo relativa estabilidade dos serviços nos próximos meses, o que já é suficiente para garantir um bom crescimento no ano.”
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O Santander Brasil destaca que o resultado de julho apresentou sinais mais positivos para os serviços, provavelmente na esteira de um mercado de trabalho ainda resiliente, refletido na expansão observada nos serviços às famílias.
“Apesar da recente surpresa positiva no resultado do PIB do 2º trimestre, continuamos vendo sinais de desaceleração para a atividade ampla à frente, especialmente para segmentos mais cíclicos, devido a condições financeiras altamente restritivas”, diz análise assinada por Gabriel Couto.
O Santander espera contribuições negativas da produção agrícola para o 2º semestre, uma vez que o impacto positivo das safras recordes de verão foi limitado aos dois trimestres iniciais de 2023.
O Goldman Sachs acredita que a atividade de serviços vai continuar a se beneficiar de estímulos fiscais significativos, como as transferências federais para famílias de baixa renda, mas que isso deve ser mitigado pela perda do impulso da reabertura econômica, pelas condições monetárias e financeiras internas restritivas e pelos elevados níveis de endividamento das famílias, além da inversão do ciclo de crédito.